Herdeira da Lua escrita por Julipter, Julipter


Capítulo 30
Especial - Isabela


Notas iniciais do capítulo

MINHA GENTE.
A partir daqui, começam os extras dos personagens secundários. Não são obrigatórios para o entendimento da história, mas estão uma graça gente. Por favor, leiam com carinho ♥.



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27 de Dezembro de 1998

Olhei-me no espelho mais uma vez. Fazia frio na França, mas eu não planejava ir para nenhuma das festas de fim de ano naquela noite. Eu só queria ver o meu bebê.

Então ali estávamos nós; eu sem roupas em frente ao espelho, e ela protegida ali comigo. Itália era tão pequenininha. Ninguém diria que eu estava no oitavo mês.

—O papai foi embora. – Eu disse, acariciando minha barriga. – Ele não vai voltar. Mas não se preocupe.

 Observei pelo reflexo do espelho o resto do lugar. Era só um galpão velho com um colchão sujo e comida numa grande mesa de madeira.

—Você não vai nem ver isso aqui. Você vai ficar perfeitamente bem.

Eu me odiava. Odiava Tomás. Mas eu não odiava aquele bebezinho ali. Eu queria, mas não odiava.

Eu odiava a forma como meus seios pareciam grandes demais para as minhas costas, e o jeito como andava por causa da barriga. Eu odiava ele não estar ali quando havia prometido que estaria. Eu odiava... Eu odiava quando Itália chutava, porque ele não estava mais ali para colocar sua mão sobre minha barriga e sorrir ao senti-la.

—Você vai me perdoar, não vai? É que a mamãe não pode lidar contigo agora. Mas... Se você quiser, um dia, pode voltar pra mim.

Um chute. Mais um chute.

Encolhi os ombros.

Não precisa voltar pra mim.

As lágrimas escorreram enquanto eu vestia uma camiseta e andava até o colchão.

Retirei a coroa de flores da cabeça, e assim que me deitei, coloquei-a sobre a barriga. Solucei.

—Por favor, volte pra mim.

(...)

27 de Janeiro de 2016

Ela não está aqui.

Não está aqui, na minha casa. Nem na de Marjorie. Nem na França. Ela está sozinha, do outro lado do oceano.

Faz três dias que ela foi embora.

Eu sei porque estou fugindo de Adrien a três dias.

Não me procuraram por quinze anos. Por que agora? Faça-me o favor.

Sim, eu sei que hoje ela faz dezesseis.

Eu estava no funeral. Ninguém falou comigo. Não faço questão de mais nada.

Ela não quis voltar pra mim. Eu estava lá, eu abri os meus braços. Mas ela correu para os de Adrien, que estavam cruzados.

Era completamente compreensível, eu sei. Mas não me impediu de ficar triste.

Foi como depois do parto, quando eu senti que estava faltando algo. Eu queria o algo de volta, sete anos depois. Ela estava bem ali, e eu podia tê-la, mas quando fugiu de mim, foi como sentir todo o vazio novamente.

Eu a queria. Eu podia lidar.

Mas ela não voltou pra mim.

Ela jamais voltaria pra mim.

(...)

15 de Julho de 2016

Ela era tão bonita.

Ela era... Tão parecida comigo.

Eu não pude evitar. Ela precisava saber que deveria ter sido a minha Jasmim. Não a Itália de Tomás. Nem a Itália de ninguém.

Eu a amava. Será que ela não conseguia entender que eu a amava? Eu sempre quis tê-la comigo. Mas Tomás não pôde. Por que eu poderia?

Era cruel que ela não dissesse nada. Que ficasse ali, impassível, olhando para mim como se eu fosse um mostro, enquanto tudo que eu queria era tocar seu rosto.

Quando disse algo, com a voz embargada pelo choro, eu não pude acreditar. Queria impedi-la de desligar, queria ouvi-la mais um pouco, mas então... Ela sumiu.

Tão rápido quanto apareceu.

—E então? Vai ajudar ou eu vou ter que processar você?

—Eu já disse que vou, moleque, vê se para de me atormentar. – Saí da frente do computador e andei em direção à porta.

—Ela não vai te perdoar. Não se iluda com isso.

—Vai se foder, Adrien.

—Isso tudo é só até ela voltar pra casa. Depois você não vai mais vê-la.

—Eu sou a casa dela!

Bati a porta atrás de mim e jurei nunca mais voltar para aquele lugar.

(...)

Quando ela voltou, eu realmente considerei as palavras de Adrien.

Ela não voltaria pra mim, eu não poderia me iludir com isso.

Eu não deveria ter ido até o aeroporto, não deveria ter visto o modo como ela sorria para Adrien e nem me notava ali, não deveria ter passado por mais um abraço recusado.

Mas eu fui.

Ela estava aos prantos quando finalmente se soltou de Adrien e olhou para mim.

Acho que a assustei, mas eu precisava, precisava tanto tocá-la.

Dei alguns passos em sua direção.

Quando meus dedos encostaram sua bochecha, as lágrimas pareceram se multiplicar.

Itália. Tocar Itália... Era como se ele, Tomás, estivesse ali. Ao mesmo tempo, era um lembrete: ele nunca estaria.

Eles eram tão parecidos.

Segurei seu rosto, e ela colocou as mãos em cima das minhas.

—A última vez... A última vez que estive tão perto de você, foi quando você nasceu. – Eu disse, em português, pois senti que devia.

Sequei suas lágrimas.

Ela parecia querer dizer alguma coisa, mas não disse. Desceu minhas mãos e me abraçou.

Foi a minha vez de chorar. Era minha filha. Nos meus braços. Como sempre deveria ter sido. Eu nunca, em hipótese alguma, devia ter aberto mão disso.

Era a melhor sensação do mundo.

Queria dizer, com todas as letras para ela: eu te amo.

Mas era cedo demais. Cedo demais pra uma mãe amar a filha.


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