Herdeira da Lua escrita por Julipter, Julipter


Capítulo 19
Capítulo Dezenove - Gueule de bois




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Itália

Mon Dieu.

Por quê? Por que concordou com aquela droga de festa?

—Relaxa, Itália. É só torcer pra eles perderem. – Julia disse, do banco da frente. A mãe dela estava as levando para o jogo.

—Disse a garota que fez pompons para a torcida balançar. – Itália ironizou.

—Eu sou do grêmio, sou obrigada a incentivar o espírito escolar.

Itália riu, concentrando seu olhar na janela do carro. As árvores praticamente não tinham mais folhas. O tempo continuava passando.

—A Vitória não quis vir? – Perguntou a francesa.

Sra. Barcellos deu um sorriso triste, que Itália pôde ver pelo retrovisor.

—Ela não se dá bem com lugares lotados. – Foi Julia quem respondeu.

Mas não parecia ser isso. Itália suspirou, entendendo que a outra gêmea havia tido um de seus surtos.

E mesmo assim Julia estava ali.

Itália se inclinou um pouco e tocou o ombro da amiga, que sorriu.

(...)

Mais cedo, depois das aulas de desenho, quando Itália foi ver Matteo – ah, Deus, ela cantou. Itália nunca canta. –, ele perguntou se era necessário que fosse ao jogo. Não gostava dessas coisas. Itália também não, mas Leo era seu melhor amigo, então ela tinha que estar lá. Disse ao namorado que ele não precisava ir, e Matteo suspirou de alívio.

Sobre o olhar amador de Itália, eram bons times. Afinal, saíam gols de ambos os lados, então ela podia concluir isso. O Dom Pedro II tinha uma  garota na equipe, ela ficava perto do gol e parecia exercer muito bem o seu papel, se este fosse impedir gols tanto quanto o goleiro. Itália se perguntou por que havia só uma garota.

Vez ou outra, a francesa balançava os pompons que havia recebido de Julia, enquanto esta exalava espírito escolar o tempo todo, xingando o juiz e incentivando os jogadores. Julia sabia o nome de todos eles, provavelmente sabia o nome de todos do colégio inteiro, enquanto Itália mal sabia o nome de seus professores.

Leo fez dois gols. Ele era um bom capitão.

Pensando nisso, Leo era bom. Um bom jogador, um bom capitão, um bom amigo, um bom cara para se apaixonar e um bom cara para ser apaixonado por você. Julia que o diga. Ah, e ele também era bom em matemática.

Devia haver algo em que ele fosse ótimo. Para Itália ele era um ótimo amigo, para o colégio um ótimo jogador, e para o professor de matemática, um ótimo aluno. Mas, em que será que ele próprio se considerava ótimo?

Talvez ele não soubesse que era tão bom assim. Uma boa pessoa.

—Itália! – Julia exclamou de repente, balançando frenéticamente seus pompons. – Vencemos!

—O quê? O segundo tempo acabou de... – Ela observou a arquibancada praticamente vazia. Todos corriam para o campo, a fim de abraçar e erguer seus campeões do Dom Pedro II. – começar. Ah.

Julia riu num primeiro momento, então olhou ao redor, parecendo procurar por algo.

Leo estava atravessando o campo, seguindo na direção delas.

Eu não prestei atenção em absolutamente nada nos últimos quarenta e cinco minutos.

—A cargo de curiosidade, ele fez mais um gol. – Julia piscou para a amiga antes de deixar a arquibancada.

—Eu te amo! – Itália gritou para ela, quando já estava um pouco distante.

—Eu sei! – Ela gritou em resposta, o que fez Itália rir.

Oh, não.

Eles venceram.

Eles venceram, e era sábado, e isso significava festa.

Leo estava a cinco passos dela, então precisou decidir rápido se ficaria triste ou feliz com a vitória. Optou pela alegria, apenas para não ser uma estraga prazeres. Afinal, ela era assim, certo? Irradiava alegria. Um arco-íris vivia dentro dela. Isso.

Itália encarou o garoto de olhos verdes e sorriu, batendo palmas.

—Parabéns!  - Ele riu e recebeu um abraço da amiga. – Agora, ninguém entra de sapato na minha casa. Ninguém! Eu não estou nem pedindo pra não levarem bebidas, então, por favor, tirem os sapatos.

—Vou deixá-los avisados. – Leo declarou, apertando-a. – E obrigado.

—Eu sou incrível. Eu sei. Assim que a Ju voltar, a gente pode ir. – Afastou-se um pouco dele, olhando para os lados, procurando por Julia.

—Bom, eu acho que... Ela vai querer ir depois, sabe?

—Como assim?

—Digamos que... Enfim. É ela que tem que te contar, eu só vi algo que não devia ter visto. Então, espera ela te contar e não falamos mais sobre isso, ok?

Julia realmente diria que Leo era um ótimo cara para ser apaixonado por você.

—Tá... – Concordou, a contra gosto. – Voltamos de ônibus?

—Sim, vamos antes. O resto do time vai passar no mercado. – Informou.

—É claro que vai.

—Arco-Íris, você costumava ser uma amorzinho. Cadê a garota amorzinho?

—Ficou lá no apartamento que está prestes a ser invadido... – Ela sorriu de forma travessa.

—Deixa de ser mal humorada! – Ele riu e a ergueu. Itália deu um pequeno gritinho no susto, e ele a colocou sobre os ombros.

—Como é que você é capaz de fazer isso? Você é um magrelo! Me põe no chão!

—Só porque me chamou de magrelo vai ficar assim até entrarmos no ônibus.

Ele desatou a descer os degraus, fazendo com que o corpo dela balançasse. Ela até mordeu a língua.

Cette merde! Leonardo, me solta!

—Até o ônibus!

Idiot.

Itália pôde ouvir sua risada. Deu um belo soco em suas costas.

(...)

Estava tudo particularmente estranho para Itália, então ela decidiu ficar no quarto, em segurança, onde Cheshire não podia atacar ninguém.

Mas é claro que ela não conseguiria.

Estava quase terminando o livro que começara a ler no dia anterior, quando uma garota entrou no quarto.

Ela conhecia aquele rosto... Ah, sim. Débora. Provavelmente Itália não falava com ela desde o fatídico dia do professor que a assediou.

—O que ta fazendo aqui sozinha? Você é a anfitriã!

—Cuidado com o gato. – Ela respondeu, fechando o livro.

—Vem, vamos lá pra fora, dançar, ou... Você já comeu alguma coisa? Vamos! – Foi até Itália e a pegou pela mão.

—Cuidado com o gato. – Repetiu, se levantando, ou sendo obrigada a fazê-lo. Débora tinha um copo na mão. Cheirava álcool, e Itália reprimiu uma careta.

Débora a arrastou até a cozinha, enquanto Itália aproveitava para dar uma olhada no lugar. Certo, nenhuma bagunça considerável até agora. Eram poucas pessoas, a maioria estava em uma rodinha jogando alguma coisa que Itália não estava a fim de descobrir, o resto conversando em outros cantos. Ela colocara uma cortina ao redor de sua mesa de trabalho, então ninguém chegava perto do computador ou dos desenhos.

—Você não bebe, né? Tinha um suco na geladeira. – Débora disse, antes de colocar um copo cheio de um líquido com coloração vermelha em frente à Itália.

—Não, na verdade eu sobrevivo só com as partículas de água que inalo ao respirar. – Itália sorriu, irônica.

Débora pareceu não entender, apenas deu de ombros e voltou para a rodinha de jogadores.

Leo conversava com uma garota, e Julia aparentemente ainda não havia chegado, então a francesa suspirou, sentando-se a bancada e bebendo seu suco de morango – que ela fizera pela manhã, então não estava muito bom.

Já que ela estava sendo anfitriã de favor, podia pelo menos colocar uma musiquinha. Ninguém havia tido essa ideia ainda?

Voltou para o quarto, tirou o USB do carregador do celular e o rádio de cima do guarda-roupa. Havia pó nele.

Levou ambos para a cozinha e colocou o rádio sobre a bancada, conectando seu celular no mesmo em seguida. Ela sabia que logo alguém viria e tiraria seu celular dali para colocar outras músicas logo logo, mas por ora seriam as músicas dela.

She played the fiddle in an Irish band (ela tocava o violino em uma banda irlandesa)

But she fell in love with an English man (mas ela se apaixonou pelo cara ingles)

Kissed her in the neck and than I took her by the hand (beijei o pescoço dela e a peguei pela mão)

Said, “Babe, I just want to dance” (disse, “querida, eu só quero dançar”)

O suco parecia não estar tão ruim assim, o tempo parecia passar mais rápido e com a música tudo parecia melhorar. Parecia até que Téo estava ali!

Espera. Téo?

—Téo!? – Itália largou o celular e encarou o garoto como se fosse uma miragem. – Tá fazendo o que aqui?

—O que, eu não fui convidado, Garota França? – Ele sorriu.

Tantos apelidos. Tantos.

—O Pedro é legal com essa coisa dos países, você não. Então, ta fazendo o que aqui?

—Eu vim com a minha namorada. – Ele deu uma piscadinha, foi até a geladeira, pegou uma cerveja e então se afastou, como se nada tivesse acontecido.

—Só pra saber, a sua namorada foi convidada? – Itália perguntou. Em vão, pois foi ignorada.

—Cheguei! – Julia apertou os ombros de Itália, a fazendo pular de susto. A garota riu. – Foi mal. O que é isso aí? Parece bom.

Julia pegou o copo em frente a ela e deu grandes goles.

—Docinho! – Ela concluiu, colocando o copo no lugar. – Mas parece ter algo diferente... Enfim, prefiro a cerveja. Estão na geladeira? Essa música é ótima, me passa depois?

Itália não sabia dizer se as coisas saíam rápido ou devagar demais da boca da amiga, apenas sabia que estava entendendo pouco, enquanto Julia abria sua latinha de cerveja.

—Aposto que estava no quarto até agora, né? – Ela continuou. Itália não havia emitido uma palavra sequer durante toda a conversa. - Vem, vamos dançar.

E a puxou pela mão até o centro da sala, que não era longe, porque o lugar era pequeno. Com mais gente que o  normal ali dentro, dava a impressão de ser ainda menor.

She played the fiddle in an Irish band (ela tocava o violino em uma banda irlandesa)

But she fell in love with an English man (mas ela se apaixonou pelo cara ingles)

Kissed her in the neck and than I took her by the hand (beijei o pescoço dela e a peguei pela mão)

Said, “Babe, I just want to dance” (disse, “querida, eu só quero dançar”)

With my pretty little Galaway girl (com a minha bela garota de Galaway)

My, my, my, my, my, my, my Galaway girl (minha, minha, minha, minha garota de Galaway)

Itália dançou, porque afinal, o que mais ela podia fazer? Dançou ao ritmo daquela música que ela adorava, fechando os olhos, sentindo-se num dia comum, quando ficava sozinha em casa.

Quando abriu os olhos, estava mais ou menos sozinha mesmo, porque Julia sumira. No entanto, mais pessoas se juntaram e começaram a dançar. Itália virou seu copo de suco, e neste instante, Débora ressurgiu.

—Meu Deus, me desculpa mesmo, mas uns meninos babacas do time... – Débora encarou o copo de Itália, depois seus olhos alegres, e por fim seu sorriso confuso. – Hum, quanto disso você tomou?

—Eu provavelmente não contei, mas tá muito bom, você quer?

Débora prensou os lábios, pensativa, fazendo que não com a cabeça. Então se afastou e falou algo com Leonardo, que em seguida empurrou três garotos porta a fora, foi até a geladeira, e esvaziou a jarra de suco e todas as garrafinhas d’água.

(...)

Itália estava sentada na mesinha de centro, de pernas cruzadas, balançando os braços e a cabeça enquanto cantava algo indecifrável.

Ela havia feito muitas amizades inusitadas, para dizer o mínimo. Havia o menino emo, que estava na festa sabe-se lá por que, o qual Itália conversou, alegrou e convenceu a se declarar para o cara de quem gostava. Aquela garota ruiva era muito divertida, apesar de Itália não se lembrar do nome. Ela tinha olhos verdes e usava batom rosa chock! Ela era maravilhosa! E a francesa tinha certeza de que havia dançado Hot’n Cold com os dois, um pouco antes de todo mundo ir embora.

Inclusive, era isso que ela cantava naquele momento, só que em português.

—Porque você é quente e depois frio, você diz sim e depois diz não, você está dentro e logo está lá fora, você está pra cima e então para baixo... – Ela levantou com dificuldade da mesinha, e se jogou no sofá. Podia ouvir Leonardo varrendo, e alguém mexendo na cozinha. Devia ser Julia.

— Não tinha mais do que dez pessoas aqui. Como conseguem ser tão porcos? – Escutou a voz de Téo, que vinha do quarto. – Cheshire! Psssss, psss, psss...

—Não sabe nem chamar um gato. – Disse Julia, e em seguida mais sons de louça.

—Vocês perderam o gato? – Leo questionou, incrédulo.

—Claro que não, só está se escondendo. Não tinha como ele sair! – Téo contestou, andando pela casa.

—As caixas em cima do guarda roupa, ele gosta de lá. – Leonardo informou. – Não dá pra deixar ela sozinha. Droga, ela vai trabalhar amanhã... Tadinha. Eu sou um imbecil.

Itália sentiu o sofá afundar ao seu lado, e Leo estava ali.

—Imbecis são os caras que batizaram até a água. Qual a necessidade disso? – Téo bufou. Um miado escandaloso soou em seguida. – Calma, Cheshire, tá tudo bem!

—Nós brigamos e terminamos, nos beijamos e então voltamos... – Itália continuava cantando. – Você não quer ficar, não. Mas você também não quer ir, não. Porque você é quente e depois é frio...

—Eu vou ficar com ela, já avisei a minha mãe. Podem ir tranquilos que eu cuido dela. – Julia informou.

—Vou esperar você terminar aí. – Leo disse.

Itália se espreguiçou e deitou a cabeça no colo dele quando terminou de cantar.

—Boop! – Ela exclamou, baixinho, e apertou o nariz do moreno. – Argh. Queima.

—É, eu sei que queima. – Afagou os cabelos dela.

—Matteo não veio. Queria que viesse. Por que ele não veio? – Seu sotaque estava extremamente carregado, ela enrolava algumas palavras e misturava outras.

—Porque ele estava ocupado com o Pedro. Quer que eu ligue pra ele.

—Não... Ele deve estar dormindo. Ele já tem muitos problemas. – Bocejou. Leo deu risada.

—Claro. Problemas, como se ele não tivesse tudo.

Eles conversavam quase sussurrando. Itália não tinha energia para falar dieito, e Leo inconscientemente a imitava.

—Ele tem tudo. Inclusive problemas!

—E ele tem você. Todos nós temos você, então vai ficar tudo bem, certo? Descanse um pouco.

—Minha cabeça dói. – Ela reclamou.

—É por isso que você precisa descansar.

—Não pensei que iríamos namorar. – Itália continuou falando. – Quando dei de cara com ele naquele dia, não imaginei que ficaríamos juntos. Era só um cara bonitinho, sabe?

—Sei. – O amigo revirou os olhos. É claro que não. Talvez ela nem se lembrasse dessa conversa no dia seguinte... – Na  verdade, não, não sei, Arco-Íris. Estava claro desde o início que vocês se gostavam todo mundo percebeu.

Itália franziu o cenho, parecendo não entender.

—Você é inocente demais e não percebeu que o Matteo sentia um pouquinho de ciúmes do Henri desde o começo. Nem percebeu que ele gostou de você muito antes de você gostar dele. – Leo continuou. – Você acha que são um casal diferente e improvável, mas vocês são previsíveis. Todos sabiam que ficariam juntos, até o próprio Matteo. Talvez estivesse meio inseguro quanto a isso, mas no fundo ele sabia. “Vocês” era uma coisa óbvia. Não tinha como não prever.

Ele sabia que queria falar disso com a amiga fazia tempo, apenas não tinha coragem, pois pareceria que ele estava enfrentando o relacionamento dos dois de alguma forma, e não era isso que pretendia fazer.

Quando olhou para Itália, ela parecia parcialmente adormecida. Provavelmente não havia escutado, mas ele estava satisfeito por ter dito.

—Você não previu isso, Leo. – Itália pronunciou, tão baixo que ele só pôde ouvir porque estava muito perto. – Não previu.

Então ela dormiu.

—Já podem ir embora. – Julia disse, secando as mãos num pano de prato. – Vou mandá-la pro chuveiro, dar um café e colocá-la na cama.

—Certo. – Leo se levantou, tomando cuidado para não acordá-la.

Cheshire apareceu, andando para fora do quarto calmamente, lambendo a si mesmo. Dois segundos depois, Téo também saiu do quarto, com três arranhões no rosto.

—Sem. Perguntas. – Ele ameaçou. – Vamos, Leonardo. – E andou até a porta.

—Cuida dela. – Leo pediu.

—Até amanhã, Ju. – O loiro disse, antes de ambos saírem.

(...)

Tum.

Ai.

Tum tum.

AI.

Ela acordou desolada. Procurou por  baldes ao lado da cama, mas tudo parecia em ordem. Ela  não havia vomitado.

Mas que droga.

Certo, vamos contar. Eu me lembro... de Galaway Girl. Suco de morango, ruivos... Não, uma ruiva. Nomes, nomes. Débora, Leo, Julia, Téo, Matteo. Não, sem Matteo. Cheshire.

Mas que droga!

Ah, não.

Hot’n Cold, alguém me mate.

Itália deveria falar com Isabela naquele dia. Ela certamente não conseguiria fazer isso.

Itália também deveria trabalhar naquele dia. Ela certamente faria isso. Faria muito mal, mas faria.

A cabeça doía e seu corpo parecia pesado no instante em que se levantou. Ela seguiu para o banheiro, sem notar Julia no sofá. Tomou um banho gelado e voltou para o quarto para trocar de roupa, com Cheshire seguindo cada um de seus passos, como se cuidasse dela.

O primeiro porre com dezesseis anos. Você será um ótimo exemplo para alguém um dia, Itália.

Ela podia ouvir a voz de Marjorie dizendo isso enquanto ria, e depois dando a ela um café bem forte para que sobrevivesse ao resto do dia.

Seria bom tê-la por perto ali. Ninguém fazia um café forte como Marjorie.

Mas Marjorie não estava ali, então Itália fez seu próprio café. E tomou três xícaras dele.

Ela deixara uma toalha limpa na mesa de centro, juntamente a roupas que eram suas, para que Julia usasse ao acordar. Quando despertou, agradeceu Itália e correu para o banheiro, desesperada por um banho.

Era cedo, e Itália começou a pensar se contaria sobre a noite anterior para Adrien. Ele acharia graça, mas ficaria extremamente preocupado, e ela não queria distraí-lo agora que tudo estava entrando nos eixos.

Quando encontrasse aqueles idiotas do time, ah, ela gritaria tanto. Nunca mais iria a um jogo, nunca mais iria a uma festa e Leo teria que entender.

Ela se lembrava, sim, de algumas partes da conversa que tivera com ele antes de apagar. Ele podia estar certo, mas a forma como falou não a agradou nem um pouco. Nada naquela situação havia agradado. Não era para ter acontecido nada daquilo. Não era para ela dizer sim.

Estava cansada de ser um farol de alegria, atraindo todos os barcos dos favores para si. Itália era feliz, era muito feliz na maior parte do tempo, mas quando ficasse triste, gostaria de ficar abertamente triste, sem precisar fingir o tempo todo que ela estava ali para todo mundo. Porque ela não estava! Ela estava ali quando estivesse disposta para isso, quando não estivesse ocupada, porque certamente ela também tinha coisas com que se preocupar. Itália não vivia em função dos outros, vivia em função de si mesma e estava na hora de começar a demonstrar isso.

Não conseguia nem pensar dessa forma sem se sentir culpada. Porque ela não podia recusar algo para Leo, ele era seu melhor amigo e fizera tanto por ela. Não podia recusar algo para a banda, afinal, aquela banda só existia por causa dela, sendo assim, seria ela quem resolveria os problemas entre os integrantes. Não podia recusar algo para Amanda ou Lilli, mesmo que elas nunca houvessem pedido favor algum. Ela só tinha emprego por causa dela.

Itália vivia de troca de favores, aparentemente. Tinha medo de que, a partir do momento que dissesse não para alguém, essa pessoa se recusaria a ajudá-la em outra situação. “A festa pode ser na sua casa, Itália?” “Não. Eu não gosto dessas coisas, você sabe, Leo. Se quiser eu ajudo a convencer a sua mãe, mas na minha casa não dá.” Era tudo que ela tinha que dizer para evitar aquela dor de cabeça insuportável. Mas não, Itália era egoísta e cheia de defeitos, e ela sabia disso. Eu posso precisar dele. Eu preciso dele o tempo todo, na verdade. E ele precisa de mim agora. Foi o que ela pensou. Era isso: a garota precisara tanto de ajuda, ficara tão acabada durante seus primeiros meses no país, que se sentia em dívida com todos, o tempo todo. Queria retribuir, de todas as formas, sempre que pudesse, e isso estava a deixando exausta. O que ela fazia para si mesma? Desenhava? Seu último desenho realmente relevante fora para a Lua. Trabalhava? Apesar de seu um bom lugar, ela só estava lá para pagar o aluguel. Estudava? Ultimamente, mal conseguia ficar na média. Temia ter que repetir o segundo ano. Então, o quê? Até sua lista de leituras estava chegando ao fim.

—O seu café é muito bom. – Julia disse. Só então Itália percebeu que ela estava ali. – E você está apertando bem forte essa xícara. Tá tudo bem? Talvez não devesse ir trabalhar hoje.

Itália a observou por um momento. Quando pegou a roupa, não havia se dado conta, mas era a primeira vez que ela via Julia usando calça. Sorte Itália gostar de jeans mais largos, pois Julia visivelmente tinha pernas mais torneadas que as dela.

—Não, eu vou trabalhar. Eu... tenho que ir. Preciso ficar no turno da manhã hoje.

—Itália, você está de ressaca. Devia ficar em casa.

—Olha, as férias de inverno estão chegando. O café vai fechar, e tudo que eu vou precisar fazer vai ser cuidar de uma garotinha. Então... Via ficar tudo bem. Eu vou ficar bem, vocês já me ajudaram bastante, ok? Eu vou indo. Tranca quando sair.

Então, pegou a mochila e foi para o Café.

Matteo mandou mensagem dizendo que a encontraria lá. Itália sorriu, porque esse era um ato involuntário quando se tratava dele. Mas logo seu sorriso murchou, pois ela deveria conversar com ele sobre a noite anterior e sobre tudo o que estava se passando em sua cabeça. Da última vez que acumulou tantas angústias, fora ele quem a amparou. Ela não deixaria tudo chegar até aquele nível de novo.


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Notas finais do capítulo

Oi gente, tudo na paz?

Desculpem o atraso pra esse capítulo, é que eu estava (ainda estou) com um bloqueio criativo dos grandes. Tanto que, como podem ver, não tem nada de extraordinário nesse capítulo, só... Bastante drama.

Enfim, eu vou me recuperar e melhorar no próximo, beleza? Té lá!



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