Memórias do Outono escrita por Maxine Sinclair


Capítulo 15
Capítulo 15




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É, e na hora que eu te beijei

Foi melhor do que eu imaginei

Se eu soubesse tinha feito antes...

 

Medo bobo – Maiara e Maraisa

            Quando seus lábios tocaram os de Debra, Aaron pôde sentir algo diferente pela primeira vez desde Annie. Ele realmente estava sentindo algo por alguém, além de desejo sexual, mas não sabia o que podia ser. Talvez até fosse mesmo paixão. Por uma fração de segundos se sentiu em outro lugar.

            Ele sabia que era errado, que sua atitude poderia lhe causar consequências negativas, porém não queria soltá-la. Sentiu o corpo feminino estremecer. Uma das mãos dele percorria as costas de Debra, que por sua vez acariciava sua nuca de forma delicada e intensa. O desejo ardia nos dois corações, mas assim que o refrão da música acabou, aquele beijo delicado e apaixonado também se desfez.

            — Tenho que ir! — ela disse, saindo sem jeito.

            Ele sabia que deveria ir atrás dela, mas não sabia o que dizer ou fazer, então não o fez. Todos a sua volta dançavam, enquanto ele estava completamente sem rumo, parado no meio da multidão. Olhou para o lado, e Petra estava perto do DJ, conversando, então decidiu ir até o bar que ficava fora da pista de dança.

            Petra, ao vê-lo passando rápido, foi atrás de Aaron. Ele pediu um Mojito e logo foi servido.

            — O que faz aqui? — Petra perguntou se sentando ao seu lado.

            — Bebendo, você não vê?

            — Estou vendo, o que aconteceu? E a Debra?

            — Foi para algum lugar.

            — Aaron Carter, será que dá para falar logo o que aconteceu?

            — Eu a beijei, e depois ela disse que tinha que ir — ele disse enquanto fazia um gesto com o copo em sua mão, frustrado.

            — O quê? Mas você foi atrás dela?

            Ele a olhou, e ela logo percebeu o que se passava em sua mente.

            — Aaron, você devia ir atrás dela.

            — E dizer o quê, Petra? Beijá-la já foi expressar sentimento demais. Um cara como eu não deve amar ninguém, nem mesmo uma menina nova como ela.

            — Aaron, você esqueceu que é chefe dela. Provavelmente ela está achando coisas erradas.

            — Como assim?

            — Ela deve estar pensando que você está querendo se aproveitar dela. Muitos chefes fazem isso, e por que você seria diferente se apenas a beijou? Você nem disse nada e nem foi atrás dela.

            — Será?

            — Nunca viu um filme romântico? A mocinha quer que o cara bonito corra atrás dela, a puxe pelo braço e diga que a ama.

            — Você exagera às vezes.

            — Mas garanto que beijar não é expressar sentimentos; palavras, sim, expressam.

            — Talvez você tenha razão.

            — Talvez? — Ergueu as sobrancelhas. — Eu sempre tenho razão. Agora vamos dançar, já que você a deixou ir embora. Não fique pensando nisso.

            — O.k.

            Se ele pudesse, iria embora, mas tinha o discurso do Senhor Bane para ouvir e também tinha que falar com todos os convidados.

            Aaron conversava com todos, mas seus pensamentos estavam em Debra. Não sabia onde ela tinha ido e muito menos se estava bem, e o que mais o preocupava era o que ela pensava dele.

            A festa já estava se esvaziando. Os muito bem-vestidos convidados saíam satisfeitos, elogiando bastante, e Aaron voltou a se sentar ao bar e beber. Após um bom tempo ouviu a voz de seu melhor amigo:

            — Aaron!

            — Scott.

            — Você não acha que bebeu muito?

            — Não o suficiente.

            — Bom... vou te levar em casa.

            — Não é preciso, eu estou sóbrio ainda.

            — Aaron, você bebeu; por mais que não esteja bêbado, eu vou levá-lo.

            Aaron sobrepôs a cabeça no balcão.

            — Vou aproveitar que Tori já foi para casa com Debra e te levar — Scott continuou.

            Na hora Aaron se levantou.

            — Debra está na sua casa?

            — Não, Tori pegou o meu carro e a levou em casa. Por algum motivo ela queria ir embora cedo.

            — Entendi. Então ela está bem?

            Petra, que se aproximara deles havia uns minutos, tentava não rir da reação de Aaron.

            — E por que não estaria?

            — Não sei... Vamos, estou cansado.

            Scott assentiu. Despediram-se de Petra e Bane, anfitriões da festa, e foram em direção ao carro de Aaron, já que Tori pegara o do pai. Por sorte Aaron teve consciência de que não podia dirigir, até porque, por mais que tivesse falado que não estava bêbado, no caminho até o carro quase levou um tombo.

            Aaron dormiu por todo o caminho até sua casa, e Scott o levou para o quarto assim que chegaram.

            — Eu já estou em casa e no quarto; vai querer dormir aqui também? — perguntou indignado.

            — Eu me preocupo com você, mas não ao ponto de dormir contigo. — Scott sorriu. — Você não faz o meu tipo — caçoou.

            Aaron podia ouvir o som dos pássaros cantando e das atividades domésticas. Não queria se levantar da cama e enfrentar um dia após a rejeição e a bebedeira. Sua cabeça doía e seu corpo não obedecia aos seus comandos. Ele precisava ficar na cama, mas tinha que trabalhar.

            Arrumou-se completamente, devagar. Estava tão desanimado que desceu as escadas quase se arrastando. Por uns segundos ouviu barulhos na cozinha. Seu coração acelerou.

            Será que é Debra?, pensou e correu até a cozinha para ver a jovem.

            — Debra?

            Seu singelo sorriso e seu ânimo logo despencaram.

            — Querido, Debra ligou avisando que não vem, então vou ficar com Abby hoje — disse Amber.

            Ele deu um sorriso forçado para que ela não percebesse seu estado de humor. Apenas tomou um café amargo, tão amargo quanto sua rejeição da outra noite e, antes de ir para o trabalho, passou no cemitério para deixar algumas flores.

            — Annie, eu estou completamente confuso. Debra é uma garota incrível, linda, sorridente e me lembra muito de você. Provavelmente cometi um erro terrível. Eu a beijei. Me sinto culpado por não ter dito nada e apenas tê-la deixado ir, só que... eu realmente achava que estava fazendo o certo. Por mais que eu tenha agido por impulso, ela faz tão bem a Abby... Como eu pude estragar isso? Como eu pude tirar de Abby a pessoa que mais deu carinho a ela? — Respirou fundo e pôs as margaridas sobre o túmulo. — Eu sei que você não está aqui, mas me faz bem vir aqui e pensar que está aí em algum lugar, me ouvindo. Pelo menos é assim que eu espero, você me ouvindo e estando ao meu lado como sempre disse que estaria.

            Deu uma última olhada ao redor e foi para o seu escritório. Petra não estava ali, e nem Scott. Sentiu-se sozinho por alguns instantes, mas logo pensou que precisava de um pouco de quietude. Contudo, a sua paz e tranquilidade estavam prestes a acabar. Scott e Petra chegaram com cafés e bolinhos, falando alto. Ele fingiu que estava fazendo algo importante para que não o atrapalhassem. Porém, sua tentativa foi tão frustrada quanto a outra na noite anterior ao tentar iniciar um romance com Debra.

            — Você viu como o editor do jornal falou bem da festa e disse que estava bem organizada? — Petra indagou, gabando-se. — Me senti muito bem com todos os elogios.

            — Verdade, até eu fiquei no meio dos elogios e me senti bem com todos eles.

             Os dois tinham muito mais em comum do que Aaron havia imaginado. Ambos gostavam de se gabar e de chamar a atenção.

            — Você viu? — Scott o tirou de seus pensamentos.

            — O quê?

            — O programa de TV financeiro de hoje. — No rosto de Aaron estava bem visível que ele não sabia do que Scott estava falando. — O melhor programa sobre o mercado e negócios falou sobre sua inauguração, foi a principal reportagem.

            Sua empolgação era visível.

            — E chamou muita atenção para o hotel e ainda disse que já está sendo bem requisitado — Petra completou, porém Aaron estava sem ação, mesmo sabendo que o programa era aquele que ele assistira por algum tempo e na qual sonhara aparecer com algum projeto.

            — Legal — murmurou olhando para um ponto invisível entre os amigos.

            — Toma. — Petra colocou um copo de café em cima da mesa.

            Ele bebeu um gole, mas aquilo não o animou. Não era tão bom quanto o de Debra.

            — Quer um sorvete? Quer ficar na cama ouvindo músicas depressivas? Você está parecendo uma adolescente — ela disse e completou: — Quer uma bonequinha também, Senhorita?

            — Sério isso? — ele perguntou.

            — O que houve? Você era para estar feliz, isso era o que você mais queria. O que mudou? — Scott parecia preocupado.

            — O que houve é que ele levou um fora por não saber se expressar.

            — Petra, não é hora de falar sobre isso. — Aaron não queria que Scott soubesse do que acontecera. Na sua mente, Scott iria querer matá-lo por desejar a menina que ele tinha como filha.

            — Ah, é hora, sim. De quem você levou um fora? — Scott olhou para a ruiva como se ela fosse culpada de algo. — Por que o rejeitou?

            — Não fui eu, idiota, foi a...

            — Não foi ninguém, esquece isso — Aaron disse, cortando-a. Temia a reação de seu melhor amigo.

            — Esquecer? Eu não desisti de você à toa, eu não abri mão do cara de quem eu estava a fim para você pôr tudo a perder.

            — O quê?! — exclamaram Scott e Aaron em uníssono.

            — Aaron, eu te dei um beijo naquele dia porque realmente gostei de você e queria te reencontrar de novo, e consegui, mas quando te vi com Debra, eu senti que era com ela que você deveria ficar.

            — Debra? Não... não pode ser a Debra — Scott murmurou surpreso. Ela não disse... disse? Estou fodido, pensou Aaron. — Espere, você está dizendo que Aaron tem uma queda por Debra? É impossível, ele é todo certinho.

            Petra o olhou com deboche.

            — Por que seria impossível?

            Ele a encarou e, quando ia dizer algo, Aaron interveio:

            — Eu a beijei! — saiu mais alto que o esperado.

            — Você fez o quê?! — Scott parecia mais surpreso que com raiva.

            — O que você ouviu — ele afirmou, respirando aliviado. Pelo menos dissera, enfim.

            Petra o olhou como se tivesse ganhado um jogo.

            — Aaron, você enlouqueceu — Scott declarou, saindo da sala. — Preciso respirar. Até mais.

            — Ele é tão sentimental — a ruiva declarou observando Scott sair.

            — Ele a considera uma filha, é muito para processar.

            Realmente, Aaron não tinha pensado em como isso afetaria Scott. Ele era seu melhor amigo e sempre o vira como um irmão mais velho, e conhecia Debra desde que ela era bem novinha. Na ausência de seus pais, ele sempre esteve com ela. Scott, mesmo com sua personalidade divertida, tinha um bom coração.

            — E então? — Petra o olhou de lado.

            — O quê?

            — Vai?

            — Aonde?

            — Falar com Debra.

            — Eu não acho certo.

            — E por que não?

            — Abby se apegou muito a ela. Se eu disser o que sinto, Debra pode não querer mais cuidar de minha filha, e assim eu vou tirar a única pessoa, depois de mim, de quem Abby é tão próxima. Eu não me perdoaria por isso.

            — Mas você já parou para pensar no quanto poderia ser bom? Vai que Debra quer também? Se você não arriscar, nunca irá saber.

            — E se não for isso? Talvez eu nem sinta nada por ela.

            — O maior mentiroso é aquele que consegue acreditar em suas mentiras. Admita que gosta dela. Não vai doer. As melhores coisas da vida são as que menos esperamos.

            — Por que está fazendo isso?

            — Porque sentimentos assim só se vivem uma vez. Por sorte, duas. — Ela segurou as mãos dele. — Aaron, não me faça me arrepender de desistir de você.

            Naquele momento ele sentiu uma confiança carregada de culpa por não ter dado uma chance a ela. Petra era tudo o que ele não esperava, atenciosa, amiga, verdadeira e queria ver o bem a qualquer custo. Não podia decepcioná-la. Deu um beijo em sua testa e saiu da sala. Foi em direção ao seu carro sabendo aonde ir, embora não soubesse o que diria ao chegar lá. Apenas sabia que iria dizer o quanto gostava dela, o quanto a... amava.

            Já no seu destino, Aaron achou que seu coração sairia pela boca. Encarou a casa por mais de trinta minutos antes de enfim criar coragem para ir até lá. Foi o mais rápido possível, antes que pudesse desistir e tocou a campainha. Para a sua surpresa, um homem alto com cabelos castanhos e ombros largos como quem malhava o atendeu.

            — Em que posso ajudar? — o jovem perguntou.

            — Gostaria de falar com a Senhorita Debra Bennet. Sou o chefe dela.

            Ele abriu um sorriso largo.

            — Prazer em conhecê-lo, sou Logan Morgan, o noivo dela.


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