Memórias do Outono escrita por Maxine Sinclair


Capítulo 16
Capítulo 16




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As pequenas coisas que

 você faz para mim

Estão me conquistando, eu quero te mostrar

Tudo dentro de mim

Como um coração nervoso que está

batendo loucamente...

 

The little things – Colbie Caillat

            — Noivo? — Aaron estava pasmo. Não sabia se estava perguntando ou apenas repetindo a única palavra que conseguia sair de sua boca.

            — Sim, entre.

            — Logan, quem é? — Debra questionou aparecendo por trás dele e parecendo surpresa. — Aaron, o que faz aqui?

            — Eu... Eu... — Olhou para os lados. Tudo o que ele queria dizer se desfez. Como dizer algo se ela tem alguém que ama? — Eu queria conversar com você, mas está ocupada. Depois nos falamos.

            — Ah, que isso! — disse Logan. — Eu já estou indo, pode ficar à vontade.

            Ele deu um selinho nela. Aaron não aguentou ver a cena, então virou o rosto, sem jeito.

            — Foi um prazer te conhecer. — Logan estendeu a mão com um sorriso gentil, e Aaron a apertou.

            Debra olhou para Aaron com a expressão fechada. Ele procurou a paz em seus olhos, mas eles não lhe diziam nada.

            — Vai entrar? — inquiriu já adentrando, e ele apenas a acompanhou.

            Ela foi em direção à cozinha. Estivera preparando café antes de ele chegar. Já estava tudo pronto, menos a curiosidade dela com a presença do jovem empresário milionário em sua humilde residência.

            — Sente-se. — Ela lhe disse por detrás do balcão. — Quer café? Fiz bolinhos.

            — Sim. — E novamente estava sem jeito. Como eu digo? Como eu me expresso?

            Ela o serviu, e ele experimentou um de seus bolinhos, que estavam uma delícia.

            — Até com raiva tenta me alimentar — as palavras saíram sem que ele pudesse segurar. Tinham parecido muito melhor em sua mente.

            — Eu não estou com raiva, Aaron.

Ele voltou o seu olhar para ela.

            — Então por que não foi trabalhar? — perguntou coçando a nuca.

            — Porque ontem, assim que cheguei em casa, vi Logan parado em minha varanda. Ele chegou de surpresa.

            — Logan — repetiu o nome dele sussurrando. — Não sabia que tinha um noivo.

            — Você nunca me perguntou.

            Aaron já havia desistido da ideia. Para ele estava mais do que na cara que Debra não tivera reação alguma àquele beijo, que para ela não significara nada.

            — Olhando por esse lado, é verdade.

            — Eu não saio falando de minha vida pessoal. Se não me perguntam algo, eu não falo.

            — Entendi. — Lá estava, mais um fora, e Aaron novamente não sabia o que fazer.

            — Mas sobre o que quer conversar? Não acho que tenha vindo aqui para saber sobre meu noivo.

            E aí, ela foi direta, bem direta. Perda de tempo ter vindo. Onde estou com a cabeça?

            — Eu queria falar sobre ontem, sobre o... beijo — ele conseguiu falar, mesmo achando que ela fosse ficar sem jeito ou que ele falaria algo que a constrangesse.

            — Ah, sobre aquilo? — Ela parecia não se importar com o fato de que tinham se beijado... Ou ele a tinha beijado.

            — Sim, eu queria dizer que...

            — Foi um erro — ela o cortou. A morena abaixou a cabeça. — Você é meu chefe e confundiu as coisas e veio aqui para explicar isso, não é?

            Ele realmente não sabia o que fazer, mas o que podia dizer? Ela estava noiva, e nada do que ele dissesse poderia mudar isso. Não havia nada que ele pudesse fazer, mas seu olhar em sua direção o fazia querer ainda mais tê-la em seus braços.

            Não tenho nada mais a fazer. Eu a perdi.

            — Isso, eu não quero estragar as coisas, e você é noiva. Eu seria um tolo ao destruir isso. Não que isso afete você e Abby, ela te ama e seria muito ruim de minha parte tirar isso dela por um erro meu. Eu nunca me perdoaria.

            Aaron estava desapontado consigo mesmo. Como podia ser tão covarde? E ainda tentava convencê-la de que estava falando a verdade. Ser frio nunca fora tão difícil para ele.

            — Eu nunca deixaria Abby, mas como eu disse, entendo. — Ela olhou para suas mãos. — Eu só achei que...

            Ouviram o ranger da porta, que chamou não só a atenção de Aaron, mas a de Debra também.

            — Mason, o que está fazendo aqui? — Ela parecia decepcionada ao ver o homem de cabelos castanhos.

            — Vim ver se Logan estava aqui. Soube que ele voltou e queria chamá-lo para me ajudar em umas coisas. — Ele parou de falar e encarou o homem bem-vestido que estava ao lado de Debra. — Quem é ele?

            — Esse é Aaron Carter, meu chefe. Aaron, esse é Mason, meu irmão.

            Aaron acenou, e ele apenas o ignorou, voltando sua atenção para a morena.

            — Você traz seu chefe aqui? Você tem noivo, sabia? Isso não é algo que uma mulher de respeito faça.

            — Quem eu trago ou não aqui não importa. A casa é minha e eu faço o que eu quiser. Ele conheceu o Logan.

            — Me desculpe, não era minha intenção. Eu só quis ver se ela estava bem — Aaron disse se levantando.

            — Chefe bom, você, se preocupa muito com as suas empregadas. — Mason encarou o jovem empresário, e Aaron não se rebaixou. Ele sabia que brigar com ele não deixaria Debra feliz. Quis se comportar bem para que não estragasse tudo novamente.

            — Ela não é uma empregada, ela é praticamente da família.

            — Você tem uma filha. Espero que veja Debra assim como vê sua filha.

            Aaron apenas deu um sorriso gentil. Ele jamais podia ver Debra como uma filha. Ele a via como mulher.

            — Até mais, Senhorita Bennet.

            Voltou direto ao seu escritório. Sabia que lá ele teria gente o perturbando. Pelo menos ele não iria ficar pensando na chance que havia deixado para trás, a menos que Petra o lembrasse, mas só Scott estava lá, lendo alguns papéis.

            Aaron entrou fingindo que nada acontecera. Ele parecia normal e sabia fingir como ninguém. Entretanto, sabia que a qualquer momento seu amigo comentaria sobre a conversa de mais cedo.

            Começou a trabalhar. Revirava os papeis, mas o silêncio de Scott o incomodava, e ele não conseguia se concentrar naqueles números e letras a sua frente. Ligou o computador, e na área de trabalho do mesmo havia uma pasta com fotos do baile tiradas por Tori, provavelmente colocada ali por Scott. Foi passando-as, e então uma lhe chamou a atenção: nela ele e Debra estavam se olhando. Ele se prendeu àquele momento por alguns segundos, e logo a imagem do beijo veio à sua mente.

            Eu nunca mais vou poder tocar em seus lábios? O que realmente ela queria me dizer hoje? Nem ao menos neguei sua teoria de erro. Sou um covarde.

            — Aaron — finalmente uma palavra de Scott.

            — Sim. — Não mostrou o quão feliz estava por ele tê-lo tirado daqueles pensamentos que só o levavam a ela.

            — Você realmente está a fim de Debra?

            E lá estava a questão.

            — Sim, eu gosto dela. Sei que é estranho isso, mas eu fiz de tudo para não pensar nela assim, só que ontem eu vacilei e agi sem pensar.

            — Eu entendo e até apoio, você normalmente não diria nada disso, apenas negaria. Dá para ver que você olha para ela como olhava para Annie. — Ele apoiou os braços na mesa e abriu um leve sorriso. — Talvez nem tanto como Annie, mas é um olhar bem parecido.

            — Vocês dois são tão idiotas.

Aaron percebeu que dividir a sala com Petra era difícil, ela sempre entrava nas horas mais estranhas.

            — E você só sabe falar isso? — Scott retrucou.

            — Aaron, e aí, se declarou? — Em seu olhar havia esperança. Ele estava com medo de dizer a verdade e ela empurrá-lo janela abaixo.

            Ele recuou na cadeira e coçou a garganta.

            — Você se declarou?! — Scott gritou, mas seu tom era extrovertido.

            — Não consegui. Ela está noiva.

            — Noiva? — A ruiva se sobressaltou.

            — É verdade, ela tem um namorado. Ele chegou ontem e logo pediu sua mão.

            — Você sabia? — Aaron perguntou se redirecionando a Scott.

            — Claro, minha filha é a melhor amiga dela e me contou ontem, logo após o pedido.

            — Se ela aceitou, é porque o ama, e não tem mais nada que eu possa fazer — Aaron foi taxativo.

            — Aaron, dizer o que se sente nem sempre é para receber uma resposta positiva, mas também para se libertar das dúvidas. — Petra, como sempre, tentava arrumar caminhos onde só havia pedras.

            — Talvez sim, ou talvez não. Eis a questão.

            — Como assim, Scott? — indagou Aaron.

            — Logan e Debra estão juntos há muito tempo, mas você já a ouviu falando dele?

            — Ela disse que não gosta de falar da vida dela.

            — Você foi à casa dela, certo?

            — Sim.

            — No corredor entre a escada e a sala tem um mural de fotos. Lá é onde ficam as imagens das pessoas especiais para ela. Você viu alguma foto dele?

            — Não.

            — Ele nunca está por perto, diz que é por causa da faculdade. Debra às vezes parece não dar a mínima.

            — Talvez apenas não demonstre. Agora chega, eu não preciso de dois amigos tentando achar caminhos onde não têm. Eu preciso ficar um tempo sozinho. — Levantou-se e foi para sua casa.

Pensou no que eles disseram. Percebeu que ficar em casa apenas o deixava pior e decidiu então ir para um bar fora da cidade, um lugar longe onde ele não teria problemas, onde realmente poderia tentar relaxar.

            Assim que saiu da cidade, sentiu que iria chover. O tempo estava fechado, mas não se importou, foi para um bar rústico. Tinham várias pessoas bebendo e conversando, outros arrumariam alguém para passar a noite, e ele... ele estava bebendo vodca barata para afundar todo o estresse.

            Estaria eu abandonando Annie? Ela me pediu para seguir em frente... Para onde vou agora? Ficar com Debra foi o mais perto que cheguei da felicidade desde Annie. Foram bons momentos, ela me fez rir, comer coisas diferentes e me apaixonar por seu café, fez Abby sorrir e roubou meu coração. Oh, Céus, eu estou tão melancólico.

            Cada vez que ele pensava em algo relacionado a Debra, bebia mais um copo de vodka. Todavia, uma voz que acabava de atravessar a porta chamou a sua atenção. Quando olhou de rabo de olho, viu Logan com dois amigos e três mulheres. Ele apenas o observou enquanto saboreava o álcool. Uma das garotas, loira e de olhos claros e com roupa tão curta quanto a paciência de Aaron se aproximou de Logan, e ele colocou sua mão na perna dela. Estavam bem íntimos, tanto que ele se aproximou mais e a beijou. Aaron pôde sentir a ardência do álcool descendo pela garganta e, quando viu, já tinha se levantado e ido em direção a ele.

            — Carter, não é? — Logan disse com um sorriso. — Junte-se a nós.

            — Onde está sua noiva? — indagou sério. Logan ficou calado; provavelmente não sabia o que responder. — Foi o que pensei.

            Antes que Logan pudesse fazer qualquer coisa, Aaron o atirou ao chão e o golpeou com um soco em seu rosto. Logo foram mais dois, e os amigos de Logan o tiraram de cima dele, mas Aaron estava perdendo a linha.

            — Por que está fazendo isso? — Logan perguntou se levantando e cuspindo sangue. Os golpes de Aaron foram a maioria no rosto.

            Havia ódio nos olhos de Aaron, e ele queria acabar com Logan, com a sua falta de respeito.

            Os amigos dele o seguraram, e Logan aproveitou para fazer uma graça e atacar também com alguns socos.

            — Você é um otário!

            — Quero ver dizer a Debra que a traiu! Diga a ela que não sente nada por ela! Quero ver se é homem o suficiente! — Aaron rosnou e deu uma risada debochada.

            — Eu a amo, e você não vai dizer nada a ela!

            — O que foi? Vai dizer que caiu da escada? — Aaron mesmo não estava se reconhecendo.

            — O chefe está a fim da empregada. Nossa, que clichê.

            — Eu garanto que sou muito mais homem que você, até porque eu não vi nenhuma foto sua na casa dela, e na verdade ela nunca falou nada sobre você. Se você a magoar, tome cuidado, Logan.

            Um segurança surgiu e apartou a briga. Todo mundo os olhava, paralisado. A menina estava em lágrimas.

            Aaron saiu de lá todo ferrado. Seu corpo doía, mas se sentia até mais livre por ter atacado aquele otário. Entrou no carro e, no caminho para a cidade, recomeçou a chover. Dirigiu até a rua de Debra. Burro? Talvez, mas naquela noite ele estava completamente sem rumo e bêbado. Saiu do carro sob a chuva, ficou ensopado. Olhou por trás de um arbusto para a casa, que estava com a luz da varanda acesa.

            — Aaron?

            Ele gelou ao ouvir a voz de Debra atrás de si.

            — Olá. Estava de passagem. Até mais. — Sorriu e tentou olhar para o chão.

            Ela olhou para o belo rosto do jovem, que estava machucado.

            — O que aconteceu com seu rosto?

            — Eu briguei.

            — Vem, entre — disse tentando tirá-lo da chuva sob seu guarda-chuva. — Brigou com quem? — inquiriu fechando a porta atrás dele.

            — Seu noivo.

            Ela arregalou os olhos.


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