MELLORY — entre Deuses e Reis escrita por Lunally, Artanis


Capítulo 68
A despedida


Notas iniciais do capítulo

Os irmão dragões vão se dividir! T-T



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/706431/chapter/68

PARTIDA DE SERENA E MIGUEL PARA PREMIM — OS CIGANOS/WILL/E ANIMAIS IRIAM DEPOIS

Uma semana se passou desde a visita dos escolhidos à Sala das Almas. Serena e Miguel, agora estavam engajados em acertar os últimos detalhes de sua mudança e quase doze homens empacotavam os pertences dos Alfas. Iriam para Premin no dia seguinte e não podiam estar mais animados.

— Will, já conversei com meu irmão sobre a sua liberação para me acompanhar. Mas, a parte burocrática demora alguns dias para ficar pronta. Aguarde até lá para seguir viagem para o reino do ouro. – O líder da FMR explicou assinando uma papelada, autorizando a doação de sua casa para a construção de um abrigo de órfãos no lugar. Desde que decidiram adotar os meninos findorianos, os Alfas passaram a se preocupar muito com a situação dos menores sem família.

Miguel lembrou-se da despedida de seu irmão.

*

A campainha ressonou na casa do Alfa maior. O militar sabia que Luna estava no trabalho, mas não poderia visitar seu irmão mais velho em outro horário e por isso, tratou de se apressar. Hatori atendeu a porta com um sorriso convidativo emoldurando-se em seu rosto.

— Miguel, chegou mais cedo do que eu esperava. Entre. – O caçula olhou seu parente surpreso. Com toda certeza, o casamento com Luna havia feito bem a ele.

— Na verdade, não pretendo ficar muito você sabe. Detesto despedidas. São tristes demais para um camarada como eu. – Argumentou o militante entrando na mansão. –A casa ficou muito bem decorada. Minha cunhada tem bom gosto.

— Acabou de me anular, não foi? –Hatori entrou na onda de provocação.

— Não mesmo. Como eu, um pobre e humilde general, poderia desacatar meu soberano? Tenho uma vida a zelar, maninho. – Dramatizou e os dois caíram na gargalhada. O clima entre eles havia se tornado leve com o decorrer do último ano. – Mas, voltando aos assuntos sérios e inadiáveis, estou aqui para lhe deixar um presente e uma promessa de volta. – Deu ao Alfa maior uma faca lapidada em bronze embalada em um tecido aveludado vermelho. – É de nossa mãe. Achei que ficaria melhor com você.

O mais velho ficou lisonjeado. Percebendo só agora a falta que seu irmão iria fazer.

— Eu voltarei para Draken, Hatori. Com minha família e... – Pensou um pouco antes de fazer uma piada para descontrair o momento. – Pandora é claro. Aquela égua é teimosa feito uma mula.

— Conheço outro alguém assim. – O rei comentou por alto, fazendo Miguel sorrir.

— Nem comece. – Repreendeu-o ainda sorridente. – Até breve, meu irmão. – Abraçou o homem a sua frente. A saudade já batendo em seu peito.

— Até. – Hatori disse por fim e eles rapidamente se despediram. Nenhum dos dois querendo prolongar aquele momento de separação e amor fraternal. Não era acostumados a demonstração de afeto entre eles.

*

— Está bem, meu amigo. – O beta concordou, dando seu aval como testemunha no documento. – E os animais?

— Kalifas e Dalila se encarregaram de leva-los em segurança até nossa nova residência. – O militar respondeu sorrindo. Não sabia como iria aguentar ficar mesmo um só dia sem cavalgar em Pandora ou mesmo, brincar com suas cadelas. – Dá para acreditar que morarei em um palácio totalmente recoberto por ouro? Só de pensar já fico entusiasmado. – Imaginou ele. Will riu e prosseguiu com seus afazeres. Algumas coisas ainda precisavam ser organizadas, para que a ida a Premin transcorre-se com segurança.

— Está realmente pronto para deixar seu país, meu amor? – Serena abraçou Miguel por trás, beijando seu ombro largo.

— É lógico que sentirei saudades, mas sempre fui um homem livre. Viajar para além das fronteiras de Draken sempre foi meu forte, ainda mais com uma bela donzela como você ao meu lado. – Trouxe o corpo da mulher para sua frente e acariciou seu rosto. – Onde você estiver, ficarei bem ao seu lado.

A morena sorriu. Possui o marido mais compreensivo de todos. – Hatori confirmou-me que mandará Logan e Steve se encontrarem conosco em algumas semanas. O sistema adotivo de Draken é mais rápido do que eu esperava.

— Com toda a certeza. – Gabou-se o homem, roubando um beijo apaixonado da Alfa. – O próximo passo é nos casarmos oficialmente.

— Em breve. – Concordou a preminiana, a visão dela ficando embaçada por um instante. Seu corpo tombou para o lado um pouco, mas Miguel a segurou firme.

— Tudo bem? – Questionou preocupado.

— Tudo ótimo. – A sensação se dissipou do corpo da mulher. – Apenas uma tontura repentina.

Um sorrisinho divertido escapou da face emoldurada do Alfa. Ele estava a imaginar coisas. Tratou de voltar a sua compostura e aconselhou. – Quando chegarmos, é melhor que veja um médico.

— Ok. – Ela consentiu.

A caravana que os levaria para Premin organizou-se bem estruturada. Alguns militantes os acompanhariam para garantir a proteção dos mesmos, além de um contingente de médicos escolhidos a dedo por Lunally. Viajaram por quase uma semana, pois tiveram de dar a volta em Mellory. A floresta não estava mais tão segura para os humanos. Chegaram no reino do leão cansados, mas Serena assustou-se ao avistar seu país.

Destruição por toda parte.

Uma população faminta.

Soldados de Draken circundando os arredores.

O que Premin tinha se tornado?

A Alfa montou em um cavalo, acompanhada por seu esposo que a seguia logo atrás. Olhava os arredores espantada, o povo estava magérrimo e o cheiro de sangue espalhava-se. Crianças desabrigadas e maltrapilhas pediam dinheiro nas ruas e muitos pais estavam doentes. Uma peste espalhava-se aos poucos pela região das minas.

— Minha Alfa! – Uma voz feminina gritou ao fundo. Serena logo a reconheceu. Uma jovem simpática vestida em trajes nobres vinha a seu encontro.

— Olívia. – A morena desceu de seu garanhão para abraçá-la. – Senti tanto a sua falta.

— Eu também, Vossa Majestade. – Ela cumprimentou sorridente. Olhou por decima dos ombros da rainha e observou o belo homem que a acompanhava. – Quem é esse? – Perguntou curiosa.

— Meu marido, um dos alfas de Draken. – Serena os apresentou. Miguel estendeu uma mão para a garota que a apertou animada.

— É um prazer conhecê-la, senhorita. – Disse educado.

— O prazer é todo meu. Sempre li histórias a respeito do senhor. Miguel, o herói do reino dos dragões. – Ela ficou lisonjeada por conhece-lo pessoalmente.

— Olívia era minha dama de companhia aqui em Premin. Filha de minha falecida tia, Andaluzia. – Serena explicou percebendo que Miguel ainda estava um pouco confuso. O Alfa consentiu compreendendo.

Ao escutarem a preminiana cumprimentar Serena com um pronome de tratamento destinado aos reis, os habitantes que ali passavam estremeceram. Lembravam-se da pequena como a princesa guerreira, sem coração ou um pingo de piedade. Prostraram-se ao chão amedrontados.

— Por que se abaixam perante a mim? – Indagou a Alfa sentindo-se culpada. – Eu voltei com minha alma purificada. A partir de agora, desejo que nos tornemos irmãos meu povo e que recebam calorosamente a minha família. Viajei pelos quatro cantos de Wakanda e conheci mais culturas do que jamais imaginei. Firmei alianças poderosas, tudo para que um dia eu voltasse e pedisse perdão a todos vocês. Preminianos, minha ganância subiu-me a cabeça quando mais nova, mas hoje já não carrego mais essa sede pelo luxo ou austeridade. Eu que deveria estar ajoelhada aos seus pés.

Murmúrios brotaram da multidão que se reunia.

— Já não me chamo mais de filha do tirano, mas de Dama do Sol. Guardiã e protetora do legado de Amom. Deus de Premin. Deus do Ouro. Prometo consertar meus erros e conceder-vos a liberdade que tanto ambicionam. Dentre poucos dias, anunciarei as novas medidas. Aguardem-me.

O público desconfiava ainda das palavras da descendente de Mathias, mas manteve-se quieto após o seu pronunciamento.

*

As portas do Palácio do Leão Rei abriram-se prontamente ao detectarem a presença da nova rainha. Serena, de antemão, conduzira os demais viajantes exaustos para seus dormitórios e agora apenas ela e Miguel adentravam na esplendorosa cede do governo. A mansão destinada a família real era totalmente decorada baseando-se em um luxo sem igual. Os salões eram espaçosos, repletos de escadarias e apropriadamente, de ouro em seus mais diversos tons. Era uma construção moderna, arquitetada sobre o molde de diversas espirais que se convergiam para um ponto de fuga no teto.

— Meu amor, você não me disse que estávamos vindo para o paraíso! – Miguel elogiou o local extasiado com tanta beleza. Continuaram caminhando, passando por uma fonte que jorrava água cristalina e com uma estatueta enorme de Amom no centro.

— Somos conhecidos pela nossa engenharia inovadora. – Comentou a mulher por alto, indicando a ele que deveriam subir algumas escadas. – Mas, acho o espaço um tanto exagerado. Não se precisa de tamanha sumptuosidade para se governar.

Eles subiram o lance quase interminável e a Alfa abriu um par de portas gigantescas que davam acesso a suíte dos reis. – Este é o nosso quarto. – Sorriu ao perceber o olhar divertido e impressionado de seu marido. Ele estava vestido como um militar, a roupa escura típica de Draken deixando seus olhos caramelados brilhantes.

O cômodo era três vezes maior do que os aposentos deles na antiga casa. O ambiente era todo adornado de tons pastéis e perolados, com alguns detalhes em pérolas. Serena havia pedido que uma reforma rápida fosse feita, para atender aos interesses do casal. O dossiê onde eles iriam dormir era espaçoso e aconchegante e contava com pesados edredons de lã. Premin era um reino frio, sem muitas oscilações de temperatura.

— Mas a melhor parte é essa. – Serena abriu as janelas da lateral, dando acesso a uma sacada iluminada por lampiões rústicos. O mar exibia-se calmo como vista, uma brisa gelada vindo em direção a ambos.

— É lindo. – Comentou o Alfa beijando o rosto de sua mulher. – Nunca vi o litoral do Leste assim tão de perto.

— Fico feliz em estar de volta. Muito obrigada por concordar em vir comigo. – Ela sorriu revelando dentes inacreditavelmente brancos.

— Aqui será nosso lar. Onde nossos filhos irão correr e brincar. – O rapaz abriu os braços para demostrar a imensidão do horizonte. – Sinto o ar, querida. Premin agora vive em mim também. – Fechou os olhos e sentiu o vento bater em seu rosto.

— Construirei um reino de meras ruínas. Espero estar pronta. – Serena completou preocupada, cruzando os braços e se aproximando de Miguel. Ficou ao seu lado, parada, admirando a visão que tinha de suas terras.

— Está mais do que pronta. Repetirei mais uma vez. Eu uno a minha mão a sua para que juntos possamos fazer aquilo que não conseguimos sozinhos. – O Alfa a acalmou, segurando firme a mão dela.

— Quero que as bandeiras de Helias sejam estendidas por todo o território. Premin já não é mais um país abençoado apenas pelo leão, agora conta também com a proteção de seu deus. Assim como eu conto com a sua. – Ela afirmou, encostando a cabeça no ombro do militar.

— O lagarto ficará feliz em saber. – Comentou o Alfa brincalhão. Tratava seu patrono como um irmão. Embora ele já tivesse lhe dado muito trabalho.

Uma fumaça negra preencheu o espaço, recheada de pequenos vórtices e cheirando a magia. Serena tossiu um pouco, não conseguindo se acostumar as cócegas que o gás produzia em sua garganta. Viraram-se e se depararam com a figura séria de Helias os observando. – Mais respeito, moleque! – O dragão repreendeu Miguel pelo comentário anterior. – Sou o mais evoluído dos répteis e sinceramente, não pretendo escutar ofensas de um humano qualquer.

— É um prazer revê-lo também, Helias. – O marido de Serena ignorou a fala irônica e repressiva do deus. – O que faz aqui?

— Hoje, não tenho assuntos a tratar com você. – Voltou o olhar para a mulher. – Menina do leão, percebo que mudou de concepção ao meu respeito. Passou a reconhecer-me como um forte aliado, sinto-me extasiado com a oportunidade de abençoar essas terras tão fecundas.

— Aonde pretende chegar? – A morena perguntou confusa.

— Trago uma carta. – O dragão respondeu, seus olhos em polvorosa. – De seu pai.

— Isso é impossível, ele está preso junto com minha madrasta.

— Negativo, minha querida. Mathias fugiu da prisão há algumas semanas, pouco antes da morte de Brutus. – Explicou-se o deus, trançando os próprios cabelos negros compridos.

— Só pode estar de brincadeira. Quer dizer que ele foge e ainda me deixa uma carta de despedida?! Inacreditável. – Ela bufou estressada, a Lua começando a aparecer no céu.

— Aposto que irá querer lê-la. Diz respeito a seu futuro, minha jovem. Não me pareceu muito agradável. – Comentou Helias inquieto. Não gostara nem um pouco do que lera. Entregou o papel envelhecido e selado com um brasão vermelho. A Alfa abriu o envelope eufórica e começou a ler em voz alta.

Minha filha,

Já faz algum tempo, não é mesmo? Sinto sua falta, embora saiba que não irá acreditar em um terço de minhas palavras. Não estou mais preso no lugar horrendo para o qual me mandou após ter assassinado seu irmão. Escapei às custas de um pacto com um espírito que pouco se sabe a respeito. Talvez, no futuro, Amom lhe explique melhor de quem se trata. Eles são praticamente da mesma linhagem espiritual no final das contas.

O importante é que estou livre e bem longe de seu alcance. Não pretendo voltar, não se preocupe. Não ambiciono mais o trono que agora você usurpará. Aliás, faz-me muito orgulhoso que você seja a nova rainha. Esses eram meus planos desde o início. Mas, não venho tratar das questões de seu reinado. Minha liberdade teve um preço alto. O fruto de sua paixão não será poupado quando vier ao mundo. Esteja pronta para lutar por ele. Peço-lhe perdão por usá-la dessa forma, mas você não sabe nem de metade da história. Sua mãe, Serena, foi o maior erro de toda minha vida. Todavia, você foi o melhor presente que eu jamais pude receber.

Eu não matei o seu irmão. Nathan também era sangue do meu sangue. Meu filho. Queira eu ou não. Os deuses cobram alto por seus serviços, eu sempre soube disso. Mas, o garoto foi um tolo. Rogou a mim que retirasse sua vida. Disse que já estava consumado. É tudo que posso dizer por enquanto. Não sou inocente. Muito menos digno de uma reconciliação. Por isso, apenas leia essa carta com imparcialidade.

Soube que se casou. Com um drakiniano aparentemente. Espero que ele a faça feliz em minha ausência e não a traia sob hipótese alguma. Se não eu mesmo o matarei.

Sinto sua falta,

Mathias.

Uma lágrima escorreu dos olhos dourados da Alfa. O homem que redigiu aquele registro não era o tirano que havia maltratado a todos, era seu pai. Um pai que ela sabia que a havia amado com todo o coração, mas que mudara repentinamente em uma tarde de verão. Não conseguia acreditar no que estava escrito. Parou de se lamuriar e recompôs-se. Rasgou o documento com raiva. – Não quero notícias dele. – Disse cabisbaixa. – Que ele nunca mais apareça perante meus olhos.

— Tenha calma, Serena. – Pediu Helias sorrindo sarcástico. – Nós, deuses e reis, jogamos com os sentimentos humanos muito facilmente. Às vezes, a história que lhes contaram talvez não esteja completa. – Explicou como se mexesse as peças de um tabuleiro.

— O que quer dizer? – Perguntou Miguel sem entender.

— O futuro pertence ao equilíbrio, meus caros. ELA é a única que decidi. – O dragão disse, citando a Mãe Natureza. – Aguardem nela e obterão respostas em breve. – Começou a se dissipar em meio a suas chamas escuras e logo desapareceu.

Um calafrio percorreu as espinhas dos Alfas.

Algo grande iria acontecer.

Em pouco tempo.

*

Os dias passaram rapidamente até a chegada dos amigos do casal à Premin. Serena e Miguel esperavam ansiosos pela vinda dos ciganos, de seus animais e finalmente, de Will e os meninos que seriam adotados por eles. O palácio era grande demais apenas para que os dois e os empregados morassem por lá. Estavam sentados à mesa, aguardando notícias sobre o despontar da caravana que trazia os demais na fronteira. Tentavam se concentrar em outros afazeres administrativos enquanto expectavam.

— Quer dizer que o país do ouro não possui uma Grande Casa ou sequer um grupo de anciões? – Perguntou Miguel arqueando uma sobrancelha satisfeito. Odiava de todas as maneiras os palpites dos velhos.

— Não somos um povo religioso. – Explicou a Alfa servindo-lhe um copo de suco de maçã. – Afinal, Amom nos abandonou por quase quinze anos. Foi um tempo bem cético para todos.

— E pretendemos ou não reerguer esse tipo de conselho? – Questionou novamente o homem. Bebericou seu suco empolgado. Começar um reino do zero dava-lhe oportunidade de construir um lugar ideal para se viver.

— Não acho que precisemos disso agora. Ou melhor, penso que possuímos outras urgências. Como por exemplo, expandir alguns programas sociais e eliminar a fome e a miséria que está assolando o território. – Tentou ser clara e objetiva.

— Parece prudente. Com a quantidade de minério estocada podemos fazer um acordo com Draken e conseguir uma distribuição de alimentos básico por um tempo. Até que nossas plantações se tornem autossustentáveis novamente. – Aconselhou o militar, engajado em descobrir alternativas.

— Você não é um político ruim. Aparentemente, entendeu deveras sobre administração. – Serena sentou-se na cadeira ao lado dele.

— Apenas sei o mínimo que Hatori conseguiu me ensinar. Ele sim compreende todos os trâmites administrativos. – Disse Miguel humilde. Era melhor com estratégias do que com diplomacia.

— É bom tê-lo como nosso aliado. – A Alfa reconheceu, mordiscando um pedaço de torta. Olívia havia preparado com todo amor e carinho o café da manhã dos novos reis.

— Meu irmão tem um coração bom. Mas, com a chegada de Luna, até mesmo suas feições se tornaram mais alegres. – Concordou Miguel sorrindo. Lembrou-se da época em que ele e seu irmão viviam brigados por sua teimosia e revolta juvenil.

— Ah, querido! – Serena recordou-se de algo. – Em minhas análises a respeito do contingente militar, percebi que em nossas tropas a maior parte dos homens foi tida como inválida. A grande maioria está ferida ou morta de batalhas anteriores. Mas, soube que as mulheres foram privadas de participarem das militâncias e por isso, foram poupadas de lutar. Com um pouco de treino e uma melhor dieta, posso torna-las verdadeiras guerreiras.

— Então, pretende montar uma irmandade? – O homem perguntou animado.

— Acho que seria uma boa aposta para ganhar a simpatia do povo. Tratar mulheres e homens como potencialmente iguais é sinal de progresso. – Esclareceu feliz e esperançosa.

— Engraçado... – O Alfa pensou alto. – Parece a minha mãe falando.

— Ela com certeza foi uma mulher incrível por ter um pensamento tão avançado para sua época. – Serena elogiou, beijando logo em seguida os lábios do Alfa.

Um baque vindo de trás chamou a atenção de ambos, fazendo com que interrompessem a carícia. Seus amigos haviam chegado, trazendo malas pesadas consigo. – Dalila, Kalifas! – Serena abraçou apertado os ciganos sorrindo de orelha a orelha, sentia o palácio muito vazio sem a companhia deles. Receberam os cumprimentos de Miguel também, porém de maneira mais formal. – Minhas crianças! – Acariciou os cabelos exóticos de Steve e Logan que se sentiram acolhidos. Era como se tivessem ganhado dois irmãos mais velhos.

— É um prazer revê-los, meus Alfas. – Will estendeu a mão convidativo aos dois, que pegaram cada um uma e apertaram felizes. Pareciam demasiadamente animados.

— O prazer é nosso. Vamos apressem-se, aí fora está muito frio. – Os anfitriões trataram de arranjar casacos para os hóspedes e os levaram para dentro.

Passaram o resto do dia conversando sobre algumas banalidades aos pés de uma clareira e do som do bandolim orquestral de Miguel. A mansão imperial de Premin adquirindo aos pouco um ar familiar.

*

Era meio da noite e Serena estava inquieta no banheiro. Não conseguia parar de vomitar e as tonturas só pioravam. Lembrou-se, rapidamente das palavras de Luna antes que elas tivessem deixado a Sala das Almas.

*

— Precisa descansar, minha amiga. – Disse a goltyniana calma, enquanto elas caminhavam lado a lado quase que em silêncio. – Um novo ser cresce em seu ventre agora.

— O que quer dizer, Luna? – Indagou a Alfa, surpresa pela afirmação da loira.

— A herdeira de Premin já vive em você. Está grávida, Serena. De uma doce e valente garotinha. – Lunally sorriu, fitou profundamente os olhos dourados da mulher forte a sua direita e a parabenizou feliz. Seria tia. Estava muito satisfeita de poder dar a notícia a esposa de seu irmão.

A morena levantou as mãos delicadamente sobre sua própria barriga e sussurrou extasiada. – Eu já a amo. – O bebê em seu útero parecendo alegrar-se, mesmo sendo um minúsculo feto. – Obrigada, minha querida. – Abraçou brevemente Luna.

*

Sorriu para sua imagem cansada no espelho. Mesmo um pouco debilitada devido as crises de enjoo, estava mais do que alegre por conceber uma vida. Ainda mais o fruto de seu amor por Miguel. Fruto de sua paixão. — Estremeceu ao recordar as palavras grafadas na carta de seu pai. Espantou aqueles pensamentos dolorosos para longe. Aquela criança seria a mais amada de todas, isso ela tinha certeza.

— Meu amor? – O Alfa bateu na porta apreensivo. Percebera a ausência de sua mulher na cama. – Está tudo bem?

— É claro, meu senhor. Apenas fiquei enjoada com algo que comi mais cedo. – Pretendia adiar a notícia para depois da coroação deles como novos reis. - Já estou melhor.

— Tem certeza? Se quiser chamo Dalila para dar uma olhada em você. – Aconselhou ele, ainda preocupado. Algo estava estranho com sua esposa. Ela passava mal com cada vez mais frequência.

— Não precisa. – Ela disse um pouco rápido demais. Escovou os dentes e lavou o rosto até que parecesse um pouco melhor. – Poderia buscar um copo de água para mim, por favor? – Pediu mais calma, girando a maçaneta e fitando a feição desconfiada do militar.

— Ok. – Ele beijou o topo da cabeça dela e andou até uma mesa no centro do quarto para pegar o que ela havia pedido. Optou por não insinuar seus palpites, de modo a não a pressionar de maneira alguma. – Com açúcar? – Perguntou casualmente.

— Se puder. – Ela consentiu sentando na beirada do colchão macio. Miguel entregou o copo em suas mãos e observou beber o líquido lentamente. – Acho que consigo voltar a dormir agora. Sem mais surpresas essa noite, prometo. – Beijou o rosto do Alfa. Ele por sua vez a deitou na cama e cobriu seu corpo frágil e ainda um pouco pálido.

Suspirou indignado. – Não se preocupe comigo e apenas, trate de melhorar logo. – Juntou seu corpo ao dela e a abraçou de leve. Sentiu a respiração dela ficando cada vez mais pesada e graduada, até que ela se perdesse no próprio sono.

[...]

A situação administrativa de Premin e os problemas de gestão começavam a melhorar. Há um mês, Serena e sua família haviam se mudado para o reino e iniciava-se uma nova era de paz com a chegada desses. Eram reis justos. Preocupados com a educação do povo e seu futuro. A Alfa organizava junto a uma roda de garotas, os últimos detalhes da coroação dele e seu esposo. Decidira que faria a cerimônia ao ar livre, para que nenhum cidadão fosse privado de presenciá-la.

Estava na Sala de Trocas, onde Olívia, sua prima, dava os retoques finais em seu vestido preto com fios dourados. Escolhera a peça em uma mescla de culturas, a de Draken e obviamente, a do solo no qual pisava. Nas costas do traje, escamas se sobrepunham nos mais diversos tons metálicos, fazendo alusão as asas de um dragão. Já de suas orelhas pediam brincos com o símbolo do leão rei lapidado em ouro e obsidiana. Seus saltos finos e altos a deixavam ainda mais poderosa e alta. As madeixas castanhas douradas haviam sido penteadas em um coque complexo, para que a gola alta fosse um destaque. A maquiagem estava impecável, repleta de detalhes e brilhos cintilantes ao redor dos olhos delineados.

— Está pronta! – A plebeia sorriu com o resultado.

— Obrigada por tudo que a senhorita está fazendo por mim. – Serena desceu do pequeno palco onde estava a se aprontar. – Mas, devo me apressar agora. Miguel já deve estar me esperando no centro.

— A carruagem já a aguarda, Vossa Majestade. – Kalifas adentrou no ambiente e fez com que a rainha o acompanhasse. Levou-a para o local escolhido e logo, encontraram-se com o drakiniana, que estava vestido com toda a suntuosidade que demandava o evento. Sorriu ao avistar sua mulher, tomou-a pelos braços, dispensando o cigano e a elogiou.

— Nunca jamais vi dama mais adorável como a senhorita. – Beijou-a por um instante apaixonado.

— Vejo que traz resquícios dos trajes preminianos, não sente seu orgulho sendo ferido nem um pouco? – Provocou a mulher, mordiscando seus lábios carnudos. Uma pequena multidão começava a se reunir ao redor deles.

— Não mesmo, minha senhora. Helias sentir-se-ia honrado com esse seu vestido que tanto o homenageia. – Rodopiou a preminiana, fazendo com que um sorriso travesso despontasse de seus lábios.

Will os convocou de longe, para que se sentassem em seus tronos feitos do minério mais abundante da região. O ouro. As coroas feitas do mesmo material só que negro e opaco estavam guardadas e seladas dentre de pequenas cúpulas de vidro, que só poderiam ser abertas sob o som da voz de Vossas Majestades.

Serena e Miguel caminharam devagar em meio ao povo, com uma postura elegante e milimetricamente calculada. Queriam transmitir seriedade, mesmo que no fundo desejassem rir com a situação. Acomodaram-se em seus aposentos. Steve e Logan encontravam-se no palanque também ao lado de seus novos pais. Trajavam roupas formais, típicas de militares de Draken, trazendo um quepe sobre suas cabeças. O ritual começou.

Dalila tomou a palavra, com sua voz penetrante e exótica. – Bem-vindos preminianos (as)! – Disse alto para que fosse ouvida por todas. – Hoje celebramos a coroação real dos novos alfas de seu país. É com muito orgulho que desejo a todos uma boa cerimônia. – Fez uma breve reverência aos reis e sentou-se em seu lugar. Serena levantou-se, acompanhada prontamente de Miguel. Esperou que Logan lhe entregasse a cúpula nas mãos e a abriu cantando baixinho uma canção, retirando de lá a coroa de seu marido. – Eu, Serena, filha de Mathias, o Tirano e de Georgiana, a Corvo. Irmã de Nathaniel, o Oprimido,  Enteada de Liliana, a Soberba e Sobrinha de Andaluzia, a Corajosa. Corou-o a ti, amor da minha vida, meu rei, marido e companheiro pela eternidade, Miguel de Draken, para que governes este reino com toda a sabedoria a ti investida por seu protetor. – Depositou o acessório pesada sobre os fios do Alfa e ele repetiu o processo, saudoso, dessa vez, estive lhe trazendo o objeto de vidro.

— Eu, Miguel, filho de Órus, o Justo e de Verônica, a Misericordiosa. Irmão de Hatori, o Sábio, Alfa maior de Draken. Corou-o a ti, dama de minhas noites, minha rainha, esposa e companheira pela eternidade, Serena de Premin, para que governes este reino, que é teu por direito humano e divino, com toda a sabedoria a ti investida por seu protetor. – Colocou a coroa sobre a cabeça da Alfa e percebeu um sorriso cálido e realizado se formando em seus lábios. Todos os dias, ela ficava mais linda.

O aglomerado de preminianos irrompeu em gritos e aplausos. – Vida longas aos reis! - Estava consumado. Tempos prósperos chegariam a Premin em breve.

*

— Quando vai me colocar no chão? – Serena questionou enlaçando seus braços ao redor do corpo do Alfa e roubando um beijo intenso de seus lábios convidativos. Estavam na Mansão Dourada, o apelido carinhoso que Miguel havia sado ao palácio. Acabavam de chegar da coroação e não estavam nem um pouco cansados, pelo contrário um fogo se acendia entre eles.

— Quando eu quiser. – Ele provocou, beijando o pescoço e fazendo com que ela soltasse um gemido rouco em seu ouvido. Carregou-a até a cama e a sentou com cuidado. Passou a mão massageando os cabelos da Alfa, a procura do grampo que os mantinham presos. Puxou o acessório e observou extasiado os fios penderem para baixo cobrindo os ombros da mulher com cachos pesados. Ela parecia uma deusa com aquele olhar penetrante, passou os dedos por seu rosto delicado e lhe arrancou carícias ousadas. Ela deixando-se levar facilmente pelo calor que emanava do corpo sedutor a sua frente.

A morena lera em algum lugar que com a gravidez tudo ficava mais excitante. As mulheres descreviam como um prazer frenético, necessário e saudável. Mordeu a orelha do Alfa e arrancou o casaco do terno que ele trazia. Deitou-o na cama e traçou um caminho de beijos em seu abdômen. – Quero te ouvir gemer hoje... – Ele sussurrou próximo a seu ouvido, fazendo com que a intimidade dela ficasse úmida. A preminiana arranhou as costas dele de leve por dentro da camisa, que saudade ela estava do frenesi que ele a proporcionava. Era um homem quente como o pecado. Suas mãos apalparam as nádegas da morena e ele levantou o vestido dela até a cintura, e então apertou novamente. A Alfa soltou outro gemido baixo, em parte para provoca-lo e em parte, porque realmente era bom sentir os seus toques.

Miguel abaixou as alças do traje feminino e beijou seus ombros nus, adorando o cheiro de jasmim. Suas mãos percorreram toda a extensão superior do vestido e ele não se deteve até que ela estivesse apenas de roupas íntimas em sua frente. Seus olhos encontram os dela e os lábios da mulher se curvaram em um sorriso perfeito. Serena ansiava por senti-lo dentro dela. Era como se seu corpo precisasse disso para continuar inteiro. Cada carícia dele deixava seu ser em brasa e a fazia se sentir viva.

Suas mães apertaram a cintura fina da preminiana de leve e ela rebolou em seu colo. Levantando para retirar a calça dele, recebeu um protesto. – Não levanta não, vem cá. – Soltou uma risadinha baixa com a fala desesperada do homem.

— Calma, só vou melhorar isso! – Exclamou desabotoando a calça e a jogando para longe, em seguida puxando sua camisa por completo. Ele estava ali, perfeito a sua frente, apenas de cueca para ela. Mordeu os próprios lábios ao contemplar aquela cena, ele parecia vindo do paraíso.

— Não morde os lábios assim, princesa...

— Por que? – Se fez de desentendida e voltou a se sentar sobre seu colo. Quicou e rebolou mais um pouco por cima de sua roupa íntima e ele se apertou ainda mais contra o corpo escultural da morena. Ela pode sentir sua excitação abaixo de sua intimidade e pela boca do militar, escapou um gemido surdo.

— Você ainda pergunta por que? – Ele mordiscou os lábios de sua esposa e os chupou lentamente. –Não me provoca, você sabe que se eu entrar nesse jogo vai ser para ganhar...

— Pois tente, então. Veremos quem irá vencer. – Suas mãos subiram até os seios fartos dela e ele os apertou por cima do sutiã. Rapidamente, tratou de retirá-lo e deixou a região livre para ele, seu sorriso se alargou ao perceber o quanto ela desejava seus toques. Miguel os apalpou com as duas mãos e sua língua quente fez movimentos circulares intercaladamente entre ambos. A Alfa apertou seus cabelos curtos e o puxou mais para sim. Ele desceu as mãos até as coxas da mulher e a acariciou. Ela gemeu de frustação e prazer, tudo ao mesmo tempo e ele riu. Afastou sua calcinha com a boca e a tirou. O coração da morena acelerou e seu corpo automaticamente arquejou contra o dele. Seu hálito quente a envolveu, mas ele resolveu cumprir sua promessa e a torturou mais, sem sequer passar no ponto onde ela queria. Quando menos a rainha esperava, a ponta da língua do rapaz adentrou sua intimidade. Ela começou a gritar de prazer quando ele mordeu, delicadamente seu clitóris, e o sugou.

— Aí, que delícia Miguel, continua, vai continua. – Ele sorriu e prosseguiu, até que ela teve seu primeiro orgasmo. O militar chupou tudo e voltou para beijar a boca entre aberta devido ao êxtase de Serena. Sua pélvis roçou contra o corpo dela e ele apertou suas coxas em encontro a seu quadril. A mulher, por sua vez, roçou a perna por seu membro, ainda envolto pela roupa íntima, e ele gemeu. Ele retribuiu fazendo o mesmo, tirando completamente o autocontrole da mente da Alfa. Ela o virou na cama e deslizou a mão por seu físico. Provocou-o um pouco até arrancar sua cueca e admirar a visão tentadora de seu corpo nu. Ele levantou um pouco as pernas da morena e a preencheu com agilidade, dessa vez sem ser lento. Seu ritmo era rápido e ela gostava. Começou a arfar de prazer e falar seu nome repetidas vezes. Arranhou suas costas fortes, sem conseguir evitar. Os movimentos ganharam velocidade e seus dedos entraram em ação, fazendo círculos na intimidade da Alfa enquanto ele a penetrava. Aquilo era tão bom que ela começou a apertar os próprios seios enquanto sentia todo aquela ambrosia que ele a proporcionava.

— Ah, pelos deuses, isso é bom. Você é bom demais! – Sussurrou dominada pelo prazer.

— Você gosta? – Ele diminuiu a penetração e ela praticamente entrou em colapso.

— O que você acha? – Beijou o pescoço do homem.

— Então pede, pede para mim. – Mandou deixando-a ainda mais excitada com aquela voz sexy.

— Eu quero você, meu amor. – Implorou manhosa. Então ele atendeu o pedido e continuou com os movimentos rápidos, até que atingiram o climáx juntos. Ela se deitou em seu peito e acariciou seus cabelos até pegar no sono.

[...]

Serena e Miguel foram bem cedo para a central de treinamentos da Irmandade. As mulheres levavam jeito com as armas e pareciam ser estupendas estrategistas em combate. A morena desejava que um exército nacional se formasse logo, para que as tropas de Draken fossem expulsas. Não gostava do fato da soberania de seu país sofrer tamanha interferência. O Alfa notara que sua mulher sorria mais do que o habitual e indagou baixinho, curioso pelo motivo de tanto felicidade. – O que se passa nessa mente?

— Nada.... É só que tudo ontem foi mais intenso. Eu nunca me senti tão amada na vida. – Disse um pouco envergonhada.

— Ah é? – Ele questionou devagar. – Podemos repetir se quiser, minha musa. – Beijou os lábios dela devagar, arrancado um suspiro das espectadoras.

— Você anda muito safado. – Ela se aproximou do ouvido dele para dizer.

— Lua de mel atrasada, minha querida. Hormônios a flor da pele. – Dramatizou brincando.

— Marquei com Logan e Steve de almoçarmos em um ótimo restaurante da reunião, quero contar sobre meus planos futuros para eles. Deseja ir? – Convidou sorridente.

— Deixe-me ver. – Fingiu olhar uma agenda. – Não tenho nada marcado para o horário. Esteja certa de que terão a minha presença. – Ele consentiu e ela lhe deu soquinhos de leve.

E os dias em Premin foram assim.

Construídos dia após dia.

Sob a égide de uma pura e nobre paixão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Triste né?
Mas Premim está se desenvolvendo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "MELLORY — entre Deuses e Reis" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.