Lost Souls. escrita por FantasyJuli


Capítulo 2
Capítulo 2.




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E como é nada de bom é imediato, demorou um pouco para que eu te encontrasse novamente, uma semana pra ser mais preciso. Era um sábado e o meu sofá estava mais confortável que o comum, meu corpo já tinha moldado um lugar especial no acolchoado, havia acabado de acender um baseado e eu não planejava sair dali tão cedo. Um programa passava na televisão e eu não prestava a mínima atenção.

Na verdade, um tanto sem querer, me sentia solitário. Minha vida já foi mais animada, na época em que eu fugia de casa e fazia merda até não poder mais, mas as coisas mudaram e foi preciso colocar os pés no chão. Infelizmente ou felizmente, não foi isso que aconteceu, acabei trancando a faculdade e graças ao meu pai eu posso manter uma falsa vida “confortável” e “agradável”. Meu celular tocou e eu fui obrigado a me retirar daquela maresia e atende-lo.

—alô. –desejei secretamente que fosse uma daquelas ligações de plano de celular, então eu não precisaria conversar.

—meu pivete, vai fazer o que hoje? –ouvi o Victor pelo outro lado da linha.

—provavelmente nada. –caminhei com o telefone preso entre o rosto e o pescoço, abri a janela da sala e permiti que o sol iluminasse a sala e deixei que a fumaça escapasse.

—porra. Vai rolar uma ravezinha, não sei quem vai tocar não, mas eu consegui dos ingressos com os caras do trampo. Vamo colar?

—sei não, muita coisa pra fazer hoje. –voltei a encarar o meu sofá e ele parecia tão solitário quanto eu, ele precisava de mim tanto quanto eu precisava dele.

“senta ai, pra que sair? Ver gente?” uma saudade súbita de quem eu era me atingiu, saudade da época em que meu melhor amigo não era um sofá vagabundo e que esse título era meu e eu gostava disso. Hoje eu sou um vagabundo aposentado que vive feito pária, um zumbi. E então eu decidi que isso precisava mudar, esse não era eu. Eu precisava esquecer e voltar a viver.

—eu sei que você não vai fazer porra nenhuma, te conheço irmão.

—de boa, eu vou. Que horas?

—é na praia, na frente do seu AP eu passo ai umas onze horas e a gente vai. De boa?

—tranqüilo.

—então falou mano.

Desliguei o celular e voltei a me deitar, dessa vez no chão, me recusava a deitar no sofá novamente. Ele era um buraco negro de emoções e uma tempestade de memórias, mais significativo do que qualquer um possa imaginar e vai muito além do que eu possa explicar.

O relógio pendurado na parece grafitada indicava 13h43min, decidi que eu precisava fazer alguma coisa, comer talvez. Levantei-me e caminhei até o meu quarto, eu gostava daquele apartamento, as coisas eram perto umas das outra e era extremamente confortável. Talvez eu trocasse de sofá.

Vesti uma calça moletom cinza, uma camiseta branca e os chinelos de sempre, tranquei o apartamento e sai do prédio. O sol escaldante e a brisa de Copacabana me atingiram assim que pisei os pés na rua, centenas de pessoas passavam por mim aproveitando o seu dia, mulheres de biquíni (nada a reclamar sobre isso) e homens exibindo seus músculos inchados, mas para mim mais pareciam uns balões de ar, completamente vazios por dentro. Porém, não cabe a mim julgar o interior das pessoas.

Dobrei a esquina e segui sentindo o vento bater em mim e o sol fazer os olhos, meus pés caminhavam sozinhos me guiando para onde eles quisessem e eu assentia. Esperei o sinal fechar para que eu pudesse atravessar a rua, do outro lado uma barraca bem posicionada no calçadão servia água de coco o que cairia muito bem no momento já que não sentia saliva alguma na boca.

Sentei em um dos bancos de madeira sentindo-me estranho e não era efeito da erva. Passei os olhos pelo horizonte fitando o mar e as várias pessoas que usufruíam de dele, foi naquele momento que o destino resolveu entrar em jogo novamente.

Lá estava ela, desfilando para fora do mar, os cabelos molhados e ondulados emolduravam o seu corpo, um brilho demoníaco saia da sua pele capaz de ofuscar até mesmo o sol e um sorriso absurdo estava preso ao seu rosto. Você andou pela areia sem perder a pose e se sentou do lado de uma amiga, passou a mão pelos cabelos molhados e esticou o corpo para o sol.

Era como uma sereia podia atrair qualquer um para fundo do mar se quisesse, mas você não parecia perceber o estrago quem faz em quem cruza seu caminho, é maldade sem querer, é dor que eu tinha, mas nem sentia doer. Queria escrever uns versos sobre você, só que mais uma vez eu me contentei em só admira-la.

—mulher é um bicho escroto ? –começou o vendedor de coco. –ó pra isso, ô uma mainha dessa lá em casa, eu dou-lhe um grau que ela ia sair cantando pro santo. -o que você vai querer? –o homem perguntou demonstrando alguns dentes faltando, passei os olhos pela pequena barraca de madeira coberta com umas folhas coqueiro procurando qualquer outra coisa para vender que não fosse coco. Não tinha.

—um coco, por favor. –o homem assentiu, pegou o coco e começou a cortá-lo –bem geladinho, na moral! –abri um sorriso e o homem retribuiu esticando o dedão.

—oxe,mas é claro, rapaz! –o sotaque baiano do homem explicou toda a gentileza por trás do sorriso sem dentes.

Enquanto ele partia o coco passei os olhos novamente pela praia procurando por você, mas como se fosse uma mania, você já havia desaparecido. Você chegava, fazia seu show, seduzia os espectadores e depois sumia deixando-os querendo mais. Não é possível que o Rio seja tão grande e nós não nos encontremos novamente. Mas o destino brinca.

—aqui, são quatro reais. –enfiei as mãos nos bolsos do moletom catando todas as moedas que eu tinha, juntando todas eu consegui pagar pelo coco.

—essa mulher, aquela que você estava falando agora...Ela vem sempre aqui? –tentei o máximo para não parecer um idiota.

—Lua? Aquela morena? –ele passou um pano na testa limpando o suor do rosto e prosseguiu. –rapaz, quase todo dia.

—ah sim. –era uma informação importante caso eu quisesse tirar as coisas das mãos do destino e mexer os meus próprios pauzinhos.

—mas vá com calma viu meu filho, que essa ai é chave de cadeia.

—pode deixar. –peguei a minha bebida, coloquei um canudo no buraquinho feito pelo moço e continuei minha vida pelo calçadão, sem neurose e sem estresse, sem rumo e sem obrigação.

.....

Era por volta das 11 horas e eu não havia sequer tomado banho, acabei cedendo ao meu sofá e lá estava eu de novo, imerso naquele monte de espumas, depois de muitas reflexões, possíveis desculpas para desistir, eu me levantei. Caminhei até o chuveiro e passei quase uma hora tomando banho tentando me atrasar propositalmente.

Abri meu guarda-roupa e peguei as primeiras coisas que vi pela frente, uma calça moletom com estampa camuflada, uma camisa branca um pouco grande com uma mulher gangster estampada na frente e um boné branco, passei o meu melhor perfume e fui. Antes de sair de casa o sofá me encarou e pediu para que eu voltasse e lhe desse atenção, que estava solitário e precisava de um amigo. Eu mandei se foder e tranquei a porta.

A lua estava cheia lançando raios prateados iluminado todo o Rio de janeiro, acendi um cigarro antes de me por a andar. Caminhei pelo calçadão seguindo o som da festa que ficava cada vez mais alto indicando que eu já estava próximo, mais alguns minutos andando e eu finalmente cheguei ao local da festa. O Victor estava parado na entrada da festa e revezava sua atenção entre o celular e o seu baseado.

—eai mano.

—cara, eu to te ligando há uma hora.

—esqueci o celular em casa. –passei as mãos no bolso procurando o celular, ao invés disso eu encontrei a minha carteira.

—de boa, vamos entrar logo.

Continua...


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