“Como são sábios aqueles que se entregam às loucuras do amor!”

Jo. Cooke.

Lorde – Yellow Flicker Beat

 — Você tem certeza disso? — a voz de Jordan Webb foi-se ouvida no cômodo quase vazio em que estava. Os olhos azuis de Yuliya dirigiram-se ao rapaz sem camisa que estava na sua frente e logo os mesmos olhos pousaram nas mãos de Jordan que segurava uma seringa com um líquido lilás que poderia até ser considerado belo se não fosse tão mortal. 

  Yuliya estava trêmula, ela sabia o que fazer, era só dizer sim e Jordan iria injetá-lo em seu pescoço, mas por que era tão difícil dizer essa simples palavra? Talvez pelo fato de que estaria botando o Império Russo numa futura guerra, mas evitava pensar em tal coisa. Ninguém precisava saber que Yuliya Valentinova Krasnova, futura czarina do maior Império do Novo Mundo, estava se encontrando às escondidas com Jordan Webb, um simples norte-americano, ou melhor, o líder da Facção Vermelha, o maior grupo de rebeldes do Novo Mundo. Yuliya sabia que era inevitável, por mais que fosse considerado um crime se envolver com o criminoso – principalmente no caso dela e dele –, ela não podia evitar os sentimentos arrebatadores que tomavam conta de seu ser quando estava perto de Jordan e ele também sabia o que era se envolver com uma russa, principalmente quando essa russa era em questão a futura czarina do Império Russo, mas ele nunca foi de seguir regras mesmo.

   Ela sabia muito bem quais consequências viriam caso aceitasse aquilo, mas a questão era que ela queria, queria muito se livrar do fardo que era carregar tantos países em suas costas e não era só isso, Yuliya era movida ao seu emocional, era uma avalanche de emoções e sentimentos e por vezes muito turbulentos e ela realmente não queria estar fadada a um relacionamento sem amor e com um único propósito: alianças. Pouco lhe importava o que aconteceria com a Rússia e a Dinamarca caso quebrasse essa aliança, deixou de lhe importar a muito tempo, desde que conheceu ele. Yuliya ansiava por um amor de verdade, que a fizesse sentir os nervos à flor da pele, queria se arrepiar a cada toque, a cada beijo, a cada olhar e ela conseguiu, depois de tanto procurar conseguiu encontrar o amor nos braços de quem lhe era proibido, mas era aquele ditado “No amor e na guerra vale tudo”.

    Mas aquela parte chatinha de seu cérebro que a fazia relembrar-se totalmente de sua família e principalmente de Maxim e Mikhail. Maks, com tantos problemas para controlar a raiva e Mikhail que era frio demais da conta, mas o problema era: nenhum dos dois queria o trono. Lembrava-se muito bem de Maks agradecer aos céus por não ser o primogênito e de Mikhail estar sempre fugindo dos assuntos que envolviam o trono.

  Ela estava dividida entre assumir o seu papel como uma boa governante e denunciar Jordan à morte ou acabar com a felicidade de seus irmãos. Mas como fora dito antes, Yuliya era emocional, ela amava demais e odiava demais, tudo dez vezes mais e não havia mais nada no mundo que ela amasse mais que Jordan Webb e foi com esse pensamento que ela dissera ‘sim’ a pergunta feita por Jordan.

  Ele sorriu carinhosamente para ela, feliz que seu plano estava dando finalmente certo. Passou a mão livre no cabelo ruivo da namorada como forma de acalmá-la já que a mesma tremia levemente.

  — Você sabe que não precisa ter medo, já foi testado antes em dos cobaias de Henry e deu certo... — tranquilizou-a. — Isso irá paralisar alguns de seus órgãos e você irá dormir, não estará sentindo nada e nem se dando conta do que está acontecendo ao seu redor, seu coração ainda irá bater bem fracamente, mas você ainda estará viva, mesmo que ninguém saiba. Mas lembre-se, Yuliya, o efeito só dura um dia, nós temos que lhe tirar do palácio antes do tempo acabar.

   — Eu sei Jordan, nós já passamos esse plano umas quinhentas vezes — sorriu de forma trêmula. — Por favor, só ande logo com isso...

   Ele assentiu devagar, deu um beijo na testa da amada sussurrando as palavras que ela tanto ama:

   — Eu te amo.

   — Eu te amo... — murmurou Yuliya segundos antes de sentir a picada da seringa em seu pescoço.

     A primeira sensação que tivera foi de algo extremamente gelado passando por suas veias e artérias, logo depois o ar começara a faltar e o cansaço lhe tomava conta de seu ser, sentiu seu corpo cair de encontro a cama enquanto seus olhos se fechavam e a última coisa que lembrou-se foi de os belos olhos azuis de Jordan a olhando.

***

    O corpo de Yuliya Krasnova jazia na cama super king do quarto em tons de verde e creme. Os cabelos ruivos estavam jogados nos seios da mulher e a pele tão branca quanto papel, estava pálida, os lábios sem aquele rosado que estava sempre presente. Já tinha passado algumas horas desde que uma das servas do palácio encontrara o corpo da futura czarina do Império Russo. Estava todos no quarto de Yuliya, Valentin Krasnov, o atual czar russo, Alisa Krasnova, a tirana czarina russa e mais os quatro filhos do casal.

   Kristina Krasnova encontrava-se ajoelhada ao lado da cama de sua irmã mais velha, chorava copiosamente enquanto segurava a mão pálida e fria de sua irmã, Maxim abraçava Viktoria e murmurava palavras de conforto enquanto algumas lágrimas rolavam por seu rosto, já Mikhail apenas encarava o corpo morto de sua irmã sem mostrar qualquer reação, mas ainda era possível ver um brilho úmido em suas bochechas. Alisa desviou os olhos verdes do marido – que agora enxugava as lágrimas que derramara – para a grande janela, assim como o dia, o clima mostrava-se cinzento, frio, triste, sôfrego. Ela era sim uma pedra de gelo como todos pensavam, não iria mentir dizendo que não estava triste com a morte de sua filha, afinal, não era completamente má, mas também não iria chorar como todos naquela sala, jamais demonstraria fraquezas. Um governante não pode demonstrar fraquezas, principalmente quando uma guerra estava prestes a explodir. O cérebro da czarina trabalhava com diversas formas de distrair a população deste acontecimento e em quem o trono iria ser passado; sabia muito bem que Maxim era o próximo na linha de sucessão, mas sabia também que o povo jamais deixaria que um TEI assumisse o trono. Soltou um suspiro frustrado com toda essa situação. Por que Yuliya tinha que morrer? Desde quando ela tinha problemas cardíacos? Eram as únicas perguntas que rondavam a cabeça da czarina.

  Mas ela ainda tinha uma pulga atrás da orelha, afinal, Yuliya nunca mostrara um sequer problema de saúde e sabia que, tirando Maks e Viktoria, seus filhos tinham a saúde de um cavalo, então por que no laudo dizia que a causa da morte de sua filha tinha sido um ataque cardíaco? Isso não estava certo, nem de longe estava.

  — Sua filha morreu, mostre alguma reação — a voz grave do czar russo pôde ser ouvida, Alisa olhou com indiferença para o homem ao seu lado.

  — Você sabe mais do que ninguém que já deixei de mostrar reações há muito tempo — Alisa murmurou com a voz fria.

   — Mas eu pensei...

  — Pensou errado, Valentin, eu não mostro fraquezas, e você deveria fazer o mesmo. Como quer ser um bom governante para o seu povo se está sempre chorando como uma criança birrenta? — ela mantinha a voz baixa e cortante, para que somente o marido a ouvisse. Valentin olhou para a esposa, seus olhos transbordavam raiva.

   — Eu perdi as esperanças em você, Alisa...

   — Já estava na hora, Valentin, afinal, por que insistir em algo que não tem solução? — ela mostrou um dos seus poucos sorrisos, mesmo que este fora coberto de ironia. Alisa saíra do quarto sem que ninguém percebesse e agradeceu por isso, nada a irritava mais do que ter que dar satisfações a alguém.

   Uma ideia rondava em sua mente enquanto andava pelos corredores do palácio. Uma ideia insana e extremamente traiçoeira, afinal, não eram os Krasnov os mais traiçoeiros da história da Rússia?