Depois de Fred escrita por Eponine


Capítulo 5
Aceitação




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2019, George

 

 

ASSASSINO! — gritou Franchesca Diggory mais uma vez, apontando seu dedo para Harry, que a olhava com um descaso debochado que não escondia nem um pouco a fúria que estava prestes a tomar conta dele. Audrey tapou a boca, desistindo de controlar a velha amiga, e Bill simplesmente saiu da casa, cansado demais para assistir alguma briga.

Ele sentiu um pouco de pena de Harry, toda a confusão de vira-tempos e a suposta filha de Voldemort já tinha sido resolvido, mas Franchesca chegou atrasada para a festa e estava explodindo a bomba ali mesmo. George fitou o rosto velho de Harry, impressionado em como ele tinha envelhecido naquele ano.

— Você chegou bem atrasada, senhorita Diggory, porque eu já parei de me culpar por esses acontecimentos há muito tempo! — gritou Harry, trêmulo. Mas a velha Franchesca apenas riu, com seus cachos louros armados e os óculos escorregando pelo nariz.

— Bem, eu estou aqui para lembra-lo! — retrucou. — Meu irmão está com a saúde debilitada e você sequer se dá o trabalho de conferir se aquela garota que saiu DE LUGAR NENHUM realmente era quem dizia ser!

— BEM, ISSO DEVIA SER O SEU TRABALHO, NÃO MEU! — urrou Harry.

— Ok, chega, vamos nos calmar... — apartou Hermione. — Temos convidados aqui hoje, por favor...

George olhou Draco Malfoy encostado na parede da sala, congelado. Respirou fundo e saiu da sala, passando pelo bolo de aniversário na mesa central. Se eles não insistissem em fazer comemorações no dia de seu aniversário, aquela briga sequer estaria acontecendo. Passou as mãos no cabelo, cansado, e tentou pensar em uma boa desculpa para sumir d’A Toca com Angelina e seus filhos.

— Cara, essa mulher é maluca! — comentou Ron se aproximando após fechar a porta que dava no jardim. — Ela não tem o menor senso de respeito... Digo, hoje é aniversário de Fred também e...

— George! — chamou Ginny também aparecendo, com Bill e um Percy emburrado. — Merlin, eu fiquei tão preocupada. Está tudo bem? Ela estragou tudo, não? Não conseguimos fazer ela entender que essa data é muito importante para nós.

— Na verdade, eu... — George olhou seus irmãos, constrangido. Ele se sente muito mal com o cuidado que Ginevra tinha perto dele, como se o nome Fred fosse mata-lo se fosse mencionado (o que não faz sentido, ele não teria dado aquele nome para seu filho se lhe causasse tanta dor!), a impaciência de Percy, de braços cruzados, irritado por ter que se reunir com seus irmãos em mais 1º de Abril, a melancolia de Bill, como uma tia que nunca saiu do luto e a personalidade explosiva que Ron tinha adquirido. Merlin, como ele poderia se livrar daquilo? — Olha, eu só quero ir para casa.

Ginny tocou o peito, lhe dando um olhar de condolência e George soube que foi interpretado errado.

De novo.

— Posso ir para casa então? — questionou Percy.

Não, você não pode ir para casa! — retrucou Ron, aumentando o tom de voz. — Você pode ficar e apoiar o seu irmão e a sua família! Algo que pelo jeito você ainda não sabe muito bem como funciona!

— Ei, Ronald! — estrilou Ginny. — Vamos respeitar a dor de George, ok?

— Eu não estou com dor ne... — cortou ele, confuso.

— É um dia difícil para todos! — continuou ela, visivelmente abalada. — Olhe só, você magoou Bill!

George olhou o irmão com seu olhar vazio e ele sentiu uma vontade incontrolável de gargalhar. Merlin, eu já perdi minha alma, pensou ele, ainda com vontade de rir. Fred estaria gargalhando. Ignorou os berros de Ronald e suas veias saltando da testa e pescoço, tentando não rir das respostas ácidas e sarcásticas de Percy, que só deixava Ron mais e mais irritado, não se abalando com o sentimentalismo forçado de Ginny e a frustração silenciosa de Bill, visivelmente magoado.

O homem apertou a ponte do nariz, perdendo a paciência.

Ok, ok, chega! — cortou ele, empurrando Ron para longe de Percy. — Chega, ok? Chega! Pelo amor de Merlin, chega!

Os quatro irmãos olharam para George.

— Eu não quero mais festas de aniversário, ok? Eu não quero um culto a Fred, cara, já se passaram vinte anos, ok? Ele morreu. Fred está morto. — reforçou ele, fazendo Ron, desviar o rosto e Ginny contorcer-se para segurar o choro. Entretanto, Percy apenas rolou os olhos e Bill derramou mais algumas lágrimas melancólicas. — Vocês vivem preocupados comigo, se estou bem, se não estou sofrendo demais, olha... Se preocupem com vocês, ok? Porque quem não superou a morte dele não foi eu. Olhem pra vocês, todo ano é a mesma palhaçada, eu só quero comemorar meu aniversário do jeito que eu quiser, se eu quiser passar o dia inteiro trancado em casa chorando pelo meu irmão morto, me deixem em paz. Se eu quiser uma festa no México, então venham e participem, porque o aniversário é meu também, porra, eu estou aqui, não Fred!

Ele tomou ar após o discurso, impressionado com o fato de ter conseguido expressar tudo que segurou pacientemente por todos aqueles anos. Ele entende seus irmãos, ele passou pela negação de Percy, não entendendo o que tinha acontecido, não aceitando que ele seria obrigado a viver sem Fred. A raiva de Ron também passou por suas veias, o fazendo culpar deus e o mundo, a barganha de Ginny, que o fez procurar saídas, qualquer saída para que ele não tivesse que aceitar aquele futuro que ele tanto temia.

A depressão que se instalou em Bill só o fez perceber que as pessoas morrem, e o relógio não parou quando Fred fechou seus olhos. E que não, ele não iria querer uma comemoração mórbida todo 1º de Abril, ele ia querer ver George bêbado errando o caminho de casa, ou ia querer rir das crianças aprontando alguma coisa que faria Ron explodir ou Percy ter um surto silencioso.

Eles tinham se esquecido quem era Fred? Ele virou derivados de memórias e deixou de ser alguém que existiu e que tinha uma personalidade, defeitos e qualidade, em vez de apenas qualidades como todos passaram a pensar que ele tinha?

— Talvez seja por isso, exatamente isso que acontece todo ano, que Charles sumiu. — George cruzou os braços. — Ele não ia aguentar essa loucura.

O homem ruivo deixou os irmãos no jardim e entrou na casa novamente, ignorando a briga catastrófica de Franchesca Diggory com Harry, ignorando também o chamado de alguns convidados. Pegou sua pequena filhinha, Zoe, nos braços e pediu para Angelina chamar Roxanne e Fred II.

— Onde vamos? — perguntou ela, já com os filhos.

— Eu quero comer um hambúrguer. — sorriu ele, já fora d’A Toca. Fred II puxava o cabelo da irmã enquanto a família saia da casa barulhenta, fazendo Angelina brigar com os dois.

— Podemos tomar um milk-shake também? — questionou Roxxy, no auge de seus doze anos. George sorriu para a pequena, assentindo, sentindo os dedinhos de Zoe apertarem seu nariz.

— O que você quiser, meu amor.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Então, tem duas coisas nesse cap que podem desagradar hahahahaha Primeiro que ele vem da linha de Cursed Child e todo o babado que rola no livro.

E segundo que não, o George não é o irmão que mais sofre pela morte, inclusive, ele já aceitou e sobreviveu a isso.

E eu acho que não poderia ser diferente, não consigo imaginar um George amargurado... Enfim, espero comentários!

*A Franchesca é uma Diggory que eu criei em outras histórias, ela é da idade do Charles e era uma das melhores amigas da Nymphadora (assim como Audrey também era).

Obrigada por ter lido, até o próximo capítulo!