2021, Charles

— Ei, garoto. — chamou Charles, apontando sua garrafa de cerveja para um jovem de madeixas azuis, ajudando a pequena Zoe a colocar sua bóia para entrar na piscina de plástico no quintal d’A Toca. — Já te disseram que você tem o nariz da sua mãe?

Edward uniu as sobrancelhas, deduzindo que aquele homem que ele nunca viu na vida estava bêbado.

— Não... — respondeu, soltando um riso rápido. Ele colocou Zoe na piscina e Roxanne ajudou a irmã, segurando sua mão. — O senhor conhecia minha mãe?

Charles gargalhou de forma tão grutural que Edward congelou, olhando para os lados. Buscou apoio nos supostos irmãos daquele homem que parecia ter acabado de sair de uma caverna, mas todos pareciam entretidos na briga de Ronald com Harry sobre em que posição colocar a carne na churrasqueira. O suposto Charles levantou-se, terminando sua cerveja em um único gole, e Edward sentiu-se constrangido com sua forma definida (mesmo no auge de seus cinquenta anos) e sua barba abundante, desgrenhada. Ele tinha um ar selvagem e máscula que deixava Edward desconfortável a ponto de querer gargalhar, por mais que não soubesse o porquê.

— Se eu conhecia a sua mãe? — repetiu ele, agora próximo. — Eu tive sete anos de convivência com Nymphadora Tonks, acredite, eu conheci a sua mãe.

Edward não conseguia desviar os olhos azuis. Levou um susto quando a mão de Bill pousou em seu ombro.

— Charles, pare de assustar as crianças. — sorriu William, bagunçando o cabelo de Ted. O Lupin aproveitou a deixa e afastou-se, um pouco incomodado em sua mãe ter sido citada de forma tão estranha.

Entretanto, Charles estava fascinado por Edward Lupin.

A Batalha de Hogwarts não levara apenas seu irmão, como uma velha amiga, Nymphadora. E ele não vira aquele pedaço de Tonks crescer, aliás, ele não vira nenhuma daqueles adolescentes remelentos crescerem, eles sequer sabiam que havia mais um irmão Weasley por aí até Charles voltar de malas e arrependimentos, pronto para instalar-se n’A Toca e recuperar o tempo perdido.

William analisou o irmão observar a briga na churrasqueira e notou o quanto sentiu uma falta quase física de Charlie, seu melhor amigo. O irmão mais novo olhou Bill e afastou-se um pouco, sorrindo, apertando o ombro do irmão:

— O quê? Quer me beijar? — brincou ele. William riu, olhando para seus pés brancos.

— Por que você foi embora?

Charles olhou William, perdendo a noção do tempo.

Ele não sabia explicar, tinha medo de soar – e talvez fosse – egoísta, mas não queria lidar com a dor dos outros. Queria sofrer seu luto em paz, descobrir o que vem depois da dor sozinho. Ele não sabia se ia suportar a dor de seus pais e irmãos. Precisava daquilo sozinho.

Nunca foi apegado à família, vinte anos passaram em segundos.

Estar ali, trazia a terrível carga que Fred instaurou nos Weasleys, em pequenos detalhes, que eram perceptíveis talvez apenas para Charles. Mas estavam ali, e gritavam para ele. Fred, para Charles, estava muito bem guardado e superado no passado, e seguia como uma memória pesada em seus ombros, o acompanhando a cada passo, e estar ali com sua família fazia com que aquela carga pesasse mais ainda.

— Não sei. — respondeu, com sinceridade. Bill assentiu, puxando a antiga ligação que tinham desde pequenos.

— Tudo bem... É bom ter um sobrevivente das cavernas conosco.

— Vá se fo...

— Ei, as crianças!

— Que crianças? É tudo um bando de marmanjo!

— Não sou uma marmanja! — declarou Lily, apoiando-se na borda da piscina. — Eu sou uma caminhoneira.

— É o quê?! — indagou Charles, querendo rir. Ele avançou em direção da garota, pulando na piscina de plástico, quase jogando toda a água para fora. Eles não conheciam Charles, era verdade, mas ele nunca teve dificuldade em se enturmar.

Fred e ele tinham isso em comum.