1999, Bill

O homem virou-se na cama em direção da janela, sem saber se era noite ou dia.

Tentou ter um pouco de curiosidade, mas não tinha. O quarto escuro em que estava deitado era o único lugar onde ele queria estar, remoendo tudo que sentia em silêncio. Não conseguia parar de pensar no bebê que sua mãe colocou em seus braços, há muitos anos, com todo o cuidado que poderia ter. Ela confiava em Bill para carregar um recém-nascido, ele cuidou de Charles, Percy... Fred e George não seriam diferentes.

Todos os momentos que quase infartou ao ver Fred brincar com facas, a forma como ele queria jogar o irmão do último andar quando ele insistia que haviam monstros em seu quarto e ele George deveriam dormir ali, naquela cama minúscula, onde mal cabia ele.

Bill conseguiria sentir o cheiro daqueles dois seres humanos iguais respirando sob ele. O pé de George quase em sua cara, a mãozinha de Fred segurando seu braço.

Ele sentia seu peito inchar de uma forma que explodiria se chorasse mais do que já tinha chorado. Ele sentia a dor de perder um filho, estava desorientado a ponto de nem mesmo a existência de Victoire conseguia fazê-lo levantar-se e pelo menos tomar um banho. Sentiu um pouco de fome, mas não queria levantar-se agora. Preferia esperar um pouco, esperar o limite.

Como George estava sobrevivendo a isso?

Virou-se novamente, ouvindo o choro de Victoire em outro cômodo, e um dialeto francês de Fleur, irritada demais para falar inglês. O mundo era injusto, quantas pessoas boas morreram naquela batalha? Por que deus ou qualquer ser superior não o levou no lugar de seu irmão? Ele era novo, tinha um futuro brilhante, Bill aceitaria aquela negociação. Ele jamais diria não, ele aceitaria aquela sina e a existência de Victoire daria forças a Fleur, e ela conseguiria seguir em frente.

—  Assez! Je ne pouvais pas prendre plus! — soluçou Fleur, abrindo a porta bruscamente, com uma Victoire chorosa em seus braços. — Eu quero meu marido!

Ela cobriu o rosto, saindo do quarto, deixando aquela terrível fonte de luz quase queimando o corpo e alma de Bill. Ele sentia o edredom e a cama o consumindo para baixo, prestes a enterrá-lo, como se a terra estivesse o engolindo.

— Mamannn, mamann, je veux papa... — Bill parecia ensurdecer cada vez que a voz de Victoire entoava mais alto.

Ele não consegue ir até a superfície.