Não sou do tipo de pessoa fantasiosa que acredita em felizes para sempre, amor à primeira vista ou magia... Apesar de estes serem os gêneros de livros que mais gosto de ler, contraditório não é?

Não sou depressiva ou sombria. Mas, depois que você acredita tanto em uma coisa como amor e união eterna e ver que tal coisa que parecia ser tão forte e inabalável vir a ser facilmente despedaçada diante de seus olhos ainda mais não podendo fazer nada é um tanto quanto que traumatizante. Passei muito tempo vendo minha mãe sofrer por algo que ela não conseguia concertar... Fiquei um pouco descrente do tão sonhado “final faliz”. O divorcio dos meus pais foi algo que realmente mexeu comigo de uma forma inexplicável.

Depois da bolada na cara os dias se passaram normalmente se é que posso dizer assim, digamos que eu estava me sentindo um tanto que perseguida depois da conversa na enfermaria. As horas do almoço nunca mais foram às mesma após dois integrantes da sala 2-B se instalarem em nossa classe dizendo que nós fariam companhia e essas duas pessoas eram nada mais e nada menos que Soul Eater Evans e Black Star Hoshizoku.

Suspirei cansada olhando pela milésima vez o relógio, estavam atrasados. Tínhamos marcado de nos encontrarmos no centro da cidade para aproveitar o ensolarado sábado. Suspirei novamente, deveria estar estudando, essa pausa custaria caro depois. Não desperdiço meus finais de semana saindo sem mais nem menos, mas me vi obrigada a aceitar visto que Tsubaki estava sendo convidada indiretamente para um encontro. Suspirei novamente. O que não fazemos pelos nossos amigos...

— Boa tarde. – Olhei para minha direita vendo Soul se aproximar desacompanhado.

— Boa tarde, vejo que foi dispensado. – Falei em tom de brincadeira vendo-o concordar.

— Pelo visto você também recebeu dispensa. – Concordei. – Caras de pau!

Antes de sair de casa recebi uma mensagem de Tsubaki avisando para mim não se preocupar em passar na casa dela antes de vir pra cá, já que Black Star faria isso, mas não contava que teria que esperar por eles acompanhada de Soul. Como manteria uma conversa com uma pessoa como ele? Na minha cabeça não conseguiria sustentar algo interessante por muito tempo

Estávamos sentados em volta da fonte, onde era nosso ponto de encontro. O movimento de pessoas pelo local era grande por ser final de semana. Me peguei pensando qual tinha sido a ultima vez que teria saído para aproveitar, não pude conter que um suspiro saísse por meus pulmões chamando atenção do albino ao meu lado.

— Sabia que tem boatos seus pela escola? – Perguntou me olhando, seu olhar tinha uma pitada de preocupação,  apenas assenti aquilo não era novidade.

— Sobre o que falam dessa vez? – Perguntei entediada.

— Pelo que ouvi, você é como uma valentona, mas se me permite, não vejo isso... – Fez uma breve pausa, de certa forma eu queria dar risada. – Não é como se...

— Se eu roubasse o dinheiro da merenda? – Olhei pra ele segurando o riso.

— Isso... – Ele me encarava com um quê interrogativo.

— Ah, - Pus minha cabeça pra trás com um sorriso. – esses boatos se dão ao fato de uma vez eu ter ameaçado uns engraçadinhos que acham que podem fazer o que bem querem com quem eles querem, a vítima naquela vez tinha sido Tsubaki. – Suspirei. – Ela é um doce e às vezes muito ingênua... Já deve imaginar no que deu... – Soul apenas concordou. – Apesar de me machucar aquele dia eu consegui ajuda-la e quebrei o nariz de um dos dois garotos que estavam lá... Até que isso foi bom, pelo menos não sou atormentada na escola por aquele bando de sacos de estrume...  – Voltei minha postura inicial encarando-o com um sorriso divertido vendo sua expressão inacreditada. – Suponho que não te contaram essa parte da historia...

— Não, não contaram. – Coçou os cabelos com uma das mãos. – Então eu não devo me meter com você. – Concordei com um ar orgulhoso. – Ou eu posso usar sua presença ao meu favor. – Soul apoiou sua mão sobre as pedras da fonte jogando seu peso naquele braço me encarando de uma forma diferente no qual eu fiquei intrigada em saber o motivo, era como se suas palavras anteriores tivessem sido um pedido mudo para alguma coisa e agora ele estivesse esperando uma resposta. – Vamos começar o passeio de casais. – Sorriu ele, mas não para mim, mas sim para algo atrás de mim, me virei vendo que nossos amigos haviam chegado.

— Estão atrasados. – Acusei, vendo a morena sorrir culpada.

— O Grande Eu nunca está atrasado. – Revirei os olhos em um meio sorriso. – Agora que Eu cheguei estamos prontos para aproveitar. Vamos!! – Virou-se apontando para o Shopping Center. – Yahooooou!

Olhávamos todas as vitrines do Shopping enquanto escutávamos os garotos murmurarem “que se não iram comprar não havia necessidade de olhar” apenas riamos. Apesar de não ser familiarizada com essas coisas as fazia para acompanhar Tsubaki.

Depois fomos ao fliperama, onde matamos alguns zumbis, fizemos desafio de dança e brincamos no carrinho de bate-bate. Venci de sete a quatro na mesa de disco contra Soul, enquanto Tsubaki perdia pra Black Star nos jogos de corrida. Sinceramente eu estava desnorteada, acho que isso era muita informação pra minha cabeça. Sentia-me um pouco tonta. Pedi licença informando que iria ao banheiro.

Joguei água no rosto sem me importar, já que não havia maquiagem para que borrasse, na verdade nunca teve maquiagem. Passei a mão sobre minha pele, nunca vi necessidade disso... Sequei o rosto. O que teria sido aquele desconforto de agora pouco? Não era costume fazer essas coisas, fugir da minha rotina, seria isso bom? Minha boca formou-se em um bico de descontentamento por não saber o que se passava comigo mesma.

Minha vida sempre fora resumida a mim, minha mãe e Tsubaki e nada mais. Mesmo me sentindo deslocada com esses “novos acontecimentos” não podia negar que estava sendo interessantemente divertido, sorri para mim mesma refletida no espelho. Fugir da rotina é uma coisa boa de acordo com minha mãe. Arrumei minha bolsa tira colo sobre a bata rosa clara que usava e sai do banheiro.

— Será que eles ainda estão no mesmo lugar... – Murmurei pra mim mesma tirando o celular do bolso do shorts na intenção de mandar uma mensagem para Tsubaki. Mas não foi preciso, Soul chamou minha atenção logo que passei pela porta.

— Está tudo bem? – Me abordou diretamente, apenas fiz que sim com a cabeça.

— Onde eles estão? – Desconversei.

— Foram na frente, decidimos ir tomar sorvete agora.

— Mc Donald’s? – Perguntei enquanto começávamos a caminhar.

— Não, eles foram pros quiosques da praia. – Que? E deixar o friozinho do ar-condicionado pelo calor infernal lá fora, não pude conter um revirar de olhos. – Apesar do calor, Tsubaki insistiu dizendo que estava um dia muito bonito pra ficarmos só aqui dentro. – Continuava ele. – Não pude negar, sendo que ela estava certa. – Deu de ombros. – Ela também disse que você não concordaria.

— É, ela me conhece bem. – Falei olhando um ponto qualquer enquanto descíamos a escada rolante para o térreo. – Então ela optou por votação e como eu seria a única que discordaria ela disse “a maioria vence”.

— Isso mesmo. – Olhei pra ele sorrindo em um desdém completo. – Você a conhece bem. – Rimos e caminhamos do frescor para o calor terrível daquela tarde ensolarada de sábado.

De baixo do guarda sol nós conversávamos sobre assuntos diversos, Hoshizoku não se contentou apenas com um sorvete e acabou pedindo uma porção gigante de isca de peixe, tava uma delícia, bebemos refrigerante e aproveitamos a brisa do mar entre várias risadas.

— Você deveria deixar o cabelo solto Tsubaki. - Comentou Black Star enquanto mexia nos cabelos da mesma.

— Ah, é... Maka fala a mesma coisa. - Respondeu um pouco envergonhada.

— Dois contra um, acho que a maioria vence! - Cantarolei enquanto comia um peixe.

— Concordo também. - Soul falou rindo da cara encabulada da morena.

— Isso é um complô! - Choramingou. 

— Vamos, solte o cabelo!! - Evans pediu.

— Solta o cabelo. - Comecei a bater palmas enquanto falava. - Solta o cabelo. - Logo o dono das cabeleiras azuis e Soul começaram a me acompanhar. Tsubaki negava com a cabeça constrangida mas sorria um pouquinho.

Suspirou vencida e puxou o prendedor amarelo do cabelo soltando as grandes madeixas negras que caiam sobre seus ombros batendo na cadeira onde sentava.

— Ai meu Deus vou chorar. - Fingi um falso drama enquanto enxugava lágrimas invisíveis arrancando uma risada da morena.

— Sua boba. - Tsubaki falou passando as mãos nos cabelos.

— Viu, ficou linda do mesmo jeito. - Star sorriu de forma completamente boba pra ela. Encarei Soul que segurava a risada assim como eu. - Vai com ele assim na segunda. - Pediu recebendo um "vou pensar no seu caso".

— Eu e Maka vamos andar pela beira da água. - Afirmou o albino se levantando.

— Vou? - Perguntei olhando-o.

— Sim, vai. - Fez um gesto para onde os "bombinhos" estavam e me chamou novamente.

— Okay. - Me pus de pé. - Qualquer coisa me mande mensagem. - Virei e fui de encontro a Soul que já estava com os pés na areia.

Caminhamos em silêncio até chegarmos a água a qual estava perfeita para um mergulho. A quanto tempo eu não caminhava na praia, quanto tempo eu não saia de casa, mesmo Tsubaki me convidando... Eu me considero um pessoa normal. Eu dou tudo de si nos meus estudo, mantenho minhas notas altas pra nunca saírem do primeiro lugar no quadro de notas. Mas era só isso?

Eu não saia, eu não aproveita meu tempo de outra forma. Estava virando uma quadrada. Fiquei olhando as ondas quebrarem perto dos meus pés o céu estava limpo e o sol pendia sobre nossas cabeças. Era lindo.

— Você me parece surpresa. - Comentou casualmente com as mãos nos bolsos. - Não é costume fazer isso..? - Eu não consegui responde-lo. Apenas absorvi aquela pergunta. Eu já havia sentido a areia molhada em contato com meus pés, mas já fazia muito tempo... Não me lembrava da sensação que era, da liberdade que o momento proporcionava. Lágrimas fugiram dos meus olhos eu estava em choque. - Maka... - Sua voz soou preocupada. Afinal o que estava acontecendo?!

— Não... Não diga nada! - Estendi minha mão em sua direção enxugando meu rosto com a outra.

— Tudo bem... - Ele voltou a olhar o horizonte mas sei que me olhava pelo cantos dos olhos.

De alguma forma me sentia uma idiota, o que era isso, chorar na frente de uma pessoa que mal conhecia por sentimentos antes! trancafiados e esquecidos, agora sendo lembrados... Eu não entendia Ficamos em silencio por alguns breves minutos.

— Não precisa ficar com vergonha... - Começou ele calmamente.

— Não estou com vergonha! - Respondi na defensiva.

— Ah, está bem então... - Olhou pra trás e voltou a olhar adiante. - Black Star e Tsubaki estão vindo. - Funguei e passei apressadamente as mãos no rosto logo ouvindo uma risada fraca de Soul ao meu lado, franzi o cenho e olhei pra trás olhando o casalzinho que não davam sinal que viriam se juntar a nós. Voltei a olhar o mar irritada, caminhei deixando a água chegar aos meu joelhos. - Ah, Maka, não precis... - Ele parou de falar após eu ter jogado água nele, estiquei minha bata em uma reverencia antiga sorrindo de canto. - Ah, então é assim Srt. Albrn... 

Antes que eu pudesse falar qualquer coisa fui atingida pela água que Soul desferia contra mim e assim começou uma guerra, eu sai correndo ainda pela água enquanto ele vinha atrás de mim. Depois da pequena seção de exercícios voltamos para o quiosque sobre os olhares interrogativos de nossos amigos.

— Porque você ta toda molhada? - Tsubaki perguntou assim que me aproximei.

— A culpa é dele! - Disse simplesmente indo puxar uma cadeira para de baixo do sol na tentativa que minha roupa secasse ao menos um pouco.

— Minha? - Havia surpresa em sua voz eu apenas ri concordando. - Certo, certo... - Pois-se ao meu lado na mesma tentativa que eu.

Black Star comentou algo com Tsubaki e deram risada. Aproveitamos o resto da tarde jogando conversa fora até o celular da morena tocar e ela exclamar surpresa parecendo lembrar de alguma coisa. Virei-me para olha-la após ter desligado o celular. 

— Me esqueci completamente que iria sair com minha mãe hoje! - Bateu uma das mãos na própria testa. 

— Calma, ainda tem tempo. - Acalmou o azulado enquanto ia pagar a conta junto a Soul, eu já levantava e pegava minhas coisas ajudando a morena.

Esperamos o ônibus juntos, antes que pudesse me dispor a leva-la para casa Black Star ofereceu-se primeiro, nos despedimos e antes que ela fosse embora falei para que ela me falasse tudo depois recebi um tapa no ombro e eles entraram e foram pra casa. 

— Vai pra casa também? 

— Sim, mas antes quero outro sorvete. 

Caminhamos de volta ao quiosque e Soul comprou um sorvete de Tutti Frutti que vem dois, destacou um me dando outro. Seguimos para casa conversando sobre assuntos triviais, apesar de assegurar que poderia ir sozinha para casa ele insistiu que iria comigo dizendo que "Não seria maneiro  da parte dele deixar uma garota ir sozinha para casa" que cavalheiro zombei ganhando uma careta em resposta. 

Entramos na minha rua e passamos três casas chegando na minha. Antes de nos despedir ouvi a portar se abrir, minha mãe estava à porta. 

— Cheguei mama. - Acenei pra ela. 

— Bem vinda de volta querida. - Ouvi latidos e sorri. - Acho que ele estava te esperando, pode dar uma volta com ele agora? -  Respondi que sim abrindo o portão de madeira enquanto ela abria mais a porta dando passagem pro cachorro sair correndo. 

— Você tem um cachorro? Qual o nome? - Perguntou Soul.

— Uhum. - Me abaixei para lhe fazer carinho enquanto ele pulava de alegria todo desengonçado, Soul se abaixou também recebendo lambidas e latidos de felicidade. - Se chama Shiroiyoru. Por causa dos pelos claros e manchados com preto...

— Quem é esse filha? - Mama interrompeu perguntando de braços cruzados ao batente da porta. 

— Me chamo Soul Eater. - Respondeu ele se levantando e fazendo uma pequena reverencia. 

— Ah sim, Maka comentou de você. - Sorriu travessa me fazendo revirar os olhos. Mama, você me paga!

— Parece que ele gostou de você. - Ignorei o comentário da minha mãe - Ele nem te estranhou... 

— Dizem que os cachorros gostam das pessoas com quem os donos se familiarizam. - Disse ele agachado enquanto brincava com Shiro. 

— Até parece... 

— Vamos. - Disse Soul pegando a coleira da minha mão e seguindo na frente. 

— Ei, o que pensa que está fazendo!!

— Indo passear com Yoru, oras. - Ele deu risada.

Demos duas voltas no quarterão e nós despedimos devidamente cada um indo para sua casa. 

Até que não seria tão assustador assim fazer novos amigos. 

Pelo menos era o que eu pensava.