Como Ser um Príncipe - Interativa escrita por Mila


Capítulo 19
Por onde você esteve?


Notas iniciais do capítulo

Oláaaaaaa amigos! Saudades demais de vocês.
Aproveitando o feriado para prosseguir com as aventuras de Liam Éire e sua turma (hehe).

Quero dizer que estou lendo todos os comentários de vocês e, como sempre me apaixonando muito. Sinto muito por não poder mais respondê-los, mas a falta de tempo está complicada mesmo.
Alguém havia me pedido para enviar a ficha de sua selecionada por MP novamente, mas eu ~linda~ esqueci quem pedira. Então só me avise de novo que eu mando! ;D

Sem mais enrolations, boa leitura! ♥



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Dia 25

O que unia melhor as pessoas do que comida? 

O som dos talheres batendo nas louças, das risadas e conversas altas preenchiam todo o refeitório. A longa mesa central era composta pelas selecionadas – agora em número par, que fartavam-se com a enorme variedade de comida do almoço. No fundo do cômodo, a família real também fazia sua refeição, e, dentre eles, quase ao centro da mesa, Liam Éire admirava aquela reunião das mais variadas pessoas que tinham uma posição de maior relevância em sua vida.  

Depois da pequena bronca da Rainha Kiara na noite anterior, Liam sabia que deveria tomar uma providência para consertar a situação. O quesito "prioridades" das mudanças exigidas pela monarca fazia referência direta a Liam. E não fora só ele que tomara atitudes. Embora poucos soubessem, Gustav Walsh, de forma anônima postou a foto dos balões em homenagem à partida de Alegra, para assegurar a cobrança feita a ele, quanto à publicidade e a saída da selecionada retratada de tal maneira teve grande repercussão na mídia e, em grande parte, de modo positivo. 

De qualquer forma, quando Liam tomara um tempo para refletir sobre a atenção que precisava dar à monarquia, às selecionadas e à própria família percebeu que "comer" era a resposta para os seus problemas: Não havia nada que conciliasse melhor esse grupo heterogêneo de pessoas.  

 

Em meio à mesa das selecionadas, Ali contava uma história sobre a época em que morava em uma fazenda da província de Wicklow, enquanto observava com enorme desejo – que beirava ao fetiche - uma torta de amora bem diante de seus olhos, a qual ela não podia comer por ser intolerante à lactose.  

—Essa torta está estragando minha concentração. - Ela se lamentou, realmente decepcionada.  

—Eu gostaria de fazer parte dessa família. - Mirelle comentou subitamente. 

Ali olhou para a amiga, surpresa. Elle, como a morena também gostava de ser chamada, não havia prestado a mínima atenção na história da amiga. Daquele seu jeito avoado, ela mal havia se dado conta de que Ali estava conversando com ela.  

—Elle! - Ali reclamou, um tanto decepcionada. - Do que você está falando? 

Mirelle voltou-se para a amiga, com as bochechas vermelhas ao ter percebido sua enorme distração.  

—Desculpa! As vezes eu me perco, com meus próprios pensamentos... - Justificou-se, extremamente magoada com seu próprio comportamento. Por experiência, ela sabia que seu jeito sonhador muitas vezes desapontavam as pessoas, dificultando seus relacionamentos. - Desculpa mesmo, Ali. Eu...  

—Está tudo bem. - A loira, uma das selecionadas mais jovens da Seleção, respondeu com um sorriso discreto, achando graça da confusão da amiga. - Mas ao menos me conte o que lhe atraiu tanto a atenção! 

A morena deu um pulo, lembrando-se do que assunto que a levara a seus devaneios. Ela se inclinou na direção de Ali e se posicionou de modo que ambas pudessem observar a mesa da família real – mesmo que não de uma maneira muito discreta.  

—Olhe para essa família: Liam, os primos, os pais... Eles são muito próximos e unidos. Agora eu entendi o motivo do príncipe ter brigado com garras e dentes para defender sua família.  

Ali observou o que Mirelle descrevia.  

O primo mais novo, Finn, parecia ter acabado de contar uma piada, que fez o seu irmão, Liam e o tio Douglas rirem o mais discretamente possível. A Princesa Éileen engasgou e Sienna lhe ofereceu um guardanapo de pano, enquanto seu próprio rosto corava. A Rainha Kiara esboça um sorriso discreto, esforçando-se para parecer simpática, e o rei, por outro lado, parecia estar com os pensamentos longe.  

A Duquesa Maire ficou incomodada por ser a única deixada de fora da piada e bateu de leve no ombro do sobrinho mais novo.  

—Eu também quero saber! - Disse alto o suficiente para as pessoas mais próximas ouvirem.  

Ali e Mirelle riram, e essa última respondeu: 

—Eu tenho orgulho disso. Gostaria de fazer parte dessa família.  

A amiga ficou vermelha com o comentário dela. Se afastou para observá-la melhor: 

—Tudo bem... Explique-se melhor, Elle.  

—Bom, talvez seja um pouco cedo para pensar nisso, mas estamos num processo seletivo... Ah, não é a toa que isso chama-se "Seleção"! - Ela surpreendeu-se com uma ideia que lhe ocorreu naquele momento. Ao ver a expressão incisiva de Ali, ela rapidamente voltou ao assunto anterior antes que suas divagações continuassem. - Mas nós também precisamos conhecer melhor esse território desconhecido. Se realmente escolhermos seguir como Selecionadas até o último instante desse concurso, deveríamos saber que grandes mudanças andam ao lado. Por exemplo, com todas as obrigações de uma princesa e futura rainha, dentro de um casamento, sendo uma figura pública, morando em um castelo... Essa ideia me incomoda bastante. Sinto falta da fazenda. Mas enfim, - Resumiu ao perceber que já começara a divagar outra vez. - Fazer parte dessa família também é uma mudança e, quanto a isso, eu ficaria bastante satisfeita.  

Ali franziu o cenho, olhando de Mirelle à família real.  

Alguma coisa ainda lhe incomodava quanto a isso. Era como uma estranha sensação de familiaridade, como um dejà vu.  

—O que foi, Ali? - Elle perguntou ao ver a expressão conflituosa da amiga. 

—Eu não sei... - Murmurou, confusa. - Lembro da reação dos meus pais e do meu tio quando contei-lhes que iria me inscrever na Seleção. Eles não me desestimularam, mas também não ficaram entusiasmados com a minha ideia. E agora eu olho para eles... - Ali disse, apontando na direção da mesa dos nobres. - e tenho uma sensação de incerteza, de já ter visto isso antes. Será que meus pais sabem de alguma coisa e não me contaram, Elle? - Ela questionou, subitamente ansiosa com essa sensação desconhecida. 

Mirelle pressionou os lábios, pensativa. Não sabia ao certo o que dizer. 

Você é de Wicklow, não é? Assim como o príncipe. Será que seus pais não conhecem a família Éire? 

Ali arregalou os olhos e sentiu o coração perder o compasso com os batimentos acelerados. Ela levou a mão trêmula a boca. 

—Minha nossa, eu acho que eles eram meus vizinhos! 

♕ ♕ ♕ 

Após todas as refeições serem servidas, as pessoas se dispersaram cada uma em seu tempo, mas o final do almoço ficou marcado pela saída apressada do Rei Donavan, ainda disperso em seus próprios pensamentos. Caitlin organizou as selecionadas e as levou de volta para seus aposentos.  

Álan se afastou também, com as mãos enfiadas nos bolsos da calça, como tinha o costume. Olhou para os dois lados do corredor, ligeiramente entediado. Embora a fazenda fosse mais calma que o Palácio, esse novo ambiente era, de certa forma, menos acolhedor.  

Ele olhou ao redor. Não era a toa que Liam precisava "da família mais perto".  

Lembrou-se que os quartos ficavam à esquerda, então tomou o caminho da direita, esperando encontrar uma passagem para o lado de fora, onde poderia encontrar um pouco mais de sol.  

Assim que virou o corredor mais próximo, deparou-se com Lady Sienna. E por pouco não trombou com ela e seu enorme buquê.  

A moça se afastou, envergonhada.  

—Uou! Desculpa. - Ele pediu, desviando-se rápido, mas logo diminuindo o seu passo, curioso com o buquê. Deu uma curta risada e apontou para elas, em tom de brincadeira: - Foi o seu noivo que enviou como pedido de desculpas? 

Sienna, que já estava pronta para aceitar suas desculpas e seguir seu caminho, parou ao ouvir o comentário. Olhou para Álan sem receios, com os olhos apertados que logo foram assumindo uma expressão indignada e bastante perigosa. 

Ela deu um passo ameaçador para frente, fitando-o nos olhos. 

—Escute aqui, eu não sei o quanto Liam lhe contou sobre a minha vida pessoal, mas não cabe a você ficar me provocando com o conhecimento que tem de meus segredos.  

Álan se assustou com sua reação e ergueu as mãos para o alto, em sinal de rendição. Ele de fato ficara sabendo de alguns conhecimentos bastante secretos por Liam, mas frente a uma situação que tentara ser casual, usara a única informação que tivera sobre a pessoa para se aproximar dela, o que, no caso fora um complicado segredo. Soube ao ver a expressão ofendida que sua abordagem não fora "uma das melhores".  

—Desculpa, não foi minha atenção... Só fiquei curioso com as flores. - Explicou com sinceridade e  esboçando um pequeno sorriso para aliviar a tensão do momento.  

Sienna continuou fitando-o com intensidade até ceder, não devido ao arrependimento do mais velho dos irmãos Seamair, mas de lembrar-se que arrumar problemas com a família de Liam era um território bastante arriscado e, embora o príncipe ainda possuía diversos defeitos – como contar o seu segredo para primos desleixados – ela ainda precisava da ajuda dele para resolver a situação com o Príncipe Caleb e todo o Reino de Gales.  

Ela suspirou, sabendo que não tinha outra escolha além de perdoar Álan por sua indiscreta intromissão em sua vida. 

—Tanto faz. - Ela resmungou, chacoalhando a cabeça. Baixou o olhar para o buquê de flores e ficou ligeiramente mais abalada. - As flores são para o meu pai. Nem sempre elas são sinal de alegria... ou perdão. — Completou, lançando lhe um outro olhar desafiador. 

—Príncipe Keegan. - Respondeu Álan como um eco. Sentiu-se ainda mais envergonhado de tocar numa situação tão delicada. Ele afundou mais as mãos no bolso e virou-se para Sienna, com simplicidade. - Deixe-me acompanhá-la ao cemitério, então. 

A lady apertou os olhos novamente, tentando entender o que se passava na cabeça daquele homem, pouco mais velho do que ela, mas que visivelmente vivia numa realidade diferente que a dela. Fechou os dedos com mais força em torno dos cabos das flores e prendeu a respiração enquanto pensava.  

Ao notar sua hesitação, Álan emendou: 

—Como forma de me desculpar. Eu insisto.  

—Terá que andar muito. - Ela comentou, após um tempo.  

Ele ergueu os ombros e disse que não havia problema. Então ela não teve mais como impedi-lo, apontou para a direção da saída e andaram lado a lado porta a fora do Palácio, em direção ao Jardim Principal. 

—Deveria saber que não me livraria dos Éire assim tão cedo. - Ela comentou com um grande suspiro. 

—Na verdade, eu sou um Seamair. - Álan confessou num tom divertido, inclinando-se ligeiramente em sua direção. - Por parte da Tia Maire. Mas o jeito teimoso e intrometido vem desse lado da família.  

Sienna riu, cínica. 

—Eu já devia ter imaginado. 

♕ ♕ ♕ 

Eram três horas da tarde quando as meninas se reuniram numa espécie de sala de aula, organizada com três fileiras com cinco carteiras em cada, dispostas uma atrás da outra, dentro do complexo destinado às selecionadas.  

Caitlin caminhou entre as carteiras, onde as jovens já haviam se organizado, e foi para o fundo da sala, onde havia uma louça preta não muito grande.  

Ela sorriu para as meninas, que olhavam em sua direção esperando descobrir o próximo plano da assessora.  

—A comida estava muito boa e a diversão também, mas agora está na hora de trabalharmos. - Alguns muxoxos desanimados procederam sua curta introdução, mas Caitlin obviamente não se deixou abalar. Fez um sinal com as mãos para que todas se acalmassem. - Como já devem estar imaginando, a Semana da Paz será daqui um mês e, este ano, será sediada em Nova Irlanda. Teremos membros das famílias reais e políticos de diversos países como nossos hóspedes, e todos os eventos que acontecerem durante esses sete dias... terá repercussão internacional, é claro.  

Isso dividiu as meninas em empolgação e nervosismo.  

—Assim que a programação exata estiver pronta passarei para as senhoritas, a qual, tenho certeza, haverá algumas mudanças considerando que estamos em meio a uma Seleção. - Ela deu um pequeno sorrisinho conspiratório, sentindo-se importante de estar em meio a causa que levou àquela mudança na organização da Semana da Paz.  - Enquanto isso, posso adiantar algumas coisas. - Fez uma pausa dramática, como gostava de fazer e depois voltou a falar: - Haverá diversos bailes e festas temáticas. Discussões de projetos político-sociais, principalmente focando na atenção ao meio ambiente mundial e à aplicação dos direitos humanos. Também teremos nossos famosos Jogos Regium, em que membros das famílias reais tiram a coroa por alguns instantes para entrar de cabeça em uma competição esportiva. 

As palavras causaram impacto imediato nas meninas. Elas se agitaram, falando de jogos anteriores que assistiram na televisão e também aumentando suas próprias expectativas quanto ao fato de que, dessa vez, iriam presenciar o evento... e que Liam provavelmente também iria jogar.  

Caitlin sorriu, satisfeita pela empolgação. Porém, bateu uma palma para atrair novamente a atenção das selecionadas e podou a bagunça. 

—Enquanto não temos o cronograma exato e a Semana da Paz continua um mês a frente, temos muito o que aprender e produzir até lá. Começaremos com algo mais simples, porém extremamente importante: A dinâmica das monarquias e suas figuras mais importantes.  

 

Brianna, sentada na quarta carteira da fileira mais distante da janela, observou todos aqueles esquemas que representavam a genealogia da família real. Prendeu uma mecha do cabelo castanho atrás da orelha e se inclinou sobre a carteira da frente, na direção de Skyla. 

—Você acha que Lady Sienna contou ao príncipe sobre a carta do noivo? Ex-noivo. - Ela corrigiu rapidamente com uma careta de desgosto. 

A loira filha do Marquês Albert B. L. Armstrong-Jones III já entendia muito bem o funcionamentos dos títulos e toda a questão da hierarquia monárquica nova-irlandesa, e, por isso, ao contrário de dedicar sua atenção à aula, se pegou lembrando do carinho materno da Duquesa Maire durante o almoço, tanto com o próprio filho quanto com os sobrinhos. Lembrou-se  dela agarrando a bochecha de Finn Seamair mais de uma vez durante a refeição.  

Quando Brie a chamou, ela perdeu a linearidade de sua divagação e voltou ao presente. Virou-se ligeiramente para trás, para não atrapalhar Caitlin.  

—Ela deve ter falado... Lady Sienna sabe que seria pior se viesse da nossa boca essa notícia.  

Brie assentiu, pensativa.  

—De qualquer forma, ainda temos a carta. Acho que ela se esqueceu de pegá-la de volta.  

Sky teve um sobressalto e deu um pulo na cadeira, chamando a atenção das outras meninas mais próximas e de Caitlin, é claro. Ela se desculpou e disse que estava tudo bem. 

Ela ficou alguns longos segundos em silêncio até a aula voltar a discorrer com normalidade, e virou-se novamente para trás, em direção à Charlotte, que sentava-se atrás das duas, na última carteira.   

—Charlie. - Ela sussurrou com urgência na voz. - A carta está com você, certo? Você a guardou? 

A morena empalideceu subitamente. Tentando disfarçar, pousou a caneta com suavidade sobre o caderno e, sem expressar reações exagerada que pudessem atrair mais atenção das demais, confessou, envergonhada: 

—Eu lembrei de guardá-la dentro da caixa de joias, mas... Acho que eu não cheguei a fazer isso. - Deu uma risadinha nervosa.  

Brianna, sentada entre as duas, olhou de Charlotte para Skyla e depois para o próprio prato.  

—Nós perdemos a carta? - Assustou-se, em choque. Mas ainda assim, com respeito e compaixão para não atribuir a culpa somente à amiga, sabendo que toda a confusão foi orquestrada por todas elas. E agora parecia ter ficado ligeiramente pior.  

Elas se encararam sem dizer nada, apenas compartilhando um grande sentimento de insegurança e temor pelo que poderia acontecer.  

O medo não vinha da perda da vantagem que tinham sobre a situação e Lady Sienna, mas da incerteza da índole e vontade da pessoa que encontrasse aquele secreto tesouro.  

 

—A Princesa  Sinead era irmã do Rei Hans... - Caitlin explicou enquanto desenhava um colchete entre os dois na lousa. - O Rei teve dois filhos. Alguém sabe o nome deles? 

—Rei Donavan e Príncipe Keegan Hibernia. - Honor respondeu prontamente.  

Caitlin concordou, contente. Voltou a escrever na lousa e, dessa vez, fez um risco ao lado de Sinead.  

—A princesa, por sua vez, casou-se com o Duque Norbert Éire. Eles tiveram um filho anos antes de Donavan nascer. Esse filho também teve um filho, nosso atual Duque Douglas de Wicklow Hills. E o filho dele é...? 

As meninas se entreolharam e riram, sabendo que Caitlin estava sendo exageradamente didática, mas de uma maneira divertida.  

—Er... Eu. - Respondeu uma voz no fundo.  

Todos se viraram de súbito e viram o próprio Príncipe Liam Éire sentado na última carteira, que estava fazia desde a saída de Alegra. As meninas se remexeram, pegas de surpresa; algumas se curvaram numa reverência desajeitada, outras arrumaram a postura, voltaram a fitar o caderno como se não tivessem percebido nada e Mirelle, foi a exceção, caiu na gargalhada.  

No fundo da sala, Caitlin deu uma risadinha conspiratória, pois já havia visto o príncipe sentado ali há alguns minutos.  

Liam coçou a própria nuca, sem graça de repente.  

—Achei que seria uma surpresa um pouco mais divertida. Agora estou me sentindo idiota...  

Anne olhou para o príncipe, sorrindo pelo seu aparecimento inesperado. Depois olhou para Caitlin e apertou os olhos. 

—Esse é mais um de seus planos, srta. Dublin? 

A assessora colocou as mãos sobre o peito, como se estivesse indignada com a "acusação".  

—Não sei o que quer dizer com "mais um de meus planos", srta. Chevallier. - Respondeu em um tom quase cantado. Porém a expressão carismática disfarçou a pequena ruga de preocupação eu surgiu em sua testa ao se indagar da onde Anne havia tirado aquela ideia  a seu respeito. Aparentando animação, Caitlin explicou: - A ideia foi do próprio príncipe. Nem eu sabia que ele apareceria para uma de nossas aulas.  

—É bem difícil enganar a Caitlin. - Liam concordou, sentindo-se mais confiante conforme as meninas se conscientizavam de sua presença. Mas ao olhar rapidamente para as jovens, ele notou que elas ainda queriam saber o que ele fazia ali. Ele sorriu discretamente. - A Semana da Paz será daqui um mês e, assim como todas vocês, eu também preciso aprender algumas coisas antes. Como... - Ele gesticulou para a lousa. - as genealogias mais complexas de Nova Irlanda. 

Algumas meninas riram, sabendo que elas próprias teriam dificuldade em lembrar do nome dos membros de diversas famílias reais.  

Caitlin sorriu, orgulhosa.  

—Pois bem, as senhoritas se incomodam com a presença do herdeiro durante nossa aula? - Ela questionou, fazendo as jovens se surpreenderem com o subentendido de que elas poderiam recusar a companhia do príncipe.  

Liam decidiu que deveria se justificar de novo. 

—Caitlin tem razão, esse lugar aqui é de vocês. Se quiserem que eu saia, eu saio sem guardar rancor. - Explicou e arrumou a postura, como se fosse de fato sair a qualquer momento. - Vim para cá porque... acho que podemos ser amigos.  

Anne balançou a cabeça para os lados e sorriu amplamente ao ver que seu conselho havia sido acatado.  

As jovens ficaram em silêncio, sem saber se deveriam responder àquela pergunta. 

—Nesse caso, você pode ficar. - Elizabeth respondeu, quebrando o silêncio, fingido uma atitude desdenhosa.  

Todas gargalharam, mais descontraídas, e Liam reclinou-se na cadeira, também fingindo uma certa ousadia.  

—Bem, eu tenho uma exigência. - Caitlin disse em voz alta e sem hesitações. A atenção de todos se voltaram para ela, e a assessora declarou: - Prometa que irá se comportar! 

Ele jogou a cabeça para trás e gargalhou, enquanto as selecionadas tinham reações diferentes ao verem que, por trás daquele tom de voz severo e exigente da assessora havia uma piada.  

—Você sabe que eu não posso prometer nada!  

♕ ♕ ♕ 

Lady Sienna se inclinou sobre o túmulo do Príncipe Keegan e colocou ali o buquê de flores com extremo zelo.  Suas mãos ainda tremiam quando se levantou, após seus minutos particulares de saudade, e se aproximou do portal de entrada do cemitério, onde Álan a esperava com os braços cruzados pacientemente, mesmo que já fosse fim de tarde e a temperatura estivesse caindo rapidamente conforme a noite se aproximava.

Ele a observou do modo mais indiscreto que conseguia e não se conteve em perguntar se ela estava bem. E ela, ainda incomodada com a presença dele, respondeu um curto "ótima". 

Álan franziu a testa, sentindo a agulhada. 

—Você está segurando as pontas por quem? - Ele perguntou sem medir palavras. Ele olhou ao redor, indicando que não havia mais ninguém ali além dos dois. - Não há ninguém aqui para a senhorita fingir que está "ótima". Eu sou só um desconhecido. Se você quiser chorar, não há companhia melhor. 

Ela escondeu as mãos trêmulas.

—Eu não quero chorar. - Pontuou, decidida. 

—É o seu pai! - Ele enfatizou com solidariedade. - Ninguém pode te exigir que seja "fria" e racional nesse momento. Você pode sentir o que quiser, ter a reação que quiser. 

Ela o observou em completo silêncio, de fato sentindo as emoções se agitarem dentro dela. Muitos eventos foram sobrepostos: A morte de seu pai, o rompimento com Caleb... sua renúncia.

Como se lesse sua mente, Álan enfiou novamente as mãos nos bolsos e lhe deu um sorriso de canto de boco, discreto, mas de certa forma audacioso.

—Foi por isso que renunciou, não é? Porque acabara de perder seu pai? 

Ela se surpreendeu ainda mais, recuou um passo e perdeu ligeiramente a cor do rosto. Mas não desviou o olhar. 

Ninguém nunca pensara em sua decisão de renúncia sob perspectiva tão pessoal. Todos a julgavam por "ter desistido" e "abandonado" o trono da Nova Irlanda. A sugestão de um motivo tão intimista demonstrava uma enorme compaixão que ninguém nunca lhe oferecera, nem sequer sua própria mãe. Mas era o ponto de vista certo para encontrar a resposta: Foram momentos bastante difíceis, afinal de contas.  

Ela esboçou um fraco e trêmulo sorriso, emocionada.  

—Em parte, sim. Contava com a ajuda de meu pai. - Sussurrou, tentando passar o assunto delicado num tom casual. Ela respirou fundo e esfregou o próprio braço, envergonhada. - Não esperava que as coisas fossem acontecer tão rápido. Sabia que ele nunca aceitaria a coroa e a teria passado imediatamente para mim, mas... Eu esperava que ele ainda estivesse ao meu lado, me ajudando, quando isso acontecesse. - Ela deu de ombros, notando que suas mãos haviam parado de tremer. - A vida não segue de acordo com nossos planos, certo?

Ele concordou com um suspiro. Sabia como o Destino gostava de pregar várias peças. 

—Obrigada, Álan. - Sienna agradeceu, sentindo que era isso que precisava fazer após a gentileza que o jovem Seamair havia lhe oferecido. -  Fico feliz por sermos dois desconhecidos.  

Álan se retesou imperceptivelmente. Sabia que ele mesmo usara a palavra "desconhecido" anteriormente, mas naquele momento parecera que o termo havia se voltado contra ele.  Perguntava-se: Como poderia dois desconhecidos após uma conversa continuarem como dois desconhecidos?  

Lady Sienna se afastou, pegando o mesmo caminho que vieram, para voltar ao Palácio. Ela não esperou por Álan. E ele, tomado por uma confusão de pensamentos contraditórios, também não sabia se deveria seguir acompanhá-la ou não. 

 ♕ ♕ ♕ 

Já era tarde da noite, horas após a transmissão do Jornal Oficial do Reino, em que a Seleção foi focada no encontro de Anne com o príncipe e da saída de Alegra - disfarçada em meio a um discurso de "ela está buscando realizar seus sonhos". E em meio às paredes claras, os shamrocks no vaso sobre o criado-mudo e os pôsteres de um guitarrista novo-irlandês, Caitlin Dublin sentava-se no centro de sua cama de casal, com os lençóis desfeitos e milhares de papeis espalhados por todos os lados.  

Para alguém tão detalhista e organizada, quem a observasse diria, se a visse naquela situação, que ela estava em seu momento de loucura.  

O epicentro daquele caos tinha um nome: Shawn Keyes. 

Ela não havia colocado uma pedra sobre suas indagações e preocupações que desenvolvera no dia anterior a respeito de seu assistente. Era determinada demais e, gostava de pensar, que também tinha um poderoso lado intuitivo, que não a permitia desistir de problemas sem respostas. E aquele sim, parecia um grande problema sem qualquer resposta.  

Pegou novamente o xerox dos documentos do rapaz com seus dedos trêmulos de sono e cansaço. Observou os detalhes minuciosos, o formato das letras, a assinatura, o fundo da foto, e comparou com seu próprio documento – o qual ela tinha certeza da veracidade.  

Não havia nada de contrastante naquilo tudo. Parecia real.  

Talvez ele apenas fosse naturalizado... 

Revirou os papeis, derrubando alguns no chão, procurando por outro documento. As informações deste também batiam como o esperado. Procurou por outros e releu-os novamente. De fato, não havia nada que provasse invalidade ou fraude na identidade de Shawn Keyes.  

Caitlin esfregou a mão pelo rosto, raciocinado, e prendeu os cabelos castanhos num coque frouxo no alto da cabeça. Estava frio, mas o quarto parecia abafado e ela suava.  

Se tudo batia conforme o ideal, por que ela sentia-se como se estivesse deixando uma informação passar? 

A mulher buscou se acalmar e se esticou para beber um gole do chá da caneca sobre o criado-mudo perto da cama. O chá já estava frio.  

Então ela se levantou, ficou de pé sobre o colchão macio de sua cama e observou toda a sua bagunça do alto. Documentos de todos os tipos, perfeitamente em concordância com os dela próprio, as cartas de aplicação para o emprego no Palácio também estavam dentro das conformidades e daquele jeito atrapalhado de Shawn presente inclusive na escrita - não tivera muitos empregos anteriores.  

Cansada depois de olhar para todos os papeis mais de uma vez e não ver nada além do que já havia visto, ela olhou para os outros móveis de seu quarto. As flores do papel de parede, as canetas no pote determinado à elas, o calendário sobre a escrivaninha. Os pôsteres de Gabreel Sheeran, o guitarrista, colados em quase todas as paredes e os porta-retratos com fotos de uma mulher mais velha ligeiramente carrancuda e um menino pequeno sorridente que tentava piscar com apenas um olho.  

Ela deu um pulo de súbito e quase perdeu o equilíbrio quando uma descarga de adrenalina foi liberada em seu corpo.  

—É isso. - Ela sussurrou num tom de voz que era quase maluco. - É isso, é isso, é isso! 

Shawn Keyes possuía todos os documentos necessários e dentro dos conformes. Estava tudo certo. Mas era isso, estava certo demais.  

Enquanto todas as necessidades burocráticas para a qualificação do emprego foram preenchidas com excelência, a parte subjetiva e pessoal sequer foi contestada por um dos agentes do Palácio no momento de empregar o sr. Keyes.  

Quem era a sua família?  

E onde ela estava? 


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Notas finais do capítulo

Heeey espero que tenham gostado.

Fiquei contente que vocês gostaram da saída de Alegra, do modo como foi escrito e aconteceu, quero dizer. Estava muito insegura quanto a essa primeira "eliminação". Então, yeeey vocês gostaram!
Pretendo fazer a próxima ocorrer mais rápido :/

Gostaria de dizer novamente, por que simplesmente não me canso de dizer isso, que estou me divertindo muitooo em escrever essa história e descobrir as milhares de coisas que posso explorar dentro dela.E que vocês são uma parte essencial nessa paixão, por me ajudarem a dar cores e formas ao mágico contexto da Nova Irlanda.
Espero que vocês também estejam gostando cada vez um pouquinho mais.

Recados de todo cap:
Não teremos outra votação para a próxima eliminação (ou próximas). Farei conforme as pontuações da votação anterior e dos comentários por capítulos. Acredito que farei apenas mais uma votação para estabelecer a Elite, mas até lá...

Outra coisa, os encontros. Para a história fluir conforme os planos da minha imaginação, os próximos encontros com o príncipe também não serão dados por meio de pontuações mais altas. Afinal, acho que as meninas que forem eliminadas também deveriam ter um "gostinho" do príncipe (NO BOM SENTIDOOOOOO, CLARO!). E farei-as acontecer de maneira planejada, não planejada, mais rapidamente ou não, etc.
Pontuações mais altas continuam com o prêmio de uma garantia beeeeem maior na Seleção (tá bom dimais da contaa! By Syndrome/Guri Incrível/Bochecha).

Por hoje é só!

Beijo grande! ♥ ♥ ♥ Até mais!
Que venham mais capítulos nas fériassss uhuuul!



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