Como Ser um Príncipe - Interativa escrita por Mila


Capítulo 18
Descobrir o que você quer


Notas iniciais do capítulo

Oláaaa amigos! ♥
Voltando "mais cedo" antes que as provas e trabalhos voltem.

Obrigada mais uma vez por todo amor e carinho que vocês têm por mim e pela história. Fico sempre emocionada e rindo como uma boba na frente das pessoas hehe
E eu declaro vocês oficialmente MELHORES que o Sherlock Holmes, ok? Arrasam demais!♥

Espero que gostem do capítulo!
Boa leitura.



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Dia 24 

A chuva continuou caindo com intensidade por toda a noite, dando ao castelo um clima mágico e misterioso, que parecia clamar por mudanças e revelações.  

—Você tem que decidir o que é importante para você! - Disse ela a si mesma na frente do espelho. Repetindo pela terceira vez a frase que melhor a descrevia. - Manter seu orgulho e não ter nada, ou correr o risco e, talvez... ter tudo.  

Respirou fundo e, certa do que fazia, fechou os dedos em torno da alça da mala de rodinhas prateada e saiu do quarto. 

Alegra?— O oficial Byrnes, parado do lado de fora do quarto da selecionada, surpreendeu-se quando a viu sair de seu dormitório. Olhou da ruiva para a mala de rodinhas que ela segurava e de novo para ela. Com um tom magoado, ele perguntou: - Você vai embora? 

♕ ♕ ♕

Caitlin Dublin esfregou os olhos sonolentos e olhou para a jovem a sua frente.  

Veronika esperava impaciente, com os braços cruzados, por uma atitude da assessora que fora acordada nas primeiras horas do dia com uma notícia que parecia totalmente irreal.  

—Você precisa fazer alguma coisa. Anne vai ter o primeiro encontro com o príncipe! Anne! Ela não tem nada a ver comigo, o que só me leva a pressupor que o Liam não sabe que fui eu que o beijei na noite do baile. 

Caitlin olhou ao redor e conferiu mais uma vez se o mundo ainda era o mesmo, se era como sempre fora. Ainda havia um vaso de shamrock com menos de quatro folhas sobre o seu criado mudo, as pastas de trabalho sobre a escrivaninha e ao lado da fotografia de uma mulher mais velha com uma criança sorridente no colo. O pôster de um cantor e guitarrista também continuava colado na porta do guarda roupa. 

Depois voltou o seu olhar para Veronika e a puxou para dentro de seu dormitório, evitando acordarem outras pessoas e atraírem atenção.  

—Como você saiu do seu quarto? - A mais velha perguntou com o cenho franzido, tentando entender a situação desde o começo.  

Veronika sentou-se na cama de Caitlin sem receios, cruzou a perna e revirou os olhos.  

—Argh! Não havia nenhum guarda do lado de fora e nenhum sinal da minha criada. Para ser bem sincera, os funcionários contratados são um lixo! Não têm dedicação... devoção!  

A srta. Dublin chacoalhou as mãos, tentando fazer Veronika parar de reclamar sem parar.  

—Considere suas reclamações anotadas. Agora pare de enrolar e me explique: Você... o baile... o príncipe...? - Ela passou as mãos pelo rosto, tentando se concentrar e depois fechou mais o robe em torno de si, sentindo-se menos "empoderada" com seu pijama de flanela. Ligeiramente irritada por sua liderança estar fragilizada no momento, ela perguntou: - Como posso saber se isso não é um truque? 

Veronika a olhou com desgosto e desdém. 

—Quantos anos você tem? 

—Preste atenção, mocinha. - Caitlin falou em tom de alerta e arrumou sua postura. - Você alega ter beijado o príncipe no Baile de Máscaras. Ele conversou um pouco comigo a respeito disso, sobre as conversas que antecederam... o beijo. — Ela fechou e apertou os olhos quando a imagem que se formou em sua imaginação foi de Shawn e Veronika abraçados. - Conte-me algo sobre essa conversa para que eu possa acreditar em você. - Pediu, enquanto processava essas novas informações.  

Ela estalou a língua, pensou e depois de alguns poucos segundos respondeu: 

—Eu estava sozinha do lado de fora e ele me acompanhou. Perguntou o que eu estava fazendo... Então começamos a falar da noite, de como estava bonita e estrelada... Ele falou que o lugar onde mora tem muitas estrelas, pois há menos energia elétrica na região; por que ele mora numa fazenda, claro... 

Caitlin franziu o cenho. Já estava completamente convencida do discurso de Veronika, foi dito sem nenhuma encenação ou dificuldade. Além disso, batia com a história contada por Shawn. Mas, por ser tão verdade, ela passou a se perguntar sobre o que havia de fiel no relato do próprio assistente. "Ele falou que o lugar onde mora tem muitas estrelas, pois há menos energia elétrica na região"... Onde ele mora? O quão fiel ele é? 

—Eu acredito em você, srta. Égan. - Ela respondeu antes que Veronika pudesse continuar falando. "Infelizmente", sentia vontade de completar.  

Duas batidas fortes na porta fizeram tanto Caitlin quanto a selecionada pularem de susto. Elas se entreolharam, receosas. Não que tivessem ficado mais próximas nesses últimos minutos, mas haviam compartilhado um segredo no meio da madrugada, e pareciam que estavam sendo pegas no flagra.  

Não demorou muito para que voltassem a bater na porta, dessa vez, várias vezes, repetidamente.  

Caitlin correu até ela já estressada com a impertinência.  

Assim que abriu deu de cara com Shawn Keyes. Seu rosto ficou intensamente vermelho e o jovem a olhou confuso. 

—Não precisa ficar com tanta vergonha assim só porque está de pijama.  

Veronika veio em direção a porta, como se estivesse em sua própria casa e aquela fosse sua visita.  

—Ah. É você, Keyes. - Resmungou, entediada.  

—O que Veronika está fazendo no seu quarto? - Shawn perguntou, inocentemente confuso.  

Caitlin esfregou o rosto com força, estressada com tantos pensamentos fora de ordem - Não gostava de nada bagunçado.  

—O que você está fazendo aqui, Shawn? 

—Sim! - Ele arregalou os olhos, lembrando-se do que viera fazer ali... e de como era importante. - Alegra está partindo. Com um guarda! Estão todos reunidos no saguão de entrada: Gustav, o Príncipe, a Rainha...! 

Ela perdeu a cor do rosto imediatamente.  

Saiu do quarto sequer se lembrando que ainda vestia um roupão.  

♕ ♕ ♕

A grande porta dupla da entrada principal do Palácio estava aberta e a o vento gélido invadia o ambiente. Alegra Prince prendeu uma mecha de seu cabelo ruivo atrás da orelha e suspirou por ser obrigada a esperar. 

Sua criada havia decidido procurá-la em seus aposentos, o que, por ser desleixada, não fazia com muita frequência, e fez isso sob a justificativa de sua "intuição nova-irlandesa" ter falado mais alto. De qualquer forma, ela encontrara o dormitório vazio e algumas roupas e acessórios faltando. Alertou os primeiros guardas que avistou. 

Detida em sua fuga, ela foi aconselhada a esperar pelo Príncipe Liam e a assistente da Seleção, junto daqueles dois guardas, da criada, do Oficial Byrnes que a descobrira antes e de Gustav Walsh – Ele sempre era acordado em situações polêmicas que tem chance de aparecem nas mídias.  

Ela suspirou outra vez. Toda a dramaticidade de sua fuga estava sendo atrapalhado por aquelas questões burocráticas.  

Não demorou muito para o príncipe aparecer. Liam desceu as escadas aos pulos e veio correndo em sua direção. Vestia uma calça e uma camisa de pijama azuis com listinhas em um tom mais escuro. Seu rosto estava amassado e seu cabelo bastante desgrenhado. Quando ele se aproximou de Alegra, ela não conseguiu impedir uma risadinha – Ela realmente havia conseguido acordar o príncipe com a sua partida.  

—Alegra... - Ele disse, ofegante. - Você... O que eu posso fazer para evitar que a senhorita deixe o Palácio? 

Sem os vestidos, ternos, luzes e a decoração da noite do baile, ou mesmo dos momentos no Telejornal, eles pareciam apenas duas pessoas qualquer. 

—Não é sua culpa, Liam. - Ela respondeu calorosamente e evitando as formalidades obrigatórias. - Nunca é nossa escolha nos apaixonarmos. 

Ele engole com força, incomodado. 

Alegra deu de ombros. 

—Todos sabem que não fui eu a sua Escolhida, príncipe. Uma ruiva é inconfundível até em fotos em flagrante. - Ela ri suavemente e dá uma piscadinha, referindo-se a foto do beijo na noite do baile. - Descobri que quero realizar meus sonhos, Liam, e, infelizmente eles não corresponde a este lugar magnífico. - Ela abriu os braços para indicar aquele único cômodo que não tinha nada de modesto.  

—Eu sinto muito que não tivemos tempo de nos conhecermos. - Liam respondeu, cabisbaixo e com sinceridade.  

—Bom, eu também. - Ela confessou com uma sacudida de ombros.  

—A senhorita não precisava fugir, srta. Prince. - Gustav interferiu na conversa. Preocupado com a repercussão dessa notícia. - Entenderíamos sua decisão. E teríamos preparado sua partida com mais classe.  

Ela olhou para ele e apertou os lábios: 

—Hm, não parece tão divertido.  

Então as coisas se silenciaram e ganharam uma intensidade diferente quando a Rainha Kiara desceu as escadas, enrolada em seu próprio robe acinzentado.  

—Srta. Prince, em meu nome e no de todos os moradores e funcionários desse Palácio, pedimos desculpas por qualquer inconveniente que possamos ter causado a senhorita. - Ela se aproximou, elegante até mesmo de pijama. - O Rei se desculpa por não estar aqui presente para sua despedida. Ele não estava se sentindo muito bem...  

A sua boca se contraiu num pequeno e quase imperceptível espasmo.  

Alegra ficou ligeiramente ruborizada.  

—É, isso teria sido demais...  

Correndo Caitlin Dublin apareceu no saguão, seguida de Shawn Keyes e da curiosa Veronika Égan. Ela se lançou na direção de Alegra, mas parou no meio do caminho quando notou os presentes: O charmoso Gustav Walsh, o Príncipe Liam e a própria Rainha Kiara. Todos em seus pijamas. Assim como ela. 

A assessora das selecionas ficou intensamente ruborizada e sem jeito - Nunca havia se imaginado numa situação tão inusitada assim em sua vida. 

A Rainha lhe lançou um olhar repressor que dizia tudo: Ela era a responsável pelas Selecionadas.  

—Vejo que foram informados da notícia, senhores.  

Caitlin mordeu a língua para fazer o queixo parar de tremer. Mas antes que tivesse uma reação, se pegou pensando em outra coisa: Como Shawn ficara sabendo dessa notícia? 

Ela virou-se para trás e olhou para o seu assistente. 

Veronika havia dito que ele morava em um lugar cm pouca energia elétrica e agora ele descobria sobre a eliminação de uma selecionada antes mesmo que ela. A assessora franziu o cenho, com um mau pressentimento. O que todos esses detalhes perdidos significavam? O quanto ela conheciam seu assistente? Quem era Shawn Keyes?  

—Veronika? - Alegra perguntou, surpresa por vê-la ali. Mas depois suspirou, lembrando de algo que era evidente na personalidade da jovem: Ela sempre tinha uma carta na manga. A ruiva então sorriu: - Vou lembrar de você. E do seu medo de borboleta.  

A srta. Égan abriu a boca, perplexa, mas tentou se recompor logo. Jogou o cabelo para trás do ombro e falou: 

—Eu te envio uma lista com algumas referências melhores sobre mim.  

—Alegra... - Caitlin então se aproximou da selecionada e falou em baixo tom para que apenas ambas ouvissem. - Por que você não veio falar comigo? Eu não lhes passei segurança ou companheirismo? O que... O que eu fiz de errado? 

A ruiva olhou para baixo, incomodada com o modo deprimido de Caitlin. Pensou um pouco e depois subiu novamente seu olhar.  

—Não tente ser perfeita sempre. Acho que as pessoas têm mais empatia com aquelas que erram como elas. - Respondeu com calma e um pequeno sorriso que transmitia confiança.  

Caitlin então a abraçou com força e se despediu. Antes que se afastasse, Alegra lembrou-se que escrevera uma carta que deveria ser entregue pela assessora.  

—É para as meninas. - Explicou, entregando-lhe o papel. Depois ela enrolou uma mecha de cabelo no dedo e falou alto para todos ouvirem: - Já acabaram as despedidas? 

Então Liam se aproximou e a abraçou brevemente, fazendo o coração de Alegra Prince se apertar e ela comprovar que o príncipe era de carne e osso – o mais humano possível. 

—Espero um convite para o seu casamento, príncipe. - Ela brincou, o que deixou Liam bastante nervoso, e ela se afastou antes que nunca mais pudesse sair dali. -Foi um honra receber sua atenção, Majestade. - Ela completou, curvando-se numa reverência respeitosa. Virou-se em direção a porta e desceu as escadas que, outro dia, estava subindo para iniciar a Seleção.  

Os guardas ajeitaram sua única bagagem no porta-malas e o motorista tomou seu lugar atrás do volante.  

O Oficial Byrnes bateu  pé no chão, indeciso e ansioso.  

—Eu vou com você. - Ele disse então, com as bochechas vermelhas. - Não posso te deixar ir sozinha.  

—Não é sua função, oficial. - Disse um dos guardas antes que Alegra formulasse uma resposta.  

—Sei que não é. Mas, talvez... Ficar aqui não seja minha função. - Respondeu, convicto. Olhou para Alegra com esperança. - Mas isso depende de você, senhorita. Deseja minha presença?  

Um romance? Foi a resposta imediata da competente imaginação de Alegra.  

A ideia a assustou, pois, embora tudo o que buscasse quando se inscreveu na Seleção fosse amor, descobrir esse tão impactante sentimento que seus pais relataram ter sentido um pelo outro... Estar tão perto assim de alcançá-lo a deixou subitamente nervosa. 

Porém ela olhou com mais atenção para aquele sorriso tímido e com covinhas do Oficial Byrnes. Discreto e respeitoso, porém decidido a acompanhá-la em suas próximas aventuras. E quem era Alegra Prince para rejeitar uma pessoa decidida?  

O que eu tenho a perder? - Ela perguntou em voz alta, sorrindo também. Para viver, era necessário arriscar.  

Byrnes tirou o cape da cabeça e entregou ao companheiro, apertando sua mão como um sinal de gratidão e despedida. Depois abriu a porta do veículo para Alegra e ambos entraram no carro.  

 

Do lado de dentro do Palácio, ainda parados no saguão de entrada, aquele grupo singular observou o carro fazer a rotatória ao redor da fonte e desaparecer na longa estrada que levava aos portões principais.  

Alegra Ravenna Prince havia oficialmente deixado a Seleção e a tensão entre os que ficaram pareceu aumentar. Todos se viraram para a Rainha Kiara, a espera de seu sermão.  

—Há muitas coisas que precisam mudar aqui dentro. - Ela falou de maneira severa para todos, mas atingindo-os de maneira particular. - A segurança. A publicidade. A dedicação. As prioridades. 

Liam desviou o olhar e soltou o ar pesadamente.   

—Não quero que essas falhas sejam a primeira coisa que lerei no jornal quando acordar. - Kiara esclareceu com firmeza. Sem dizer mais nada, voltou para os seus aposentos.  

Liam suspirou e passou a mão pelo próprio cabelo emaranhado. 

—Eu fiz algo errado? - Resmungou para si mesmo sem saber se mais alguém havia ouvido.  

A luta por justiça aos seus pais ainda era muito recente, mas ele já precisava passar sua preocupação e dedicação às selecionadas e lutar por elas da mesma forma que lutara por sua família. 

Cada vez mais Liam percebia como as coisas aconteciam ao mesmo tempo, em lugares e com pessoas diferentes e, na situação de futuro rei, tudo caía no colo dele. Não havia como parar o tempo. Como Donavan dissera uma vez ao príncipe, tudo que ele fizer requer sua total atenção. 

Porém, havia algo que ele não dissera e que estava embrenhado no trágico governo da Princesa Sinead: O julgamento do que é mais urgente e que merece priorização.  

Era uma questão de escolhas.  

♕ ♕ ♕

Às cinco e trinta e um da tarde Anne Marie Chevallier ouviu duas batidas na porta do seu quarto. A empregada tirou as mãos dos cabelos loiros da selecionada e ambas se entreolharam, nervosas e animadas.  

—Irei abrir a porta. - A funcionário falou, vibrando de empolgação. Ela era pequena, mas chegou rápido a porta com seus pequenos e apressados passos. Olhou para Anne, esperando sua confirmação de que estava pronta. A selecionada observou-se no espelho, seu vestido rodado vermelho bem acinturado e o casaco azul claro estavam perfeitos com os acessórios azuis e esverdeados. Confirmou e a criada girou a maçaneta, encontrando com o Príncipe Liam. Curvou-se numa reverência, fingindo ter sido pega de surpresa: - Oh, Vossa Alteza. 

—Boa tarde. - Ele respondeu e olhou por cima do ombro dela, na direção de Anne.  

Ela corou involuntariamente quando seus olhares se encontraram e esboçou um pequeno sorriso.  

—Desculpe pelo atraso. - Ele disse, olhando aquele único minuto que fora além do horário combinado. - Vamos? 

A criada se afastou para deixar a selecionada partir. Anne sorriu para ela, achando graça de toda sua empolgação. Ela aceitou o braço que Liam lhe oferecia e depois passou a observá-lo com curiosidade. 

—Aonde disse que vamos mesmo? 

Ele sorriu e a olhou de canto de olho. 

—Eu não disse. - Lembrou, revelando que percebera sua abordagem. Liam a observou mais uma vez e deu risada alto ao ver a expressão curiosa no rosto dela. - Paciência. Logo a senhorita vai descobrir.  

 

Liam a guiou pelos corredores do Palácio, em direção a saída lateral. A cada rota que faziam Anne se imaginava num destino diferente e depois de um tempo ela se conformou com a ideia de que o príncipe estava fazendo aquilo apenas para confundi-la. 

Então eles saíram do castelo e foram em direção ao grande lago, onde tudo era extremamente calmo e silencioso. Havia uma ligeira brisa que parecia prometer uma noite fria - ela não gostava do frio.  

—Nós vamos... nadar? — Ela perguntou, desconfiada.  

Ele apontou para outro direção e ali estava, nas margens do lago, uma canoa de madeira, pintada de branco e verde, com um remo duplo apoiado na lateral.  

—Sabe, o nome da minha irmã é Ariel... Seria mais coerente se ela estivesse em meu lugar agora. - Anne brincou, mas sentindo seu coração disparar de nervosismo. Liam a ajudou a entrar enquanto ela ainda processava esse inesperado encontro. Ele empurrou a canoa e pulou para dentro dela. Ao sentir o pequeno barco balancear, ela sussurrou, rígida como se fosse feita de pedra: - Vossa Alteza sabe o que está fazendo? 

Liam olhou para baixo, para as águas rasas e calmas, depois de ter batido o remo em uma das pedras da margem do lago – talvez ele deveria ter empurrado mais a canoa para que ela não ficasse presa. 

Um tanto decepcionado, ele respondeu: 

—Para ser sincero, não. Não faço a menor ideia do que eu deveria fazer nesse encontro, sabendo que eu terei outros futuros encontros com pessoas diferentes. E sabendo que a senhorita também sabe disso! E sabendo também que eu sou a primeira pessoa da História de Nova Irlanda a fazer algo assim legalmente. — Ele deu um puxão com força no remo ao ver que ele se enterrara na terra e se enroscara entre duas pedras acinzentadas. Usou tanta força que, ao desprender o remo, a canoa virou para o lado oposto. Anne quase caiu e Liam jogou-se na direção contrária para equilibrar novamente o barco.  

Ambos então se olharam e Anne falou o mais delicadamente que conseguiu: 

—Eu estava me referindo à canoagem.  

Os ombros de Liam murcharam e ele deu um sorriso arrependido. 

—Desculpa. - Eles olharam para ambos os lados, observando como ainda estavam muito no raso, quase atolados na margem do lago. - Eu sou um incompetente para isso também.  

Anne mordeu os próprios lábios, também entediada. 

—O que acha que voltarmos para terra firme? - Ela propôs em tom de brincadeira e continuou para aliviar a tensão: - Por mais que essa tenha sido uma ideia muito bonita e que talvez... sua real intenção seja me molhar para depois poder me abraçar e me proteger do frio... Eu não estou muito no clima de ficar doente agora.  

Liam gargalhou imediatamente, gostando da brincadeira e do bom humor dela diante da situação que eles haviam começado com o pé esquerdo.  

—Não sou tão esperto assim. - Ele também riu. 

Eficientemente, o príncipe os levou de volta para a margem e puxou a canoa para o seco. Eles se sentaram ali na grama, apoiados no barco de madeira e observando o enorme Palácio acender suas luzes e receber a noite que se aproximava.  

—Desculpe pelo o que eu disse agora de pouco. - Liam comentou subitamente, olhando o castelo. - As vezes é tudo grandioso demais para mim. Nunca o que eu faço parece ser o suficiente.  

—Bom, eu também não sei nada sobre ser um membro da monarquia. - Anne respondeu com sinceridade. - Nem mesmo sobre cumprir ordens.  

Ela riu como quem se lembra de algo e Liam a olhou intrigado.  

Anne se explicou, gesticulando brevemente com a mão quando foi falar: 

—Minha mãe sempre pegou muito no meu pé para tentar me fazer elegante e nobre.— Ergueu o nariz, imitando a atitude da mãe. Deu de ombros, mostrando que não dava tanta relevância para essas exigências. - Minha irmã, Ariel, se casou há pouco tempo com um "rapaz educado e futuro engenheiro brilhante". E minha mãe achou que eu deveria ter alguém assim na minha vida também.  

—Então ela te inscreveu na Seleção para concorrer pela mão de um fazendeiro que não sabe nada sobre ser elegante e nobre? — Liam deduziu, falando com um tom de ironia divertido. 

—Não. Eu me inscrevi. - Anne confessou e depois caiu na risada ao ver a expressão do príncipe. - Minha mãe tentou me juntar com o irmão do meu cunhado, porque, é claro, ele também deveria se mostrar educado e um profissional promissor. - Ela também brincou num tom sarcástico. - Fui eu que propus participar da Seleção para fugir de um casamento arranjado.  

Liam a fitou por longos minutos, fingindo seriedade e compreensão. Ele confirmou com a cabeça. 

—Sim, isso não é nenhum pouco contraditório.  

Anne riu, constrangida, e tentou se justificar: 

—Só me sinto um pouco mais... livre, nessa situação.  

Liam apertou as sobrancelhas e a observou, em busca de uma resposta. 

—Mesmo sabendo que eu tenho outras treze namoradas? 

—Hmm. É, esse não é um ponto de vista muito legal. - Ela comentou e depois sugeriu, pensativa: - Talvez você não deva encarar as selecionadas como suas futuras possíveis noivas, ou os encontros como algo romântico. — Ela deu algumas batidinhas na madeira da canoa para mostrar a que se referia. 

Ele refletiu sobre isso, voltando a olhar para o imenso Palácio e a escuridão que se aproximava com o por do sol. A ideia de Anne lhe trouxe um modo mais tranquilo de lidar com a situação que, dias atrás o desesperava muito... E que também não envolvia ter que beijar todas as selecionadas para mostrar sua capacidade de se apaixonar – e se redimir de toda aquela história do Baile de Máscaras. 

Liam olhou novamente para ela e sorriu agradecido. 

—Então como eu devo considerar as selecionadas? 

Anne sorriu para ele.  

—Como uma companhia. - Ela respondeu com um sorriso irreprimível nos lábios, vendo muita mágica naquele momento em que ilusionista nenhum poderia reproduzir, pois foi ali que ela convenceu-se de suas próprias razões de ter entrado na Seleção: Por ser uma aventura. E por ser principalmente algo de sua escolha.  

O mundo não deveria ser preto e branco, nem funcionar sobre inflexíveis moldes.  

O príncipe concordou balançando a cabeça.  

—É simples. Gostei. - Ele também sorriu. - Gostei da sua companhia, Anne.  

♕ ♕ ♕

Caitlin entrou na sala de aula no final do dia, com passos apressados e carregando uma caneca com café. Haviam profundas olheiras marcadas em sua pele clara e seu cabelo escuro estava ligeiramente emaranhad0 – não de maneira exagerada, mas o suficiente para se perceber que ela, sempre impecável, havia tido uma noite ruim.  

Ela colocou a caneca sobre a mesa principal, no fundo da sala e de frente para as demais carteiras. Observou as selecionadas, todas quietas, esperando que ela começasse a falar, e logo notou o lugar vazio que pertencia a Alegra. Um gosto amargo subiu a boca e ela desejou ter adoçado mais o café.  

Respirou fundo para se recompor, sabendo que estava sendo observado, mesmo que as meninas se sentissem tão desconfortáveis com a eliminação da primeira selecionada quanto ela.  

Depois seu olhar encontrou outra carteira vazia e seu coração quase saiu pela boca. 

—Quem está faltando? Onde está Anne? 

—Srta. Dublin... - Ali chamou com cuidado. - Anne está no encontro com o príncipe, se lembra? 

—Oh... Sim. Sim. Tem razão. - Caitlin então relaxou novamente os músculos do corpo. Passou as mãos pelos cabelos, tentando arrumá-los e voltar a aparentar sua postura forte e confiante, mesmo que internamente, havia uma profusão de notícias sendo relembradas que a atordoavam: Veronika havia beijado Shawn, pensando que ele fosse o príncipe; Liam estava em seu primeiro encontro; Alegra fugira com um guarda... 

Subitamente, Branka perguntou a ninguém em específico: 

—Alegra e esse guarda já tinham um caso há algum tempo ou foi algo... impulsivo? 

—Ela não é esse tipo de pessoa que você está sugerindo! - Elizabeth rebateu quase no mesmo instante, bastante enfurecida com as acusações dirigida a jovem que partira. 

—Foi só uma pergunta. - Branka se defendeu, mal humorada como sempre. Endireitou a coluna e passou a mão sobre o tampo da mesa. - Vocês sequer eram tão próximas assim? 

Todas as meninas se agitaram, prontas para uma discussão, e as conversas se espalharam rapidamente por toda a sala. 

Caitlin parou aquela bagunça imediatamente – mesmo abalada, havia traços de sua personalidade forte que não se escondiam.  

—Já chega! - Exigiu e o silêncio tomou conta do lugar. - Não estamos aqui para julgar ninguém. Vocês não são inimigas.  

O que exatamente nós deveríamos ser?  

A pergunta indelicada partiu da sempre animada e extrovertida Riley, sentada ao fundo da sala. 

Andressa e Gwen se entreolharam, confusas e surpresas. 

Todos os olhares foram em direção a Riley e uma perceptível tensão tomou conta do ar. Ela se endireitou e se justificou: 

—Não me levem a mal, mas a Seleção nunca foi uma tradição da Irlanda do... Digo, Nova Irlanda. - Ela se corrigiu rapidamente, chacoalhando a cabeça para os lados como quem espanta uma mosca impertinente. Simplificou: - Não há ninguém com experiência na situação que possa nos servir de instruções de como agir. 

Caitlin a olhou com atenção, em completo silêncio. Riley lhe pareceu subitamente muito parecida com alguém que conhecia, mas que não conseguia se lembrar no momento.  

De qualquer forma, a pergunta que fizera era válida, embora dolorida. As meninas ainda não haviam se encaixado confortavelmente no Palácio e na própria Seleção: Não havia um manual para seguirem e essa falta de encaminhamento, num cenário e situação completamente novos, definitivamente era algo perturbador.  

—Poderíamos descobrir. - Caitlin respondeu então com cautela. As meninas voltaram sua atenção a ela, curiosas. - Vamos ver o quanto conseguimos odiar umas as outras. Mas, primeiro, vamos sair daqui. 

 

Mais uma vez do lado de fora do Palácio, em que o vento gélido era mais incômodo que de costume, as selecionadas se viram escrevendo um comentário sobre Alegra, de preferência um qualidade que viram nela durante esses poucos dias de interação. E depois os amarraram em bexigas de gás hélio - A própria Caitlin se surpreendeu com a facilidade de se conseguir tudo que procurava no castelo.  

"A ruiva da Seleção" Branka escreveu em seu pequeno papel, sem saber ao certo se era um elogio ou não, mas quando amarrou a frase no balão, sentiu-se um pouco segura: Se a atividade se repetisse para cada selecionada que fosse eliminada, ela, se fosse seu caso, não seria facilmente esquecida.  

Alegra tinha um sorriso bonito, bastante autoestima, era muito inteligente, era extremamente estilosa, apaixonadamente corajosa... ou corajosamente apaixonada... Foram as palavras rabiscadas no papel após algum esforço para valorizar as qualidades da primeira selecionada que havia partido.   

"Melhor que todas as outras" Veronika escreveu, contente por ninguém ler sua confissão.  

As meninas se emocionaram quando viram os balões subirem cada vez mais alto, como uma promessa de que tudo ficaria bem, e que Alegra havia escolhido o caminho certo, em busca de realizar um grande sonho.  

As selecionadas não encontraram uma resposta imediata para a pergunta polêmica de Riley, mas sentiram-se, elas mesmas, mais importantes por estarem ali, encontrando um significado ainda maior na Seleção.  

"Meu pai morreu quando eu era muito nova e eu não me lembro muito bem dele. Minha mãe escondeu a perda atrás de muito trabalho e na maioria das vezes não tinha tempo para mim; meus padrinhos que ajudaram na minha criação. Mas ela me contou do quanto amou meu pai e de como o 'amor' pode ser algo mágico. Fiz da minha meta de vida encontrá-lo... E virar uma grande estilista, é claro. 

Se esse sentimento for tão bom quanto o descrevem, eu desejo a todas vocês, meninas, que o encontrem em sua vida. Decidir o que queremos para nós mesmas e arriscar tudo que for possível para conseguir. 

Conselho final? Ouçam seus estilistas. Eles sabem mais do que vocês. 

Procurem por mim quando precisarem do vestido de noiva. 

Com muito amor, Alegra Prince."


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Notas finais do capítulo

Oláaa de novo!
Temos nossa primeira eliminada. Adiei MUITO a partida dela por medo de não conseguir explorar a personagem e seus motivos o suficiente.
Mas, se serve de consolo, provavelmente essa não será a última vez que essa eliminada (e as futuras) aparecerão na história, pretendo falar mais um pouco delas quando caminharmos mais para o final.

Eu tinha um encontro perfeitamente planejado para Anne e Liam mas conforme eu fui escrevendo foi ficando romântico DEMAIS... Então surgiu daí a deixa linda da Anne linda de sugerir ao príncipe "menor romance" e "mais amizade". Tenho certeza de que isso vai ajudar muuuito o lindo-Liam.

Espero que tenham gostado e que estejam tudo bem com vocês.
Beijos! ~See ya~

E feliz dia das mães!!! ♥

Links:
Alegra: http://www.polyvore.com/cgi/set?.locale=pt-br&id=221554780
Anne: http://www.polyvore.com/cgi/set?.locale=pt-br&id=221554736



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