Como Ser um Príncipe - Interativa escrita por Mila


Capítulo 14
O amor é um jogo, quer jogar?


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!
Aqui estou eu novamente às terças. #ThankGodIsTuesday Hahahaha Brincadeirinha aí para quem assisti as séries da Shondaland.

Charlotte Murray Parker fez o 100° comentário!!! Yey! ♥

Enfim, cá estou com Shawn e Caitlin para algumas explicações e confissões.



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Dia 18

Havia vinte máscaras iguais, arrematadas com a renda preta e as lantejoulas da mesma cor, e outras dez ainda não finalizadas. Shawn pegara uma dessas e a erguera na altura dos olhos. 

—Por que tantas máscaras?  

—Se qualquer uma delas estourar ou rasgar, há reservas. - Caitlin respondera sem prestar atenção nele, enquanto corria de um lado para o outro em seu escritório para ajeitar os últimos detalhes para o baile. 

Era o dobro de máscaras para o número de meninas.  

Com um suspiro, Shawn lembrou-se de como Caitlin podia ser bastante exagerada... E meticulosa. Mas o jovem, por outro lado, fora criado com pouco e tornara-se bastante racional, ficando incomodado com o "desperdício". 

—Não há nada que podemos fazer com essas inacabadas? Não podemos usá-las nós mesmos? - Ele insistiu em encontrar uma solução.  

Caitlin então parara sua organização e observara o moreno com certa dúvida. 

—Não sei... Acho que se tivesse mais, poderiam ser usadas na decoração... Mas agora não temos tempo para isso. - Ela olhara para o relógio pendurado na parede e, assustada com o seu próprio atraso, perdera a linha do raciocínio. - Tenho que correr se quiser entregar essas máscaras antes do baile. Desculpe, Shawn. E pare de mexer ou irá estragá-las. 

A assessora logo voltou-se para si mesma, absorta em suas preocupações e afazeres.  Enquanto isso, sem sua atenção, Shawn enfiara uma das máscaras inacabadas - sem a renda e os brilhos - no bolso de seu terno feito sob medida sorrateiramente.  

Não tinha certeza do que faria com aquilo, mas sentiu-se mais confortável de ter uma das máscaras consigo, como se mantê-la em seu bolso já fosse uma boa finalidade.  

 

Sendo provocado por essa lembrança, Shawn então gaguejou, sentindo- se num beco sem saída, após vários segundos de silêncio. Ele deveria ter imaginado que Caitlin ligaria as pontas soltas e mais cedo ou mais tarde descobriria que fora ele que beijara uma das selecionadas.  

Tentou criar alguma desculpa, mas não fora tão rápido e sabia que Caitlin nunca cairia numa mentira.  

Passando a mão pelos cabelos, ele confessou. 

—Fui eu, sim... 

Ela não ficou aliviada ao ver que sua suspeita estava correta, pelo contrário, ela abriu os braços ao lado do corpo, furiosa, querendo uma resposta melhor que apenas "fui eu". 

—Foi você o que? Foi você bancando o super-herói? - Ela questionou, irritada. - Combinamos de não usar as máscaras, sr. Keyes!  

—E-Eu peguei uma das máscaras sim, mas não pensava que fosse usar. Só a coloquei quando saí do baile... Porque eu fiquei com vontade. - Ele confessou, não sabendo encontrar palavras melhores para se justificar. Sabia que parecia bobo e difícil de ser levado a sério, porém o por que colocou a máscara foi pelo mesmo impulso infantil que faz uma criança querer um pirulito antes do almoço. Decepcionado por perceber o quanto aquilo parecia tolice, ele suspirou: - Eu nunca vestiria a máscara dentro do salão de festa. Não imaginei que fosse ser fotografado... e muito menos confundido com o príncipe. Sei que ele disse aquelas coisas no telejornal para que a situação não parecesse pior do que é... 

Caitlin colocou as mãos na cintura, respirando fundo para organizar os pensamentos e não se esquivar de tal assunto complicado.  

—Isso não justifica o beijo. - Disse firme, mantendo o olhar determinado e severo.  

Ele ficou ligeiramente corado. Deveria saber que sua chefe exigiria maior detalhes do ocorrido, mas ainda assim era difícil compartilhar o momento.  

—Eu não pretendia fazer isso. - Respondeu cauteloso, tomando cuidado com as palavras. - Minha intenção nunca foi prejudicar as meninas, o príncipe... ou a Seleção! Foi um impulso do momento; a música, a privacidade, a conversa... Falamos sobre o céu e as estrelas, sobre nossas casas... - Ele parou quando percebeu, pelo olhar de Caitlin, que estava detalhando demais. Então resumiu, conciso: - Apenas aconteceu.  

Caitlin o analisou meticulosamente. 

—Por experiência própria sei o quanto o senhor pode ser atrapalhado, mas precisa mais que isso para fazer uma bagunça tão grande.  

Shawn se encolheu novamente. Sabia que precisava explicar melhor suas intenções daquela noite, mas estava prestes a dizer algo que até então permanecera apenas em sua própria mente. Ele limpou a garganta. 

—Srta. Dublin, eu tenho consciência do como tudo isso tomou proporções alarmantes e também de como minha atitude pareceu audaciosa. Mas eu me esquivei da audácia durante toda a minha vida. Nunca gostei de atrair atenção para mim e sempre temi grandes mudanças; contraditoriamente isso me tornou uma pessoa desastrosa. - Ele fez uma pausa para pesar as palavras seguintes. - A senhorita precisa crer que eu nunca tive más intenções. Fiz aquilo por... por ter sentido um sentimento diferente. Como foi dito no telejornal... uma espécie de amor a primeira vista.  

Essas últimas palavras interferiram na credibilidade do discurso anterior e Caitlin quase riu da sugestão, mas o que saiu de sua boca foi um ganido desacreditado.  

—Você está brincando comigo, sr.Keyes?  

—De modo algum. - Respondeu o mais sério possível e ainda corado. 

Ela o olhou com frieza. Analisando suas palavras e suas expressões.  

Se fosse qualquer outro funcionário, ela já teria encomendado à expulsão dele horas antes. Mas Shawn tinha um brilho que parecia reafirmar sua honestidade. Tropeçar na cadeira e estragar as coisas por acidente eram de seu feitio, mas desestabilizar as selecionadas, o príncipe e a monarquia não parecia a intenção de um jovem que parecia acreditar em amor a primeira vista. 

Ainda assim ela não estava disposta a dar o braço a torcer tão fácil e não poupou perguntas: 

—Você já conhecia a garota de algum lugar? 

—Não. E acho que ainda não a conheço. - Ele respondeu, agora envergonhado. - Estava escuro e ela usava máscara. Não consegui reconhecê-la. Esses últimos dias pensei que poderia ter sido Anne, porque nós nos entendemos bem, mas o cabelo da jovem era mais escuro.  

Caitlin apertou os olhos.  

—E "a música, as estrelas" e toda essa conversa... também foram suficiente para ela se apaixonar por você e beijar um desconhecido logo no primeiro evento real? — Ela provocou, com as mãos na cintura. Observou Shawn outra vez e percebeu que ele não tinha uma resposta para isso. Diferente dela, o jovem não conseguia definir a personalidade das pessoas tão facilmente. Então Caitlin girou os olhos e fez outra pergunta: - Por que você foi lá fora afinal? 

—A selecionada havia saído e eu a segui, para ver se estava tudo bem. Pois é o nosso dever auxiliá-las... certo? 

—E o seu auxílio foi beijá-la? — Ela não conseguia mais esconder o quanto aquilo lhe parecia uma loucura e se mexeu, inquieta. - Não pensou em lhe perguntar se estava tudo bem ou descobrir o nome dela? 

—Eu perguntei! As duas coisas! - Shawn se apressou em explicar, mais agitado. - Ela apenas estava tomando um pouco de ar. E, quanto ao seu nome, ela se negou em dizer, pois disse que a intenção do Baile de Máscaras era manter sua identidade oculta. 

Caitlin então deu um passo para trás e perdeu a cor do rosto. 

—Shawn, - Ela sussurrou, abalada. Ele mal notou que ela voltara a usar o seu primeiro nome, pois a expressão no rosto da srta. Dublin era a de quem havia visto um fantasma. - acho que a selecionada te confundiu com o príncipe. 

O jovem de olhos castanhos também recuou. Não tão abalado quanto Caitlin, mas confuso e na defensiva.  

—Não... Ela sabia quem eu era... Não usou nenhum tratamento real nem fez uma reverência quando me aproximei.  

Ela balançou a cabeça para os lados. Tinha certeza de aquela confusão era muito maior do que parecia.  

—A imagem do Príncipe Liam era rara na mídia quando ele era apenas possuía apenas o título de sir, e assim as meninas tiveram pouco contato com a figura dele desde sua nomeação como Herdeiro. E elas também conhecem pouco do assistente da Seleção. E querendo ou não vocês dois são parecidos. - Ela deu de ombros e passou a mão pelo próprio rosto, tentando clarear os pensamentos. - O senhor estava usando máscara, Shawn. Por que apenas um funcionário estaria usando máscara no Baile Real? Se fosse para alguém usar tal acessório que instiga singularidade... só poderia ser o príncipe. 

—Não... - Shawn recuou outra vez, sentindo um ligeira coceira de nervosismo se espalhar por seu corpo. - Ela não fez nenhuma reverência... 

—Os tratamentos reais poderiam ser esquecidos quando a menina procurava mais privacidade.  

Então ele parou, assustado. Olhou fixamente para Caitlin, tentando entender onde ela queria chegar.  

—Shawn, a menos que você realmente conheça a garota, eu não vejo motivos para uma selecionada ter beijado qualquer outra pessoa senão o príncipe em um dos primeiros dias no Palácio. - Eles se olharam por mais um momento e a mulher deixou os ombros caírem ao ver que seu colega de trabalho não tinha mais nenhum argumento em sua defesa. - Eu sinto muito, mas se quisermos descobrir quem é essa selecionada, não devemos procurar uma jovem com um olhar apaixonado, como você gostaria que estivesse. - Ela fez uma pausa para então continuar: - Mas devemos procurar alguém audacioso e ambicioso o suficiente para beijar o príncipe logo na primeira oportunidade como forma de assegurar seu lugar na Seleção. Alguém que, hoje, após o pronunciamento do Príncipe Liam, tiver no rosto uma centelha significativa de esperança.  

Sabendo que era difícil dizer isso, ela falou com mais calma e quase didaticamente. 

—O amor é um jogo, senhor Keyes... E todas estão jogando. 

Shawn abaixou a cabeça, sem esconder a verdadeira decepção. Era como se Catlin tivesse acabado de destruir sua ilusão secreta e fantasiosa, deixando para trás uma enorme bagunça e apenas o forte sentimento de arrependimento. De que tinha estragado tudo.  

—O que você vai fazer comigo? - Ele murmurou, cabisbaixo. 

—Olhe para mim. - Caitlin ordenou. Ele ergueu a cabeça para ser fuzilado pelos severos olhos que o fitavam com intensidade. - Eu não posso te mandar embora ou levantaria suspeitas, afinal o príncipe já assumiu a culpa por seu pecado. Além disso, eu preciso de você aqui. O senhor é minha melhor maneira de resolver essa confusão... e descobrir quem é a selecionada. Então irei te acobertar. 

A expressão de Shawn Keyes se iluminou ao receber um pouco de esperança.  

Rapidamente Caitlin o cortou, tentando manter a atitude severa: 

—Porém, com o menor dos erros, sr. Keyes,  você está fora. Pois ninguém brinca com a minha seleção, está me entendendo?  

Ele concordou o mais depressa possível.  

Caitlin fez um gesto firme com a cabeça, como se selasse um acordo. Deu meia volta e saiu com passos firmes, tentando se assegurar da decisão tomada, pois aquilo já havia virado uma rede de mentiras e segredos, e ela não sabia se seria perigoso acrescentar mais um à trama ou bombardeá-la com uma verdade.  

Ainda assim havia muitas coisas que ela podia fazer para melhorar a situação. 

Querendo ou não as meninas eram sua responsabilidade, seus peões, e ela os moveria como quisesse para descobrir qual era a peça que havia trapaceado.

♕♕♕ 

Dia 19

Liam limpou o suor da testa com o dorso da mão. 

Apertou os olhos para enxergar melhor o alvo a distância... Ou talvez apenas para encontrar o foco para continuar o exaustivo exercício. 

Pegou a bola de sete quilos com as duas mãos e grudou-a entre seu ombro e pescoço. Ofegou pelo esforço. Colocou um pé atrás, outro na frente e girou com os braços ao redor do corpo. Então, com o impulso, jogou o peso longe. Mas ele não passou sobre o bastão sem derrubá-lo e a barra de ferro caiu com um som agudo no chão de cimento - Diziam que esse jogo era uma junção de alguns esportes praticados no passado. 

—Não consegue cumprir sua meta? - O rei Donavan perguntou em voz bem alta.  

Mantinha-se em pé no degrau mais baixo da pequena arquibancada do salão de arremesso da área do picadeiro, dentro das propriedades do Palácio, com os braços atrás das costas e uma expressão severa - uma postura que mantinha há uma hora, quando o treinamento começara. 

—Farei de novo! Até conseguir! - Liam respondeu como um soldado, quase sem forças para falar. 

Sabia que o seu castigo chegaria mais cedo ou mais tarde, mas não imaginara que seria tão... físico. E cheio das ordens rígidas e de duplo sentido do rei. 

Liam se virou tentando recuperar o fôlego e girou o pescoço para os lados, para alongá-lo. 

Inspirando, pegou outro peso de sete quilos e seguiu as mesmas instruções que recebera, pedindo apenas que seus braços tivessem ainda forças para cumprir a prova física. 

Olhando o rei de canto de olho sentiu uma raiva teimosa crescer dentro de si e descobriu que queria provar a ele que era capaz de vencer seus desafios. 

Girou outra vez e arremessou. 

A raiva e a determinação fizeram o peso voar longe e passar por sobre a barra, recolocada no lugar por um funcionário, caindo dentro dos limites esperados com perfeição. 

Nem mesmo Liam acreditou que conseguiu realizar o feito. 

Ergueu os braços para o alto e urrou, contente. 

O Rei Donavan desceu o degrau da arquibancada e se aproximou do príncipe. 

—Cumpriu sua meta... E melhorou o foco. - Falou sem alterações emocionais na voz como se não fosse grande coisa ele ter conseguido o feito, mas Liam fez questão de interpretar suas palavras como uma congratulação. - Há muitas coisas para pensar na monarquia, relações pessoais e responsabilidades que não podemos fugir... Atividades que devemos realizar com intensa dedicação. - Ele observou os funcionários organizando a bagunça que o príncipe fizera em seu treinamento. Depois voltou-se para Liam. - A regra é focar em uma única coisa por vez. O que fez o senhor acertar o objetivo do jogo nessa última tentativa?  

Liam tremeu o queixo, sem saber se deveria contar a verdade. Mas enfim confessou: 

—Raiva. 

—E foi a raiva que o manteve focado no que estava fazendo. Esqueceu todos os seus problemas, o tempo e até o cansaço do corpo. Priorizou a tarefa e cumpriu-a com êxito.  

Liam ficou surpreso ao descobrir que o castigo do rei tinha uma lição de moral no final - era algo tão típico de Caitlin Dublin e ele chutaria até mesmo como uma possível atitude da rainha, mas nunca do rei.  

Ele o fitou outra vez, com as mãos atrás das costas:  

—Atentar-se exclusivamente ao momento é a regra. CARPE DIEM. Vamos testar o seu foco! - Deu duas batidas decidas no ombro dolorido de Liam e apontou para outro canto do centro de treinamento, onde havia outros equipamentos. - Agora: Arco e flecha. 

♕♕♕

 

O clima era estranho. Depois do discurso de Liam no telejornal sobre já ter encontrado seu verdadeiro amor, as selecionadas estavam inquietas.  

Inscreveram-se na Seleção por motivos diferentes, algumas mais hesitantes que outras, mas com a mesma vontade elas queriam se manter no concurso. 

Moreena, que gostava de ser chamada de Meena, havia sentado ao lado de Veronika no Salão das Selecionadas e com uma caneca de chá de menta em suas mãos ela ouvia a companheira confessar suas frustrações. 

Amor? - Ela repetiu enojada. - Como se existisse tal coisa.  

A loira nada fazia a não ser ouvir. Não era apenas a sua personalidade discreta e pouco expressiva que limitava sua vontade de responder, mas também o seu sono. Seus olhos pesavam e o sangue pulsava em sua cabeça continuamente, fazendo seus ouvidos estralarem. Ela mal conseguia se concentrar em outra coisa. 

Honor passou em frente a elas, em melhor estado que as duas: Fazia anos que suas noites de sono eram privadas pelo trabalho e estudo intensos para poder se sustentar, e agora, finalmente, ela conseguia dormir tranquilamente.  

Ela olhou para Moreena vendo em sua maneira sensível e delicada uma possível amiga, bastante diferente da atitude confiante e ousada que exibira após o telejornal. Mesmo assim, ela se identificou com a loira. 

Mas Honor receou se aproximar de Veronika e toda a intensidade dela. Então deu meia volta e foi sentar-se em outro lugar, onde tentou se distrair com a leitura de um romance. 

Em outro canto, mais distante, as inseguranças e dúvidas de Charlotte, Brianna e Skyla não eram contidas, e elas especulavam sobre o mistério da selecionada.  

—Isso não faz sentido. - Sky observou e logo após explicou seu raciocínio: - Por que o príncipe falaria que já está apaixonado sendo que a intenção da Seleção é dar a todas as meninas a mesma chance? 

Brianna desviou o olhar de seu biscoito de caneca que segurava entre os dedos e esqueceu que iria comê-lo quando as palavras da amiga cativaram sua atenção. Gostava de aprender coisas novas e sempre se mostrava bastante proativa, assim o quê investigativo da conversa a deixou animada: 

—Acha que ele mentiu? - Perguntou, deixando a criatividade tentar resolver o mistério. 

Charlotte sentou-se ao lado dela no sofá e se distraiu girando sua pulseira prateada no pulso – um presente que havia ganhado de uma pessoa especial.  

—Faria sentido, Brie. - Ela concordou, parecendo distraída. - "Amor verdadeiro" soaria melhor para Nova Irlanda que um príncipe que agiu feito um moleque e "violou" uma de suas belas pretendentes! 

Sky deu de ombros, não totalmente de acordo com a dramaticidade que Charlotte deu ao fato, mas concordando com sua teoria: 

—A imagem de Liam nunca trouxe muita feição popular mesmo...  

Brianna observou as duas amigas, lembrando-se que ambas conheciam melhor o mecanismo da monarquia que ela, pois possuíam linhagens nobres. O avô de Charlotte era um lorde e o pai de Skyla, um duque.  

E Brianna trabalhava com os pais no hotel da família, que ficava na província mais distante e ao norte da Nova Irlanda.  

Ela riu baixinho, era isso que chamava de mudança.  

—Se isso significar que ainda temos uma chance com o príncipe... - Ela comentou tentando soar esperançosa.  

Charlotte olhou para ela e depois para o pão que ainda segurava. 

—Vai comer isso? 

Num gesto rápido, Brie enfiou tudo na boca, definitivamente não disposta a ceder seu biscoito favorito. Sky riu de sua reação e Charlotte se afastou para pegar um para ela mesma, resmungando  

Sozinhas, Sky permaneceu de pé, analisando as demais meninas no salão e perguntando-se qual delas poderia ser a tão misteriosa selecionada que beijara o príncipe. 

Enquanto isso, Brianna varreu as migalhas de seu colo e do sofá. Foi assim que reparou em um papel afundado no buraco entre o encosto e assento. Puxou e viu ser um papel de carta. "Cara Lady Sienna" e no final, a assinatura elaborada do segundo príncipe do País de Gales. 

A jovem dobrou o papel novamente, corada. Não sabia como aquilo fora parar ali, mas tinha consciência de que um documento como esse sequer deveria estar em sua posse.  

Seu coração disparou com a descoberta e a vontade de ler, se pudesse falar, estaria gritando para sua curiosidade. Mas estava em dúvida se deveria ler seu conteúdo ou não. 

Enfim não conseguiu mais se conter e abriu a carta novamente. Leu o conteúdo com a mesma voracidade de quem mata a sede num só gole.  

Não conseguiu acreditar que aquilo era um... fora. Escrito de uma maneira absurdamente formal e pouquíssimo pessoal, o príncipe mais novo do País de Gales, com poucas palavras, terminara um casamento extremamente importante para a monarquia de dois reinos.  

Brianna leu tudo de novo e se perguntou se conhecia "Sienna". Ficou remoendo lembranças para encontrar tal nome em sua memória e finalmente lembrou-se que seria ela a atual herdeira, se não tivesse renunciado e permitido que Liam tomasse seu posto. 

Ela quase se abanou com a própria carta: Aquela era definitivamente uma notícia importante. 

Pensou no que faria com aquilo e tinha uma discreta satisfação de ter o conhecimento de uma informação privilegiada, pois obviamente, visto onde a carta fora encontrada, o assunto ainda era bastante sigiloso. Provavelmente nem os monarcas sabiam disso... a repercussão teria sido visível se eles soubessem. 

Entretanto, antes que pudesse esconder a carta de algum jeito, Charlotte voltou e na primeira coisa que reparou fora no papel nas mãos de Brie. 

—O que é isso? - Perguntou curiosa, já tirando o documento de suas mãos.  

Skyla também se atraiu pela agitação e se colocou atrás de Charlotte para ler o conteúdo por sobre o seu ombro. 

—Encontrei enfiada no estofado do sofá... 

Brianna ficou incomodada pela intromissão das amigas, mas tinha uma pontinha de curiosidade para saber qual seriam suas reações. Afinal, elas conheciam melhor a monarquia e deveriam saber o que aquilo significava.  

Quando terminou a leitura, a neta do lorde riu ceticamente e enfiou a carta novamente no buraco onde ela fora encontrada e exclamou:  

—Bem feito! 

—Charlie! - Sky quase a reprimiu. Ela se inclinou na direção das amigas, não querendo chamar atenção das demais selecionadas e sussurrou: - Lady Sienna teve seu noivado terminado por carta. Não importa o quanto você não goste dela... - Ela comentou ao ver a expressão de desgosto em Charlotte. - Ninguém deveria passar por algo assim. E guardar essa carta? Ah, isso é loucura demais! É horrível ficar remoendo lembranças ruins e perder oportunidades de aproveitar outros momentos. Se fosse comigo, eu já teria feito uma fogueira e queimado todas essas palavras! 

A morena afundou-se novamente no sofá e revirou os olhos. Não queria se envolver com esse tipo de problema. 

—Mas nós não vamos queimar. - Brianna afirmou com um olhar cauteloso para Sky. - Isso não nos pertence. Não podemos tomar essa decisão. Acho que deveríamos devolver para Lady Sienna. 

Sky concordou imediatamente. Ambas olharam para Charlotte para saber se ela participaria do plano, mas ela estava distraída novamente girando sua pulseira no pulso.  

As duas  decididas se entreolharam e fecharam um acordo silencioso. Procurariam Sienna e lhe devolveriam a carta. Sky diria tudo o que pensava sobre essa atitude desonrada do Príncipe Caleb e Brianna prometeria a lady manter o seu segredo, se ela contasse a Liam sobre a notícia. Pois querendo ou não, ele era o futuro rei e o primo dela... e o assunto estava longe de ser apenas um término amoroso. 

 

Naquele dia quando todas as meninas foram se deitar, Caitlin Dublin permaneceu no Salão das Selecionadas, revirando papeis e organizando documentos.  

—O que está fazendo? - Shawn perguntou curioso, mas anda com aquele receio de se mostrar intrometido demais após a último conversa que tiveram.  

—Investigando as meninas. - Ela respondeu atenta demais para desviar o olhar para ele. - Mas só há documentação médica... Ah, enfim, ordens do príncipe. 

Shawn apertou os olhos, incomodado.  

—Ahn, eu posso te ajudar? - Perguntou sem jeito.  

Caitlin finalmente o observou e ele se apressou em seu explicar: 

—Estou tentando me redimir.  

Já passava das dez da noite e o silêncio do imenso salão parecia carregar nada além de desânimo e sono. Mas Shawn sabia que havia cometido drásticos erros e que, em qualquer outro lugar já o teriam feito ser demitido. Caitlin fora solidária e lhe concedera uma nova chance, a qual ele se esforçaria para merecer.  

Com um suspiro pesado, a mulher cedeu ao auxílio.  

Por um momento ela tirou os olhos da ficha hospitalar de Moreena McLorden, que tanto a intrigava, e observou Shawn Keyes em sua própria mesa. 

—Você sabe que eu não a única com que você precisa se redimir, certo? 

Ele hesitou a princípio e depois concordou, cabisbaixo. E sem dizer mais nada, eles voltaram a suas tarefas. 

♕♕♕

Bella, a jovem criada com feições típicas nova-irlandesas – olhos verdes, cabelos loiros cacheados -  entrou no quarto de Riley O'Codagh cantarolando de felicidade pela sua conquista: As duas xícaras de chá de camomila que carregava em uma bandeja, as quais ela tinha direito a uma, devido a generosidade da selecionada de querer dividir com a funcionária não apenas o chá, como também a companhia.  

Porém, depois de alguns goles e muita conversa, ela sentiu seu corpo pesar e o sono ganhar espaço inusitado. Dormiu na cama da própria selecionada. 

Riley se afastou sorrateiramente. No bolso de seu robe para dormir estava um pequeno frasco com o conteúdo pela metade, que pesava mais o que parecia. Trouxera de sua casa um pouco de lúpulo que provocava sonolência e que ela havia pingado algumas gotas no chá da criada sem que ela percebesse. 

Então girou a chave na fechadura e saiu para fora do quarto, feliz por não haver nenhum guarda por perto.  

Foi andando pelo Palácio sem rumo aparente, mas seguiu em direção ao escritório do rei, onde então encontrou um guarda de vigia em frente a porta.  

Enquanto pensava em como faria para despistar o homem e conseguir entrar na sala, uma voz suave e melodiosa falou perto de sua orelha: 

—Já passou do seu horário de dormir.  

Virou-se num sobressalto e deparou-se com a Conselheira Almirena, uma mulher alta, de pele bronzeada e traços faciais bem marcantes. Ainda vestia suas roupas de trabalho e parecia ter acabado de sair de seu gabinete, que ficava perto dali, após horas de trabalho intenso.  

Riley fechou a cara, daquela sua maneira infantil.  

—Vim procurar outro cobertor. Estou com frio.  

A conselheira olhou a jovem de cima a baixo, enrugando o nariz para o seu robe de dormir.  

Mantenha a discrição, senhorita. - Depois estalou o dedo e chamou a atenção do guarda parado a porta. Riley murchou os ombros, decepcionada por ter acontecido a última coisa que ela queria. - Senhor, leve essa jovem ao seu quarto, por favor. Parece que ela se perdeu a procura de outro cobertos. 

O guarda se aproximou a abriu a boca para falar que não podia abandonar seu poto, mas Almirena insistiu antes que qualquer palavra fosse dita. 

—Por favor, senhor. Creio que a prioridade real seja a segurança e bem estar dessas senhoritas.  

Relutante o homem enfim cedeu e mostrou a direção a Riley. Ela o acompanhou com a mesma relutância. Olhou sobre o ombro e viu a conselheira frente a porta do escritório do rei, de braços cruzados e olhando para a selecionada e o guarda que se afastavam. 

Riley assoprou a franja para longe do rosto. 

Odiava perder daquele jeito. 


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Notas finais do capítulo

Modéstia MUUUUUUITO a parte, mas eu amei essa primeira cena. Li e reli e reescrevi ela milhares de vezes para encaixar os fatos e revelações, tentando me lembrar que meus personagens não sabem de tudo como EU sei. Então eu acredito que consegui organizar numa maneira que as descobertas ficaram fluidas.
E vocês o que acharam de nosso Shawn, menino inocente e pecador? Hahaha
E nada de Anne... Mirem suas especulações em outra beldade. E parece que tal beldade sabe jogar esse jogo, não é mesmo? Será que ela se apaixonou mesmo ou foi tudo parte de seu plano ambicioso?
Adorei que o título desse capítulo encaixou certinho!

Riley representando aquele momento em que ninguém conhece as personagens de fato.

Essa cena do Liam primeiramente eu fiz ele levar uma bola de cinquenta quilos. Hahaha. Aí eu parei e pensei "você conseguiria fazer isso Mila? Não, então não exagera". Aí eu mudei para vinte - como se eu conseguisse ergueu isso também e arremessar para o alto. Percebendo que eu estava dando uma de Caitlin e exagerando "um pouquinho" joguei no Google e descobri que o peso do arremesso nas olimpíadas é de sete quilos e pouco... Yey, passei perto! ♥ Hahaha

Lembrando que uma eliminação está chegando... Se quer manter a sua selecionada na história certifique-se de ter comentado no maior número de capítulos possível até o fim dessa semana... Tenho que preparar a primeira eliminação.

Charlie, Brie e Sky foram as minhas escolhidas para descobrir a carta de Sienna. Não foi sorteio, foi minha decisão mesmo. Escolhi aquela resposta que me levaria a um caminho interessante... Mas isso não quer dizer que outras selecionadas não podem tomar conhecimento dessa carta também mais para frente. Vocês deram respostas bem divertidas! xD

Obrigada por tudo gente!
Beijos! Até mais ♥

P.S. As vezes eu tenho que parar de escrever para fazer contas. Criar uma linha do tempo... Então quem escreve também tem que lidar com a matemática... Mesmo se for para contar nos dedinhos e fazer tabelas e esquemas no Paint ~culpada

"O amor é um jogo, senhor Keyes... E todas estão jogando."



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