Ato IV – Os Objetos
Cena I – Flashback – A Veritaserum

"—Para onde você vai, Prongs?— a voz de Remus ecoou desconfiada no dormitório.

—Dá uma voltinha na festa do Slugh. – ele sorriu presunçosamente.

—James, James... Olha lá o que você vai fazer... – o maroto o repreendeu, a sobrancelha arqueando exageradamente por detrás do livro.

—Remus. – James largou a capa de invisibilidade em cima da cama, enquanto fechava o malão com o pé, fazendo uma batida estrondosa soar pelo recinto. – Olha só para minha cara e veja se eu vou me meter em encrenca por causa disso.

Sirius, que apenas observava a cena sentado displicentemente em sua cama, prendeu o riso quando Remus largou o seu livro de lado e inspirou profundamente.

—Prongs, você é um monitor-chefe agora, sabia? Creio que você deveria passar a se comportar como um. – observou o rapaz num tom sério.

James gargalhou.

—Eu não vou aprontar nada com o Ranhoso, se é isso que você está pensando. – o sorriso que James esboçou era ligeiramente suspeito.

—Não me diga que... – Moony suspirou. – Ah, não, James...

—Só serão umas gotas, Moony. – ele sorriu presunçosamente. – Lily Evans não vai nem notar ou sequer pensar na possibilidade de eu ter feito isso com ela. – ele passou a mão pelos cabelos.

—Mas isso é invasão de privacidade, James!

—Eu só quero ter certeza de que vale a pena investir nela ou não, Remus. – ele suspirou e passou a mão pelos cabelos. – Sabe, viver dois anos com esse sentimento não é algo que se pode considerar fácil.

—Pense, Remus, o James está desesperado... – Sirius comentou esboçando um sorriso maquiavélico. – Ele está chegando a tomar medidas drásticas.

Remus meneou a cabeça quando Sirius gargalhou gostosamente e recebeu, em resposta, um travesseiro no rosto e um olhar fuzilador de James.

—Mas a Lily é minha amiga, Prongs. – Remus insistiu. – Eu não quero que você faça nada que venha a prejudica-la.

—Eu não vou simplesmente pedir para ela dizer que me ama no meio da festa do Slug; se é isso que você está pensando... – os olhos castanho-esverdeados do rapaz brilharam intensamente. – Mas não digo nada a, pelo menos, beija-la. – ele suspirou e esboçou um sorriso vitorioso e ansioso. – Ou algo mais...

—Então, o efeito da poção passa e você pode-se considerar um homem morto. – Sirius gargalhou quando fez o sorriso do outro maroto morrer no rosto. – Mas, pense pelo lado bom, pelo menos você morrerá feliz.

—Cala essa boca, seu cachorro pulguento!

—Cachorro pulguento? – Sirius jogou um travesseiro em James, ao que ele amparou com um sorriso. – Saiba que eu tomo banho toda semana e uso poção anti-pulgas, viu? – ele arqueou a sobrancelha. – Sou um cachorro limpo.

—Mas que nunca joga limpo. – Remus encarou Sirius com um ar desconfiado, que ainda esboçava um sorriso suspeito.

—O que foi que eu fiz para você desconfiar tanto assim de mim? – ele retribuiu o olhar de Remus com uma feição indignada e cética.

—Nascer? – Remus comentou, ao que Sirius fechou a cara momentaneamente e tornou a sorrir como antes.

—Sirius... – James o encarou com um ar desconfiado. – O que foi que você fez?

—Euuuu? – o sorriso suspeito dele se alargou. – Nada, Prongs. – completou num modo displicente.

—Você trocou as poções, não foi? – James tirou algo do bolso e o observou na altura dos olhos. – Essa não é a Veritaserum? – completou, num estreitar de olhos, observando o líquido claro balançar lentamente à sua frente.

—Não quer beber para ter certeza, Prongs? – Sirius indagou de modo desafiador, cruzando os braços de forma suspeita. James esboçou um ar malandro.

Remus revirou os olhos um tanto quanto entediado quando, num segundo, seus dois amigos deram lugar a um cervo e um cachorro, iniciando assim uma perseguição do primeiro atrás do segundo.

Desde que o Sirius tivera a idéia de se transformar em animago para "atacar" James e força-lo a confessar que estava apaixonado por Lily Evans que essa cena se repetia no dormitório masculino do sétimo ano.

Ainda exibindo o mesmo ar, ajeitou-se calmamente na cama e tornou a abrir o seu livro, tentando se concentrar em meio a bramidos e rosnados. Já desistira, há muito, de tentar impedir esses dois loucos de fazerem alguma coisa.

A balburdia piorou e Remus ouviu o som de algo caindo e, ao perceber tudo escurecer, notou que fora o seu cortinado. Fechou os olhos e respirou profundamente, tentando manter a calma, enquanto sentia algo se embolando pelas suas pernas, rosnando irritadamente.

—Tenha calma, Remus... tenha muita calma. – murmurou para si mesmo, sentindo que a mesma já estava fugindo ao seu controle.

Tirou o cortinado de cima de si, sentindo o nariz coçar involuntariamente. Remus observou o cervo que tentava, quase que inutilmente, soltar uma de suas galhas enrolada no cortinado da cama ao seu lado, olhando perigosamente para a sua cama, em que a "coisa" ainda se embolava de forma impaciente.

Uma cara negra e peluda já estava despontando em meio ao "mar" avermelhado quando Remus percebeu que o cervo preparou-se para pular para cima da sua cama. O maroto encolheu-se no lugar e ficou um tanto quanto vermelho, principalmente quando sentiu o seu pé latejar devido à pisada que recebera do cervo.

—Agora chega!— grunhiu irritadamente. – Ou vocês dois param com essa brincadeira, ou eu mesmo tomarei providências acerca disso.

O cervo e o cachorro encararam Remus e depois se entreolharam. O cervo lançou um olhar emburrado para o cachorro e soltou um bramido antes de descer da cama – Remus gemeu quando ele tornou a pisar no seu pé – e se transformar em James Potter novamente.

—Eu venci, Pads. – o rapaz sorriu triunfante, enquanto alisava os cabelos completamente suados. – Agora, me entregue a poção verdadeira."