Rock the baby escrita por Nanahoshi


Capítulo 5
Não quero mais lutar


Notas iniciais do capítulo

VOLTEEEEI MEUS AMORES!!!
Finalmente retomei minha vida de ficwriter, e eu não podia deixar essa belezinha sem atualização, pq essa fic é maravilinda e é sempre uma delícia de escrever. Esse capítulo é mais um de transição, pq mostra gradualmente a mudança de postura da Mika, então acaba que fica um pouco lento. Além disso, absorvi um pouco desse vicio dos shoujos de avançarem com as coisas de forma um pouco lenta AUSHAHSAUHH Mas sempre tem as cenas fofenhas que vão gradualmente construindo o shippe ♥
Espero que gostem de um poquinho mais de fofura.
Boa leitura!



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3 meses depois

—Uah!

Mika se espreguiçou e deixou-se desabar no chão de concreto da quadra de basquete. Sentada com as pernas esticadas, ela levantou os olhos e fitou o céu marcado pelo degradê do pôr-do-sol. Passos soaram atrás dela e uma garrafinha de água apareceu subitamente em seu campo de visão. Mika piscou confusa por um segundo, mas logo ergueu a mão para segurá-la.

Sorrindo, ela virou o rosto para a esquerda e fitou o colega de treino.

—Obrigada, Mitsui!

O garoto de cabelos negros azulados havia se jogado no chão assim como Mika para depois beber avidamente o conteúdo de sua garrafinha. Puxando com um estalo o bico da garrafa da boca, ele sorriu de volta para a amiga e disse:

—Que isso.

Estavam treinando basquete desde as quatro da tarde sem intervalo. No máximo haviam parado para beber água, e uma única vez para enchê-las novamente. Além disso, havia o fato de Mitsui ter sempre o treino do time de basquete da Takeishi Junior High, o que o deixava ainda mais cansado. Entretanto, nenhum nível de cansaço conseguia desanimá-lo em relação às suas aulas com Mika.

A garota mostrara interesse desde o primeiro minuto, e era óbvia sua vontade de aprender. Em três meses, ela já conhecia todo o básico do basquete de cor e salteado, e já demonstrava evoluções bem promissoras. Sua meticulosa coordenação motora advinda do karatê conferira à Mika uma habilidade única de movimentação. Seus reflexos eram excelentes, e ela mostrava sinais de um talento nato para arremessos de três pontos e runners. Treinando com Mitsui, ela com certeza despontaria aquele potencial, já que o garoto também possuía a mesma afinidade. E ele com certeza não abriria mão de ser aquele que a treinaria.

Sentindo-se saciado, Mitsui baixou a garrafa, pousando-a ao seu lado e olhou para o céu. Só que não houve muito tempo para prestar atenção nos vários tons de cor que se espalhavam refletindo nas nuvens. Mika havia se curvado sobre sua perna direita e puxava com firmeza a ponta do tênis.

—O que foi? – perguntou Mitsui voltando o olhar para a amiga.

Mika fez uma careta.

—Meu pé. A sola está doendo horrores. Tô achando que é esse tênis.

Os olhos azuis escuros de Mitsui pousaram sobre os calçados de Mika. Eram tênis comuns, de caminhada, os mesmos que ela estava usando na primeira vez que conversaram. Se você treinasse um dia ou outro com um tênis daquele não tinha problema, mas usá-lo rotineiramente, logo, logo, as dores apareciam.

—É. – concordou Mitsui. – Esses não são muito bons pra jogar. Por que você não compra um tênis de basquete?

Mika parou imediatamente de alongar o pé direito e baixou os olhos. Uma mistura de tristeza, vergonha e medo tomou conta de seu rosto por um instante, mas logo uma máscara neutra a encobriu.

—Hm... Eu queria comprar. Só que vai ser um problema se meu pai descobrir.

Mitsui franziu as sobrancelhas.

—Por quê?

Mika apertou os lábios e permitiu que a preocupação ficasse nítida em seu rosto. Depois de alguns instantes de silêncio, a garota se levantou.

—Vamos indo. Eu te conto no caminho pra casa. Não posso chegar muito tarde.

Sentindo-se amargamente arrependido de ter feito aquela pergunta, Mitsui se colocou prontamente de pé, recolheu suas coisas e seguiu Mika. A garota, já em posse de suas coisas, esperava na saída da quadra pública com o rosto ainda apreensivo. Em silêncio, eles caminharam alguns metros antes de Mika começar a falar:

—Meu pai não sabe que comecei a jogar basquete. E nem deve saber. Ele não aprova que eu faça nada que não esteja relacionado aos meus estudos ou ao karatê. Por ser uma tradição familiar, meu pai quer que eu me torne mestre no seu lugar quando ele estiver inválido ou falecer.

Mika fez uma pausa e suspirou.

—Jogar basquete é um desafio direto às ordens dele. Se ele souber, nem sei o que pode acontecer. Já me arrisquei muito comprando a bola, mas eu sabia que pelo menos ela eu precisava comprar. Felizmente, nessa parte, minha mãe me acoberta. Só que se eu comprar um tênis, que é bem mais caro que uma bola de basquete, meu pai pode descobrir. Meus pais sempre revisam os gastos da casa juntos no final do mês, e qualquer dinheiro gasto em algo não especificado pode causar suspeitas.

Quando Mika terminou, as sobrancelhas de Mitsui estavam bem arqueadas numa expressão de compreensão e incredulidade.

—Nossa... – ele disse quando teve certeza que a amiga havia dito tudo. – Seu pai é bem... controlador... Putz!

A exclamação de Mitsui fez Mika girar a cabeça bruscamente e olhá-lo assustada. O garoto estava claramente envergonhado.

—Eu não devia ter dito isso desse jeito... Desculpe.

A menina riu.

—Tá tudo bem. Ele é mesmo... Não falou nada além da verdade.

—Mesmo assim! Que vergonha... Desculpa mesmo.

—Hahaha! – o riso de Mika ficava cada vez mais alto – Para com isso, Mitsui! Você fica muito paranoico quando pensa que disse algo errado. Relaxa!

—N-não é paranoia! Poxa... Eu sei que sou desbocado às vezes... Eu tenho consciência disso e peço desculpas quando passo dos limites.

O rosto de Mitsui ia gradualmente assumindo um tom vermelho, o que fez Mika rir ainda mais.

—Você só é sincero... – ela disse alargando um sorriso. – E isso é bom.

Pego de surpresa pelo final do comentário, Mitsui emudeceu e desviou os olhos para o chão. Porém, antes que Mika notasse que havia ficado sem graça, ele perguntou:

—Vamos treinar amanhã também?

—Uhum! – respondeu Mika, animada.

—Mesmo horário?

—Mesmo horário!

***

—Ela anda chegando tarde demais em casa, Hisako!

A xícara de chá estalou contra o pires quando Nobuki a pousou com força exagerada., Sua mulher, sentada à sua frente na mesa de jantar íntima, desviou os olhos para baixo e disse:

—Ela só está se divertindo, querido. Mika andou fazendo amigos ultimamente.

Nobuki bufou.

—Independente disso, ela não pode se esquecer das obrigações dela.

Hisako se remexeu, inquieta e desconfortável. Queria contornar aquela mentalidade fechada do marido, mas era impossível fazê-lo sem gerar brigas. Porém, como mãe, ela queria o melhor para sua filha, e ter o marido como obstáculo era uma ideia que lhe causava um incômodo embrulho no estômago.

—Você não percebeu, querido – ela começou amansando ainda mais a voz – que a nossa Mika está sorrindo mais nesses últimos meses?

Nobuki permaneceu em silêncio enquanto bebia mais um gole de chá e o degustava. Demorou um pouco mais do que o necessário, intensificando a leve tensão que se formara entre os dois. Por fim, disse:

—Sorrisos não vão fazer que ela ganhe um campeonato ou se saia bem na escola.

Aquelas palavras apertaram ainda mais o nó no estômago de Hisako. Porém, nada transpareceu em seu rosto, que permaneceu sereno e impassível. Reunindo coragem e pensando na melhor escolhas de palavras, a Sra. Miyamoto puxou o ar, mas nesse momento, ouviu-se o som de shojis sendo puxados seguido da voz de Mika:

—Estou em casa!

Hisako se levantou prontamente e foi direto para o genkan para receber a filha. Foi um alívio quando viu a garota sem a bola de basquete. O sinal realmente funcionava. Para precaverem-se de um flagra, Hisako e Mika haviam criado um sinal simples que passaria despercebido aos olhos da grande maioria, incluindo Nobuki. Na portão da casa, haviam floreiras embutidas nas paredes que o sustentavam. Nelas, Hisako cultivava algumas flores com cores e formas bem distintas. Na floreira do lado esquerdo, havia dois vasos: um de crisântemos e um de glória-da-manhã. O primeiro normalmente ficava à esquerda do segundo. Então, quando Nobuki chegava em casa, Hisako sempre trocava os vasos de lugar, colocando o vaso com os crisântemos à direita do outro. Caso Mika chegasse em casa e visse os vasos trocados, ela escondia a bola de basquete num dos arbustos volumosos do jardim da frente. E aquele sinal nunca falhava, já que Nobuki jamais chegava em casa em momentos de ausência de Hisako (que eram muito raros).

Com uma troca de sorriso sutis de alívio e cumplicidade, mãe e filha tornaram a entrar em casa juntas.

—Boa noite, pai. – cumprimentou Mika sentando-se à mesa e observando o pai pelo canto do olho.

O homem de meia idade mantinha sua costumeira postura dura e séria, que era reforçada pelas rugas que não deveriam ser tantas naquela idade. Ele ainda usava o cabelo longo e negro salpicado de fios brancos preso no estilo dos antigos guerreiros samurai no topo da cabeça. As entradas nas laterais o deixavam com o semblante ainda mais velho e carrancudo, traço também destacado pelo cinza nada simpático de seus olhos. Um bigode fino corava sua boca no estilo tradicional japonês, muito usado ainda pelos homens mais velhos.

Nobuki lançou um olhar severo para a filha, sorveu um pouco de seu chá e, assim que engoliu, respondeu de forma fria:

—Boa noite, Mika. – ele pousou a xícara, agora vazia, na mesa. – Onde estava até essa hora?

A garota instintivamente puxou o ar e endireitou a postura. A imagem do relógio do ginkan piscou por um instante em sua cabeça. Ela havia chegado dez minutos antes das 19 hrs. Isso era realmente tarde dentro dos parâmetros de seu pai?

—Estava com alguns amigos. – ela respondeu com a voz baixa sem conseguir encarar o rosto do pai.

—Fazendo o quê?

Pelo canto do olho, Mika viu sua mãe lançando um olhar assustado em sua direção, mas ela manteve a calma. Olhando para sua roupa leve e suas meias, Mika formulou a resposta com cuidado.

—Fomos caminhar na beira da praia. Daí, quando começou a escurecer, fomos tomar um sorvete.

Nobuki ficou ainda mais ereto onde estava, a testa vincada indicando irritação.

—E seus estudos estão em dia para que você se dê à esse luxo em plena quarta-feira?

—Sim, senhor. – dessa vez a resposta saiu prontamente, pois era a mais pura verdade.

—Então, traga-me seus materiais de escola. Quero ver as lições.

Hisako fechou os olhos de forma triste enquanto Mika levantava, cabisbaixa, para pegar seus cadernos em seu quarto.

“Está começando de novo”, lamentou Hisako mentalmente. “Toda vez que Mika começa a ganhar um pouco de liberdade, ele sempre torna a fechar o cerco.”

Alguns minutos depois, a garota voltou com uma pequena pilha de cadernos e livros. Abriu-as nas páginas de suas lições e entregou-as para o pai. Quando Nobuki conferiu o último caderno, soltou um longo suspiro e disse:

—Muito bem. Continue assim. Caso você deixe suas obrigações de lado por causa desses... amigos, – ele disse a palavra com uma pitada de desprezo. – já sabe o que vai acontecer.

Mika assentiu, tristonha.

—E falando em obrigações, – prosseguiu o Sr. Miyamoto – você sabe que as preliminares do Campeonato de Inverno estão chegando, não é?

Um frio horroroso correu pela espinha de Mika e seu estômago se embrulhou. As peças já haviam se encaixado antes mesmo que seu pai terminasse o aviso. Seu coração se acelerou, forçando sua respiração a seguir seu ritmo. Desesperada, a garota conseguiu pensar apenas em encolher-se onde estava para esconder sua reação do pai.

—Você precisa voltar a treinar, já que o descanso que te dei depois do Campeonato de Verão ia até essa semana. Porém, você teve aquela lesão no ombro direito na luta final, então ainda estou receoso.

Como se alguém tivesse apertado um botão acoplado ao seu peito, seus batimentos cardíacos desaceleram e sua respiração se tranquilizou. Era verdade que Mika havia se lesionado no último campeonato, mas fora algo ínfimo que a incomodara apenas por uma semana. Entretanto, Nobuki a havia proibido terminantemente de fazer qualquer esforço para que sua lesão não se agravasse, tratando-a de forma muito mais exagerada do que ela realmente era. Porém, só agora, com aquele comentário, que Mika entendera a real proporção da paranoia de seu pai com sua lesão.

—O título do Campeonato de Inverno definitivamente não fará falta para você, já que ele é bem menos importante que o Campeonato de Verão.

Mika reprimiu o impulso de suspirar e lamentou-se mentalmente:

“Ele já contava com a minha vitória...”

—Por precaução, eu decidi que esse ano você não participará do Campeonato de Inverno.

Demorou alguns instantes para que Mika processasse o que o pai havia falado. Ela piscou, correu os olhos dele para a mãe, e depois de volta para ele.

—Eh?

—Eu disse – Nobuki soltou um bufo exasperado – que você não vai participar do Campeonato de Inverno. Continue com a rotina de descanso, mas tem que começar a treinar pelo menos quarenta e cinco minutos por dia para não perder seu condicionamento. Claro que, aos poucos, o tempo vai aumentando até que você volte à rotina normal de treinos.

A garota permaneceu alguns instantes calada, piscando atônita, mas depois assentiu e disse:

—S-sim. – Mika fez uma pausa. – Eu vou subir para tomar banho.

Ainda sentindo-se anestesiada pelo aviso do pai, a menina subiu as escadas em estado catatônico, seguiu às cegas para seu quarto, fechou a porta e desabou sobre a cama. O medo que havia preenchido seu peito quando o pai começara a falar havia sido a pior sensação que ela tivera até então. Por um instante, Mika teve certeza que suas tardes jogando basquete com Mitsui haviam acabado. Ficaria sozinha de novo, naquele cubículo no canto de sua casa, treinando exaustivamente até não conseguir mais se mexer.

Mas agora... Ela poderia continuar.

Por um tempo.

Mika se encolheu na cama, um misto de medo, alegria, aflição e alívio girando dentro de seu peito. O que seria pior? Parar de jogar basquete com Mitsui agora, de súbito, para que ela não se apegasse mais ainda, ou aproveitar o tempo que lhe restava até sua rotina de treinos retornar e depois... parar com o basquete por tempo indeterminado?

Ah, não adiantava. Já tinham se passado três meses... Mika havia se apegado completamente àquelas tardes passadas na quadra de basquete pública do bairro.

Pressionando as mãos contra o rosto, a garota sufocou um soluço. De uma forma ou de outra, o karatê continuava como um empecilho. Mika sabia desde o começo que tudo voltaria. Que seus dias seriam preenchidos novamente por horas de estudo e treino, sem espaço para que ela fizesse coisas que queria.

Até quando isso iria durar?

“Eu só quero... jogar basquete”.

Mika rolou na cama ficando de barriga para cima, os olhos negros encarando o teto.

“Eu não quero mais lutar.”

Suas pálpebras se fecharam lentamente, e a visão da quadra pública de basquete substituiu a escuridão. A bola estava no chão, no centro, e um vulto se aproximava dela. Ele se agachou, segurando-a com as duas mãos, e girou nos calcanhares. Mitsui agitou a bola no ar, convidando-a para jogar.

Os olhos fechados de Mika arderam, fazendo-a prender a respiração para conter as lágrimas. Aqueles meses tinham sido tão divertidos...

“Eu quero continuar a jogar basquete”.

Lentamente, o ardor aliviou e ela tornou a respirar normalmente. Relaxando todos os músculos, Mika se concentrou apenas naquela frase que ressoava em seus ouvidos. Sem que ela percebesse, uma decisão tomou forma, cor e peso dentro de seu peito. Lá no fundo de sua mente, uma palavra mudou.

“Eu vou continuar a jogar basquete”.


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Notas finais do capítulo

O que acharam meus amores? Estão gostando?? Desculpem o capítulo curto 3 Eu não queria pesar muito já que é uma parte de transição. Digamos que eu joguei algumas sementes nesse cap para poder colher depois :v E eu prometo a vocês que não vão se arrepender! Muito obrigada aos meus leitores maravilindos que não desistem dessa escritora inconstante e doida AUHSAUHSHAH Vcs são maravilhosos gente! Obrigada de verdade pelo apoio de vocês! Completamente inestimável!
Beijos da Nana-chan!



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