Rock the baby escrita por Nanahoshi


Capítulo 4
Eu estou feliz


Notas iniciais do capítulo

Boa noite seus lindjuuuus! Tudo bem com vocês??

Ain, essa fanfic tá tão gostosa de escrever que não consigo parar! Nunca consegui atualizar uma fanfic com tanta frequência UHASUAHUHSUHSHAUH Bom mais um capítulo para vocês e eu espero muito que vocês estejam gostando. E tenho duas observações para fazer, uma correção e uma nota cultural.

Correção: mudança do nome da mãe da Mika, que antes chamava Hisoka e eu mudei pra Hisako pq soa mais a cara dela xD

Nota cultural: antes de escrever RTB, pesquisei bastante sobre algumas questões culturais no japão, principalmente sobre bulliyng. O que eu estou mostrando na história em relação à Mika, por mais que pareça coisa de anime pra dar efeito mais trágico e dramático, é real. Vocês não tem noção do quanto o bullying é pesado no Japão, inclusive entre as garotas. Infelizmente, pessoas como a Mika não é um caso isolado, e sim muito recorrentes nas escolas japonesas. O bullying é um dos maiores causadores de suicídio, e pirem que dentre as humilhações infringidas pelos 'valentões' é ensaiar o próprio suicídio! Quem quiser saber mais sobre eu vou deixar um link nas notas finais que eu achei chocante.
No mais, boa leitura para vocês seus divooos!



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Normalmente, os sons que se ouviam naquela quadra de basquete abandonada eram apenas o chiar das árvores ao redor e o rangido do aro da cesta enferrujada quando o vento soprava. Entretanto, naquela tarde, o som de pés se arrastando sobre o concreto rachado se sobrepunha ao gemido do vento, seguido de vozes alegres abafadas pelo baque constante de uma bola de basquete novinha em folha.

—Então você só chegou a ver as regras do jogo?

Mitsui driblava a bola inconscientemente ao lado do corpo enquanto observava a garota parada à sua frente cujas íris subiam e desciam seguindo o movimento do objeto esférico.

—Uhum. – Mika assentiu um pouco acanhada. – Não deu tempo de chegar na parte que explicava as técnicas básicas... Desculpe.

Mitsui soltou uma risadinha despreocupada e disse:

—Ei, sem problema! A minha intenção era ensinar tudo mesmo. Você adiantou bastante coisa.

Mika sorriu e inconscientemente uniu as mãos para estalar os nós dos dedos. Sempre fazia isso quando ficava remoendo algo internamente. A questão que a incomodava era que ela sabia que qualquer um teria achado muito estranho receber um convite de um desconhecido para aprender basquete. E mesmo ciente disso, Mika não tinha hesitado em dizer 'sim' por um motivo muito óbvio. Por muito tempo ela havia andado na escuridão à procura de um ponto de luz que mostrasse o caminho pelo qual estava andando. Entretanto, depois de tanto tempo no escuro, a garota passou a resignar-se com isso e decidiu continuar às cegas.

E então, Mitsui aparecera.

Ela sabia que sua atitude era egoísta, mas por ter ficado tanto tempo sozinha, ela instintivamente se agarrara ao convite de Mitsui como a um bote salva-vidas. Ter alguém que não fosse seus pais lhe dando atenção, perguntando sobre ela, fazendo comentários aleatórios para fazê-la rir... Mika nunca tinha sentido aquilo antes. Não da forma como Mitsui estava fazendo.

E era por isso que ela faria de tudo para não ser um fardo para ele. Não queria que Mitsui fosse embora. Não queria ficar sozinha novamente.

—Bom, vamos lá! – exclamou Mitsui animado, arrancando Mika de suas ruminações internas. – Vou te ensinar o detalhe básico mais importante. Sem ele não dá pra fazer mais nada no basquete.

A garota piscou atônita para o amigo e estendeu as mãos para a frente inconscientemente. Mitsui balançou a cabeça e abaixou-se para colocar a bola no chão.

—Na-ah. – ele balançou o indicador para Mika com um sorrisinho que mostrava que estava se divertindo. – O mais importante do basquete, primeiro, é o que você faz sem a bola.

—Huh? – a menina inclinou a cabeça para o lado sentindo-se ainda mais confusa.

Rindo baixo, Mitsui se aproximou e parou ao lado de Mika, que automaticamente de encolheu pela proximidade.

—No basquete – começou Mitsui. – Você precisa estar preparada para fazer qualquer coisa o tempo todo. Não interessa se é correr para frente ou para o lado, receber a bola e depois passar ou arremessar. Você tem que estar pronta, ok?

Mika assentiu fitando intensamente o rosto do amigo. Mitsui prosseguiu:

—Para isso existe o que chamamos de Posição Básica Ofensiva, ou PBO. – o jogador flexionou os joelhos e virou a cabeça para a amiga. – Olha aqui, é assim.

A menina correu os olhos pelo corpo  de Mitsui enquanto ele se posicionava.

—Seus pés têm que estar afastados no alinhamento dos ombros ou um pouco mais. – ele explicou. – Depende de como você se sente mais equilibrada. A ponta deles tem que estar apontada para frente, porque assim, quando você flexionar os joelhos, o peso do seu corpo cai sobre a parte anterior dos pés. Isso ajuda a manter o equilíbrio e te permite ter uma reação rápida, quer ver?

Mika fez que 'sim' com a cabeça e se posicionou seguindo os comandos de Mitsui. O garoto, por sua vez, avançou até onde a bola estava e, pegando-a, virou-se de frente para a amiga.

—Eu vou tentar passar por você. Sua função é tirar a bola de mim. Vamos fazer isso primeiro usando a Posição Básica Ofensiva e depois uma postura qualquer. – ao dizer isso, Mitsui avançou dois passos na direção de Mika e começou a driblar a bola.

Os olhos escuros da garota automaticamente correram para acompanhar o movimento da esfera laranja enquanto seu corpo se inclinava para frente.

"Muito bom", pensou Mitsui. "Ela está se ajustando inconscientemente aos outros detalhes da Posição Básica Ofensiva... Talvez o fato de ter praticado karatê esteja refletindo no detalhe da colun-".

Ele não teve tempo de concluir o pensamento pois a mão de Mika voou na direção da bola numa velocidade assustadora. Por muito pouco Mitsui conseguiu tirá-la do alcance da amiga e protege-la melhor com o tronco.

—Uoah! – ele exclamou recuando um passo. – Essa foi quase!

Um sorrisinho se esboçou no rosto de Mika, mas ela não tirou os olhos da bola que subia e descia uma única vez.

"Meu Deus...", pensou Mitsui. "Eu viajei só por um segundo e ela quase conseguiu roubar a bola. Os reflexos dela não são brincadeira..."

O garoto arrastou um pé para mais perto de Mika e observou seus movimentos. O baque ritmado que ecoava contra o concreto acompanhava o ritmo levemente ofegante da respiração dos dois adolescentes. Mitsui subitamente inclinou o corpo para a direita, os olhos virados na mesma direção. A esfera laranja desceu, bateu no chão e subiu mais uma vez... E ele trocou bruscamente o eixo gravitacional do corpo, jogando-se para a esquerda. Por uma fração de segundo, Mika não reagiu, mas logo ela tinha se esticado na direção da bola e acompanhado o movimento do jogador. Seu pé esquerdo apoiou-se um passo atrás enquanto ela mergulhava para alcançar a esfera que subia na direção da mão de Mitsui. Quando achou que ia tocá-la, algo mudou o movimento da esfera, quicando-a novamente contra o chão, mais à frente, longe de seu alcance. Mika cambaleou para frente, quase estatelando-se de cara no chão, mas rapidamente seu pé esquerdo pisou adiante e ela recuperou o equilíbrio. Mitsui deu alguns passos ainda correndo, descreveu um pequeno arco ao redor da amiga e parou ainda driblando a bola.

—Phew! – ele suspirou sorrindo. – Você não caiu no meu fake. Essa foi por pouco, haha!

Mika encarou-o, ofegante, e depois endireitou a coluna. Mesmo que ela não tivesse feito praticamente nada, seu corpo todo emitia ondas de calor e tremia. A garota só conhecia aquela sensação quando ela advinha do cansaço. Ela tinha um bom condicionamento físico, então... Por que já estava ofegando?

Lentamente, Mika virou as mãos e encarou as linhas que demarcavam as palmas. Aos poucos, a visão minguou entre os cílios que ela fechou suavemente, e sua atenção voltou-se completamente para dentro. Que sensação era aquela? Que tremor era aquele?

—Miyamoto? – ela ouviu a voz de Mitsui aproximando-se pela esquerda acompanhando o som da bola. – Tá tudo bem?

Os olhos de Mika se abriram e se fixaram no rosto do colega.

—Mais uma vez! – ela exclamou cerrando os punhos.

Mitsui arqueou as sobrancelhas por um instante diante da expressão determinada da amiga e, em seguida, sorriu.

—Pode vir. – ele desafiou voltando à posição ofensiva. – Mas dessa vez tente sem usar a PBO. Vai sentir a diferença.

Mika olhou para os pés e arrastou-os para dentro. Tentou não inclinar muito o tronco, mas foi difícil. Um sorriso brotou em seu rosto quando ela percebeu que sua prática com karatê a acostumara a assumir posições com joelhos flexionados, que pelo visto também era ideal para o basquete. Para Mika, era difícil não ficar na PBO.

Mitsui avançou como da primeira vez, apenas invertendo o lado do fake. A reação da garota foi muito mais lenta e instável, sua mão mal se aproximando da bola. Seu corpo precisou de mais tempo para se inclinar na direção de Mitsui, e como a mudança de eixo gravitacional foi muito brusca, seu pé esquerdo não a salvou dessa vez. Ela cambaleou para frente e, por sorte, antes que atingisse o concreto áspero da quadra, Mika girou o corpo e caiu sobre o ombro direito, rolando para o lado e parando deitada de costas. Em menos de dois segundos, o rosto de Mitsui recortou-se contra o céu que enchia sua visão, a testa vincada denunciando nervosismo.

—T-Tá tudo bem, Miyamoto!? – ele perguntou num tom nitidamente preocupado.

A garota piscou uma vez e riu baixinho.

—Tá sim. – ela respondeu se sentando. – A Posição Básica Ofensiva realmente faz diferença.

Sorrindo, Mitsui estendeu o a mão para Mika, que começava a se levantar. Ela interrompeu o movimento e olhou interrogativamente para a palma áspera diante de seus olhos.

—Levanta aí! – instigou o jogador agitando a mão estendida para a menina.

Ainda hesitante, ela pousou a mão sobre a de Mitsui e segurou-a com firmeza. O garoto içou a para cima com apenas um puxão, fazendo a dar um pulinho antes de se endireitar.

—Obrigada. – ela agradeceu um tanto envergonhada.

—Que isso! – Mitsui colocou a bola sob o braço esquerdo e ergueu o indicador da mão direita. – Bom, você parece estar acostumada com posições próximas à PBO, porque seu corpo ajustou os outros dois detalhes (a coluna e o rosto) automaticamente. Então agora vou te ensinar o básico sobre o drible e podemos disputar posses de bola.

Mika ouviu tudo que o amigo dissera com atenção, mas seus olhos permaneceram o tempo todo fixos na palma da mão que Mitsui segurara. Por causa de sua fama ruim e de sua timidez, Mika não costumava tocar as pessoas. Qualquer toque, mesmo um simples aperto de mão, a deixava extasiada.

"A mão dele é... áspera e quente. É... confortável segurá-la.", o pensamento se materializou timidamente em sua cabeça, fazendo-a ter um leve sobressalto logo em seguida. "No que eu estou pensando!?"

Inconscientemente ela balançou a cabeça com força, como se o pensamento de agora há pouco fosse escorregar para fora de sua mente com o gesto. Mitsui, que explicava alguma coisa virado de costas, acabara de se virar e vislumbrara o gesto negativo de Mika.

—Qual o problema? – ele perguntou um tanto inseguro.

Pega de surpresa, a garota deu um pequeno pulo onde estava e olhou para o amigo.

—Ah! N-Não é nada! Desculpa... Eu v-viajei um pouco aqui...

—Eh? – Mitsui tirou a bola de baixo do braço e jogou para cima. – Então parece que você é do tipo que aprende mais fazendo do que escutando, né?

O garoto tornou a pegar a bola, que pousou com um baque na palma de sua mão. Mika balançou a cabeça e os braços efusivamente e respondeu:

—N-Não é isso! M-Me desculpe mesmo! Assim... Eu quero muito que você me explique tudo... Por mais que você esteja certo, haha! É só que...

Os olhos da garota se desviaram rapidamente para o chão e seus braços penderam ao lado do corpo. Sentindo as bochechas formigando de vergonha, ela respirou fundo para terminar a frase:

—É só que... Não é todo dia que alguém me ajuda em alguma coisa. Nunca pensei que alguém... se ofereceria para me ensinar algo. Sei lá... – ela chutou o chão e sorriu. – Eu estou feliz.

Demorou alguns segundos para que Mika percebesse o significado daquilo que tinha dito.

—Ah! – ela exclamou afobada. – Me desculpa, Mit-tsui! Eu às vezes falo as coisas sem pensar! Desculpa mesmo, eu...

A frase morreu nos lábios de Mika quando ela viu a mistura de emoções que tomara conta da expressão de Mitsui. O garoto tinha desviado os olhos para o chão, as bochechas estavam levemente coradas e suas íris tremiam sob sobrancelhas muito arqueadas. Por ser péssima em ler emoções, Mika apenas se limitou a ficar em silêncio tentando imaginar o que ele estaria pensando.

Enquanto isso, o jogador lutava contra um redemoinho de sentimentos que assolava seu peito. Entendimento, felicidade, raiva, ternura, vergonha... Tudo isso tomava conta de cada centímetro de seu corpo à medida que um pensamento se concretizava.

A última pessoa que tinha o direito àquele apelido, Akaoni, era Miyamoto Mika. Os verdadeiros demônios foram aqueles que espalharam o boato e alimentaram a falsa imagem pública da menina. Afinal, que demônio seria tão sincero com suas próprias emoções? Que demônio diria "estou feliz" daquele jeito tão singelo e verdadeiro? E que demônio agradeceria... por um gesto tão simples?

Foi nesse instante que Mitsui finalmente percebeu que tipo de pessoa Mika realmente era... Um tipo raro de se encontrar. Mika era alguém que não tinha medo de falar de seus próprios sentimentos, sendo sincera com ela mesma e com os outros.

Mitsui só percebeu que estava cerrando os punhos enquanto pensava quando suas unhas começaram a machucar as palmas de suas mãos. Instintivamente, seus dedos relaxaram, mas a raiva continuava borbulhando em suas veias. Por quê? Por que as pessoas tinham que ser tão... cruéis?

O estudante levantou o queixo lentamente e fitou o rosto de Mika. Seus olhos escuros estavam arregalados e inquietos esperando ansiosamente uma reação por parte dele.

—Me desculpa... – ela repetiu. – Eu fal-

—Não. – Mitsui interrompeu-a com a voz afetada pelo sorriso que se espalhava por seu rosto. – É bom saber que você está feliz. Eu também estou.

O jogador tirou a bola debaixo do braço e segurou-a com as duas mãos, estendendo-a levemente para frente.

—É bom achar alguém animado assim para aprender basquete. – ele sorriu ainda mais. – Não sabia que você ia gostar tanto!

A expressão de Mika imediatamente denunciou que ela estava envergonhada. Entretanto, a menina não desviou os olhos para o chão. Sustentou o olhar do colega e, reunindo coragem, disse:

—Hum! Eu gostei muito! – ela estendeu os braços para frente e se abaixou. – Mais uma vez!

O sorriso terno de Mitsui mudou para um de desafio com o convite de Mika. Voltando a driblar a bola, o jogador se posicionou e disse:

—Vamos disputar posses de bola, e depois passamos para os arremessos e os tipos de drible. 

—Hai! – bradou Mika erguendo os braços.

Por um segundo, Mitsui fechou os olhos, e depois avançou sem hesitação para driblar Mika. Enquanto ele trocava a bola de lado num crossover, ele pôde ver claramente a expressão que se vincara no rosto da garota. Mesmo estando bastante concentrada, a diversão era óbvia na curva de sua boca e no brilho de seus olhos. Foi impossível para Mitsui não espelhar a alegria da menina.

"Ela é só uma pessoa... Como qualquer outra. Todos nós queremos um motivo para sorrir... E ninguém quer ficar sozinho. "

Com aquele pensamento, Mitsui por fim conseguiu entender o que tinha acontecido com ele mesmo. Desde aquele dia que a encontrara na frente da loja de televisores, ele só conseguia pensar em uma única coisa...

"Eu não quero mais... Eu não vou mais... Deixá-la sozinha."

***

—Mika, onde você estava!?

Hisako avançara na direção da filha assim que ela surgiu por detrás do shoji da cozinha. Preocupada, ela apalpou a menina suada e cansada a procura de ferimentos. Mika balançou a cabeça e levantou as mãos diante do corpo.

—Ah! Calma, mãe! Eu tô bem!

Hisako parou de apalpar a filha e se endireitou. Mika desviou os olhos para o chão e apertou os lábios. O que sua mãe diria se contasse? Será que surtaria como seu pai caso descobrisse?

Fechando os olhos para relembrar o treino daquela tarde, Mika sentiu a vibração quente que o toque da bola e os movimentos de suas pernas causavam em seu corpo. O calor que ela sentira mais cedo não fora apenas por causa do exercício... Era muito além daquilo. E Mika queria muito dividir isso com a mãe.

—Eu estava... com um amigo. – e ao dizer isso, um sorriso genuíno curvou seus lábios.

Hisako ofegou ao ver aquela expressão no rosto da filha. Aquele sorriso... Há quanto tempo ela não o via? Sim... era ele mesmo. Não era o superficial que Mika dirigia a ela e ao pai diariamente nos últimos anos. Era o verdadeiro, o que deixava o rosto de sua filha tão transparente que era possível ver todas as cores das emoções que ela estava sentindo naquele instante.

Ainda tomada pelo choque, Hisako engoliu em seco e perguntou:

—Amigo?

Mika assentiu ainda sorrindo e tirou sua mochila esportiva das costas mostrando o volume redondo dentro dela.

—O nome dele é Mitsui Hisashi. Ele está me ensinando basquete.

"Basquete?", a pergunta soou como um mau agouro dentro da mente de Hisako... Mas não por causa da filha.

O que Nobuki diria se descobrisse aquilo? O que ele diria se soubesse que Mika não treinou à tarde porque ficou jogando basquete com um amigo...?

Amigo...

O sorriso da filha ainda estava lá, brilhante e sincero.

"Não.", ela pensou, convicta."Nobuki não precisa dizer nada... Não precisa saber de nada. Minha filha está sorrindo, e eu quero que ela continue sorrindo..."

Sem deixar transparecer seu conflito interno, a Sra. Miyamoto sorriu de seu jeito doce usual e acariciou o cabelo de Mika.

—Ah, filha! Isso é ótimo!

O sorriso da garota se alargou e o nó de tensão que se formara em seu peito se desfez. Mika sabia que sua mãe entenderia.

Conservando a expressão alegre, Mika disse que iria subir para se lavar e logo desceria para o jantar. Correu para a escada abraçando sua mochila e subiu saltitando. Hisako, que havia voltado ao fogão, observou a filha com um olhar terno e tentou se lembrar da última vez que a vira subir os degraus daquela forma. Ela estava realmente feliz...

Antes que Mika chegasse ao topo e desaparecesse pelo corredor, Hisako chamou-a outra vez:

—Mika!

A garota deu meia-volta e arqueou as sobrancelhas numa expressão confusa.

—Você se divertiu hoje?

A expressão interrogativa da filha mudou instantaneamente para um sorriso enorme.

—Ah! – ela respondeu balançando a cabeça positivamente antes de terminar de saltar os degraus e seguir para o corredor.

Hisako sorriu e voltou sua atenção para as panelas que chiavam sobre o fogo. Como era bom ver Mika daquele jeito... Ela tinha esperado tanto tempo para ver de novo o sorriso da filha!

Nesse instante, a razão pela qual a felicidade de Mika havia se esvaído preencheu sua mente como uma nuvem negra de fuligem.

"Nobuki..."

Apertando os lábios, a Sra. Miyamoto avançou para a bancada e puxou uma tábua para mais perto. Enquanto cortava os vegetais para o macarrão, uma decisão se solidificava dentro de sua mente. Ela não iria deixar que seu marido arrancasse o sorriso de sua filha outra vez. Não se dependesse dela.

"Desculpe Nobuki... Mas você não precisa saber disso..."

***

Mika andava pelos corredores da escola com o coração martelando contra suas costelas. Ficara a noite toda pensando em como reagiria se encontrasse Mitsui no horário normal de aula. E se ele não a cumprimentasse? E se ele a cumprimentasse perto dos seus amigos... ela deveria responder? Ele não estaria arriscando sua reputação se relacionando com ela?

Completamente absorta em suas preocupações, Mika apenas caminhava inconscientemente seguindo para sua sala de aula. O fato era que nunca fora um problema andar distraída pelos corredores, já que ninguém a chamava para conversar ou desejar bom dia. E, pela sua péssima fama, as pessoas mesmo se encarregavam de ficar longe dela, desviando prontamente quando ela passava.

Entretanto, naquele dia, Mika sentiu algo estranho... ou melhor dizendo, ouviu algo estranho. De início, achou que era coisa de sua cabeça. Entretanto, o som não parava de ficar mais alto. Foi aí que ela percebeu que estavam chamando seu nome.

Com um sobressalto, Mika girou nos calcanhares e virou a cabeça para os lados. Mitsui estava parado do lado de fora de sua sala com três de seus colegas de time. Ele olhava diretamente para ela com uma das mãos levantada.

—Ohayo, Miyamoto! – cumprimentou Mitsui com um sorriso.

Os ombros de Mika imediatamente ficaram tensos quando percebeu os olhares dos colegas do garoto perscrutando-a com uma mistura de receio e nojo. Entretanto, por mais que estivesse acuada diante daquilo, o sorriso de Mitsui foi tão caloroso que, por um instante, ela esqueceu de tudo, o instante necessário para que ela respondesse:

—Ohayo! – antes que ela pudesse se refrear, seu rosto já tinha espelhado o sorrido do amigo. No instante em que ela sorriu, os olhares amedrontados automaticamente mudaram para uma expressão de puro choque.

—Vamos treinar hoje de novo? – perguntou Mitsui casualmente.

Mika piscou atônita, demorando alguns segundos para digerir que ele estava convidando-a para treinar na frente dos amigos dele... de novo. Surpresa, ela assentiu.

—Hm! – ela fez para reforçar o gesto afirmativo.

Mitsui sorriu.

—Mesmo horário, lá na quadra pública.

Mika tornou a assentir. Nesse instante, o sinal da escola soou sinalizando que faltavam cinco minutos para começarem as aulas. Os alunos começaram a se dirigir para suas salas, e Mitsui, que estava parado ao lado da porta, foi obrigado a entrar rapidamente. Entretanto, antes que ele sumisse entre as muitas cabeças que se amontoavam, Mika viu-o fazer um leve aceno com dois dedos e dizer:

—Até mais tarde, Miyamoto!

De tão abobada que estava, a estudante só conseguiu acenar para o amigo antes que ele desaparecesse dentro da sala. Parada no meio da enxurrada de alunos, Mika estava parcialmente consciente dos xingamentos dirigidos a ela e dos empurrões que recebia nos ombros dos que vinham por trás. Toda a mente de Mika estava concentrada em repetir sem parar o que acabara de acontecer.

Mitsui não a evitara. Muito pelo contrário. Chamara-a e cumprimentara-a na frente de todos sem se importar com absolutamente nada.

Inconscientemente, Mika girou nos calcanhares e tornou a caminhar na direção de sua sala. Enquanto caminhava, um calor subiu de dentro do seu peito até atingir suas bochechas. Seus lábios se apertaram e uma sensação completamente nova tomou conta de cada nervo de seu corpo.

Algo estava mudando...

***

—Cara, o que você fez com ela?

Basicamente, essa fora a pergunta feita por todos os seus colegas que rodeavam sua carteira. Eles estavam tão alvoroçados que sequer se lembravam de dar espaço para que Mitsui os respondesse.

—Eu nunca vi ela sorrir.

—Mas ela estava sorrindo hoje.

—Mentira.

—Eu estou falando que estava! Eu vi!

—Foi quando o Mitsui cumprimentou ela.

—Poxa, o que você fez com ela ontem, Mitsui?

Sentindo a irritação subindo até seu último fio de cabelo, Mitsui bateu o punho cerrado na mesa e berrou:

—Calem a boca! Vocês nem me deixam falar!

Os estudantes emudeceram e olharam assustados para o colega de time. Mitsui pigarreou e respondeu com a raiva nítida em sua voz:

—Eu disse ontem, e vou repetir só mais uma vez: nós fomos jogar basquete.

Os jogadores se entreolharam.

—Nossa, e ela ficou toda alegrinha a ponto de sorrir? – comentou Kida exasperado.

—Não sabia que ela curtia basquete. – comentou um que não estivera com Mitsui em seu encontro com Mika em frente à loja de televisores.

Eles tornaram a falar sem parar, mesmo com o professor já em sala de aula. Irritado, Mitsui apenas fechou os olhos e se segurou para não berrar de novo. Porém, dentre os inúmeros comentários ridículos, um se sobressaiu:

—Ela devia sorrir mais. Ela fica até normal daquele jeito... Nem dá pra acreditar que já fez tanta coisa assustadora.

"Normal?", perguntou-se Mitsui mentalmente. "Acho que ela fica muito mais que normal..."

Quando a ideia estava quase se concluindo em sua cabeça, o garoto se interrompeu subitamente com um leve sobressalto. Os que ainda continuavam de pé esperando o professor organizar os materiais para a aula, olharam interrogativamente para Mitsui. Ele piscou e balançou a cabeça.

—Não é nada. Vão se sentar antes que o professor berre com a gente. – ele disse debruçando-se sobre a cadeira.

Seus amigos obedeceram prontamente, voltando para seus lugares. Quando se viu sozinho, Mitsui inclinou a cabeça e escondeu o rosto entre os braços cruzados sobre a mesa.

"No que eu estou pensando? Isso é precipitação demais!", pensou ele com o rosto ardendo de vergonha.

Mesmo se repreendendo internamente, foi impossível não visualizar novamente o rosto de Mika, o que mais aparecia em sua cabeça desde quarta-feira.

"Ela fica muito mais que normal quando sorri", pensou Mitsui ainda com o rosto escondido. "Ela fica realmente... "


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Notas finais do capítulo

E aí meus amores??? O que estão achando??

Queria agradecer de coração a todos que estão me acompanhando nessa história que estou dando tudo de mim para escrever ♥ Queria mandar um abraço bem apertado par, para a Lahi pq vc é são divosa demais sempre me acompanhando nas minhas loucuras de escrever longfic! Sou muito feliz de ter você como leitora sua linda ! E ainda um agradecimento super ultra mega eespecial para a PyxellTyrell que está me dando O SENHOR APOIO E ME ENCHENDO DE CARINHO SEMPRE EM TODAS AS LOUCURAS QUE EU INVENTO DE FAZER NESSE MUNDO DE FIC ♥ Obrigada mesmo do fundo core! Vc é uma leitora simplesmente maravelhosa! (e uma escritora divônica maravilinda tb UAHSUAHSHAUH)

Como prometido, segue o link do video sobre bullying no Japão:

https://www.youtube.com/watch?v=A62iobRyrOY

Muitos beijos e até o próximo capítulo!



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