Harley nunca gostou de vasculhar lugares, é tedioso, a única coisa que a motiva é a possibilidade de encontrar algo realmente interessante. Mas a cada sala que eles entravam era o típico:

— Está vazio! — vindo do Rick ou do Pistoleiro.

E isso era ainda mais tedioso.

— Sério que vamos ficar andando igual baratas tontas o resto da noite? — Harley dizia se apoiando na parede.

— Se for preciso. — Flag dizia com seu jeito ríspido

Ela se limitou a revirar os olhos.

— Só sobrou o terraço. — Pistoleiro disse já caminhando para a porta, sem esperar permissão.

— Errado, tem mais uma sala à esquerda. — Flag disse apontando com a cabeça.

Que bom, caminhar mais - Harley disse consigo mesma.

Era só uma porta como qualquer outra, mas essa Rick fez questão de ir na frente, interceptando-os em seguida.

— Esperem aqui, não quero que ele tenha um ataque cardíaco quando olharem pra vocês. — Ele ergueu a mão e os seus soldados se posicionaram para espera-lo.

— Que fofo, ele não quer assustar o amiguinho, então deveria esperar aqui com a gente. — Harley sorriu e lhe mandou uma piscadela. 

— Espero que tudo isso valha a pena. — Pistoleiro deu um passo a frente.

Flag fingiu não ouvir, dando as costas. A porta solicitava um código para abrir, ele não hesitou em seguir seus comandos, assim entrando na sala de baixa luminosidade.

— Dane-se, não vou esperar do lado de fora. — Pistoleiro seguiu o mesmo caminho para dentro.

— Hey! — Harley chamou por ele, que se virou por um instante — Tenta não matar a gente.

— Não prometo nada. — Ele respondeu, tentando parecer brincadeira, mas o fundo de verdade era ainda mais cômico.

— Ótimo, esperar — Harley se sentou em uma mesa e começou a balançar os pés tediosamente, Katana se aproximou com a intenção de olhar o que estava atrás da porta — Já jogou pedra, papel, tesoura? — Harley perguntou despreocupada.

Katana olhou para ela de modo estranho e logo voltou ao que estava fazendo, ignorando sua presença, ela era boa nisso.

Poucos minutos se passaram até Flag sair pela porta, a confiança que ele estava ao entrar não parecia ser a mesma, na verdade ele parecia estar bem preocupado. Pistoleiro veio logo atrás, ele sim permanecia despreocupado, como se estivesse andando pela rua e não por um mar de morte, dúvidas e estranhezas.

A pessoa que veio atrás deles fez todos arregalarem os olhos.

— Não brinca. — Harley disse se levantando.

Todos se ergueram e começaram a se aproximar, Amanda Waller estava diante deles.

— Se acalmem e vamos para casa. — Rick disse com a voz mais suave, agora estava clara a sua inquietação.

— Sim,vamos para casa. Ou querem voltar para a prisão? — Bumerangue perguntou olhando para todos.

— Não vou voltar para a prisão. — Harley disse, e sua fala parecia óbvia.

— Então vamos matar os dois, ou logo estaremos todos mortos. — Ele disse novamente, dessa vez mais alto.

Katana começou a puxar sua espada mas Amanda ergueu a mão, sussurrando algo como "eu cuido disso".

— Vocês já chegaram até aqui, não vão querer estragar tudo agora. — Ela disse baixo, sua voz era rouca e calma, quase arrepiante.
É claro que ela estava insinuando que ainda possuía controle sobre a vida de todos, afinal a única que poderia desarmar aquele explosivo era ela. E isso bastou para ela caminhar normalmente por entre eles e em direção a saída da sala.

— Tomara que ela tropece na escada e morra. — Harley disse baixo o suficiente para apenas os que estavam ao redor dela ouvissem.

(...)

Todos subiram em direção ao terraço, lá de cima eles tinham uma boa visão do quanto a cidade estava destruída. Prédios em chamas, alguns completamente demolidos. O ar cheirava a fumaça.

Uma dos helicópteros se aproximava de longe, provavelmente era o transporte especial para levar Amanda em segurança da cidade. Ela se aproximou do prédio e começou a sobrevoa-lo.

— Salvador 1-0, aqui é Elemento Terrestre, está na escuta? O heliporto está vazio. — Um dos soldados dizia em seu aparelho.

Todos olharam com estranheza quando perceberam que o helicóptero não seguia as suas ordens.

— Não é mais nosso helicóptero! Atirem! — Flag ordenou aos soldados.

Estava claro: o helicóptero foi sequestrado.

Os tiros começaram a ser disparados e todos correram para se proteger, Harley deslizou para trás de um bloco de concreto e tampou os ouvidos com os dedos. O Pistoleiro se abaixou do lado dela e a olhou com apreensão, ele sabia que o transporte especial não era para a Amanda.

— O que foi? Tem algo no meu dente? — Harley disse levantando o lábio.

Seu celular vibrou em seu bolso, uma nova mensagem havia chegado:

— AGORA!

Harley abriu um enorme sorriso, Puddin! seu cérebro gritou. Pistoleiro segurou seu braço e fez sinal negativo com a cabeça, tentando convencê-la a não entrar na linha de tiros. Ela continuou sorrindo e se levantou como se nada estivesse acontecendo, a medida que ela foi andando, os disparos vindo do helicóptero diminuíram para que ela pudesse se aproximar.

Uma corda foi jogada para fora, e ficou pendurada perto do prédio. Harley tirou sua jaqueta, teria que fazer mais um salto dramático. Em meio aos tiros e faíscas voando, ela correu e se jogou do prédio, apertando a corda com força. Seu peso fez a corda se impulsionar para frente e para trás, e o helicóptero começou a dar partida.

Ela riu alto e mandou um beijo para todos que a estavam olhando, girando e se esticando na corda, como em um espetáculo circense. O helicóptero foi se distanciando cada vez mais do edifício. Quando de repente ela escuta um tiro ser disparado, cortando o vento perto de sua cabeça, ela finge se desprender da corda como se tivesse sido acertada.

Então ela se levanta de novo, rindo novamente, como se dissesse "tá tudo bem aqui, pessoal".

O helicóptero se distancia o bastante para voltar a voar normalmente, e esse é o sinal que Harley precisa para poder subir pela corda, e para o encontro do amor da sua vida.