D.U.F.F. escrita por Skie


Capítulo 2
Carma, meu pior inimigo




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I

CARMA, MEU PIOR INIMIGO

Ah, a escola. Ambiente claro, limpo, acolhedor e com aquele leve cheiro de desinfetante. Local de exposição de mais artes rupestres, em carteiras e portas de banheiro, do que em cavernas de neandertais. Habitat natural de criaturas exóticas, como as crias de uma cruza entre o Spock e o Kylo Ren, com mais metal na cara que a tabela periódica e dos adoradores do Mike Tyson, que tem a voz mais fina do que os agudos que o Adam Levine consegue alcançar. Regido por um regime militar baseado no fascismo. E aquele famoso cheiro de comida que te possui e te leva a gastar suas economias, de uma viagem para a Califórnia, na cantina da escola. E cai entre nós, algum dia alguém ainda morre comendo o que eles vendem por lá.

Definitivamente o melhor, pior, lugar para se passar mais da metade das horas dos seus dias, isso se você faz alguma aula extra. O que é meio que obrigatório. E bom, como eu sou um desastre ambulante, aulas de canto não deram certo. Quando entrei para o coral da escola eles me expulsaram em menos de um mês, disseram que eu cantava tão mal quanto um pato sendo atropelado. Então tentei fazer aulas de culinária, que na minha concepção, seria algo bem útil e ainda me renderia beliscar algumas comidas gostosas. Me expulsaram em menos de uma semana, mas dessa vez eles tiveram um bom motivo, eu consegui colocar fogo no cabelo da professora enquanto estava tentando picar uma maça para fazer torta. Inutilmente pensei que poderia fazer algum esporte, madame Hooch apenas olhou para a minha cara e me deu as costas, isso foi, definitivamente, um não. Por fim, acabei no jornal da escola, animador, porém tinha conseguido habilidosamente arranjar um curso extra.

— Vocês devem estar sabendo que o baile de inverno desse ano está chegando e com isso a escola precisa de uma comissão para a organização e manutenção da festa. Como uma decisão da diretora, juntamente com a equipe de professores, foi estabelecido que pelo menos uma pessoa de cada clube da escola participará dessa comissão. Então, eu gostaria de saber se algum de vocês se voluntariaria para tal feito — o professor de literatura e coordenador do jornal disse animado como sempre, sorrindo atônito para todos, buscando algum resquício de que alguém estivesse afim de se comprometer com uma festa estúpida, que apenas servia para nos fazer gastar dinheiro com roupas mais caras. — Vamos lá garotos, não me obriguem a escolher alguém. Vocês adoram festas! Vivem fazendo um monte por aí, sei que irão adorar ajudar nessa com certeza — sorriu mais ainda, fazendo uma dancinha que deveria imitar alguma dessas coisas tipicamente latinas, provavelmente para tentar animar os mortos vivos que frequentavam o jornal. Mas sério, nem mesmo pó de guaraná com café animaria as pessoas que estavam presentes nessa sala.

O pobre coitado olhava com esperança para cada um de nós, com um sorriso tão largo que daria inveja no Coringa. Enquanto ele tentava carismaticamente convencer alguém a participar da comissão do baile, eu me escondia inutilmente atrás de meu cabelo, pensando que sairia da linha de visão dele. Devo dizer que foi algo completamente falho, certo? Já que ele tinha algum tipo de apego a minha pessoa e eu era, na maioria das vezes, a escolhida. Mas dessa vez a única coisa que eu queria era não ter que ajudar a montar uma festa, pois, primeiramente, eu tinha planos de não ir a esse baile e segundo, eu odeio esse tipo de evento.

A junção de barulho, muita gente perto demais uma da outra, música ruim, pouca comida que preste, pessoas bêbadas e chatas, uma certa quantia de vômito espalhado pelo local e luzes de cores berrantes que me deixam enjoada. Não, definitivamente eu não gostava desse tipo de ambiente.

— Rose? — chamou meu nome me forçando a encará-lo. — Oh sim, claro, você se voluntaria. Muito obrigado!

— O que? — arregalei os olhos, aumentando um pouco o tom de voz ao me dirigir a ele. — Mas eu nem…

— Não, não Rose, eu que tenho que te agradecer por se colocar à frente disso — sorriu simpático, me interrompendo, como se o que ele estivesse fazendo fosse a coisa mais normal do universo inteiro. Antes mesmo que eu pudesse proferir uma palavra que fosse, ele me cortou novamente, se é que se pode cortar uma pessoa que nem começou a falar ainda. — Não jogue todo o crédito em mim, você é que é uma excelente aluna e está disposta a ajudar com algo tão importante para a maioria das pessoas que está formando esse ano. Muito obrigado por se voluntariar. Espero que mais pessoas sigam o seu exemplo para que tenhamos uma ótima comissão do baile.

Minha boca deveria estar em um perfeito ‘o’, enquanto olhava perplexa o homem sorridente a minha frente, que tinha os olhos brilhando de excitação. Por Zeus, acho que eu deveria consultar uma cartomante e perguntar onde diabos meu Carma se meteu com a minha sorte e se demoraria a voltar tanto quando Daenerys Targaryen demora para chegar em Westeros.

Abaixei a cabeça enquanto o professor terminava de dizer o que cada um deveria escrever para o jornal da próxima semana, concentrando-me em amaldiçoar todos os anjos e demônios do universo. Miguel deve estar me castigando por eu ser compactuante de Ablon, tenho certeza disso.

Ao final da aula tratei de sair o mais rápido que eu pude da sala, sem dar a menor chance desse louco jogar mais alguma coisa estúpida sobre as minhas costas. Graças a deus Roxanne e Dominique estavam me esperando na porta, como sempre faziam, já que suas aulas terminavam um pouco mais cedo que a minha. Respirei aliviada ao ver as duas, me pondo a reclamar o mais rápido que eu pude.

— Vocês não têm noção do que aconteceu!

— Deixe me ver. Você descobriu que tirou sua primeira nota baixa em uma prova — Roxy caçoou enquanto andávamos pelos corredores em direção aos nossos armários.

— O que? Não! Na verdade, eu estou, infelizmente, inscrita como uma das participantes da comissão do baile de inverno desse ano — expliquei, fazendo uma careta de nojo. — Imagina só, eu, eusinha mesmo, ajudando a decorar uma festa, a organizar músicas, pendurar luzinhas... Céus, parece que eu joguei na mega sena do inferno.

As duas se entreolharam, como se concordassem em alguma ideia maligna. Odiava quando elas faziam isso, como se fossem um desses gêmeos da Disney prontos para te colocar em algum tipo de situação constrangedora, de que você se arrependeria para o resto da sua vida.

— O que foi?

— Ah, pensa pelo lado bom Rose, pelo menos assim você é obrigada a ir ao baile com a gente — Domi sorriu, me encorajando. Encorajando ao suicídio provavelmente.

— Como que fazer algo obrigada pode ser bom, Dominique?

— Você vai estar com a gente, nós vamos dançar e nos divertir. É o significado de festa — a morena ao outro lado deu de ombros, me olhando com esperança.

— Eu odeio dançar — fechei os olhos com força. — E para mim o significado de festa é totalmente outro. Eu sempre imagino que eu vou acabar igual a Madison em Coven de American Horror Story, drogada por alguns babacas e sendo estuprada em um quarto sujo e nojento.

— Pelo menos no final você fica com o Evan Peters — Domi sorriu largamente, me empurrando amigavelmente com o ombro.

— Mas quem fica com o Kyle na verdade é a Zoe.

— Pelo amor de Deus Rose...

— Pode parar! Aliás, vocês sabem que festas de formatura ou apenas esses bailes de escola são ótimos lugares para assassinatos em massa, por psicopatas como Brandon James? Ou por pessoas endiabradas que nem a Jennifer de Garota Infernal?

— O que eu sei é que você deveria parar de assistir tantos seriados e filmes de terror, ta começando a ficar paranoica — Roxanne revirou os olhos, encostando-se no armário ao lado do meu.

— Eu só não quero ter que participar dessa idiotice toda.

As duas suspiraram cansadas, levantando os braços em rendição, elas sabiam que nunca iriam conseguir me convencer de que essa ideia era boa. E graças ao nosso bom Vader elas mudaram de assunto para algo um pouco mais agradável e que me deixasse menos frustrada. Mas o destino só podia estar de palhaçada comigo e me dizendo que estava na hora de eu desistir de tudo o que eu fiz até agora, ou seja, nada, e ir vender minha arte em alguma praia.

— Olá garotas — escutei aquela voz miada logo atrás das minhas costas. Respirei fundo algumas vezes e recitei a palavra de Deus mais vezes ainda, antes de me virar para o capeta ruivo que havia brotado ali.

Lily Luna estava parada a nossa frente, com um sorriso inabalavelmente amarelo e Molly ao seu lado, segurando um monte de papeis, que mais pareciam convites de casamento. Eu me pergunto todos os dias ao acordar, como que eu e esse protótipo de Felícia compartilhamos do mesmo sangue, apenas agradeço que ela me ignore na maioria das vezes, como se eu nem mesmo existisse.

— Meus pais vão estar fora hoje à noite, e vocês sabem a tradição: festa! Então, depois da partida de hoje de futebol americano você vão direto para a minha casa — cantarolou, sorrindo mais ainda ao entregar os convites para as minhas duas amigas.

Roxy murmurou um “legal”, quase inaudível e sem muito ânimo, mas todos sabem que ela nunca perderia uma boa festa e Domi se inclinou um pouco para o meu lado, para que eu pudesse ler aquela coisa brilhante também. Quem em sã consciência dá uma festa em dia de semana, e em semana de prova ainda por cima? Pela boa alma de Ned Stark, que descanse em paz, essa menina precisa ser benzida com água benta do Vaticano.

— Ah, Rose… — o capeta ruivo me chamou, com a voz manhosa e um bico que deveria significar que estava com dó de mim, mas apenas acentuava sua caracterização de pato. — Querida, não sobrou convite para você, a festa já estava contada. Mas se houver alguma desistência eu te aviso, tudo bem? — Sorriu maquiavélica.

Dei de ombros, como quem não ligasse para isso. E não ligava mesmo, tudo que vinha dessa daí podia passar longe de mim num raio que nem os matemáticos mais inteligentes conseguiriam calcular.

— Sem problemas coração, tenho planos melhores para uma noite do que ficar me exibindo para um monte de pessoas que não conheço.

— Claro — sibilou, respirando fundo e voltando à sua postura notoriamente empinada e mesquinha. Lançou um olhar gélido em minha direção e se virou, arrastando Molly pelos corredores. A verdade é que até hoje não entendo como a doce Molly se rendeu às bruxarias do protótipo de Regina George, que sempre a usava quase como uma escrava particular, que a seguia para todos os lados, fazendo tudo o que a outra pedia sem nem mesmo questionar. Isso sim é desespero para se alcançar o mínimo que fosse de reconhecimento e popularidade. Patético.

— Você deveria ir na festa dessa piranhuda, ainda mais depois desse desaforo.

— Não to interessada — voltei minha atenção para os livros do meu armário. — E eu também não sou do tipo que invade festas. Aliás, eu sou um desastre nelas, lembram o que aconteceu nas últimas que eu fui?

— E nas únicas né? Você nunca deu uma segunda chance.

— Eu derrubei aquela vasilha de ponche no chão e ela era de cristal! Me sujei toda e ainda tive que pegar um casal se divertindo no banheiro quando fui me limpar — grunhi em frustração. — Constrangedor — fechei os olhos deixando aquelas lembranças do ‘o que eu fiz no verão passado que poderia acabar com minha vida social para sempre e acabou’ invadirem minha mente.

— Má sorte de iniciante? — Dominique tentou aliviar a barra que estava meu passado.

— Definitivamente não, o nome disso é Carma. Teve aquela festa que era a fantasia, mas só eu fui fantasiada de verdade. Ou quando eu engatei em uma conversa animadora com uma estátua. Teve eu caindo na piscina, quando minha blusa rasgou na frente de todos...

— Tudo bem, nós já entendemos — Roxy me cortou. — Mas esse é um ano diferente, coisas diferentes poderiam acontecer.

— Realmente, eu poderia cair em uma piscina diferente esse ano ou pegar um casal diferente no banheiro dessa vez.

As duas não se seguraram e começaram a rir da minha cara, logo sendo acompanhadas por mim. Porque rir da desgraça alheia é bom e é isso que importa. Quando eu chegar em casa eu choro sozinha abraçada com a minha Shamu de pelúcia, mas ninguém precisa saber, não é mesmo?

— O seu Carma deveria ser estudado pela NASA, Rose — Domi passou um braço pelos meus ombros. — Nada de festa para você hoje então. Mas ainda precisamos nos arrumar para o jogo de futebol americano, esse sim vai ser legal.

— Eu sei, de coisas violentas eu gosto — sorri psicodélica. — Além de uma ótima chance para gritar com pessoas que eu odeio e socar algumas outras sem querer.

Rimos mais uma vez, seguindo caminho para casa nos arrumar para a réplica de UFC com bola e caras bonitos.


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Notas finais do capítulo

Ola amizades! Espero que tenham gostado desse capítulo também e que não se esqueçam de comentar, se não a Rose vai puxar o pé de vocês a noite. Alias, o gosto musical de vocês é muito bom, e uma coisa interessante: a maioria disse que tinha Heathens do 21P como uma das músicas favs do momento, all hail Tyler Joseph and Josh Dun, amém. Agora, a pergunta da rodada:

Algum de vocês ai é a/o DUFF do seu grupo? (Outra coisa, vocês querem um cast da fic?)



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