“Ela dormiu no calor dos meus braços

E eu acordei sem saber se era um sonho” ― Capital Inicial

18 de Abril de 2005. Melhor manhã.

Ele acordou e quase não acreditou no que viu. Ele tinha realmente feito amor com a mulher que ele amava. E que noite! Nem em sua imaginação tinha sido tão bom.

Dizer o que sentia, beijar a boca dela de novo, sentir seus carinhos, ouvi-la dizer que o amava, sentir o gosto dela por completo, ouvir os sons que ela emitia, amá-la naquela cama que ambos se encontravam agora, sentir o perfume e o corpo quente dela ao acordar... Essas experiências e sensações foram as melhores que já sentira. E de agora em diante sempre sentiria e estaria ali pra ela. Era surreal.

A observou por um momento. Parecia um anjo. Ela tinha uma expressão serena enquanto dormia. A mão estava apoiada em seu peito e Gil a tocou fazendo um carinho em seguida. Tão macia. Ela estava coberta só do quadril pra baixo, assim como ele. Gil engoliu a seco. Ele havia ficado encantado com o corpo dela. Cada pedacinho que havia conhecido e explorado na noite anterior. Ele até notou uma coisa que nunca tinha visto antes, Sara tinha uma tatuagem no pé esquerdo, na lateral do fim da tíbia. Não sabia bem o que era, mas parecia um sol, ou talvez uma flor. Depois perguntaria a ela se lembrasse. Sara era linda demais!

Ainda achava que era um sonho até ela se mexer.

Sara mexeu a cabeça como um gatinho esfrega a própria em seu dono, e permaneceu dormindo. Grissom sorriu.

Se desprendeu dela com cautela para não acordá-la, levantou-se devagar da cama, a cobriu e procurou suas roupas pra vestir, sempre com cuidado para não fazer barulho.

Quando já estava vestido ele voltou pra perto da cama, ajoelhou-se e passou a mão de leve em seus cabelos. Suspirou. Não queria acordá-la, então resolveu sair de lá.

...

“Acordo e vejo que está tudo bem

Pela primeira vez na vida, e é ótimo

Lentamente olho em volta e fico impressionada

Penso nas pequenas coisas que tornam a vida boa.

Eu não mudaria nada

Essa é a melhor sensação” ― Avril Lavigne

Sara acordou uns vinte minutos depois, espreguiçou-se ainda deitada com os olhos fechados. Foi aí que percebeu que Grissom não estava na cama. Onde ele estava?

Sentou-se segurando o lençol contra seu busto e olhou em volta.

As roupas dele não estavam lá. Será que ele tinha ido embora? Ou aquela noite nem aconteceu e ela havia ficado louca e sonhado com aquilo tudo?

Mas se foi sonho, por que ela estava nua?

Sentiu que o outro lado da cama ainda estava um pouco quente, sentiu o cheiro dele no travesseiro e viu o celular dele na mesinha de cabeceira. Sorriu.

Foi real. Tudo o que aconteceu na noite anterior foi real. E que noite! Mal podia acreditar. Ela fez amor com ele! Nunca foi amada daquele jeito, as sensações que sentiu, as ondas de prazer, o calor da paixão... O amor que sentia por ele só aumentou depois daquilo. E a barba dele roçando em seu pescoço? Santo Deus! Seu desejo havia se realizado, o grande amor de sua vida estava ali com ela, dizendo que a amava, arriscando ficar com ela. Era surreal.

Seus pensamentos foram interrompidos por sons de passos. Sara imediatamente se deitou de costas pra porta e fingiu que dormia.

A porta fez barulho e ela deu um sorriso discreto, mantendo a respiração calma e o corpo imóvel, para que ele não percebesse que estava acordada.

Grissom se aproximou devagar e sentou na cama.

Sara se mexeu um pouco e permaneceu “dormindo”. Gil estava perdido em pensamentos, ele tinha ido preparar o café da manhã pra ela e durante todo esse tempo ele pensava numa maneira de esconder dos outros o que sentia por Sara. Sabia que agora seria mais difícil, ainda mais porque ele tinha um encalço como amigo, e o capitão sabia de seus sentimentos por Sara.

Sua morena parecia estar acordando, o que o despertou de seus pensamentos. Ele, meio sem jeito, a abraçou pela cintura e deu um beijo em seus cabelos murmurando:

— Bom dia.

Ela sorriu. Amou aquele gesto.

— Bom dia!

Virou-se pra ele, ficando de barriga pra cima, e deparou-se com os olhos azuis mais lindos e que mais amava fitando-a intensamente.

— Dormiu bem?

— Mais que bem. - ela respondeu sorrindo de um jeito lindo que fez os olhos dele brilharem. Amava o sorriso dela. _ E você?

— Ótimo. - ele respondeu com um sorriso tímido.

Sara sorriu de lado, e com os olhos também.

— Acordou há muito tempo?

— Tem uns vinte minutos. Eu estava na cozinha preparando o café. Espero que não se importe.

— Claro que não. À vontade! - ela adorou ele ter feito o café pra eles.

Ficaram em silêncio por alguns segundos, fitando um ao outro com uma leve timidez.

— Foi incrível… não foi?

— Foi.

Ambos sorriram.

Sara puxou mais o lençol pro peito, virou um pouco a cabeça pro travesseiro e riu sem emitir som.

— O que foi?

— Eu queria saber porque eu estou com vergonha.

Grissom também riu sem jeito.

— Quer dizer… você me viu nua ontem e… eu estou me cobrindo.

— Eu acho que… minha vergonha é maior que a sua… eu já até me vesti.

Sara riu.

— Bom… O café está pronto. Quer que eu saia pra você se vestir?

Sara balançou a cabeça sorrindo sem mostrar os dentes, mostrando sua timidez.

Ele sorriu também.

— Tabom. - ele se aproximou, tocou seus cabelos e deu um beijo em sua testa. Sara fechou os olhos e suspirou. Beijo na testa era a coisa mais fofa do mundo. Grissom se levantou e saiu.

Sara ficou de barriga pra cima e sorriu mordendo o lábio. Levantou e colocou seu vestido. Escovou os dentes e em menos de dez minutos já estava na cozinha/sala.

Como não tinha mesa, eles comeram no balcão.

— Gosta de panquecas, não é?

— Eu amo panquecas!

Ele sorriu. Ela parecia uma garotinha.

Tomaram café em silêncio, somente trocando olhares e sorrisos tímidos. Estavam bastante sem jeito com toda aquela intimidade, principalmente Gil. Era bom? E como era! Mas era muito estranho. Eles já se conheciam há sete anos e eram grandes amigos, e agora compartilhariam suas vidas um com o outro, dormiriam juntos, comeriam juntos, sairiam juntos, viveriam juntos!

Era um grande passo, pois só teve um relacionamento sério uma vez na vida. Depois de Julia, Gil passou muitos anos solteiro, e hoje em dia sua mãe ainda gostava da ex nora. Mas tinha certeza que ela ia gostar de Sara quando chegasse a hora certa de apresentá-las. Já havia falado sobre ela para Betty em uma de suas visitas, porém não entrou em detalhes sobre o que de fato sentia pela morena, já que na época ele não tinha certeza.

— As panquecas estavam uma delícia!

— Que bom que gostou. - ele respondeu levando os pratos pra pia.

— Gostei? Eu amei! Tem que fazer mais vezes, Griss.

Ele sorriu.

— Adoro quando me chama assim.- ele admitiu.

— É? - ela sorriu.

Ele assentiu com o mesmo sorriso.

— Não precisa lavar a louça, Griss, deixa que eu lavo depois. - ela disse quando o viu pegar a bucha e o detergente. Sara não tinha lava-louças e quase nunca lavava as mesmas porque sempre pedia comida quando estava em casa, já que não sabia cozinhar.

— De jeito nenhum.

— Bom, então eu seco. - Sara se levantou e deu a volta no balcão, parou ao lado dele esperando a primeira peça de louça pra secar.

Terminaram em pouquíssimos minutos e quando foram guardar, o celular de Grissom tocou lá no quarto. Gil pediu licença e foi buscar, logo estava de volta falando com a pessoa do outro lado da linha, que era ninguém menos que Ecklie lhe cobrando relatórios.

— Tudo bem, Conrad, eu vou até aí procurar pra você. - Gil revirou os olhos fazendo Sara tapar a boca pra rir. _ Certo... Até logo.

Grissom desligou o telefone e suspirou.

— Estraga prazeres. - disse Sara rindo.

— Nem me fale. Desculpe não poder ficar mais tempo.

— Não tem problema. Obrigada pela ajuda. - ela se referiu à bagunça do café da manhã.

— Por nada. - ele respondeu. _ Eu tenho que ir agora.

— Tudo bem.

Gil caminhou até a porta, mas Sara segurou seu braço.

— Não está esquecendo de nada?

O supervisor sorriu.

— Estou?

Sara sorriu e segurou seu rosto trazendo pra perto do dela. Gil abraçou a cintura dela e Sara juntou seus lábios num beijo bem lento, provando cada pedacinho. Aquele beijo durou bons minutos e finalmente separaram seus lábios lentamente.

— Agora sim, pode ir.

Grissom sorriu e deu mais um selinho nela antes de cruzar a porta.

— A gente se vê no laboratório.

— Até mais tarde. - ela respondeu e ficou observando ele até o mesmo pegar o elevador e sumir de sua vista.

Entrou, fechou a porta e encostou na mesma.

Aquilo estava realmente acontecendo? Eles estavam namorando? Não conseguia acreditar!

Deixou um sorriso de orelha a orelha tomar conta de seu rosto. Mais feliz ela não podia ficar naquele momento. No elevador, Gil estava do mesmo jeito, com um sorriso enorme estampado em seu rosto. Foi a decisão mais certa que tomou em 49 anos.

Agora era só pegar essa coragem que ele juntou na noite anterior e usá-la pro resto de sua vida. Seria difícil? Com certeza, mas Sara o ajudaria e ele esperava que com ela ao seu lado pudesse perder todos os seus medos e inseguranças.

...

Começo do turno da noite...

Greg, Sara e Sofia esperavam por Grissom na sala de descanso, Nick e Warrick também estavam na sala, pois era o intervalo de seu turno que havia começado às 16h e naquele momento eles haviam dado um tempo pra fazer uma boquinha.

Conversavam animadamente e Sara até trocava umas palavras com Sofia. Agora não precisava se preocupar com ela... Ou precisava?

Grissom chegou atrapalhando seus pensamentos.

— Boa noite crianças!

— Boa noite! - eles responderam.

Sara sorriu pra ele discretamente e desviou o olhar em seguida, ele fez o mesmo. Isso não era saber disfarçar, mas se esforçariam mais. No momento era quase impossível já que a felicidade que sentiam era maior do que o poder de fazer parecer que nada tinha mudado.

— Nossa! O que houve pra estar tão “felizinho”, chefe?

— Como assim? Não houve nada. - ele se fez de desentendido.

— É que você nunca chegou assim com um ar de felicidade. - disse Warrick.

— Parece que acordou com dois pés direitos e não um só.

Greg fez todos rirem.

— Greg tem razão, Gil, você está diferente. - Sara resolveu comentar alguma coisa pra não desconfiarem.

— É impressão de vocês, crianças, eu estou como sempre estou. Agora chega de conversa e vamos ao trabalho.

— Olha ele fugindo do assunto. - Greg riu e Grissom o olhou sério, o que o fez desmanchar o sorriso.

Todos riram do novato.

— Warrick e eu também vamos nessa. - disse o texano, mas antes ele chegou perto do ouvido de Sara e sussurrou. _ Depois você vai me contar porque também está “felizinha”.

Sara gelou e fez cara de que não entendeu pra ele.

Nick sorriu e saiu da sala. Gil ficou curioso em saber o que o amigo havia dito a sua namorada, mas depois perguntava.

Seria um desafio esconderem o relacionamento de todo mundo, porque mesmo que não dessem sinais de que algo estava acontecendo, seus amigos eram CSI’s e podiam acabar descobrindo mais cedo ou mais tarde.

O primeiro passo era disfarçar a felicidade, pois ela já havia colocado os dois contra a parede pelas perguntas e comentários que ouviram assim que chegaram.

— Aí Sarinha! Quer ir no cinema depois do turno? Saiu O Chamado 2 no fim do mês, ainda dá pra gente ir ver.

Se dissesse que não porque já tinha planos pra depois do turno, ia entregar tudo, pois ela nunca tinha planos pra depois do turno e justo no dia que ela chegou diferente ela teria? Não podia dizer que não.

— Claro Greg. Vamos sim.

— Legal!

Olhou para Grissom de relance e esperou que ele desse os casos da noite.

Gil resolveu colocá-la no mesmo caso que ele pra conversarem sobre os amigos.

— Greg e Sofia, vocês tem um duplo homicídio no Monaco. Sara, você vem comigo, assassinato em Henderson.

...

— Estava pensando em assistir um filme com você em casa, mas o Greg me pegou de surpresa, eu não podia dizer não.- eles conversavam no carro.

— Senão ia estragar tudo, né? Você nunca recusou sair com ele, Greg iria estranhar.

— Exato. - suspirou.

— Aliás, o que Nick te disse antes de sair?

— Ele notou que eu também estou “diferente” e disse que era pra eu contar pra ele o porquê depois.

— E o que vai dizer?

— Não faço ideia.

Só o tempo diria se daria certo manter aquilo em segredo.