To com medo.

Eu pensei que o tempo ocioso era o culpado pra tanto tédio e apatia, mas não. Ontem fiquei sabendo que passei no vestibular pro curso de Design. Sim! Eu passei em uma boa colocação no vestibular, no curso que eu supostamente queria, pra, agora, continuar desse jeito, tão pra baixo. Eu to com medo de essa ser a minha constante. Eu sinceramente não sei o que pode estar havendo comigo. Eu até mesmo me forcei a acreditar na máxima de que o tempo cura as feridas como forma de consolo, mas cadê as minhas feridas sendo curadas?

Meus pais ficaram bem contentes; pouco surpresos, é verdade. Acho que isso era o mínimo que esperavam de mim, afinal de contas, sempre fui uma estudante promissora, embora a sensação que sempre tive é de que eu sou uma farsa. Ter notas altas nunca me soou como garantia de ser uma pessoa brilhante. 

Hoje eu tenho que buscar o meu diploma no colégio, que demorou um bocado pra emitirem. Preciso fazer cópias dos meus documentos e autenticar tudo, porque amanhã farei a minha inscrição na Universidade. Tenho certeza que eu deveria ficar feliz. Não é mentira quando digo que fiquei mais contente ao descobrir que o Lucca também passou – em Geografia, no caso – do que por mim. Fico imaginando se a Virgínia também teria passado se ela tivesse feito o vestibular, mas pra que pensar nisso? O que adianta? Eu nunca vou saber!

***

Enquanto eu estava no cartório, na fila pra autenticar alguns dos meus documentos, olhei pro meu celular e me senti fortemente tentada a mandar uma mensagem. Será que eu deveria? Ele nem mesmo falou nada, nem me mandou parabéns… Mas eu posso, não posso? Ele disse que não me viraria as costas. É claro que eu posso.

Fiquei sabendo que você passou no vestibular. Parabéns!

Rapidamente coloquei o celular no bolso, em uma tentativa ridícula de fingir que não fiz o que acabei de fazer, morrendo de medo de ser ignorada. O arrependimento já tava começando a bater, quando em menos de um minuto meu celular vibrou.