Dolores escrita por Marília Bordonaba


Capítulo 68
Dolores




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— Fiquei preocupada. Muito, a propósito. Porque o notebook da Virgínia tava ligado e eu sabia que ela não tinha senha. Eu devia saber que foi um erro deixar que você subisse ao quarto da minha filha, você a odiava. - embora estivesse falando baixo, a Leda deixou bastante evidente a raiva que sentia.

— Eu não mexi no computador dela. – tentei.

— Ah não? E onde foram parar os vídeos da pasta “Diário” então?

Ela tinha tanta certeza de que eu era a responsável pelo sumiço dos vídeos, que já tava me acusando. Posso até ter roubado esses vídeos, mas eu to certa de que não os excluí da pasta.

— Como você se atreve a atazanar a Virgínia mesmo depois que ela se foi?!

— Eu não sei do que você tá falando.

— Eu não to pra brincadeira, menina. – ela rangeu os dentes – Você foi a única pessoa a entrar naquele quarto.

Será que eu recortei os vídeos ao passar pro pen-drive em vez de copiado e não percebi?! Sério que eu pude ter sido tão estúpida assim?

— Vou nem entrar no mérito da sua completa falta de respeito em invadir assim a privacidade da Virgínia, porque só tenho uma coisa pra dizer: ai de você se postar aqueles vídeos na internet!

— Eu nunca postaria na internet! – falei ofendida.

— Ah! Então você confessa?

Eu nunca me odiei tanto por ter me traído dessa forma. Mordi o lábio inferior com força.

— Quer saber? Não me importa mais que você tenha invadido a vida pessoal da minha filha dessa maneira tão… Tão… Argh! Eu nem sei que palavra escolher pra descrever o seu nível de baixeza. – ela levantou o dedo e apontou na minha cara – A única coisa que eu sei é que eu quero esses vídeos de volta. Você tem até a véspera do Natal pra me devolver esses vídeos. E eu quero que você exclua todos os que tiver no seu computador ou eu vou te denunciar por crime cibernético, estamos entendidas?

Afirmei com a cabeça.

— Passe bem. – e ela me deixou sozinha.

***

— Boa noite, meu amor.

— E parabéns mais uma vez!

Meus pais disseram com sorrisos orgulhosos enquanto eu os esperava parar com aquela lenga-lenga e me deixassem, por fim, fechar a porta do meu quarto. O clima de desconforto na pizzaria era tão visível, que já tava ficando constrangedor, mas eles continuaram fingindo que estávamos comemorando o término do meu Ensino Médio em grande estilo – claro, em grande estilo na pizzaria que vamos quase toda semana.

Mas demos fim ao teatrinho e finalmente pude ficar sozinha no meu quarto, com tempo pra refletir sobre o que eu faria com relação à ameaça clara que a Leda fez. Ela disse que chamaria a polícia e eu fiquei me perguntando quão verdadeira foi essa ameaça. Não sei se acreditava tanto assim, só que eu também não queria correr o risco. Ia ser bem complicado, além do fato de eu não estar nem um pouco interessada, explicar aos meus pais o porquê de eu ter feito isso.

Não, eu tinha de devolver esses vídeos. Até a véspera de Natal, foi o que ela disse. Eu ia fazer isso, mas antes eu teria de assistir tudo, o que era um problema, porque ainda faltavam muitos vídeos. Peguei meu notebook, abri a pasta com os vídeos e rolei a barra, pra tentar calcular mais ou menos quantos ainda tinham. Pelo menos uns 100! Mas não tinha problema, eu ainda tinha duas semanas pra assistir – apesar de ter esse final de semana dedicado ao vestibular –, então daria tudo certo se eu desse início agora a minha maratona.


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