Dolores escrita por Marília Bordonaba


Capítulo 67
Dolores




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Ao final da cerimônia, todos, formandos, funcionários da escola e convidados se aglomeraram na entrada do auditório, todo mundo se procurando para saírem dali pra comemorarem o fim dessa etapa. Provavelmente os meus pais me levariam a uma pizzaria, o que era meio deprimente quando comparado ao que o resto do pessoal faria – dançar ou beber em algum lugar descolado –, então eu não tinha pressa de ser encontrada e comecei a zanzar por ali quase que fugindo dos meus pais.

Foi nessa minha caminhada aleatória que acabei esbarrando o olhar com o da Dani. Ficamos sentadas uma do lado da outra durante toda a cerimônia e não trocamos nem uma palavra, nem um olhar, nem mesmo encostamos a lateral dos braços. Mas dessa vez a Dani me encarou com carinho. Isso me constrangeu e eu acabei devolvendo o olhar, erguendo a mão e dando um tchauzinho. Ela retribuiu o tchauzinho e sorriu sutilmente. Antes que fôssemos uma de encontro a outra, uma colega nossa de turma a puxou pelo braço e a carregou pra algum lugar; talvez elas fossem comemorar juntas o fim da escola. Isso realmente não me importa, o que importa é que caso essa tenha sido a última vez que nos vimos pessoalmente, foi com uma áurea de carinho que finalizamos de vez essa amizade. A Dani foi uma grande amiga por muito tempo, não gostaria de carregar na memória aquela nossa última conversa como ponto final.

Quando eu tava prestes a retomar o meu processo de andar que nem barata tonta pra não ser vista pelos meus pais, assim que me virei, me deparei com a Leda, que parecia estar parada ali pra falar comigo.

— Oi. - ela me cumprimentou.

— Oi. - respondi com a voz esganiçada.

Eu tava muito nervosa. Soube naquele instante que eu seria desmascarada.

— Imagino que você tenha ouvido o meu discurso.

— Sim. - afirmei, sentindo o suor se formar nas laterais da minha testa.

— Então você ouviu a parte em que eu disse que entrei no quarto da Virgínia pela primeira vez desde o dia em que ela morreu, certo?

Dessa vez não me manifestei.

— Pois é. E fiquei bem surpresa com o que vi. Consegue imaginar o porquê?

Não havia sentido em me manifestar.

— As gavetas tavam reviradas e muita coisa fora do lugar. Você pensou que eu nunca ia descobrir ou nunca ia perceber?

Eu senti meus lábios perderem o sangue.


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