Dolores escrita por Marília Bordonaba


Capítulo 63
Dolores




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— Conta aí o que ela fez. - a Virgínia cruzou os braços e sorriu mordendo o lábio inferior.

— Não, primeiro, ela resolveu aparecer hoje na escola sem uniforme. Péssima ideia, obviamente.

As duas caíram na gargalhada.

Sério que eu ganhei um vídeo só porque eu fui sem uniforme pra escola um dia? Eu sequer me lembro disso.

— Não, não, você ainda não contou a melhor parte! – a Virgínia interveio – O melhor foi que ela tentou pagar de gostosa e foi com uma blusa tipo barriga de fora, sabe? Cara, eu sei que eu sou gorda…

— Ah, para amiga!

— Não, sério, de boa. Eu sou gorda. E tenho bom senso. Num é porque tu é magrinha que precisa perder o bom senso não, sabe? Principalmente quando é magra nível: Dolores.

E mais uma vez elas gargalharam.

— O pessoal caiu matando! – a Jéssica estava com os olhos lacrimejando do tanto que ria – Você ouviu o que o Gui disse?

— Não, o que?

— Que ela tava parecendo um torrone de regata.

O meu coração batia mais forte a cada rodada de risadas a ponto de fazer machucar o meu peito. 

— O que é torrone, velho? – a Virgínia perguntou quase sem fôlego.

— É aquele doce, com o gosto esquisito, que é todo branco e tem uns pedaços de amendoim dentro…

— Ah, to ligada! – e continuou rindo – Mesmo sem saber na hora, eu dei muita pala!

— E eu?! – a Jéssica puxou o ar e tentou controlar a risada pra continuar falando – E aí você viu que o Jonas disse que ia falar com ela, pra dizer que ela tava bonita, só de sacanagem?

O que?!

— Vi não. - a Virgínia secava a lágrima – Mas ele fez isso?

— Fez! – e tornou a rir – E ela ficou toda achando que foi de verdade. Cara, foi muito zoado. A gente viu o sorrisinho na cara dela!

Do que ela tá falando? O Jonas disse de verdade! Se ela tá falando do dia em que eu tava bebendo água e ele chegou do meu lado, do nada, e disse que eu tava bonita, foi de verdade sim! E até falou bem baixinho “depois a gente conversa direito” e saiu.

— A Conceição é muito zoada, puta que pariu!

Fechei o vídeo imediatamente e afastei o notebook, ciente de que isso era o melhor a ser feito, caso contrário eu teria quebrado a porcaria desse computador inteiro, não dando a mínima pro trabalho que foi concertá-lo.

Minha respiração estava acelerada e eu não sei como eu consigo permitir que um vídeo gravado há tanto tempo me atinja dessa forma. Eu sei o que aconteceu, por que o fato de elas negarem me irrita tanto?!

Cara, pouco tempo depois desse dia rolou uma Feira de Ciências, que eu só fui pra ver a barraquinha da Dani, onde ela tava apresentando qualquer coisa de Biologia. E quando fui comprar um cachorro-quente, já pro fim da Feira, o Jonas se aproximou e começou a conversar comigo, como quem não queria nada. E nisso, uma hora ele me chamou pra ir pra outro canto, onde pudéssemos ficar mais à vontade e foi quando ele me beijou. Ele foi o primeiro garoto que eu beijei e o mais legal dessa história é que ele nem mesmo desconfiou disso, porque ele até me elogiou! Como isso poderia ser uma mentira?

E essa nem foi a única vez que ficamos. Acho que consigo contar umas 4 ou 5 semanas em que posso dizer que “estávamos juntos”. Claro, fora do colégio.

— É que eu tenho um pouco de vergonha, sabe?… Mas se você fizer questão que a gente fique na frente da escola intei…

— Não! Não! Não! – neguei com pressa, aterrorizada com essa ideia – Por mim tudo bem se só ficarmos juntos fora do colégio.

E esse foi o nosso trato durante essas 5 semanas. Foram muito boas, eu aprendi muita coisa! E apesar de o Jonas não ter sido exatamente um cavalheiro comigo em dados momentos, ele foi até que bem legal. Tirando a vez em que os amigos dele tavam falando umas paradas de mim, isso já depois de um tempo em que a gente parou de ficar, daí ele, em vez de me defender ou de só ficar na dele, ficou rindo de quando me chamaram de… Não, espera.

Não. Espera. 

Não, não, não!

Estúpida! Como eu pude ter sido tão estúpida?!

“Mãozinha”. É claro!

E eu pensando que me zoavam porque eu tava usando a luva da tendinite, mas só o Jonas que poderia ter espalhado o que eu… O que nós… Argh! Que nojo! Como eu pude ter sido tão idiota? E tão…? Que merda!

Por que as pessoas são assim, cara? Por que elas são tão maldosas?! Como eu odeio essa escola!

E sobre os pontos que a Virgínia ganhou na minha tabela imaginária? Esqueça.


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