Havia muitas coisas que andaram me cansando nesses dias. Os estudos, a rotina, a pressão dos meus pais pra que eu me programasse pro futuro. No meio disso tudo, eu ainda tava um pouco cansada da Dani. Eu não sabia que tinha uma amiga tão fria, que fosse tão indiferente às dores alheias. Teve esse dia, quando cometi a burrice de contar pra ela que fui à casa da Virgínia pra conversar com a mãe dela, onde a reação da Dani foi:

— Você enlouqueceu?

Fiquei atônita e respondi imediatamente:

— Não! Por quê?

— A menos que a mãe da Virgínia não seja mais aquela louca enjoada de antes, nada justifica você ter ido até lá.

Fiquei decepcionada e acanhada com essas palavras. Nem mesmo me dei ao trabalho de contar que entrei no quarto da Virgínia, que peguei seu diário e que assisti ao primeiro vídeo. Eu esperava um pouco mais de compaixão e sensibilidade da parte dela, ainda mais comigo. Ela sabia que eu tava me sentindo culpada e que eu não parava de pensar que na última vez em que tive contato com a Virgínia, eu quebrei o seu nariz. A Dani sabia que eu não tava conseguindo ficar em paz comigo mesma tendo isso em mente e, ainda assim, ela não fez o menor esforço em ser solidária com as minhas ações e reações.

No intervalo, pouco antes de bater o sinal, eu pedi licença ao professor pra ir ao banheiro e fiquei rodando pela escola, evitando a Dani e procurando ficar sozinha. Acho que pela primeira vez, em toda a minha vida escolar, isso aconteceu sem que eu me sentisse magoada.

Dizem que as coisas só acontecem quando você não tá esperando e acho que foi justamente o meu conforto em estar sozinha que fez alguém decidir me fazer companhia.

— Oi.

Foi imediato o frio na barriga que senti, pois pela primeira vez, desde a confusão do nariz da Virgínia, que o Lucca decidiu vir falar comigo. Não o cumprimentei de volta, apenas o encarei.