Dolores escrita por Marília Bordonaba


Capítulo 38
Virgínia




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Não tem nada mais prazeroso do que ver uma ideia sua ser posta em prática com tanto sucesso. Não me cabe em palavras o tamanho da minha felicidade. 

— Quem diria que essa festa ia acontecer, hein? – falei admirada, com os cotovelos encostados à balaustrada do andar de cima do colégio, que tinha uma vista pro pátio.

— Eu nunca achei que não fosse acontecer. - o Lucca me respondeu um tanto convencido. Não tiro sua razão, ele também estava bastante orgulhoso do trabalho que fizemos.

— E eu devo agradecer a você.

Dessa vez ele sorriu modesto, o que só me encorajou a continuar o elogio.

— Juro! O que seria de mim sem você, Lucca? Acho que escolhi muito mal o meu vice. - e lancei um olhar pro Gui, que no momento estava lá embaixo, fazendo graça pras meninas, rebolando a coreografia da turma de 7º ano, que ele volta e meia fugia das aulas pra assistir aos ensaios – Sem dúvida, você deveria estar ao meu lado.

Eu devia me arrepender dessa escolha de palavras, pois elas poderiam ser mal interpretadas. Só que foi justamente por elas poderem ser mal interpretadas que eu não me arrependi. Mas ele não deu nenhum sinal de ter captado o que eu quis dizer.

A Jéssica andou puxando a minha orelha nessas últimas semanas, dizendo que eu tava empolgada demais com esse meu contato mais intenso com o Lucca. Não foi uma, nem duas e nem três vezes que ele abriu mão de passar o intervalo com a Dolores pra passar comigo, debatendo detalhes da festa ou só jogando papo fora mesmo. A Jéssica tentou me alertar de que eu devia segurar a minha onda, pra eu voltar pro meu foco inicial: “nada de garotos, lembra?”. Só que não, eu tinha que tentar. Só mais uma vez. Eu não poderia estar imaginando tudo de novo, porque os sinais são claros demais pra serem só imaginação. 

— E Lucca, eu… - me desencostando da balaustrada e me virando em sua direção, disse com cautela – Eu sei que eu to sendo muito paia por dizer isso, ainda mais agora, que voltamos a ser amigos próximos e… - peguei em sua mão e o puxei um pouco pra trás, pra que saíssemos do campo de visão do pessoal que estava no andar de baixo – E que você tá namorando, mas é que eu acho que só vou ser uma boa amiga se disser isso.

Essas palavras foram suficientes para deixá-lo apreensivo e se afastar um pouco de mim. Não me incomodei, afinal, o que eram alguns centímetros de distância, quando comparado à proximidade que tivemos nesses últimos dias? Eu sabia que esse era o momento certo pra dizer isso.

— Você já me explicou algumas vezes que a Dolores não é quem demonstra ser na maior parte do tempo. Que ela é doce, que é carinhosa… Uma porção de coisas boas. E eu não to te desacreditando, não é isso! Mas, na verdade, eu acho que você projeta muitas das suas qualidades nela. E... Que seja, vamos supor que a Dolores seja tudo isso que você me diz. Você não precisa de uma pessoa tão semelhante a você ao seu lado.

— Virgínia… - ele ficou atordoado com as minhas palavras e balançou a cabeça, parecendo zonzo – Aonde você tá querendo chegar com isso?

— Olha só tudo isso. - apontei para as paredes do pátio – E pensa nos grupos de estudo, no intervalo cultural, se quiser, até na festa de aniversário da Jéssica… Eu prometi pras pessoas que eu não ia mais insistir nessa história, mas você não percebe que fazemos um casal incrível?

Vê-lo ali, na minha frente, sem reação foi lido por mim como um sinal. Talvez eu não seja tão boa assim em leitura de sinais, pois pouco depois de tê-lo beijado, fui empurrada, não com violência, mas com firmeza. E foi como levar um tapa na cara quando ele disse:

— Lola e eu somos um casal incrível.


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Notas finais do capítulo

Será que alguma alma viva está acompanhando? Ó céus, se sim, fale comigo, nunca te pedi nada D:



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