Dolores escrita por Marília Bordonaba
Assim que o Lucca desceu do carro e se despediu de nós, depois de acelerar o carro, minha mãe esperou 5 segundos até comentar:
— Bacaninha esse garoto, hein filha?
— Eu te falei que o Lucca é incrível! – não tinha nem como disfarçar, eu tava bem orgulhosa da impressão que o Lucca deixou enquanto minha mãe trazia ele até a sua casa, pra que ela visse que eu não exagero quando falo dele.
— Espera, espera, espera… Então é dele que você vive falando?!
Fiquei boquiaberta.
— Mãe, em que mundo você vive? Sim! Ele é o Lucca! Aquele Lucca. – “o meu Lucca” pensei em acrescentar, mas deixei pra lá.
— Gente, eu nunca ia imaginar! Às vezes eu tinha pra mim que ele nem mesmo existia de verdade, que era só um mito. – brincou – Nossa filha, uma gracinha ele.
— Eu te falei. – repeti, segurando um sorrisinho enquanto olhava através da janela.
— Você não tinha me dito que ele morava tão longe da escola.
— É porque nem eu sabia. – e não sabia mesmo!
— Ele deve acordar no escuro pra chegar no horário.
— Sim, até porque ele sempre chega super cedo. Tanto, que eu nunca o vi chegando depois de mim, porque eu sempre chego em cima da hora ou me atraso, e dizem que ele praticamente abre o portão da escola. – continuei exibindo o Lucca como se fosse um grande monumento.
— Pra você ver como as coisas são, né? Você mora a duas ruas da escola, dá pra ir andando tranquilamente, mas você prefere correr o risco de se atrasar e pegar carona comigo. Enquanto ele, provavelmente, vai de ônibus, sozinho, e chega antes de todo mundo. – olhando para o retrovisor, ela concluiu – A vida não é mole pra todo mundo. – ela falou isso balançando a cabeça em negativa, como que se tivesse me desaprovando. Fiquei incomodada.
— Ah mãe, mas não é culpa minha se tem como eu ir de carona…
— Não disse que era culpa sua.
— Então por que você tá dizendo isso? – comecei a ficar irritada. O que? Ela tava me chamando de mimada? De folgada? Ou dos dois?
— Só pra ressaltar o quanto você é privilegiada.
— Eu discordo.
Ela me olhou de rabo de olho, sei que com aquele seu olhar de desaprovação e disse:
— Às vezes fico me questionando se te criei numa bolha.
Não sei explicar exatamente o porquê, mas não gostei de ouvir isso também.
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