Dolores escrita por Marília Bordonaba
Maio
Eu, obviamente, não queria a presença da Dolores nessa reunião. Não me importa se o Lucca disse que ela tem sido interessada e mega “colaborativa” - o que pra mim só soou como um “não tá empacando”. Só que ok, eu sou uma pessoa madura e se ela já tá aqui, também não vou expulsar.
— Bom gente, eu chamei vocês aqui em casa pra conversarmos sobre como andam os preparativos da festa, passar alguns informes e ouvir um pouco o que vocês têm a falar.
— Nossa! Agora você ouve o que os outros têm pra falar? Taí uma novidade.
Mas é uma vaca mesmo.
— Lola! – o Lucca, pelo menos, chamou-lhe a atenção.
— Obrigada, Lucca. - disse – Então, continuando…
— Por que você não marcou a reunião na escola? Porque acho muito fácil a rainha chamar todo mundo pra casa dela, enquanto todo mundo tá dando duro e você só dá as ordens.
Claramente essa não é a minha definição de “colaborativa”.
— Antes de falar merda, você deveria saber que a diretora não quer que eu esteja envolvida nos preparativos dessa festa. - a parte em que a Luíza disse que era por causa desses meus afazeres extras que eu estava me saindo mal nas matérias não vinha ao caso no momento.
— Pelo menos alguém tem juízo naquela escola.
— Cala boca, Conceición. Deixa a Virgínia falar!
— Valeu, Gui. Bom… - pegando a folha, respirei fundo, tentando puxar toda a paciência do mundo e finalmente comecei a falar – A primeira coisa que temos que ter em mente é que a data da festa será adiada mais uma vez.
— O que?
— Ah não! – o pessoal reclamou.
— Pois é, galera. A Luíza me falou que tem turma que tá atrasada com o conteúdo e esse lance de ensaio pra apresentação só tá atrapalhando, então ela disse que vai suspender os ensaios na semana que vem.
— Ah vei, a Luíza tá de sacanagem com a gente! – a Sandra, que tinha se comprometido a ser a anfitriã da festa, falando ao microfone por toda sua duração, tem sido a pessoa mais ansiosa de toda a escola pra esse evento – Por que em vez de adiar, a gente num faz logo essa droga?
— Boto fé que deve ser por motivos de prioridades, num sei. - o Lucca deu o seu palpite.
— Peraí! – a chata interrompeu outra vez – E como que você sabe de tudo isso, se acabou de dizer que a diretora não quer que você se envolva nos preparativos da festa? – disse apontando aquele dedo magrelo em minha direção.
— Ela me disse porque eu sou a representante e porque ela queria que eu passasse esse informe aos organizadores da festa.
— Já que é assim, por que ela não deixa logo você preparar essa festa?
— Qual é a relevância dessa discussão? – a Jéssica perguntou irritada (acho válido mencionar que desde a festa do pijama, a sua ira nunca mais se voltou contra mim e tampouco a minha se voltou contra ela; acho que a Jéssica escolheu o lado certo) – Continua, amiga.
— Eu acho super relevante. - a Dolores insistiu – Porque, claramente, tem alguém que tá adorando montar nas costas dos outros e não se responsabilizar por nada.
Quem vê assim, pensa que ela tá fazendo muita coisa. Aliás, ela tá fazendo alguma coisa?
— Isso tá bem esquisito, na real.
— Lola, sério, para com isso. - o Lucca falou carinhoso, querendo apaziguar – Por favor, amor.
Agora eles se chamam de “amor”? Que merda.
— Me desculpa. - ela disse abaixando a guarda – Mas que isso tá cheirando mal, isso tá.
— Dolores – levantei da cadeira e disse firme – Se você encher o saco nessa reunião mais uma vez, eu juro que vou te expulsar da minha casa.
Eu adoraria tê-la visto ficar irritada com essa minha fala, levantar orgulhosa e sair por livre e espontânea vontade, mas ela abriu um sorriso de satisfação, ergueu as mãos e simulou fechar um zíper na boca. Diante disso, um tanto decepcionada – eu confesso – dei prosseguimento.
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