Dolores escrita por Marília Bordonaba


Capítulo 18
Virgínia




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— Surpresa!

— Que susto! – gritei assim que atravessei a porta de casa e me deparei com a minha mãe, caindo na gargalhada logo depois – O que você tá fazendo aqui?

— Eu liberei os meninos hoje pra fazerem a leitura dos textos. Daí aproveitei pra ficar em casa, preparar uma comidinha pra minha filhinha… - ela me deu um beijo na testa – E preparar as próximas aulas.

— Caraca mãe, não precisava vir pra cá só pra fazer comida, eu me virava... Mas, ah, que bom que você veio, eu queria mesmo falar com você.

— Tá certo. Só guarda essa mochila, tira esse uniforme…

— Ei, eu sei o que eu tenho que fazer, tá? – falei em tom de brincadeira, me encaminhando ao meu quarto.

— Ai, desculpa! – ela falou alto, pra que eu a ouvisse mesmo de longe – Não to acostumada a estar em casa nesse horário e achei que eu ainda precisava te dar esse tipo de ordem, a julgar todas as coisas que você deixa espalhada pela casa todos os dias!

Eu falo tudo com a dona Leda… Ou procuro falar tudo. Uma das coisas que mais tenho orgulho de falar na vida é que a minha mãe é a minha melhor amiga. Acho uma bobagem esse povo que perde tempo sendo inimiga da mãe. Onde já se viu uma maluquice dessa?

— E aí? Como foi seu dia? – minha mãe perguntou depois que fizemos nossos pratos e nos sentamos à mesa.

— Ah, você sabe: cansativo como sempre. Não basta eu praticamente explodir a minha cabeça pensando em melhorias praquela escola e em jeitos de conseguir isso, ainda tem um bando de estudante desinteressado, que num quer nada com a vida. E os outros representantes, mãe, não fazem nada! Eles simplesmente não estão nem aí! E ainda tem os professores, né? Que não me deixam assistir aula em paz, mandando eu entregar bilhete, buscar chamada e num sei mais o que. É um saco.

— Eu imagino. – ela disse interessada – Mas vem cá, você já conversou com a Luíza sobre aquele projeto que você me contou?

— Não. - tomei um gole do suco e completei – Acho que esse não é o momento. Eu acabei de conseguir montar os grupos de estudo e a Luíza já resistiu um pouco no começo. Talvez se eu vir com uma coisa nova agora, ela acabe ficando com raiva e eu não vou conseguir mais nada.

— Tem que ver isso mesmo. Qualquer coisa, filha, se você quiser que eu fale com a Luíza, eu não me incomodaria.

— Valeu, mãe. Só acho que esse não é mesmo o momento.

Eu acho muito fofo que a minha mãe me dê apoio e compre as minhas ideias, mas eu que me incomodaria se ela se intrometesse no meu trabalho. Não é pedindo ajuda pra mamãezinha que eu vou me tornar uma pessoa forte, disso eu tenho certeza.

— Por outro lado, eu tenho que ter em mente que um ano letivo passa voando e que se eu não apertar um pouco também, eu num vou conseguir nada.

— É… Mas não precisa perder a cabeça por causa disso.

— Eu sei. - disse desanimada – Eu só fico pensando que eu devia ter me esforçado pra ser representante há muito tempo. Se eu tivesse feito tudo isso há uns três anos, tenho certeza que ia conseguir tudo o que eu quero.

— Filha, a gente não consegue tudo o que quer. - falou em tom de alerta.

— Tá, mãe, eu sei. - odeio quando ela me faz parecer exagerada – Mas eu queria ter tido uns três anos pra pelo menos tentar…

— Você já num tá tentando?

— To!

— E então?

— Ai mãe, você me entendeu! É que eu… É que… Tsc, ai! – larguei os talheres em cima do prato, fazendo mais barulho do que o necessário.

— Virgínia. - ela disse seca. Sei que quando ela fala meu nome assim, é porque ela vai me dar um sermão – Você toma cuidado com esse seu exagero com autocobrança. A Jaqueline já falou pra você pegar leve.

— Eu to pegando leve!

— Não é o que parece.

— Mas eu to.

— Será mesmo?

— Eu já falei que eu desisti do Lucca, não falei?

— Não sei até que ponto isso é diminuir autocobrança.

— Relaxa, dona Leda.

— Não me chame assim. - ela disse magoada.

— Desculpa.

Só não fico muito grilada com os nossos momentos de tensão, porque sempre uma de nós duas fazemos o esforço pra logo fazermos as pazes. Dessa vez foi ela quem puxou o gancho.

— Amanhã não vem pra casa, tá? Que você tem médico e eu vou te buscar na escola.

— Tudo bem. - viu? Vai ficar tudo bem.


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