Dolores escrita por Marília Bordonaba


Capítulo 16
Virgínia




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— Pode levar isso pra Bete, Virgínia? – a professora perguntou acenando uma folha enquanto eu terminava de copiar o conteúdo que estava na lousa.

— Posso sim. - prontifiquei-me imediatamente e fui andando até a sala da coordenadora.

Sem dúvida essa é a parte mais chata de ser representante de turma: a de ser um burro de carga. Mas cumprir bem com esse papel é só um pré-requisito pra poder solicitar minhas pautas.

Já consegui montar os grupos de estudo, que veio super a calhar pra que eu melhorasse minhas notas. A ideia é que se a galera que frequenta esses grupos tiver uma melhora significativa, tipo fazendo os deveres de casa e participando mais das aulas, teriam até – e ênfase nesse “até” – dois pontos acrescidos na nota da prova.

Claro que pra fazer isso acontecer eu tive que, primeiro, provar que eu tinha o apoio dos alunos e conseguir assinaturas de pessoas que se comprometeriam a comparecer a esses grupos; depois, tive que conseguir o apoio dos professores, que se dispusessem a dar pontos “de graça” na prova – foi uma trabalheira explicar que não seriam pontos de graça, que na verdade só receberia pontos quem frequentasse os grupos e que melhorasse em seu desempenho; muitos professores disseram que se eles estavam estudando mais, não precisavam de pontos extras e aí eu tive que demonstrar, por A mais B, que os alunos não funcionavam assim e se não rolasse isso dos pontos a mais, ninguém iria a esses grupos.

Foi uma saga até que a ideia dos grupos de estudo, que no fim das contas virou um esquema de monitoria, saísse do campo das ideias. Foi realmente gratificante ver que tava ajudando de verdade a galera. Mas como a vida não é feita somente de vitórias, eu tenho que aguentar um povinho cri cri que odiou a ideia e tá revoltadinho. Querem receber os pontos a mais na prova, mas não querem frequentar os grupos de estudo. É mole? E como não poderia ser diferente, quem encabeça esse grupinho insuportável é a Dolores.

Eu já to ficando por aqui com essa garota. O que essa menina quer, pelo amor de Deus? Num vai crescer nunca? Me supera, cão! Já que ela tem o Lucca pra distrair a mente, por que não me deixa em paz de uma vez por todas e não me deixa trabalhar?

— Ei, você! – gritei pra uma menina que tava sentada na escada que dava para os banheiros – Tá fazendo o que aí?

— Eu to esperando a minha mãe me buscar. Eu to passando mal. - disse com a voz fraca.

— Sei… - falei desconfiada; eu conheço a Sara, ela é mestre em se fazer de coitadinha – Cadê a autorização pra sair mais cedo? – disse irredutível.

Esses alunos… Ser representante me fez aprender que se você não tiver pulso firme, te passam pra trás rapidinho.

— Eu já guardei na mochila.

— Pega aí pra eu ver.

— Ai Virgínia! – ela reclamou nervosa, como que se eu tivesse errada – Minha mãe já tá chegando. Eu to quase vomitando aqui, fala sério. - e abaixou a cabeça.

— Não quero saber. Cadê a autorização?! – falei ainda mais firme.

— O que tá acontecendo aqui? – um inspetor apareceu.

— Essa aluna tá fora de sala de aula, disse que tá esperando a mãe, mas não quer mostrar a autorização pra sair mais cedo.

— Ela já mostrou pra mim, Virgínia. - o Danilo é o inspetor mais bacana da escola, mas é inegável que ele tem andado meio impaciente nesses últimos dias – Deixa a menina descansar.

— Não falei? – a Sara disse toda cheia de razão.

— Ah… - recuei – Então tá certo. Melhoras. - e saí o mais rápido que pude até a sala da coordenadora.


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