A Porta dos Tempos escrita por Magnolya, Rizzo, Maegyr


Capítulo 6
Magnolya




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Depois de limparem a carcaça de Ethon as caçadoras organizaram as barracas e agruparam o acampamento em outro canto do Carl Schurz Park, uma vez que o tempo havia feito as pessoas se reanimarem a voltar lá. Em um dos cantos do bosque, Magnolya observava o Catbird Playground, e tentava esconder o sorriso soturno em baixo do cachecol. Sentiu a ventania fria das árvores bagunçarem-lhe o cabelo e retornou à consciência quando ouviu Lâmpada uivar.

Seguiu os mesmos passos de antes, tentada a voltar ao playground e relembrar a infância. Franziu o cenho ao convencer-se de que era bobagem e alcançou o apito preso ao pescoço logo depois de desenrolar o cachecol de lá. Soprou-o duas vezes até que finalmente alcançou a atenção da loba, que retrucou em mais um uivo e revelou sua posição. Em meio aos pinheiros, o animal farejava uma fonte e pisoteava outras pegadas parecidas com as suas, porém maiores.

— O que foi, garota? - Magnolya arrastou o joelho à terra e voltou a enrolar a seda no pescoço. - Você não está com medo disso, está?

Foi respondida com uma arranhada na perna, e então chacoalhou os dedos na cabeça de Lâmpada, bagunçando-a os pelos albinos.

— Vamos, as meninas já devem ter voltado.

A tenente aproveitou o tempo de trilha com a loba para desabafar, já que não tinha muito tempo para isso. Contou a Lâmpada como fazia para ganhar das outras crianças na corrida quando era mais nova. Lâmpada sabia mais da Caçadora do que a própria Ártemis, e isso a fazia sentir cada vez mais orgulhosa. A loba choramingava e ganhava elogios; choramingava de novo e era chamada de mimada.

Seguiram assim até Magnolya pisotear terra molhada. Com as chuvas, era difícil identificar a validade da lama, e foi pega num assunto que não era tão experiente. Lâmpada recuou e rosnou, como se dissesse à dona “Não está com medo disso, está?”. Frustrada, a tenente focou os olhos na trilha à frente e seguiram a caminhar novamente, com os pensamentos distantes, mas agora mantinha o foco na lama, até notar a nascente de um rio próximo à clareira. Como se fosse possível, Lâmpada suspirou em reconforto junto à tenente, mas tiveram o momento de alívio interrompido.

Lacey abanava as mãos como louca e saltava do outro lado do córrego, quase escondida entre as árvores:

— Rápido! - gritou.

Magnolya colocou-se de pé e chamou por Lâmpada, que a seguiu sem hesitar. Ambas saltaram o rio e prontificaram o equilíbrio ao manterem-se em pé. Entreolharam-se em aprovação e tentaram alcançar a companheira o mais rápido possível.

— Julieta não está bem.

— Como isso aconteceu? - retrucou Magnolya, tomando a frente de Lacey.

— Nós não sabemos, parece até que foi petrificada!

Ela teria rido se não estivesse nervosa.

Revirou os olhos ao ver o tumulto de caçadoras na barraca de enfermagem e abriu caminho entre elas. No centro do alvoroço estava a pequena Julieta, abraçada a um balde como se estivesse dormindo com ele a dias. Lâmpada tomou seu lugar ao lado da caçadora ao passo que Magnolya se aproximava.

Como um foguete, ao notar a aproximação da tenente, Julieta colocou o balde ao lado do corpo e se levantou, postando os dedos à testa em continência.

— Não. Eu estou bem e me apresento novamente à caçada. O que aconteceu foi um grande mal entendido, e peço desculpas por enganar a senhora.

Magnolya arqueou uma das sobrancelhas, duvidosa, e focou o rosto nervoso de Julieta.

— Ahm… certo. - voltou os olhos tempestuosos às outras caçadoras e, hesitante, estufou o peito como sempre fazia antes de ordenar. - Voltem ao trabalho, garotas. Teremos muito trabalho pela frente e quero todas vocês prontas. Fui clara?

Todas as caçadoras responderam em uníssono e deram as costas. Algumas sussurravam e olhavam para Julieta discretamente por cima dos ombros. A curandeira se apressou e foi logo saindo atrás das outras caçadoras. Teria tido sucesso se Lâmpada não barrasse sua passagem.

— Julieta? Você tem certeza disso? - Magnolya manteve a postura e ribombou as cordas vocais na mais precisa intimidação.

— Sim, tenente, eu estou bem. Como disse, foi um grande… - Lâmpada voltou ao posto de antes e liberou a passagem de Julieta. - um grande mal entendido.

Ainda em dúvida, Magnolya forçou a mente a acreditar na companheira e procurou não pensar a respeito, tampouco no motivo. Num suspiro mudo, Julieta se virou para sair com o semblante aliviado como se tivesse escapado de um monstro, porém ao mesmo tempo com os olhos perdidos, levianamente preocupada.

 

 

A noite chegou e todas as garotas retornaram ao acampamento. Aos poucos, se alojaram nas barracas e se prepararam para dormir. Com todos os grupos cheios, Magnolya não tinha de se preocupar, se não fosse pela contagem. Quando Lâmpada passou pelas barracas para conferir a quantidade de caçadoras não alcançou, por pouco, o número exato. De doze garotas, uma estava faltando: Julieta.

Magnolya recontou com Lâmpada todas as barracas, e se aventurou aos arredores da clareira em busca da desaparecida. Nada.

Buscou por Kassie e consagrou-a ao comando.

— Lâmpada, nós vamos juntas, certo? Sem se distrair. - com mais duas das caçadoras ao seu lado, Lâmpada assentiu num choro curto e voltou os olhos dourados à lua.

Carly e Mirana - as outras duas patrulheiras - esperaram o comando de Magnolya e então se puseram a postos. Carly ajeitou a espada na mão e forçou o escudo com a outra, ao passo que Mirana estabilizava as adagas no cinto de ferramentas. As três seguiram logo atrás de Lâmpada, no modo clássico de rastreamento: a loba farejava o cheiro já notório de Julieta enquanto as outras caçadoras lhe cobriam por trás. Mirana se esgueirava pelas árvores, armada com duas adagas, e Carly seguia à frente de Magnolya, que já havia armado o arco prateado.

— Só avancem ao meu comando, meninas. Lâmpada, você…

A loba rosnou e uivou ao bosque escuro. Parecia ter notado alguma coisa.

— O que você está vendo? - Magnolya estendeu o braço livre para as duas caçadoras que se acomodaram ao seu lado, focando o mesmo alvo de Lâmpada: a escuridão.

Num sibilo esquisito, a mata pareceu chamar a atenção da loba, que caminhava de pouco em pouco ao encontro da ausência de luz. Alguns pontos espalhados brilharam quando o escudo de Carly refletiu a luz da lua e revelou a localização do suposto inimigo. Quando Magnolya pensou em atirar, uma voz familiar gritou atrás do grupo:

— TENENTE! - Florrie corria, nada sonolenta, na direção da patrulha com um lampião dourado entre os dedos.

Mirana e Carly se prontificaram e avançaram na direção da nova caçadora, que desabou no chão com o susto. Magnolya vacilou com o tiro e Lâmpada rosnou de novo. A ventania tomou o local e os sibilos pararam.

— Tenente, é a Julieta! Ela apareceu! - levantando-se, mirou o lampião para trás e voltou a correr, agora acompanhada de Lâmpada, Mirana e Carly.

Magnolya olhou novamente ao escuro e foi tomada por um calafrio medonho. Por fim notando o comunicado, a tenente passou a correr de volta à clareira, deixando o frio daquela região do bosque para trás. Se deu por vencida quando escutou os murmúrios das caçadoras e um choro estridente. Todas as garotas cercavam Julieta, que era acalentada por Kassie.

A lua estava coberta pelas nuvens negras de Nova York e a única luz presente era a da fogueira.

Quando se aproximou mais, notou o corpo de Julieta seminu no centro do amontoado de garotas. A maioria das caçadoras chorava junto de Julieta, mesmo sem saber o por que, ao passo que mais e mais curandeiras apareciam com baldes d’água e malas de curativos.

Tomada pelo susto, Magnolya abriu mais espaço para si e se ajoelhou próxima de Julieta:

— Ei, calma, o que houve? - tomou-a no colo e tentou acalmá-la ao afagar as madeixas ruivas.

— M-Me desculpe, p-por favor… - Julieta tentou se livrar dos braços da tenente, sem sucesso. Chorou ainda mais, parecendo lembrar de alguma coisa.

— Olhe para mim! O que aconteceu com você?!

— P-Peça a Ártemis que m-me perdoa, por f-favor!


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