- Isso é o que a polícia diz – a velha enxugou os olhos e assuou o nariz – Mas ninguém sabe o que aconteceu naquela noite, por que Anabel saiu correndo da casa. O que foi aquele barulho, alguns arriscam dizer que Joseph morreu de velhice e Stanislaw está na Irlanda, mas Rachel e Anabel ninguém tem idéia de onde elas estão. Até hoje. Por isso que nós que moramos aqui não gostamos de falar neles, temos medo, foi como um pesadelo para nós. Agora, contei tudo o que sei, não quero mais falar disso.

Alessandra estava organizando as fotografias familiares na estante, limpava, observava e ria pelos belos momentos que passou. Levou um susto pelo toque do telefone, largou o pano no sofá e atendeu.

Aos poucos o sorriso da jovem mulher foi se desfazendo como açúcar na água, uma lágrima doída desceu lentamente pelo seu belo rosto até se dissipar na boca, sentiu amargamente o sal da lágrima, como que se aquilo fosse veneno. Colocou o telefone no gancho, e apertou os olhos e mais lágrimas desceu violentamente. Sabrina abriu a porta do apartamento toda feliz, passando os dedos nos lábios, como se apreciasse chocolate derretido. Aproximou-se da mãe que estava de costas para ela, e a encarou. Alessandra levantou os olhos para a filha, e disse com um sussurro abafado:

- Vamos para Oxford...

- Agora mamãe?

- Sim...

- Pra quê e por quê?

Alessandra enterrou o rosto nas mãos e passou a soluçar como uma criança que caiu e arranhou o joelho, Sabrina abraçou a mãe desesperada, e perguntou no seu ao seu ouvido o que aconteceu. Quando Alessandra contou a notícia que recebera por telefone há poucos minutos, mãe e filha choraram ali, abraçadas, querendo não acreditar na tragédia que aconteceu.

Miguel e Danielle se divertiram muito nas poucas horas que estavam passando juntos, o líder dos Karas nunca se sentiu tão feliz como naquela tarde, que para ele foi como lindas noites de verão, riram, contaram piadas bobas, leram gibis, ou apenas conversavam se conhecendo cada vez mais, e perceberam que têm muitas coisas em comum entre os dois.

Por fim, Dani adormeceu. Miguel ligou a pequena televisão do quarto, passava os canais, desinteressado, quando já ia mudar de canal, um noticiário de última hora lhe chamou a atenção, o repórter falava ofegantemente, e atrás dele se via a imagem de viaturas, uma enorme casa, e dois médicos carregando uma maca. O garoto aumentou o volume, e fez o máximo de esforço para entender o que o repórter noticiava com exclusividade:

- The policy arrived few hours later that the couple of Irishans Brianna Moor and Murphy Moor had been found died inside of the proper house, in accordance with the neighbors, had heard shouts of the couple before its tragic deaths, but the policy still will interrogate all the neighbors of the small roundness. Is Kevin here direct Lee of Oxford. (A polícia chegou poucas horas depois que o casal de irlandeses Brianna Moor e Murphy Moor foram encontrados mortos dentro da própria casa, de acordo com os vizinhos, ouviram-se gritos do casal antes de suas mortes trágicas, mas a polícia ainda interrogará todos os vizinhos da pequena redondeza. Aqui é Kevin Lee direto de Oxford).

Miguel não tirou os olhos da tela da televisão, acordou quando ouviu o seu celular tocar, era o número de Magrí. O líder dos Karas se encolheu num canto do quarto, e falou aos sussurros:

- Magrí, o que descobriram?

A garota contou resumidamente a história que a velha senhora havia dito para ela, Crânio e Chumbinho há pouco tempo. O rapaz quando terminou de ouvir o que Magrí lhe relatara, contou a notícia que viu na televisão.

- Não acho que esse assassinato tenha alguma coisa a ver com a nossa causa, Miguel.

- Magrí, coisas estranhas aconteceram e estão acontecendo, veja: Dani perseguida e quase morta por um motorista, na noite passada, eu Calú e Peggy fomos seguidos pelo mesmo motorista e quase que ele ou ela nos pega...

- Vocês foram seguidos?!

- Sim, mas escapamos por um fio, agora esse assassinato de casais irlandeses que morreram gritando...Gritando...

Miguel arregalou os olhos com a ligação que fez, Noite dos Gritos, assassinato aos gritos... Tinha alguma coisa em comum...

- Miguel você está me ouvindo?

- Desculpe Magrí, eu tava pensando, você falou da Noite dos Gritos não é? Pois bem, o casal foi assassinado aos gritos, em Oxford, e pelo o que sei, Oxford fica muito perto de Wiltshire!

- Morreram aos gritos?!

- Foi mal, Magrí, tenho que desligar, a Dani acordou.

Miguel escondeu o celular o mais depressa que pôde, mas Danielle percebeu que ele estava conversando com alguém.

- Miguel, que noticiário que você viu na televisão?

O rapaz ligou o aparelho, que mostrou mais dois médicos carregando mais uma maca e o mesmo repórter noticiando que era o corpo de Brianna Moor, e que o corpo de Murphy Moor já foi levado para análise.

- Brianna e Murphy Moor?! São os avós de uma ex - amiga da escola.

- Que amiga?

- Sabrina Moor, são os avós dela, eu fui à casa deles há uma semana, pois ela havia me convidado...

- Ex - amiga?

- Ah ela uma metida à enjoada, brigamos e depois nunca mais nos falamos...

Dani passou a procurar os canais que noticiasse a morte do casal, enquanto Miguel foi para o corredor meio vazio do hospital, ligar para Magrí.

- Magrí? Graça a Deus consegui ligar para você, o sinal de celular aí é horrível, você nem imagina o que Dani me contou...

E Miguel muito ofegante contou quem era o casal de irlandeses assassinados.

- Magrí você está bem?

A garota parecia soluçar, estava chorando, e só piorou quando escutou o nome de Sabrina, e por fim contou que a conhecia muito bem.

- Foi ela que me fez brigar com... Com o Crânio... Crânio, ai meu Deus!!

- Magrí, o que está acontecendo?!

A garota não conseguia falar, sua voz parecia estar presa na garganta, suspirou e falou sussurrando: