O Enigma do Faraó Parte Ii escrita por Lieh


Capítulo 10
X - O Conto de Dolores Bouth


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo- chave da fic =D



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/70484/chapter/10

Eram já por volta de meio-dia. Na entrada do enorme colégio, saía-se uma aglomeração de alunos e alunas. O uniforme das meninas consistia em um blazer azul – marinho com um distintivo símbolo do colégio, uma saia rodada azul, sapatilhas e meias brancas até os joelhos, uma boina azul, e mais uma capa que cobria todo o uniforme, também azul, pois estava muito frio. Os dos meninos era uma calça azul, sapatos sociais e o blazer, azul.

Calú era o único rapaz sem estar usando o uniforme, estava encostado em um poste esperando Peggy sair. Sentia-se incomodado pelos sussurros e risadinhas de um grupo de garotas que olhava de relance para ele. Mas, já estava acostumado.

Logo avistou Peggy vindo em sua direção, toda sorridente, quase derrubando sua mochila. Era a primeira vez que os dois estavam sozinhos, e iriam aproveitar um tempinho juntos, pois Calú havia chegado há dois dias e nem se quer conseguiu passar umas horinhas com Peggy, mesmo tendo a companhia de dois grandalhões, seguranças da garota.

- Oh querido, não sabia que viria me buscar...

Os dois abraçaram-se e deram um rápido beijo, para a raiva de algumas garotas, que olhavam invejosas para os dois. Quando estavam saindo, Peggy, que já aprendera o inglês britânico ouviu um comentário maldoso:

- Além de filha do Presidente dos Estados Unidos, namora um garoto lindo como esse... Por isso que é metida e mimada!

Ouviram-se risos, até dos meninos ingleses que não foram com a cara de Calú, pois achavam Peggy bonita.

A garota abaixou a cabeça e começou a contemplar sua saia. Sentaram-se num banco da praça do palácio Real, com dois seguranças bem próximos deles.

- Peggy, o que foi?

- Nada não...

È claro que era por causa dos comentários invejosos que ouviu, mas não queria falar disso, queria aproveitar ao máximo ao lado do garoto que mais amava no mundo.

Conversaram sobre o teatro de Calú, sobre uma melhora do português de Peggy, pois mesmo ter feito algumas aulas, ela ainda falava enrolado. A menina lembrou-se de Magrí, de repente, de como a amiga estava sofrendo por causa de Sabrina, que também era sua amiga.

- Nossa Peggy, eu não sabia que eles tinham brigado...

- Brigaram feio, tanto que Magrí até saiu da casa da tia dele e foi para o hotel onde vocês estão.

Passaram horas juntos, ambos falando do fim do romance entre Crânio e Magrí. Quando estavam perto do portão do edifício de Peggy, a garota gelou: Sabrina estava vindo em sua direção, azulada como ela da cabeça aos pés por causa do uniforme, com aquele sorriso de quem conquistou uma medalha de ouro, que Peggy passou a odiar.

Sabrina arregalou as pupilas de seus olhos negros: Era mais um rapaz da foto que Peggy lhe mostrara. Lindo.

Fizeram-se as apresentações, a contragosto de Peggy, e Sabrina subiu para o seu apartamento, espiando pelos ombros, Calú.

- Foi essa víbora que está fazendo a Magrí sofrer... Não acredito que eu fui amiga dela...

Subiram para o luxuoso apartamento da filha do presidente dos Estados Unidos. Depois de uma longa e carinhosa despedida, pois estarem sendo vigiados por seguranças deixava os dois muito incomodados, Calú saiu.

O ator dos Karas ainda estava com seus pensamentos em Peggy, quando estava para entrar no elevador, sentiu a mão de alguém tocando a sua no botão do de comando.

- Peggy...

Depois a mesma mão tocou-lhe a nuca, puxando-lhe para um beijo que jamais sentira antes...

Ouviam-se o clique da porta do apartamento de Peggy, e soluços de quem estava chorando.

 

Miguel estava parado na porta do quarto de Danielle, seu coração estava para saltar pela boca de tanta ansiedade. O garoto conseguiu a autorização dos pais da menina, porque era amigo de Crânio. Mas sentiu que a mãe da menina sabia dos verdadeiros sentimentos dele por Dani. Além do mais, Miguel já era conhecido pela família do gênio dos Karas.

Entrou no quarto iluminado pelos fracos raios solares de início de tarde, olhava para a poltrona, uma mesinha no fundo do quarto, as enormes janelas...

- Miguel?

Com o olhar trêmulo, o garoto olhou para a moça sentada na cama, onde da penumbra branca de suas vestes e do quarto, se destacava seus longos cabelos ruivos que se misturavam com os raios de sol, dando a impressão de estarem pegando fogo. O olhar de Danielle era fixo em Miguel. O que ele estava fazendo ali? Onde estava Crânio? Ela esperava que a primeira pessoa que entrasse em seu quarto fosse seu irmão, ou seu pai ou sua mãe... Mas Miguel?

- Olá...

O “olá” sussurrado de Miguel fez a menina desconfiar de que alguma coisa estava acontecendo. Ele sentou-se na poltrona ao lado da cama de Dani, que logo perguntou:

- Onde está o meu irmão?

Miguel sentiu o estômago afundar: tinha que mentir para ela, pois se contasse que estavam atrás de Vincent e da suposta família dele, e que na noite passada ele, Calú e Peggy foram perseguidos pelo mesmo motorista que tentou matá-la, e escaparam por um fio, Dani iria ficar muito preocupada e o menino queria evitar isso, pois ela ainda estava em recuperação.

- Ele foi fazer uma visita ao monumento de Stonehenge, junto com Magrí.

- E então, por que você também veio?

Miguel sentiu que, ou ele inventava uma bela desculpa por estar na Inglaterra, como fez com os pais dela dizendo que veio para passar o carnaval brasileiro sendo que o carnaval europeu era no meio do ano, ou ele falava a verdade que veio por causa do atropelamento dela... Mas, o que Dani iria achar disso? Era uma situação embaraçosa. Para a sua salvação, a enfermeira entrou segurando bandeja com o almoço da menina.

Dani olhava sem vontade para a comida, mas Miguel dizia que se ela quisesse sair logo daquela cama, ela teria que comer.

- Mas eu não quero!

Miguel olhava divertido para a menina, como que se olhasse para uma criança. Pegou a colher da bandeja, encheu com uma poção de comida, e disse com o olhar desafiador:

- Ou você come por conta própria, ou eu vou ter que dar na sua boca, como uma bebezinha. E isso que você quer?

A garota não sabia se ria ou ficava brava, tomou a colher do garoto, e passou a comer, aos risos de Miguel.

Aquela casinha era a mais confortável e aconchegante que se via: tinha uma janela onde se via as belas plantas bem cuidadas, uma mesinha com quatro cadeiras de madeira e logo atrás um fogãozinho com uma chaleira soltando fumaça, uma lareira com um fogo crepitante, e dois pequenos sofás virados para um corredor estreito.

Magrí, Crânio e Chumbinho adentraram a casinha de boneca olhando curiosos, seguidos por uma velha senhora de saia longa, chinelos com meias, um xale verde cobrindo-lhe, cabelos brancos prendidos no alto da cabeça.

- Entrem queridos, não tenham medo. Sente-se, querem um chá?

Os três acenaram que sim, e a velha senhora apagou o fogo da chaleira e passou a preparar o chá.

- Desculpem ter assustado vocês daquele jeito, mas quando eu vi luz na mansão eu pensei que fossem ladrões...

- Tudo bem senhora Bouth... – disse Chumbinho tirando as luvas de lã, pois não sentia mais frio.

A velha senhora serviu o chá em xícaras de porcelana, e sentou-se encarando os três Karas.

- Então, o que faziam perambulando pela mansão?

Crânio, Chumbinho e Magrí trocaram olhares apreensivos. Deveriam contar a verdade?

- Bom... Nós... È... Estávamos procurando alguma coisa sobre a família Shumpike Maximilliam.

A voz de Magrí estava rouca e falava como se soletrasse as sílabas. Dona Dolores Bouth quase se engasgou quando escutou o nome da família. Há anos ninguém perguntava por eles.

- Shumpike Maximilliam?! O que querem com eles?

- Na verdade... È uma longa história.

Então os três Karas contaram sobre o que acontecera há dois meses, o assassinato dos jovens estudantes, a lenda do faraó, e Vincent. A cada relance dos fatos que eles contavam, dona Bouth fazia careta, levava à mão a boca ou arregalava os olhos.

- Que história horrível meninos...

- Então... A senhora conheceu a família Shumpike? – perguntou Chumbinho ansioso.

Senhora Bouth arregalou ainda mais os olhos, virando-os para todos os lados, nem ousava olhar para qualquer um dos três. Por fim, falou com voz trêmula:

- Não... Eu não os conheci... Moro aqui há pouco tempo...

 Os três Karas sabiam que ela estava mentindo, pois faltava segurança na sua voz, e estava muito nervosa.

- Senhora Bouth não precisa esconder de nós, sabemos que está mentindo. A senhora os conheceu não é? – Crânio sabia que com seu poder de persuasão iria convencê-la a contar o que sabe, Dolores Bouth levantou-se e encarou os meninos com o olhar cheio de pânico.

- Ninguém nunca menciona sobre a família aqui, em Wiltshire, todos têm medo de falar sobre eles... Principalmente depois do que aconteceu...

- O que aconteceu, Senhora Bouth?

Dolores Bouth encarou Magrí muito séria, sentou-se, abaixou os olhos, e depois de alguns segundos, ela falou quase sussurrando:

- Uma história terrível e triste... Vou contar a vocês, mas terão que me prometer que o assunto morre aqui, entenderam?

- Entendemos...

 Era óbvio que eles iriam contar para os outros Karas.

A velha senhora encheu a xícara de chá quente, e voltou a sentar-se olhando para Crânio, Magrí e Chumbinho como se fossem seus netos prontos para contar um conto de fadas.

- Há muito tempo, a família Shumpike Maximilliam sempre foi considerada a mais importante de condado, e muito querida pela família Real. Todos os respeitavam, eles praticamente eram a família tradicional mais poderosa de toda Wiltshire. Apesar de sempre em público demonstrarem simpatia e educação, algumas pessoas dizem que sentiam quando olhavam para eles um pouco de frieza, principalmente em Stanislaw, o filho mais velho da família.

Stanislaw sempre foi a ovelha negra da família, rumores dizem que ele era muito perturbado e esquisito, outros dizem que ele era doente, mas eu não acredito, para mim ele era agressivo e arrogante por causa de seu pai, Joseph, que preferia mil vezes a filha caçula, Anabel. Apesar da mãe, Rachel tentar manter a paz entre os dois, em uma tarde, daqui da minha humilde casa, ouvi uma briga feia entre Stanislaw e Joseph.

 

- Já lhe disse mil vezes que você não vai para Londres!

- Mas papai, eu já sou quase um homem, não posso ficar preso nesta casa, neste lugarzinho sem graça para o resto da minha vida! Eu quero morar em Londres!

A voz de Stanislaw já estava alta o suficiente para a sua mãe ouvir de lá de baixo, há tempos tentavam convencer o pai a dar a sua parte da herança para ir morar em Londres e estudar por lá. Mas, Joseph achava o rapaz muito jovem para ir morar sozinho em uma cidade tão grande como Londres.

- Quando você completar mais anos, vamos pensar nesta possibilidade de você morar em Londres, mas por enquanto, não.

- JÁ ESTOU CANSADO DE VOCÊ E MAMÃE ME TRATAREM COMO UMA CRIANÇA!! EU NÃO SOU MAIS CRIANÇA, JÁ SOU QUASE UM ADULTO, EU CRESCI PAPAI, SE VOCÊ NÃO PERCEBEU AINDA!

Stanislaw estava bufando de raiva, Joseph estava recuando com a cara carrancuda. A porta do escritório de Joseph se abriu, e Rachel entrou para acalmar a situação.

- Filho, acalme-se, deixa que eu e seu pai conversarmos sobre isso, está bem?

Rachel segurava o ombro do filho dando-lhe palmadinhas como se ninasse um bebê, coisa que Stanislaw detestava.

- Eu quero ir para Londres mãe, e nem você e nem esse velhaco vai me impedir de ir!

Joseph ficou furioso, apertando os olhos miúdos e avançava para o filho, com a mão levantada pronto para esbofeteá-lo. Por uma fração de segundo, Rachel entrou no meio dos dois, tentando proteger o filho.

- Saia da frente Rachel, vou ensinar esse mal educado a respeitar o seu pai!

- Joseph, pare por Deus, o deixe!

Stanislaw saiu pisando duro, nunca tinha sentido tanta raiva do pai como naquele dia, e prometeu a si mesmo que seu pai iria pagar por tudo o que fez para ele.

 

- Depois daquele dia, as coisas entre Joseph e Stanislaw só pioraram, era briga quase todos os dias sobre a viagem do rapaz a Londres, ou qualquer assunto bobo, que dava uma briga feia entre os dois.

Dias depois, eu vi Rachel fazendo compras no supermercado junto com sua empregada, vi que o olhar da pobre mãe estava triste e amargurado por causa das brigas do filho com seu marido. Anabel eu vi algumas vezes, tinha a cara de sono, pois normalmente as brigas eram depois do jantar, e atrapalhava o sono da pobre garota.

Stanislaw começou a pensar que, se ele fizesse um grande agrado ao seu pai, ou sua família, provavelmente conseguiria tudo o que quisesse. E um belo dia, revirando as gavetas do escritório de seu pai, procurando dinheiro, encontrou o Testamento de seu tataravô, Franco Willians Shumpike Maximilliam. Só quem é da família sabe o que continha naquele Testamento, que passava de geração para geração, a mais de um século. Só sei que depois que Stanislaw encontrou o Testamento de seu tataravô, Rachel desapareceu.

- Como assim ela desapareceu? – perguntou Magrí.

- Não sei explicar, querida, só sei que dias depois que Stanislaw encontrou o testamento, sua mãe nunca mais foi vista. Quando perguntavam a Joseph onde ela estava, ele ficava nervoso, e dizia que ela estava doente de cama, e não podia sair. Eu só vi uma vez um médico entrar na casa, depois se passou semanas e o médico não voltou.

Com Rachel doente, não havia ninguém para acalmar as brigas de Joseph e seu filho, Anabel bem que tentava, mas seu pai a expulsava a mandando dar uma volta, ou fazer qualquer outra coisa, mas que ficasse longe dos dois enquanto estivessem brigando. E em uma noite chuvosa, aconteceu o que todos temíamos. A noite que nós que estivemos aqui, chamamos de A Noite dos Gritos, pois aqueles gritos de desespero que ouvimos da casa ficaram para sempre guardados na nossa memória. Foi a pior noite de nossas vidas e nunca esqueceremos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Enigma do Faraó Parte Ii" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.