Um Novo Aluno escrita por Cat Lumpy


Capítulo 2
Cap. 02 Pé de Valsa


Notas iniciais do capítulo

Mais um pouco do primeiro dia de Finn



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— Então, classe, gostaria de apresentar nosso mais novo aluno, Finn Mertens. — o professor Menta, um doce pequeno e redondo, apresentou o loiro aos colegas.

Finn passou os olhos por seus colegas e pela sala de aula peculiar. Era um grande salão de piso de madeira e com paredes cobertas por espelhos do chão ao teto alto. Todos estavam de pé, de frente ao professor, com exceção do humano que estava ao lado do mesmo.

Entre os rostos curiosos e desconhecidos, Finn reconheceu os olhos doces e reconfortantes de Jujuba, depois os castanhos intensos de Marceline, que o olhava jocosamente, o provocando um sorriso de lado. E então ele encontrou o negrume dos olhos de Marshall, enigmáticos, e ele sentiu o pulso acelerar.

Hem hem. — o professor pigarreou, chamando a atenção de Finn.

Ele compreendeu que se esquecera de fazer a reverência ao ser apresentado e a executou, desajeitadamente, sentindo o rosto esquentar quando alguns alunos riram baixinho. Ele ergueu a cabeça e viu seus colegas imitando seu gesto ao murmurarem um “bem vindo”.

— Muito bem turma, — Menta começou quando Finn foi se juntar aos colegas, postando-se ao lado de Marshall — hoje daremos início a dança de salão.

Finn arregalou os olhos ao ouvir o professor.

— Dança de salão? — ele perguntou em um sussurro para Marshall.

— É, acho que você ainda não tem o horário de aula, não é?

— Ah. — o loiro soltou o som tentando parecer surpreso, mas dando a clara impressão de quem acaba de se lembrar de algo.

Algo muito desagradável aliás, pois seu rosto se contorceu em uma careta e seus olhos desviaram do vampiro e pousaram em alguém além dele.

Marshall viu a pessoa ao seu lado e sentiu um líquido quente subir por sua coluna. Lumpy, a Princesa do Reino do Caroço, uma garota baixa e cheinha de longos cabelos roxos e personalidade nem um pouco agradável, estava parada perto dele, conversando aos cochichos com Chiclete, um primo de Jujuba que tinha o nariz tão empinado que quase batia na testa.

— Quero que façam pares agora. — o professor ordenou.

— Marceline! — Marshall chamou a irmã.

A Abadeer chegou junto do vampiro, o olhar curioso. Marshall indicou Chiclete com a cabeça e sussurrou para que só ela ouvisse:

— Faz muito tempo que você não se dana.

Finn ficou um pouco apreensivo ao ver o sorriso que os irmãos trocaram, igualmente travessos.

— O que ela...? — o loiro ia perguntar, mas Marshall o cortou.

— Espere e verá.

Antes que Finn pudesse tornar a perguntar, o moreno pôs uma mão em sua cintura e agarrou uma das mãos do humano. O rosto do loiro ficou vermelho.

— O-o que pensa que está fazendo?!

— A sala tem mais garotos que garotas. — Marshall explicou, os olhos brilhantes mirando os de Finn e um sorrisinho mal criado moldando os lábios.

Finn sentiu-se desconfortável, suas tripas se revirando. Por que o vampiro o olhava daquele jeito tão estranho? Será que eram assim que os amigos interagiam naquela parte de Ooo?

Ele desviou o olhar do moreno, desconcertado e viu a outra Abadeer afastando a garota de cabelos roxos de Chiclete e o agarrando. Ele não pareceu satisfeito, mas não teve escolha quando Marceline mostrou as presas ameaçadoramente para a gordinha, que fugiu para o outro lado da sala atrás de outro par.

— Isso... — o loiro voltou a cabeça para Marshall.

— Eu saquei assim que olhou para ele. É o monitor da nossa sala, aposto que foi um idiota com você.

— Como deduziu isso assim, eu só o encarei por um tempo.

— Não foi preciso deduzir, ele é um babaca com todo mundo que não tem “sangue azul”, o nojento, se acha só porque é primo da Jujuba, nem quero imaginar como seria se fosse o sucessor direto ao trono doce. — o vampiro falou lançando um olhar raivoso ao tal de Chiclete.

Então Finn pôde enxergar o verdadeiro vampiro em Marshall, aquele que Jake pintara, mas não estava com medo do moreno. Na verdade, ficou feliz por ele estar irritado com o outro por sua causa.

Não sabia explicar, mas conhecera o vampiro há apenas algumas horas e já o sentia como um amigo de longa data. E captou algo no que Marshall disse que o deixou surpreso.

— Espera, ele é primo da Jujuba?! — perguntou, incrédulo.

Claro que havia uma semelhança na aparência, mas a diferença de personalidade era gritante. Finn não podia nem comparar a recepção de Chiclete a de Jujuba. Ele olhou para Finn com desprezo, como se o garoto fosse uma coisa nojenta presa em seu tênis de marca e disse em um tom pomposo cheio de indignação:

— Não pense que vou andar por aí com você, plebeu. Lamento, mas pessoas como eu, não se misturam com pessoas como você.

Com isso, deu as costas a Finn, o distintivo de monitor em seu moletom refletindo o brilho do sol e cegando o loiro por um breve momento. Foi por isso que o humano acabara na cantina, sem ideia de qual turma era e onde ficava a diretoria para se informar.

E aí ele se lembrou de que ainda não vira toda a estrutura do Colégio Ooo além da cantina e da sala em que estava.

— Ah, será que você poderia me mostrar à escola?

— Não se preocupe, vou te dar meu horário, já sei decorado mesmo, e eu vou chamar as meninas para me ajudarem no tour pelos prédios, não só da escola como de alguns reinos próximos, aposto que ainda não viu muita coisa. — Marshall declarou empolgado.

Finn só teve tempo de agradecer, pois o professor pediu atenção:

— Os garotos guiam os passos e as meninas os acompanham. Agora, observem-me.

O professor Menta dançava com uma parceira imaginária, dando passinhos para frente e para o lado enquanto contava “e um e dois e três”.

— Vamos, comecem. E um e dois e três.

Os alunos começaram a imitar os passos do professor. Exceto alguns, confusos. E Finn e Marshall estavam entre a exceção.

— Quem de nós dois guia? — indagou Finn, baixinho.

— Eu, é claro. — disse Marshall dando um passo e pisando no pé de Finn, que não o acompanhou.

— Ai! — o loiro reclamou — E por que você?!

— Porque sou o mais alto. — o vampiro respondeu balançando a cabeça para tirar a franja negra dos olhos.

— E o que isso tem a ver? — Finn retrucou aborrecido, detestava não ser tão alto quanto outros caras de sua idade.

— Não, não, não! — Menta gritou — Os pares de garotos, digam-me, por que sempre se esquecem do esquema?! Vocês sabem que é para revezar!

Alguns “ah” de entendimento tomou a sala. O professor levou uma mão à testa enquanto resmungava algo ininteligível.

— Certo, vamos recomeçar! E um e dois e três.

— Eu primeiro! — disse Marshall, recebendo um olhar nada amigável de Finn, mas ele acompanhou o moreno dessa vez.

Eram passos simples, porém, Finn acabava esquecendo a sequencia e tendo o pé pisoteado pelo de Marshall. Estava nervoso e só ficava pior a cada erro que cometia.

— Ei, relaxa. — Marshall sussurrou em seu ouvido, o pegando de surpresa — Vamos trocar agora, você guia.

E eles revezaram mais duas vezes, Finn não havia mais errado depois do que Marshall lhe disse. Ainda estava nervoso, mas dessa vez era por causa do moreno, tão próximo dele, que não desgrudava os olhos de Finn.

O loiro suspirou de alívio quando Menta falou para pararem e prestarem atenção nele:

— Ótimo, ótimo! — elogiou a turma, entusiasmado e voltando a pegar sua parceira invisível — Certo, a próxima coisa que devem fazer é executar esses passos enquanto dão rodopios, assim.

Ele recomeçou a contagem, fazendo os mesmos passos que descrevera.

— Vamos, vamos!

Os alunos imitaram o professor, os pares rodando em sincronia em volta da sala sob o som de sua contagem. Finn sentia a respiração de Marshall em sua testa e sabia que se olhasse para cima encontraria o moreno o encarando, e essa certeza fazia seu corpo todo vibrar de uma forma incomum.

Decidido a espantar essa sensação, olhou em volta, observando os colegas rodopiaram pela sala, assim como ele mesmo fazia e notou Jujuba com um ruivo.

— Quem é aquele?

Marshall demorou a responder, procurando a pessoa que Finn indicara com a cabeça.

— É Flame, o Príncipe de Fogo, ele tem uma irmã mais nova, no primeiro ano. — informou com um olhar divertido para o par em questão — Acho que está tendo uma queda pela nossa Princesa doce.

E Finn percebeu que bem podia ser verdade, a forma como o ruivo de olhos verdes olhava para Jujuba deixava claro uma afeição mal disfarçada.

— AU! — um grito de dor tomou conta da sala.

Os pares pararam, e os que estavam mais para o centro da sala começaram a se amontoar ao redor de alguém.

— Saiam da frente! — o professor disse rispidamente, correndo para o aluno que gritara.

— Vamos ver o que ela fez. — Marshall cochichou perto do rosto de Finn, o riso preso em cada sílaba, puxando o mesmo para o local em que todos olhavam.

— O que ela fez?! — Finn sussurrou a pergunta para o moreno, mas não foi preciso que ele respondesse.

Ao se aproximarem, ele viu o professor agachado ao lado de um aluno, o Chiclete. Ele tinha a cara contorcida de dor e soltou um gemido alto quando menta tocou seu tornozelo.

— Parece que você o torceu, acho melhor te levar para a enfermaria.

— Foi Marceline! — Lumpy gritou, surgindo entre os alunos, um dedo em riste para a Abadeer — Eu vi quando ela o empurrou!

Eu! Mas que...! — a vampira levou uma mão ao peito, a boca aberta mostrando indignação — Francamente! Sei que não sou nenhuma pé de valsa, mas não sou tão ruim a ponto de quebrar a perna de alguém!

Chiclete gemeu baixinho, e começou a tremer depois da declaração de Marceline. “Quebrada?” ele balbuciou.

— Você só torceu o tornozelo! — o professor o tranquilizou olhando para o relógio de pulso e dizendo apressado — Faltam só dez minutos para o lanche, acho que não faz mal libera-los. Flame, venha me ajudar a leva-lo para a enfermaria.

Finn, estarrecido pela cena, não conseguiu mover-se um centímetro. Ele viu a vampira se virar de costas para o professor e dar uma piscadela para Marshall.

— Agora ele não vai mais ter coragem de se meter com você, sabe que está com a gente. — o moreno concluiu quando a sala encontrava-se praticamente vazia, só restaram os dois e Marceline e Jujuba.

— Nenhum pé de valsa? — Finn indagou a vampira, erguendo uma sobrancelha.

— Fazer o que? Sou uma ótima atriz.

E os três caíram na gargalhada, contudo Jujuba não pareceu nada feliz. Foi aí que Finn se lembrou do parentesco da garota com Chiclete. Ele deixou o riso morrer em sua garganta, olhando para a Princesa doce, que não parava de fulminar Marceline com os olhos.

— Pode parar Jujuba, ele mereceu. — Marshall censurou a amiga, como se ela estivesse errada.

— Eu sei que ele não é flor que se cheire, mas isso não quer dizer que devam começar a...

— Ah, por favor, Jiloba. — Marceline revirou os olhos enquanto apanhava a bolsa de Finn e a atirava para o garoto, que a segurou agilmente — Bons reflexos.

— Ih. — Marshall assobiou fazendo uma pequena careta, que o loiro só entendeu ao voltar a fitar a Princesa doce.

O rosto de Jujuba estava completamente vermelho, ela mantinha as mãos fechadas em punhos ao lado do corpo e o olhar mais assustador que Finn já vira. A imagem da garota delicada foi desaparecendo da cabeça dele.

— Não. Me. Chame. De. JILOBA! — ela explodiu, virando-se e saindo da sala com passos pesados que estrondavam no piso de madeira.

Finn alternou o olhar entre os irmãos, os dois pareciam espelhar o que ele mesmo sentia, uma mistura de culpa, perplexidade e medo.

— Ela nunca gritou tão alto. — a vampira falou baixinho.


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Notas finais do capítulo

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