Entre dois mundos escrita por Vicky18


Capítulo 68
Tim-tim?




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—Com licença…-Era a primeira vez que Anne pedia permissão para entrar no dormitório de Cebola.Ela parecia estranhamente meiga.Isso deveria ser assustador?

O garoto tentou voltar ao seu personagem de “cobaia confiante”,tentando se comportar da forma mais natural possível ao ver Anne depositando uma linda cesta de café da manhã em sua cama.

—Hoje não é meu aniversário pelo que eu saiba.- Cebola a encarou com certo deboche,mas sempre tentando manter uma certa leveza no seu tom de voz.

—E quem disse que nós precisamos esperar até o seu aniversário para comemorar?- Anne dera um sorriso doce para a cobaia,enquanto pegava o espumante da cesta e se dirigia até o outro lado do comodo para servir a bebida em duas taças.

—Comemorar?O quê?

—A cobaia não sobreviveu a cirurgia.-Cebola achou que iria perder o movimento do seu corpo naquele momento em que ouviu aquilo,era como se todo o sangue que corria pelos seus vasos sanguíneos tivessem parado naquele instante em que seu cérebro processou as palavras que passaram pelos seus tímpanos.

Suas lágrimas subiram a linha d´agua dos seus olhos quase que instantaneamente,e um novelo de lá se formou em sua garganta.O mundo parou de girar e tudo perdeu o sentido,e ele quase perdeu seus sentidos ao ouvir a última coisa que queria ouvir.

Ele torcia que assim como ele,Anne também estivesse blefando,mas visto a sua frieza, era difícil filtrar o que era verdade do que era mentira.

—Sabe,eu andei pensando muito no que você me falou...e realmente,talvez você esteja certo.Tem muitos idiotas aqui dentro que não enxergam meu potencial.- O som do líquido batendo no vidro da taça ecoava na cabeça de Cebola.Ele não sabia como agir,não sabia o que fazer enquanto seu corpo tremia e as lágrimas lutavam para descer dos seus olhos.-Ela realmente não iria chegar muito longe do estado que ela chegou na ala médica.

—Você me disse que ela estava viva.- Cebola estava tentando se manter “frio” a situação,mas estava lutando com todas as suas forças para se segurar no personagem que se arrependeu de ter criado.

—Eu disse?-Ela respondeu ironicamente,ainda de costas para Cebola.-Eu falaria qualquer coisa para ver sua carinha de decepção...Mas depois eu pensei melhor e te contar a verdade seria justo.Pelo menos você não gastaria tempo tentando competir com um defunto,não é mesmo?

—É,é sim.-Cebola abriu um sorriso forçado e as lágrimas escorreram do seu rosto no mesmo instante.

—Oh!Eu não posso acreditar que está chorando…-Anne se divertia ao ver o sofrimento do garoto,que estava aos prantos sem expressar nenhuma palavra além de soluços contidos.-...Temos tanto pra comemorar agora.-Ela se dirigiu a ele com as duas taças em mãos.- Vamos,um gole vai fazer você se sentir melhor.

Cebola não conseguiu se manter no personagem,sua tristeza e raiva se misturavam dentro do peito.Era uma dor inexplicável,ele não queria acreditar que Magali não estava viva,não queria acreditar que o fim seria daquele jeito.

Ele estava tão imerso em lágrimas que nem sequer se importou quando sentiu que Anne sentou em seu colo.Era equivalente a nada.Aquele afago em seus cabelos,aquelas pontas gélidas dos seus dedos que tocavam a superfície da sua pele para limpar as lágrimas.Não havia verdade naqueles toques e nem um pouco de empatia.Ela não se importava com absolutamente nada e não conseguia sentir o que era dor,talvez ela nem soubesse o que era.

Para Anne,vê-lo se debulhar em lágrimas e soluçar como um bebe era a melhor sensação que ela poderia ter.Era gratificante e estimulante.

As lágrimas eram tantas que Anne teve que colocar as taças ao lado para poder terminar de secar os prantos daquele pobre rapaz.

—...Cebola,sacrificios doem,mas são necessários.-Anne acariciou o rosto do rapaz antes que ele pegasse a primeira taça que sentiu na ponta dos dedos.- Isso,querido...Um gole desse Champanhe vai te deixar mais calmo,hum?

Cebola nem conseguiu encará-la,seus olhos estavam pesados demais para sequer olhar pra cima.Ele não pensou muito quando pegou a taça,apenas desejou profundamente que aquilo fosse apenas um pesadelo.

—Vamos,olhe pra mim...ainda temos que brindar.- Anne o puxou pra perto e fez com que o garoto erguesse a sua taça até que se encontrasse com a dela.Naquele brinde que selaria o fim.- Um brinde a nós...Tim-tim.

Assim que as taças se chocaram,Anne bebeu tudo o que tinha em sua taça em um gole só e em seguida voltou a encarar a sua cobaia.

—Ela está viva.-Anne dera um sorriso maléfico em seu rosto ao dar aquela notícia.- Mas é uma pena que você não vai estar vivo pra vê-la.

O silêncio tomou conta do local enquanto Cebola tentava entender o que ela quis dizer com aquela frase,mas não demorou muito para perceber que ele poderia ter ingerido veneno misturado ao espumante.Ele poderia,mas não foi.

—Que bom!Mas é uma pena que eu não vou poder comemorar com você.-Os olhos de Anne se arregalaram quando olhou para o carpete úmido aos seus pés.Cebola não havia sequer dado um gole daquele taça.

—Você não sabe com quem está li...dan…-Assim que Anne tentou atacá-lo seus dedos das mãos começaram a atrofiar,suas pernas perderam as forças e sua garganta começou a dilatar por dentro.Cebola por sua vez entrou em desespero,ele achava que o veneno estava na taça que havia jogado no chão e não naquela que Anne ingeriu.

Seus olhos começaram a revirar,suas mãos ainda atrofiadas tentavam de todas as formas agarrar o pescoço do rapaz,que agora lutava para se afastar de Anne,ainda dividido se deveria socorrê-la ou aproveitar a oportunidade pra fugir.

Assim que conseguiu se desvencilhar,Cebola correu até a porta para pedir ajuda,mas estava trancada.

Anne tinha trancado pouco antes de entrar no dormitório e era a única que tinha o cartão de acesso para pode transitar todo o laboratório.

—Vai ficar tudo bem!-Foi uma atitude impensada quando Cebola dera meia volta e tentou socorrer a mulher,que agora agonizava no chão do dormitório.Ela se debatia e ainda tentando feri-lo incansavelmente.

Ele não estava pensando de forma lógica quando fez aquilo,mas não queria que ela morresse,por mais que soubesse que se não fosse ela,poderia ter sido ele.

Mas o veneno foi mais rápido e quando Anne parou de se debater,Cebola sabia que era o fim.


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