Entre dois mundos escrita por Vicky18


Capítulo 62
Confrontando a verdade


Notas iniciais do capítulo

Oie meus amores,como vocês estão?Eu peço desculpas pelo sumiço,final de semestre na facul é bem estressante e tive que deixar as fics de lado(e também não consegui responder os comentários) para terminar alguns trabalhos.Mas agora estou oficialmente de férias,então vou poder me dedicar pra vocês:)Espero que gostem do capitulo e tenham uma boa leitura.



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— Ele está com quase com 39° de febre,vai precisar de repouso por enquanto,mas se a temperatura aumentar,deve levá-lo para o hospital o mais rápido possível.

—Muito obrigada por vir,Doutor Licurgo ... Eu nem sei como agradecer.- Penha cumprimentou o doutor com um aperto de mão enquanto o cobria de agradecimentos e elogios por ter sido o único doutor que veio atender seu marido em questão de segundos.

— Nada disso é real…- Cebola balbuciava em sua cama do seu quarto,ainda desorientado depois de ter passado mal.

— Não entendo o porquê dele estar falando essas coisas tão estranhas,ele não estava assim quando saiu daqui.

— Não se preocupe quanto a isso, é normal que o paciente tenha alguns delírios quando esta nesse quadro febril.

— Certo…- Penha queria fazer mais perguntas, mas resolveu pegar as palavras do doutro como verdadeiras.

— Se não for incomodo, será que eu poderia ficar a sós com o senhor Cebola? Eu gostaria de fazer alguns testes pra ver se ele está totalmente consciente.

— Claro, Doutor... Fique a vontade.- Penha se retirou do comodo junto com o mordomo, enquanto os demais empregados esperavam do lado de fora do quarto, receosos com o estado de saúde de seu patrão.

— Porque você não me contou sobre o que falou com o Cascão?- Cebola tentou se levantar da cama para questionara o doutor, mas fora rapidamente impedido pelo mesmo.

— O que ele te contou?-A voz séria e nada amigável do homem, começou a interrogá-lo.

— O suficiente.- Cebola o encarou nos olhos com nojo e indignação. -Você sabia disso o tempo todo, não é? Não sei o que disse a Magali lá dentro, mas eu sei que não foi algo bom. -A voz rouca e baixa, não deixava de ser intimidadora para o doutor que se sentiu acuado com aquelas perguntas.

— Tem certas coisas que nós não precisamos saber.Sr.Cebola.

— Todos nós deveríamos saber da verdade, Doutor.

— O que é a verdade pra você?Um pedaço de papel que seu amigo escreveu falando sobre as “aventuras” que viveu num tal experimento?

— Não só isso, mas o que eu vi com os meus próprios olhos.

— Esqueci de avisar que a febre que o senhor está tendo também pode causar alucinações dependendo da gravidade.

— Você não tem noção do que está falando! Se visse o que eu vi, não chamaria minhas palavras de meros delírios.

— É mesmo? E o que você viu?- O doutor perguntou ironicamente.

— Nada.Literalmente nada.

— Essa com certeza é uma bela resposta.

— Foi exatamente o que eu vi.Se andar por mais alguns quilômetros para fora da cidade,não vai encontrar nada além de um espaço em branco.Não existe nada além do Limoeiro.

— Está enlouquecendo,Sr.Cebola.

— Você sabe que não estou,se não concordasse comigo não teria deixado a Magali entrar no seu laboratório.

— Ta legal...Você venceu. Não tenho porquê esconder a verdade, principalmente de você.- O olhar de Cebola permaneceu fixo no doutor que retomou sua justificativa. -As coisas viraram de ponta cabeça desde a primeira vez que trouxe a sua amiga para o meu consultório, fiz muitas pesquisas para tentar ajudá-la, mas vi que ajudá-la poderia ser uma grande ameaça a mim e a todos nós. A única forma de quebrar a ponte esses dois mundo é a destruindo. E temos que ser os primeiros a fazer isso antes que o outro lado decida dar o primeiro passo. Na minha mente e no meu corpo não podem existir dois Licurgos, assim como na sua e na Magali. Isso pode piorar muito se não fizermos nada para impedir... Magali foi ao meu laboratório por vontade própria para resolver o problema dela de uma vez por todas e sugiro que faça o mesmo.

— E qual seria a solução?

— Como recebi informações que a Magali não foi bem sucedida na missão dela,acredito que poderá dar certo com você.

— O que eu preciso fazer?

— Eliminá-la.

Cebola ficou atônito, embora soubesse o significado daquela expressão, não queria acreditar que aquela era a melhor solução.

— Não se preocupe, não vai eliminar a sua amiga de verdade, apenas a versão falsa dela. Sabe de quem estou falando, não sabe?- O rapaz apenas assentiu positivamente, ouvindo atentamente as instruções. -Como há intervalos de estados de consciência entre as duas versões, precisa ter certeza de que está falando com a outra versão de sua amiga e então terminar o serviço. É muito simples, só assim vai conseguir quebrar a ponte e nunca mais a sua amiga vai ter que transitar entre dois mundos. Só uma pessoa de uma dimensão oposta a outra pode fazer que essa conexão se desfaça.

— Mas e a outra versão da Magali? O que vai acontecer com ela?

— Vai desaparecer.O que é o ideal.

— Mas ela não vai voltar ao mundo dela?Não vai ter uma vida normal como a Magali daqui?

— Duas pessoas não podem viver num corpo só, Cebola.Só tem espaço para uma Magali em todos os universos. Entendeu agora?

— Isso significa que ela vai morrer…

— Não veja dessa forma, ela é apenas uma projeção da Magali e nada mais. Não tem vida,alma ou qualquer tipo de sentimentos. Quanto mais detalhada é uma mentira, mas convincente ela parece ser. Essa outra versão não passa de uma imitação barata da sua amiga. Da sua verdadeira amiga.

— E se ela tiver uma vida como a nossa?E se tiver um futuro?!

— ESQUEÇA ISSO!ELA NÃO É REAL!-O Doutor Licurgo abriu uma maleta e retirou dela uma adaga,entregando-a nas mãos do rapaz. -Faça isso pela Magali. Faça isso por nós.

De repente a conversa fora interrompida abruptamente por Penha,que adentrou no comodo as pressas assim que escutou os gritos do doutor Licurgo.

— Está tudo bem por aí?

— Está sim, acredito que com um pouco de repouso ele possa voltar ao normal.- O doutor Licurgo terminou sua “consulta” ainda sem tirar os olhos de Cebola, enquanto este escondia a adaga disfarçadamente debaixo das cobertas.

— É muito bom saber disso, Doutor.

— Eu também fico feliz em saber que em breve ele vai estar melhor...Agora, se me derem licença, tenho uma consulta marcada pra daqui a pouco.Mas qualquer coisa que precisarem, estarei a disposição para ajudar.

— Muito obrigada,Doutor...Eu vou te acompanhar até saída.- Penha enganchou no braço de Licurgo e saiu do quarto, deixando Cebola  sozinho no cômodo.

 Era difícil de engolir todas aquelas informações que acabara de receber e a grande responsabilidade que agora estava em suas mãos.Ele sabia que o que estava pensando em fazer não era a melhor escolha, mas a única alternativa.

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Os passos de Magali eram cautelosos ao se dirigir até a sala de jantar, onde Quim lhe esperava. O convite inesperado veio minutos depois que Magali encerrou a ligação com Cebola ao telefone, quando um dos empregados adentrou no quarto da garota lê informando que Quim a esperava no andar debaixo.

Ela se questionava durante o trajeto se realmente deveria ter aceitado aquele convite depois da discussão acalorada que tiveram, mas dizer "não" também poderia levantar suspeitas sobre o seu plano de fuga.Quanto mais se colocasse a disposição de Quim,mais fácil seria para passar despercebida.

 Ao entrar na sala, se deparou com uma mesa convidativa,repleta de aperitivos,frutas e pães.Os raios de sol adentravam pelas janelas,iluminando o local.

 Quim lhe aguardava do outro lado da mesa,com uma expressão serena no rosto e a linguagem corporal calma e receptiva.Ele parecia até ser outra pessoa.

 –Que bom que você aceitou o convite, sente-se por favor.- Magali hesitou um pouco antes de se sentar a mesa, mas com um sorriso desconcertado acabou cedendo.- Eu sei que deve estar estranhando isso, mas eu só queria me desculpar com você.Minha atitude foi muito imatura e impulsiva,nossa relação não deveria ser assim.

 Magali concordou com a cabeça,surpresa com a atitude do rapaz.

 –Sabe,estamos a tanto tempo juntos e eu sempre cometi tantos erros com você…Eu ando muito nervoso ultimamente,sabe como é, não sabe?

 –Sei…- A garota respondeu engolindo o café quente que queimava sua garganta.

 –Por isso andei pensando na nossa discussão de hoje e não precisa fazer o show se não quiser…- O silêncio se tornou presente no local quando as palavras de Quim ecoaram pela sala de jantar. Magali mal conseguia processar o que acabara de ouvir. Era estranho ver aquela mudança de humor tão repentina daquele que a poucas horas atrás quase lhe agrediu fisicamente, se é que já não tinha agredido antes.

 –Eu tenho que me desculpar também, eu deveria ter te avisado para onde estava indo...Imagino que tenha ficado muito preocupado.- Não eram bem aquelas palavras que Magali gostaria de pronunciar, mas já que aquela seria a ultima conversa que teria com Quim, era melhor que a despedida fosse pacifica.- Eu também andei pensando melhor depois do que aconteceu e pretendo fazer o show.Sei que não deve ter sido nada fácil colocá-lo na minha agenda, então é o mínimo que posso fazer.

 –Se realmente tiver certeza de que realmente quer isso, eu te apoio.- Quim respondeu com um sorriso no rosto. Ele realmente parecia satisfeito com aquela conversa, o que fez a garota respirar aliviada ao ter ultrapassado mais um obstáculo.Ou pelo menos era nisso que ela acreditava.

 –Não se preocupe, eu sei o que estou fazendo.

 O rapaz se levantou da onde estava e se dirigiu até a cadeira de Magali, se aproximando ao pé do seu ouvido. - Claro que sabe. -Ao terminar a conversa, Quim depositou um beijo no rosto da garota antes de se retirar do local.

Magali sentiu o choque dos lábios frios contra sua pele quente, o beijo pareceu mais um carimbo marcando o seu rosto.Um gesto doce, porém sem sentimento. Era como um abraço sem jeito ou um aperto de mãos do qual os dedos mal se tocavam.

—Srta.Magali?-A voz do mordomo cortou o silêncio do cômodo,puxando os pés de Magali de volta a terra.

 –Sim?

 –Os figurinos do show já chegaram, gostaria de vê-los?

 –Claro!- Magali dera uma última olhada para a mesa a sua frente,como se estivesse se despedindo daquele lugar que talvez nunca mais voltasse a visitar novamente.

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 Enquanto isso - No mundo real

 – O que você quer?- A voz rouca do cientista ecoou pelas grades da cela assim que Cascão se aproximou.

 O garoto engoliu seco antes de fazer suas perguntas,mal conseguia acreditar que aquele prisioneiro foi o seu amigo de infância. Pareciam pessoas totalmente diferentes.

 – Eu sei o que veio fazer aqui.- O homem continuou sentado no fundo da cela, com seu rosto encoberto pelo breu do lugar.- Fique sabendo que está perdendo seu tempo.

— Eu sei que não estou…- Cascão se permitiu se aproximar um pouco mais das grades, tentando ver além da silhueta nos fundos da cela.-...Eu só preciso que você nos ajude.

 – Ajude no quê?A me condenar pro resto da vida?!Graças a vocês eu perdi meu emprego,meu prestígio e meu respeito!- O grito furioso de Franja se espalhou por todo o local,acabando com todas as chances daquela conversa ter um rumo pacifico.

 – E graças a você eu perdi os meus amigos.-Os olhos marejados do rapaz do lado de fora da cela era mais uma confirmação daquele sentimento de perda que habitava em seu peito.As lágrimas limpavam os resquícios de terra que estavam em sua pele.

Quando o silêncio se deu como sentença, a silhueta se levantou dos fundos da cela e começou a ganhar forma e cor a medida em que se aproximava das grades.

 Os cabelos loiros caídos sobre os ombros, as olheiras abaixo dos olhos, o rosto magro e pálido agora encaravam Cascão de uma forma enigmática. Seus dedos finos tocaram a superfície gélida do ferro e o prisioneiro se aproximou o suficiente para que seu amigo pudesse ver seus olhos igualmente marejados.

 – Sabe qual é a semelhança entre mim e os “seus” amigos?- A voz trêmula do rapaz escapava como um sussurro cansado depois dos seus gritos. - Queríamos viver em mundo perfeito,onde tudo pode ser real,absolutamente,tudo.- Franja se aproximou ainda mais da grade.- E sabe qual é a diferença que nos separa?Eles conseguiram,Cascão.E eu não.

 – Eles estão desaparecidos,Franja.Você não.

 – Eles escolheram isso.Assim como você escolheu.

— Eu escolhi pra ajudá-los!

 – E eles escolheram para ter uma vida melhor.E EU DEI ISSO A ELES!!Eu não tenho culpa do que aconteceu depois,não foi culpa minha!

 – Não foi?!O número que mandou aquela mensagem e o vídeo para Cebola veio do seu celular,que foi encontrado na SUA CASA!

 – Aquele celular não era meu!Não podem me acusar de um crime que não cometi.

  – Você já cometeu um crime nos fazendo de cobaia de um experimento proibido!

 – Então vocês são meus cúmplices,e não vitimas...Podem me acusar do que quiserem,mas não de mentiroso!

  – Vocês mentiu pra nós o tempo todo.

 – E porque eu mentiria agora?Eu já estou atrás das grades,perdi absolutamente tudo o que eu tinha e tudo o que eu ainda iria ter.Eu não tenho mais nada a perder,Cascão.

 – Se não tem nada a perder, então porque não confessa?Porque não mostra onde levou o Cê e Maga?!

 – Como posso confessar algo que eu não fiz?Eu faria de tudo para sair desta cela e sei que um dos jeitos é confessar.Mas não posso falar sobre algo que eu não sei.

— Então quer dizer que este o celular não era seu?- Franja apenas apenas assentiu com a cabeça.- E isto?Também não era seu?- Quando Cascão mostrou o caderno com as anotações,os olhos do prisioneiro se arregalaram e suas mãos tentaram pegar o objeto desesperadamente.

 – ME DEVOLVA ISTO!

 – Porque?Você já perdeu tudo, tenho certeza que esse caderno também não vai fazer falta.- Cascão se afastou da cela e ameaçou rasgar o objeto.

 – NÃO!POR FAVOR!- Franja se debatia enquanto segurava nas grades da cela.Era como se em uma metamorfose,um mero prisioneiro se tornasse um animal enfurecido dentro de uma jaula.

— Acho que não tem nada de importante aqui,não é?É só um caderno…- A medida em que Cascão folheava as páginas,Franja esbravejava ainda mais do outro lado da cela.

— VOCÊ NÃO SABE O QUE TEM EM MÃOS!NÃO SABE O QUE ESTÁ FAZENDO!

 – Pelo que me parece é só um caderno mesmo...Acho que o delegado também vai pensar isso quando eu pedir pra que ele jogue fora.

 – NÃO É SÓ UM CADERNO!

— Não?-Cascão respondeu ironicamente,como se não desse muita importância para o objeto em suas mãos.- O que é então?

  – Você...não entenderia.

 – Você não tem noção de quantas coisas eu tive que entender pra chegar até aqui.

 – É diferente...O que você tem em mãos pode ser a conclusão.

 – Do quê?

 – Do que você teve que entender para chegar até aqui.- Cascão olhou as fórmulas escritas naquelas folhas e começou a juntar as peças,mas ainda não pareciam ser o suficiente.Como aqueles números poderiam ser a conclusão para um experimento tão complexo?Como poderiam ser aplicadas?-Se eles ainda estiverem vivos,precisam encontrar essas mesmas formulas do outro lado.No outro mundo.

 – Mas se temos a solução aqui,porque não podemos usar aqui?!

 – Porque seus amigos não estão aqui.Não totalmente.Pelos meus estudos,se o outro lado ter acesso a estas informações primeiro, eles terão esse poder em mãos e poderão aplicá-lo antes de nós.

 – Mas o outro lado não passa de uma projeção,não é?Eles não tem poder pra alterar o nosso mundo.

 –  Eles têm.Porque todos nós demos esse poder a eles, a tal ponto de eles acharem que são tão vivos quanto nós.

 Cascão começou a lembrar da conversa com o Doutor licurgo naquele consultório,de sua reação e negação.Tudo fazia sentido com que Franja falava,Cascão não tinha sido coerente ao achar que aquele mundo era apenas um sonho.Era muito mais que isso e por isso não menos importante.

  – O que acontece se acharem a fórmula antes de nós?

 – Tudo entra em desequilíbrio.Eles tem o próprio mundo,o próprio espaço e lá é onde devem permanecer.A partir do momento em que tem conhecimento de outra realidade que não é a deles,se veem no direito de tomar o controle do que lhes “pertence”, ou seja, a medida em que ganham está “consciência” acabam por ultrapassar um limite do qual nem eles sabem que existe.E assim todos nós perdemos nossa identidade e nos entregamos a loucura.

 – E onde o Cê e a Maga podem encontrar essa fórmula primeiro?

 – Só podemos criar uma projeção com aquilo que vimos ou vivemos de alguma forma.Eles só vão encontrar as fórmulas se lembrarem da última vez que as viram.

  – E depois que encontrarem a fórmula,o que acontece?

 Franja permaneceu em silêncio por alguns segundos antes de responder,engolindo seco as suas palavras antes que elas fossem ouvidas.

 – Ela tem que ser destruída.

 – Mas se ela é a conclusão,porque tem que ser destruída?!

 – Eu disse conclusão, não solução...Se isso chegar nas mãos de outras organizações,pode ser um perigo ainda maior.

 – E como eles vão destruir a formula então?

 – Somente o criador pode destruir sua invenção.

 – E como pretende fazer isso se não vai poder ir até o seu laboratório.

 – E quem disse que eu preciso das máquinas pra isso?

 – O que vai fazer?-As peças que antes pareciam se encaixar agora se espalhavam no chão como se a montagem daquele quebra cabeça tivesse que começar do zero.Como Franja poderia conseguir acessar aquele mundo sem nunca ter participado do experimento?

 Talvez existissem muitas coisas que Cascão ainda não pudesse compreender a respeito de Franja,coisas que ele nunca entenderia.

 – Só preciso que o Cebola e Magali façam a parte deles.

 – Está bem…-Cascão se afastou novamente da cela,com uma sensação de que aquela conversa tinha sido muito mais esclarecedora do que ele achava que poderia ser. Por alguma razão ele sentia que a explicação que Franja havia lhe dado era verdadeira e que suas intenções,por mais que incompreendidas,poderiam ser boa naquele momento.

 Ele realmente não tinha nada a perder e poderia simplesmente se negar a explicar o que tinha no tal caderno se não quisesse ajudar de verdade.

 – Cascão. - A voz rouca ecoou assim que o rapaz decidiu virar as costas para ir embora do lugar. -Eu errei em ter colocado meu projeto acima do bem estar deles...Eu sei que isso não vai trazê-los de volta,mas se puder…-A voz falha interrompeu o fluxo das palavras naquele instante.-...me perdoar…Me ajudaria muito.

  – Desculpa eu não posso mentir para delegado e…

 – Eu não quero que me defenda.Eu só quero que aceite as minhas desculpas...só isso.

— Franja,eu não sou o único que você tem que se desculpar e muito menos pedir perdão.

 – Eu sei…-O prisioneiro retirou suas mãos da grade e antes de voltar ao canto escuro da cela,juntou coragem para encarar o seu amigo nos olhos antes que este fosse embora.-...Mas você é o único que me escutou de verdade.Eles não vão me ouvir,como você me ouviu.

 – Franja,eu…- Cascão começou a relembrar de todos os momentos que passou com o amigo no bairro do limoeiro, todas as vezes que participava das suas experiencias malucas e engenhocas inofensivas, de todas as vezes que jogavam bola no meio da rua ou arquitetavam planos infalíveis para roubar um coelho azul de pelúcia. Cascão nunca achou que lembranças poderiam doer,como uma saudade melancólica de algo nunca voltaria,mas que também nunca tinha ido embora.-...Eu não sei se posso te perdoar…- A lembrança de Magali brincando de boneca com Mônica no quintal,dando carinho em Mingau e correndo para casa antes que anoitecesse.Era mais um dia no limoeiro que ainda não tinha anoitecido,pois Magali não voltou pra casa. - ...Se eles não voltarem,se eles não estiverem mais aqui.- O sol iluminando os fios de cabelo castanhos no final da tarde,a pureza daquele olhar.A ultima vez que Cascão a viu saindo pela porta da sala de aula.-...Eu não se vou conseguir…- As lágrimas começaram a escorrer de novo quando a voz de Cebola veio em sua mente,suas piada e brincadeiras.Sua amizade que sempre foi tão presente e agora não estava mais lá,ou pelo menos não tão perto o suficiente para que Cascão pudesse abraçá-lo.-...Eu só quero os meu amigos de volta.

 – E você terá. Eu te garanto.- Franja respondeu com lágrimas que recém escorriam em seu rosto. Aquela conversa foi o suficiente para que ele também lembrasse de todos aqueles momentos que vivera ao lado daqueles que nunca achou que um dia fariam falta em sua vida. Tomar consciência daquele erro foi uma experiência tão dolorosa que o fez sentir no peito a aflição da incerteza.

 – Assim eu espero, Franja.- Cascão secou suas lágrimas rapidamente e sem mais delongas, saiu rapidamente do local. Deixando o cientista sozinho em sua cela naquela madrugada.

 


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Notas finais do capítulo

Ai meu Deus eu to muito ansiosa pra escrever o capitulo final,estamos tão perto pessoal,vocês não tem noção!!Obrigada a todos que estão acompanhando a fic até agora e e até o próximo capítulo♥



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