—Srta.Magali,nós já estamos chegando.-Magali acordara um pouco desorientada dentro do carro,ainda tentando separar o que era sonho do que era realidade.

 –O que?-A garota respondeu sentindo uma forte dor de cabeça,ainda tentando se localizar.

 –A Srta me pediu para que eu lhe avisasse quando estivesse chegando em sua casa.

 –Ah,claro…-Magali respirou fundo e apoiou a cabeça no banco de couro do carro.

 –Desculpa me intrometer,mas está tudo bem?É que você está agindo de uma forma estranha desde que saímos daquele hospital.

 –Hospital?

 –É,não era bem um hospital,parecia mais um laboratório…

 –U-um laboratório?!- Inúmeras perguntas surgiam em sua cabeça para fazer aquele motorista,mas Magali mal teve tempo de verbalizá-las assim que chegaram nos portões de sua Mansão.

 Assim que o carro diminuiu a velocidade para entrar no local,Quim que estava esperando na entrada,Logo apressou o passo e se aproximou do veículo.

 –Onde você estava?!-Os olhos de Quim pareciam queimar com tamanha raiva,ele realmente não parecia nada feliz em revê-la.

 –Ela estava no hospital,senhor.-O motorista saiu em defesa de sua chefe antes mesmo que Magali pudesse tentar se explicar.Na verdade,nem ela sabia direito o que estava acontecendo e o porquê Quim estava tão nervoso.

 –Hospital?-A expressão de Quim se suavizou no mesmo instante em que ouvira aquilo.-O que houve?

 –Eu fui fazer alguns...Exames.- Magali tentou procurar as palavras certas,mas estava torcendo para que Quim não fizesse mais perguntas,afinal de conta nem ela sabia o que foi fazer naquele “Hospital”.

 –Bom,espero que esteja bem até o dia do show.-Aquela expressão antes aparentemente preocupada,mudou rapidamente quando Magali respondeu. Quim só estaria preocupado com o estado de saúde de Magali se não fosse capaz de andar,mas como parecia bem aos seus olhos,estava totalmente capaz para se apresentar quantos shows ele achasse necessário.

 –Que show?!-Magali permaneceu hesitante em colocar um dos seus pés para fora do carro,só pensando em quanto tempo demoraria para voltar para a vida real e quanto tempo demoraria para que visse Cebola novamente.

 –Temos um show marcado para amanhã a noite numa festa que o Conde D`Mont vai dar.-Aquele nome era familiar para Magali,que embora não lembrasse quem era o tal conde,se recordava de flashes daquela noite onde ouvira o nome do tal conde por todos os cantos.Provavelmente seria o anfitrião daquela festa ou só mais um convidado famoso e influente.

 –Mas eu já não tinha me apresentado naquela inauguração do Grand Hotel?

 –E foi por essa apresentação que ele te contratou.Por isso que você não pode perder tempo com esses sumiços.

 –Mas eu já te disse o que fui fazer lá.-Era difícil conter a irritação com tantas perguntas,Quim parecia muito mais possessivo do que naquela briga que tiveram á um tempo átras. A forma como fazia questão de tentar controlar os seus passos e o que deveria ou não fazer era extremamente incomodo.E pra quem não seria?

 –E eu estou te dizendo o que tem que fazer AGORA!-O grito do rapaz ecoou no local,mas não evitou que,pela primeira vez,Magali tomasse coragem para revidar.

 –VOCÊ NÃO TEM QUE ME DIZER NADA!- Quim recuou rapidamente do carro,surpreso com aquela atitude,mas preparado para revidar de qualquer forma que pudesse.A pior coisa que Magali poderia ter feito era questionar a sua autoridade.- Eu não vou me apresentar,tenho coisas mais importantes para resolver agora.-Assim que Magali estendeu o braço para fechar a porta,fora puxada com todas as forças para fora do carro por Quim.

 –QUEM VOCÊ ACHA QUE É PRA FAZER ISSO?!EIN?-O homem a sacudiu,ainda sem soltar do seu braço.-VOCÊ SÓ CONQUISTOU TUDO ISSO POR MINHA CAUSA!E agora fica se vendendo para o Cebola,achando que eu não estou vendo o que está fazendo!!

—Me solta.-Magali sentiu seu sangue ferver a cada palavra que escutava daquele homem.Ela lutava para acreditar que aquilo era apenas uma projeção,mas a dor e a raiva que sentia era real naquele momento.

 –Eu não vou te soltar.Você vai entrar lá comigo agora mesmo!-Quim tentou puxá-la para dentro da Mansão,mas Magali continuava resistindo.

 –EU JÁ DISSE PRA ME SOLTAR!- Magali cuspiu no rosto de Quim e tentou se soltar pela ultima vez,mas infelizmente não conseguiu escapar das garras do seu algoz. O motorista saiu do carro e tentou defendê-la,mas fora ameaçado de perder o emprego caso não fosse embora.

 –A sua casa é aqui e é aqui que vai ficar,até o dia que eu quiser você fique.Entendeu?-Magali ouvia Quim sussurrar no seu ouvido enquanto se torturava vendo os portões da mansão se fecharem atrás do carro.

 –Você não entende…

—Você que não entende que temos uma agenda de shows pra fazer.Agora que já terminou o seu showzinho aqui fora,trate de se preparar para o seu show de amanhã lá dentro.-O rapaz rangia os dentes,conduzindo a garota as forças para dentro da moradia.

  Magali parou de tentar resistir,pois sabia que mesmo que saísse correndo a pé daquele lugar não conseguiria ir para muito longe.Afinal de contas,ainda não teve tempo para conhecer a versão futurista do bairro do limoeiro.

 Assim que colocaram seus pés no hall de entrada da Mansão,Magali conseguiu se soltar de Quim,mas não conseguiu evitar a discussão.

 –Estava com ele,não estava?!

 –E se estivesse?Qual é o problema?!-A garota respondeu enquanto subia as escadarias da sala.

 –Você tem compromissos!

 –Compromisso?Com você que não é!

 –Não teria um teto para morar e nem uma roupa decente para vestir se eu não tivesse investido em você.

 –Investido em mim?!A única pessoa que acreditou em mim fui eu mesma e mais ninguém.O que me fez chegar até aqui foi o meu talento e não um cara que só tem talento para assar pães!Você só teve esse poder sobre mim porque eu permiti que você tivesse.E assim como eu tive poder para te dar,eu também tenho poder para tirá-lo de você!

 –Isso não vai ficar assim.

 –Não vai mesmo.-Magali dera o seu ultimato e nem pestanejou em subir para o segundo andar sem ouvir alguma resposta que poderia receber.Mal conseguia imaginar qual o era o preço daquela vida luxuosa que sua outra versão tinha ao ser tratada daquela forma tão abusiva.

 Enquanto andava pelo corredor do segundo andar,lembrava da primeira vez que esteve lá,principalmente quando seus gatinhos de estimação vieram na sua direção roçando em suas pernas.Era estranho pensar que tudo aquilo não era real,tudo era tão intenso que Magali já estava começando a pensar se a sua vida realmente era aquela.

  Mas no meio das suas indagações e teorias,o toque de algum telefone que ecoava do final daquele corredor interrompeu os pensamentos da garota que, prontamente, tentou localizar aquele objeto pelo som antes que Quim o fizesse.

Aquele sonido estridente estava vindo do seu quarto que era um das ultimas portas do corredor.Magali por sua vez,não perdeu tempo e fechou a porta do quarto rapidamente antes de atender a ligação.

 –Alô?Quem fala?

 –Magali,sou eu o Cebola.Como você está?

 A sensação de alívio fora indescritível quando a garota ouviu a voz do amigo do outro lado da linha.

 –Bem...Eu acho.O que eu fui fazer em um laboratório?

 –Você não lembra?Nós fomos até o consultório do Doutor Licurgo para falar sobre o...Ah esquece,não estou falando com a mesma pessoa,não é?Me desculpe…- Magali pôde escutar o riso envergonhado do amigo na ligação.- Eu ainda estou me acostumando com isso.

 –Tudo bem...Acho que ainda está tão confuso quanto eu.Mas o que conversaram com o professor Licurgo,quero dizer,Doutor?

 —Na verdade eu não consegui conversar muito com ele,mas o Cascão e a Magali conversaram bastante com ele...Por isso achei que lembraria,porque você,quero dizer,a Magali saiu de lá muito nervosa...e depois o Cascão saiu de lá meio estranho também e…

 –Espera,como assim o Cascão?!

 –Ele me deu uma carta me explicando melhor tudo o que aconteceu com você e disse que também entrou nesse tal experimento com a ajuda do “Professor” Licurgo para ver se conseguia entrar em contato com você.

 —Meu Deus....Eu não posso acreditar nisso!É tudo culpa minha!Ele não sabe onde está se metendo…

 –Não se preocupe com isso Maga,foi uma escolha dele.A culpa não é sua.

 –Você não consegue entender a gravidade disso?!Ele pode estar em perigo,pode estar passando por coisas horríveis por minha causa!

 –Se ele estivesse em perigo ele teria me pedido ajuda.A única preocupação dele é encontrar você e o outro Cebola.Ele me pediu na carta que você tentasse descrever o lugar aonde você está ou como foi parar lá,mas como você foi embora sozinha,eu não consegui te falar antes.

 –E-eu não lembro,quando me sequestraram,tamparam o meu rosto e eu não consegui ver nada e nem qual era o caminho.Eu nem sei se consigo me lembrar de como é o laboratório por dentro,já que eles me dopam quase todo o tempo lá...Me-me desculpa,eu não sei se vou conseguir ajudar ele…-Magali começo a entrar em desespero,a única chance que estava tendo de conseguir escapar daquele lugar horrível agora escapava de seus dedos como areia por conta da falta informações.

 — Se acalme,eu tenho certeza que deve ter alguma informação,qualquer uma.

 – Cê...Eu não consigo,eu não consegui ver muita coisa.

—Tem mais sentidos que a visão,Maga.Tenta lembrar das sensações,do cheiro...qualquer coisa que você não precisasse do visão pra identificar o que era.

 – Faz sentido…- Magali tentou reviver aquele dia desde do momento em que escutou os sequestradores entrando em sua casa e assim foi tentando assimilar aquela cena do começo até a chegada ao laboratório. -...Eu acho que me colocaram dentro de uma van, não tenho certeza, mas tinha um espaço muito maior que um porta-malas de carro e muito baixo para ser a carroceria de uma caminhonete, também porque eu ouvi eles fechando as portas da parte de trás.

 —Isso já ajuda bastante,o Cascão pode procurar em câmeras de segurança nas proximidades da sua casa no dia em que te levaram.Se for um bairro residencial como eu lembro,não vai ser tão difícil encontrar uma vã por lá.Mas continue...

 –Eu lembro que no começo da viagem eu fiquei um pouco enjoada com as curvas,mas depois de um tempo parece que o motorista só seguiu em linha reta com a van,porque eu não senti mais nada balançando.Também teve uma hora que tiraram a minha venda e gravaram um vídeo comigo,eu até tentei gritar mas não consegui,mas depois eles me vendaram de novo.

 —Lembra de mais alguma coisa?

 –Lembro que demorou 1 hora pra chegarmos até lá.Um pouco antes da gente parar no laboratório,um dos sequestradores perguntaram para o outro que horas eram e ele disse que era 18:00.Quando eu tava em casa conversando com a Mô,eram umas 15 pras 17:00 da tarde...Não sei se isso pode ajudar,mas a informação está aí se precisarem.

 –Você chegou a ver como era o lugar quando eles te tiraram da van?

  –O pouco que eu vi foi uma floresta,eles me levaram até a entrada do laboratório por uma trilha no meio de um monte de árvores,eu até tentei ver se tinha algum prédio ou casa nos arredores,mas não tinha nada.

  —Tem mais alguma coisa que quer acrescentar?

  –É só isso mesmo que eu lembro,espero ter ajudado…

 –Ajudou bastante,vou ver se consigo encontrar esse lugar por aqui.1 hora não é tanto tempo assim,tenho certeza que esse laboratório está perto ,mas não tão perto a ponto de estar no centro da cidade.Devem ter pêgo uma estrada com florestas em volta,eu vou dar uma olhada por aqui e passar as informações pro Cascão.

 –Mas a cidade é muito diferente de onde eu moro,tem certeza que pode dar certo?

 –Mesmo que esteja,eu posso encontrar algum vestígio desse laboratório,nem que sejam as ruínas dele.

 –Cê,por favor me avise quando o Cascão aparecer de novo...e muito obrigada mesmo,eu nem sei como te recompensar.

 –Minha recompensa é te ver bem,Maga.

 Um silêncio tomou conta da ligação quando Magali sentiu suas bochechas queimarem com o que acabara de ouvir.Por mais que aquela frase fosse uma que qualquer amigo falaria,por alguma razão,a forma doce e verdadeira que Cebola a pronunciou foi muito diferente.

 —E naquela hora que você disse que foi ao laboratório?Tem certeza que não quis dizer consultório?

 –Bom,não foi isso que o motorista me falou quando eu acordei no carro.

 –Motorista?Você saiu a pé do consultório e me disse que iria pra casa…

 –Talvez “eu” não tenha ido direto pra lá.

 —Mas eu pedi pra ela que me avisasse...Bom,eu vou resolver isso mais tarde.Mas tem certeza mesmo que foi um laboratório?

 –O Motorista me falou hospital primeiro,mas depois confirmou que era um laboratório.

 —O Consultório não se parece nem um pouco com um hospital,então o que o motorista falou é o suficiente.Mas obrigado por ter falado.

 –Tá tudo bem?Você parece meio nervoso…-Cebola realmente estava,principalmente depois de ouvir o que Magali lhe contou e comparou com o que Cascão havia escrito naquela carta a respeito do que se tratava o experimento Alfa.

  Desde a carta até a ligação com a amiga,tudo parecia se encaixar num quebra-cabeças(mesmo que a imagem formada não fosse uma paisagem no campo e nem uma pintura).O que mais lhe assustava era saber que a “outra” Magali esteve em um laboratório logo depois que saiu daquela consulta com o Doutor.Porque ela mentiria que iria direto pra casa?Aquilo só poderia fazer sentido se ela tivesse tentado alguma coisa em relação ao tal experimento,visto que a sua reação nada feliz quando saiu da consulta com o Doutor poderia ter relação com o que ouviu lá dentro e o que estaria prestes a fazer a seguir.

 Provavelmente,ela não contou a Cebola do que estava prestes a fazer porque não teria seu apoio.E o que mais ele não aceitaria em ajudá-la?Talvez,fazer parte de um experimento maluco ou justamente ignorá-lo,mas essa segundo opção é pouco provável  já que o motorista foi buscá-la em um laboratório,e isso já mostrou claramente que ela não estava nem um pouco perto de ignorar o experimento.

 –Está tudo bem,eu só estou...Pensando em como vou dar um jeito nisso.Mas vai dar tudo certo,não se preocupe.— O rapaz não queria deixar Magali mais tensa com aquelas hipóteses e optou por ficar em silêncio naquele momento,seria melhor voltar a tocar naquele assunto quando ele realmente tivesse certeza do que sua amiga foi fazer naquele tal “Hospital” e em qual seria a localização do laboratório(mesmo que fosse no mundo paralelo)Se todas as pessoas que faziam parte da realidade estavam naquela também ,porque o laboratório não estaria?-Eu te encontro quando tiver mais informações.

  –Eu não sei se vai dar...Tenho um show pra fazer amanhã a noite.

  –Não parece muito animada...Foi o Quim de novo,não foi?

  –O que acha?...

 –Eu imaginei...E onde vai ser esse show?

—Vai ser um evento que um tal Conde D´Mont vai dar,mas ainda não sei onde vai ser.

—Eu vou falar com ele e descobrir isso rapidinho.Vamos dar um jeito de te tirar daí,Maga.Eu já cansei desse imbecil te usando desse jeito...Nos vemos amanhã a noite,está bem?

  –Está bem...Eu espero que eu consiga estar aqui até lá.

  –Vai dar tudo certo,confia em mim.

  –Eu confio.

  –Até amanhã,Maga.

 –Até.-Quim esperou mais um tempo na linha até que a ligação dos dois se encerrasse.Seu sangue fervia depois que escutou toda a conversa pelo telefone da sala de estar que era conectado com o do quarto de Magali.Ele sempre  monitorava qualquer ligação telefônica feita dentro daquela mansão e com certeza aquela que “participou” foi a gota d´agua.

 –Só por cima do meu cadáver,Cebola.