Cebola acompanhava a passos curtos o homem ao seu lado que o conduzia para o que chamavam de “sala 67”.O mesmo não havia dado muitos detalhes do que tinha naquela sala,deixando a cobaia cada vez mais apreensiva durante o trajeto com medo do que poderia acontecer.

Enquanto andava pelos corredores frios e vazios,Cebola lembrava de como tudo aquilo tinha começado e como foi parar naquele lugar...Era inacreditável imaginar que em poucas semanas sua vida havia mudado completamente,o medo se tornou sua rotina e a cada dia que passava a incerteza aumentava cada vez mais.O mesmo lembrou de quando tentou confortar a amiga naquela sala branca, enquanto a abraçava não tinha certeza do que estava dizendo e não sabia ao certo se conseguiria sair dali...Mas alguém precisava ter alguma esperança ou senão seria impossível sobreviver naquele lugar horrível.

Também vinha a sua mente a preocupação com sua família que poderia estar em perigo naquele exato momento,Cebola torcia para que sua família estivesse bem...Sentados confortavelmente em suas poltronas,observando as mais belas paisagens pela janela sem ao menos suspeitar de que algo ruim estava acontecendo do lado de fora.No entanto foi impossível manter seus pensamentos positivos enquanto se aproximava da tal sala,tudo parecia ficar cada vez mais sombrio...As paredes eram sujas e escuras, lâmpadas piscavam constantemente o silêncio era dominado por gritos que ecoavam por todos os corredores que a cobaia percorria.

A cada passo um novo arrepio tomava conta de sua espinha,cada grito vindo de pessoas diferentes...Alguns “pacientes” se debatiam em macas sendo transportados por “médicos”,e quando passavam por Cebola pediam socorro com o olhar desesperado.

—Não dê atenção a ele.-O agente ordenou a Cebola,puxando-o para longe do pobre homem que tentava escapar das amarras que o prendiam na maca.

Cebola engoliu seco e evitou olhar para o paciente novamente,sua intuição também o alertava...O mesmo poderia se ver naquela maca,mas no momento a sua única escolha era seguir aquele homem sem questionar ou tentar escapar.

Depois de mais alguns minutos passando por mais alguns pacientes, finalmente chegaram a sala 67...Diferente de outras portas enferrujadas e velhas,aquela em especial era branca e limpa mas transmitia uma sensação estranha a cobaia.

—Entre.-O homem abriu a porta e deu espaço para que Cebola adentrasse.

—O que tem lá dentro?-O mesmo não se conteve em perguntar, não ter certeza do que o esperava era o seu maior medo.

—Você vai descobrir assim que entrar.-o agente respondeu friamente.

Cebola não pensou duas vezes e entrou no local,se deparando com uma grande e luxuosa sala...Parecia ser um quarto de hotel cinco estrelas,com janelas altas e cortinas brancas e imensas que se arrastavam pelo chão.A paisagem do lado de fora era a baía de uma praia muito bonita,o som das ondas do mar revolto se chocando contra as pedras era relaxante...Cebola sentiu uma sensação de paz lhe invadir imediatamente,mas sua desconfiança ainda se fazia presente em seus pensamentos,tinha alguma coisa errada com aquele lugar.

—Seja bem vindo ao seu aposento.-Der repente uma mulher surgiu dentro do quarto com um sorriso amistoso.-Meu nome é Anne e a partir de hoje irei ser sua guia no experimento.

—O que tá acontecendo aqui?-Cebola ainda estava desconfiado ao ver aquela mulher estranha na sua frente.

—Eu sei que deve estar confuso,mas não se preocupe...Eu irei explicar tudo a você.-A mesma respondeu calmamente.

—Não precisa me explicar nada não,eu já sei muito bem o que está acontecendo!

—Não se engane…Se me deixar explicar vai me entender.-A mulher se aproximou de Cebola,soltando os seus cabelos loiros e o encarando com um olhar cheio de segundas intenções.-Você é muito valioso pra nossa organização,porque continuar resistindo? Você só tem a ganhar se resolver colaborar conosco.

—Pois eu prefiro ser perdedor do que ficar do lado de vocês,eu não sei o que fazem mas tenho certeza de que não é nada bom.-Cebola recuou da mulher rapidamente.

—É o que todos dizem antes de saber o que realmente significa o “experimento alfa” e antes de conhecer todos os benefícios que irão ganhar se juntando a nossa organização e nos ajudando a recrutar novos pacientes...Podemos fazer um acordo.-A mesma ainda não desistiu e ficou cada vez mais perto da cobaia,sua voz tinha um tom galanteador(sua beleza era realmente estonteante,mas não convenceria Cebola tão rápido).

—Eu não vou e nem quero fazer acordo nenhum com você!Pode esquecer!-A mulher tentou agarra-lo mas Cebola a empurrou,recusando a investida-Se acha mesmo que vai me convencer... Você tá muito enganada!

A moça bufou impaciente e encarou Cebola um tanto incrédula (afinal a maioria das cobaias caiam no seu encanto,mas aquele paciente em especial não se rendia tão facilmente).-Tudo bem...Eu te entendo,por isso eu vou lhe dar um tempo pra pensar na sua decisão.-A mesma se dirigiu a ele com um tom mais sério.

—Eu não quero tempo nenhum...Porque eu não quero nem pensar em fazer algum acordo com vocês!-Cebola respondeu rispidamente.

—Em breve você terá muitos motivos para fazer esse acordo...Todas as suas escolhas terão consequências não só pra você,mas pra todos que você conhece... Principalmente para a sua amiguinha,pense bem antes de tomar qualquer atitude.-A mulher prendeu o cabelo novamente e saiu do local,deixando Cebola sozinho novamente.

Por mais calmas e formais que aquelas palavras fossem,ainda soavam como uma ameaça...Cebola sentiu que seria forçado uma hora ou outra a fazer o que eles pediam,mas enquanto estivesse consciente não deixaria ninguém lhe controlar.

===Enquanto isso na sala branca…

Magali ainda atuava se mantendo encolhida no canto da sala,agora deitada no chão frio esperava que o sono voltasse e que algum milagre acontecesse,talvez tudo aquilo poderia ser só um pesadelo...Era terrível demais pra ser verdade.

No entanto o que aconteceu a seguir não poderia ser comparado com um milagre e sim com uma maldição...Uma mulher mascarada adentrou no local na companhia de mais dois homens, carregando consigo uma maca metálica.

—Hora do banho bonequinha.-A mesma sussurrou no ouvido de Magali e logo depois puxou seus cabelos violentamente.

—AHHH!!ME SOLTA!!-Magali se debatia desesperadamente tentando escapar,mas os dois homens abriram sua camisa de força pegando seus braços e pernas com uma força inacreditável,prendendo-a na maca.

Depois disso a mesma fora retirada da sala,sendo conduzida por alguns corredores as pressas pelos agentes até chegar ao destino final.Ambos pegaram um elevador e subiram para o andar de cima,levando a cobaia por mais alguns corredores...Por fim chegando a última sala que se encontrava no final do andar.

Assim que abriram a porta da misteriosa sala,Magali se deparou com o que parecia uma abertura circular gigantesca no chão,dentro dela havia um líquido azulado que reluzia(tamanha a quantidade de substâncias que havia nele).Os agentes por sua vez tiraram as amarras de Magali,retirando-a rapidamente da maca...A mesma havia tentado escapar mais uma vez,no entanto fora imobilizada tendo o seu corpo quase prensado no chão.

Durante o processo,Magali percebeu que os três agentes usavam o que parecia ser aparelhos auditivos...Como se estivessem obedecendo a comandos de outra pessoa.Porém não houve muito tempo para que ela prestasse atenção em outros detalhes, já que fora erguida do chão violentamente sendo assim despida pela mulher mascarada enquanto os dois homens seguravam a cobaia (que ainda tentava resistir).

Magali começou a se debater com mais força ainda assim que as primeiras peças de roupas eram retiradas do seu corpo,quando a agente tentou tirar suas calças...Magali desferiu um chute no rosto da mulher,irritando-a.

—Se não colaborar por bem..Vai ter que ser por mal.-A mulher deu um comando para que os agentes desferissem um soco na barriga da cobaia.Magali por sua vez soltou um grunhido de dor  mas não desistiu tentando escapar mais uma vez...No entanto não demorou muito para que outro golpe a atingisse,desta vez em seu rosto...A força daquele soco fora tão grande que segundos depois a mesma começou a cuspir sangue.

—Aprendeu a lição?-A mulher se aproximou do rosto da cobaia quase dando risada,como se sentisse prazer em ver aquela cena.-Agora deixa que nós cuidamos do resto…-Assim que a moça tentou tirar a camisa de força,fora surpreendida pela própria cobaia.

Magali a encarou com desgosto e cuspiu na máscara da agente-Eu tenho nojo de você!!!

—Quanta insolência!-A mulher esbravejou dando outro soco em seu rosto(deixando a cobaia quase inconsciente)-Quero ver você me desafiar de novo sua pirralha!!

Magali sentiu seu rosto queimar e um gosto amargo dominar seu paladar,enquanto os dois homens soltavam-na para pegar uma série de fios e agulhas que se encontravam em uma armário no canto daquela mesma sala.

—O que vocês vão fazer comigo?!-Magali agora encolhida no chão frio da sala só esperava o que o pior acontecesse.

—Você vai saber agora.-Os dois agentes alcançaram os fios para a mulher,depois disso pegaram a cobaia e a colocaram dentro daquela “piscina azulada”.No mesmo instante que seu corpo entrou em contato com o líquido,Magali sentiu  sua pele se arrepiar por inteiro (a substância era extremamente gélida) e aos poucos seus braços e pernas ficarem dormentes.

A agente mascarada por sua vez pegou alguns eletrodos e os colocou nos braços e na cabeça de Magali,depois disso pegou algumas agulhas pequenas e as acoplou na ponta de cada fio...Assim fincando cada uma delas em várias partes do corpo de Magali.

A cobaia não sentia nenhuma dor,parecia que aquele líquido tinha algum tipo de anestésico que amortecia e relaxava cada músculo do seu corpo.Mas poderia ver que cada fio “sugava’ o seu sangue de tal forma que era possível ver o líquido avermelhado passando rapidamente pelos fios transparentes.Alguns segundos depois um dos homens puxou Magali para a borda do “tanque” abrindo sua boca a força e fazendo-a engolir um líquido cinzento,assim que a mesma engoliu aquela substância o agente afundou sua cabeça dentro da piscina(como se quisesse afoga-la).

Nos primeiros minutos Magali se debateu desesperadamente dentro do tanque tentando voltar pra superfície,mas as mãos daquele homem empurravam-na cada vez mais forte para o fundo...Deixando-a sem saída.A partir daquele momento enquanto se afogava aos poucos,Magali começou a implorar pela vida em seus últimos suspiros...Ela poderia sentir a morte se aproximar a cada segundo,no entanto assim que sua visão começou a escurecer...Algo surgiu em seu campo de visão, surpreendendo-a.