Magali abrira os olhos com dificuldade e ao perceber que estava naquele mundo novamente,sentiu uma sensação terrível lhe percorrer o corpo e a mente...não era mais uma sensação de surpresa e curiosidade,mas de completo medo e desespero.

O pior de tudo é que acordou em uma cama de casal enorme,com lençóis de seda rosados e inúmeros travesseiros que cobriam todo o seu corpo...a mesma olhou para todos os lados para se certificar que não havia mais alguém naquele quarto.E realmente não havia ninguém lá para o seu alivio.

Agora o que restava fazer era se certificar do que havia acontecido e tentar explorar ao máximo aquele lugar,para poder descrever tudo nos mínimos detalhes para aquela voz terrível.Porém assim que se levantou deu de cara com uma garrafa quase vazia de whisky e algumas taças quebradas pelo chão,junto a um jornal rasgado ao meio...No primeiro momento Magali se assustou com aquela cena,mas não demorou muito para se levantar da cama e se locomover no quarto cautelosamente em direção ao jornal,assim que colocou as mãos nele a porta do quarto fora aberta:

—Cebola?-Magali sentiu um misto de sentimentos ao vê-lo novamente,mesmo sabendo que ele não era “real”era muito bom saber que ele estava em seu sonho.

—O que houve ontem a noite?-O mesmo entrava no quarto ajeitando o terno

—Do que está falando?

—Eu é que pergunto...ontem você me ligou meia-noite e começou a xingar a minha mulher...dizendo que ela não te conhecia e não sabia o que era música e que eu deveria ter te defendido,já que segundo você eu fui a inauguração.

—O que?Aquela apresentação?-Magali lembrava vagamente de estar dançando em um palco e também lembrava que Cebola estava lá no meio da platéia-Mas você estava lá...não estava?

—Não Magali eu não estava...A Penha teve que ir sozinha pra inauguração,já que eu acabei ficando até mais tarde no tribunal batendo boca com o Cascão...infelizmente não pude ir.

—Mas eu juro que vi você lá.

—Aposto que você estava meio drogada quando se apresentou hahahaha

—Eu não estou brincando Cebola!é sério..tenho certeza que você estava lá!

—É mesmo?Então me prove.

Assim que foi “desafiada”,Magali folheou o jornal rasgado em suas mãos,até que achou o que estava procurando:

Magali estreou em grande estilo a inauguração do Grand Hotel,surpreendendo os convidados e até mesmo a banda de qual faz parte(Star Stars)...Porém nem todos gostaram da apresentação,a top Model Penha se pronunciou depois da festa e descreveu a performance da cantora de “repugnante e vergonhosa”,segundo ela Magali em uma parte da musica havia subido encima de uma das mesas e tentado beijar o seu Marido(Sir.Cebola)que por sua vez se assustou com a atitude...Mas o restante dos convidados adorou a apresentação e só tiveram elogios para com a cantora...

—Eu não acredito...o que foi que eu fiz?!-A mesma mal podia acreditar que o seu outro eu fora capaz daquilo

—Como assim eu estava lá?Esse jornal deve ter se enganado não é possível...

—Claro que estava!Olha a sua foto aqui!-Magali apontou para a foto em que Cebola posava ao lado de Penha no tapete vermelho.

—OQUE?!EU JURO QUE EU NÃO LEMBRO DE TER ESTADO LÁ!-Cebola tirara o jornal das mãos de Magali e o folheava incrédulo.

—Então se você não estava lá...quem estava?-No mesmo instante Magali se lembrou que acordou daquela apresentação com a maquiagem toda borrada em seu rosto e que Cebola havia ficado um bom tempo no quarto do hospital,talvez tivesse entrado naquele mundo também.Só que havia um porém,segundo Franja ambos os dois entravam nesse mundo dos sonhos em horas diferentes...então se era o Cebola de verdade que estava lá...como os dois conseguiram entrar ao mesmo tempo?

—Magali..você esta bem?-Cebola começara a perceber que a amiga parecia ter entrado em transe em seus pensamentos,até que “despertou” do seu devaneio

—É isso!Existem dois Cebolas!

—O que?!

—Eu não sei como te explicar isso...mas eu não sou a Magali que você conhece.

—Magali...você esta me assustando,como assim não te conheço?

—Olha,você com certeza deve ter estranhado que eu não lembro de nada do que aconteceu não é?

—Sim,mas isso não é justificativa...

—Eu sei...mas é que na verdade eu vim de outro lugar entende?Eu estou num experimento em que eu posso ir para um mundo paralelo ao meu e...

—Maga...senta aqui e se acalma ta bom?-Cebola conduziu Magali até a cama e depois se sentou ao seu lado-Eu sei que você esta estressada...mas vai ficar tudo bem,é normal não lembrar das coisas.

—Cebola!Você não esta me entendendo...

—Estou sim...e sei que ultimamente anda fugindo pras bebidas quando esta tensa demais.

—Do que você ta falando?

—Olha só isso...-O mesmo apontou para a garrafa de Whisky e as taças quebradas-Como você quer negar que não esta se matando aos poucos?

—Eu não lembro de ter bebido isso e nem de ter quebrado nada.

— Claro que não lembra...você estava bêbada quando me ligou ontem.

—Mas isso não fui eu que fiz e sim a outra Magali...

—Por favor não tente colocar a culpa em “outra” pessoa...deixe eu te ajudar.

—Me escuta Cebola e tenta entender...eu estou num experimento,esse mundo não me pertence...eu só sou uma adolescente que nem saiu da escola ainda...Eu jamais me vestiria como essa outra se veste e não quero ser mais cantora.E é a mesma coisa com você e o outro Cebola...o meu amigo que eu realmente conheço só tem 17 anos e não tem tudo isso,só fez a mesma escolha que eu que foi entrar nesse experimento...por isso ele estava na festa e você não...

—Olha Magali eu estou realmente preocupado com você...e muito confuso,isso é loucura da sua cabeça.

—Não é!Eu juro que não é

—Okay...eu vou fazer o seguinte,vou ligar para o doutor licurgo e marcar uma consulta o mais rápido possível pra você e enquanto isso você não vai sair daì.entendeu?-Cebola respondeu enquanto pegava o celular do bolso e ligava para o tal doutor.

—Cebola!Eu não estou louca!!-Magali quase saltou encima de Cebola tentando pegar o seu celular...mas sem sucesso.

—Eu sei que não esta Maga!Mas isso é pro seu bem!-O mesmo se afastava de Magali rapidamente,enquanto discava o número do psiquiatra.

—Por favor!!-Magali implorava com medo do que poderia lhe acontecer,se fosse diagnosticada como louca provavelmente seria levada para um hospício horrível naquele mundo e assim não teria chances na sua realidade.

—Alô?Doutor Licurgo...sim sou o Cebola como vai?-O mesmo saiu do quarto andando pelos corredores,enquanto Magali o perseguia desesperada.

—Eu não estou Louca!!-Magali continuava correndo atrás do amigo,mas suas forças pareciam se esgotar a cada passo que dava

—Estou precisando que atenda a minha amiga...se for possível hoje mesmo.-Cebola continuava andando pelos inúmeros corredores da mansão de Magali,depois de alguns minutos de caminhada o mesmo desligou a ligação e finalmente marcou a consulta.

—Pronto Maga!Está confirmado hoje mesmo eu vou te levar lá.

—Você não devia ter feito isso!!Ele vai achar que eu sou louca e vai me prender...assim como estão fazendo comigo....-Magali começara a chorar copiosamente,lembrando dos momentos de terror que passou ao ser seqüestrada...quando fora arrastada por homens desconhecidos na sala da sua própria casa,enquanto tentava se agarrar em vários moveis.

—Como assim estão fazendo com você?-Cebola poderia achar que era loucura da cabeça da sua amiga,mas suas palavras pareciam muito verdadeiras...afinal Magali parecia bem sóbria e não era de mentir,principalmente com esse tipo de situação.

—Eles...me seqüestraram...eu n-não sei o que vão fazer com os meus amigos e comigo...eu estou com muito medo!-Magali não conseguia mais falar direito em meio aos soluços e as lagrimas quentes que escorriam do seus olhos,ela sabia que aquele Cebola não iria ajudá-la por mais que tentasse.

—Calma...vamos dar um jeito nisso ta bom?-Cebola abraçava a amiga fortemente sem saber o que fazer,mesmo que aquilo não fosse um problema dele ele se sentia responsável pela amiga e queria ajudá-la de qualquer forma,por mais que não entendesse direito o que estava acontecendo.-Não precisa ter medo..eu vou estar aqui quando precisar...como sempre estive.

—O-obrigada Cebola...-Magali sabia que não iria dar certo e que seu amigo tinha poucas chances de ajudá-la,mas aquele abraço e aquelas palavras por mais estranhas que fossem eram como um porto seguro para Magali,que poderia encontrar seu refugio em outro mundo enquanto morria aos poucos no outro.Porém mesmo assim no final das contas,a mesma não negou a ajuda e deixou com que seu amigo a levasse até a consulta...parecia que Cebola ainda não acreditava muito naquela história,mas ao menos ele parecia se esforçar para entender.