Júpiter escrita por sofi weber


Capítulo 5
Capítulo 4




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Naquela noite, o sono de Leão foi conturbado. Ele acordou diversas vezes, graças a alguns pesadelos. Normalmente, iria dormir com seu parceiro mercuriano, mas desde a última tentativa, quando Virgem o chutou para fora, não aparecia mais por lá. O orgulho era maior que a vontade de conseguir dormir uma noite inteira pacificamente.  Graças ao sonho ruim, carregava grandes bolsas e olheiras abaixo dos olhos castanhos.  Ele saiu do quarto já mandando um olhar de quem poderia matar uma pessoa para o primeiro coitado que apareceu.

                ―Bom dia, Leão! ― o ruivo exclamou quando o viu.

                ―O que tem de bom?! ― o felídeo retrucou, com um mau humor quase palpável e seguiu para a cozinha.

                No outro cômodo, também não cumprimentou ninguém, diferentemente do que fazia todos os dias, causando estranhamento em todos ali, acostumados em ver o leonino sorridente e brincalhão. Virgem fixou os olhos nele e passou a segui-lo com o olhar, com a preocupação aumentando. Ao notar a recíproca da mirada, ele deu um pequeno pulo de susto na cadeira, virando rapidamente o rosto na direção oposta. As orbes marrons portavam uma expressão dura e irritada. O virginiano o conhecia bem o suficiente para saber o que se passava, afinal, nessas situações, era ele próprio a companhia dele. Azar dos outros que não sabiam, principalmente do geminiano, que no seu tom debochado, questionou:

                ―O que foi, gatinho? Acordou longe do Virgem?

                ―Sim, e você? Acordou longe do seu cérebro? ― o bichano retrucou astuto, sem mudar a carranca. Um coro de “Oooooh” foi formado na cozinha, liderado por Escorpião. Enquanto isso, Leão, sem se comover, enfiava um waffle na boca, sem cordialidade alguma.

                ―Que descortês! ― Libra pontuou. O leonino, dessa vez, escolheu relevar e ignorar.

                Virgem, por sua vez, voltou a observar o acobreado assim que sentiu que ele ficou alheio ao ambiente e afundou no seu mundinho. Sentia falta de quando eram próximos e não entendia, realmente, o porquê de Leão ter se afastado tão de repente. Todavia, o moreno só notou a falta que seu companheiro fazia quando percebeu que agora, dormia sozinho todas as noites.

                Após alguns minutos refletindo sobre o distanciamento do amigo, o virginiano passou a sentir uma dor estranha no peito, dor essa que parecia aumentar a cada segundo que passava analisando aquele rosto que, mesmo com uma máscara mal humorada, conseguia ser belo e estonteante. Ele se levantou rapidamente, quase derrubando a cadeira onde sentava e saiu com passos ligeiros da cozinha. 

                Seus pés marchavam diretamente na direção do jardim, onde achava que não haveria ninguém, já que de fato, nunca havia. Qual não foi sua surpresa ao ver ali, atrás de um arbusto, uma cabeça com fios de cabelo azulado. Ele foi até lá e ao ver seu oposto complementar, que mantinha uma feição de distração, o chamou.

                ―Peixes?

                O pisciano continuou desatento, olhando o chão com a cabeça levemente tombada. Virgem não tinha certeza, mas achou ter visto um pouco de baba escorrer pelo canto dos lábios dele. O moreno continuou tentando chamar o pequeno, aumentando gradativamente seu tom de voz até que ele se atentasse. Assim que o pisciano voltou ao mundo real, deu um pulinho e olhou para os lados, tentando se situar.

                ―Ah, Virgem! ― ele disse, com um sorriso nos lábios. Em seguida, deu um pulinho para o lado e bateu duas vezes no chão, com leveza ― Senta!

                Virgem olhou para o chão com uma leve expressão de nojinho, afinal, sua bata era branquíssima e a grama era suja, mas mesmo assim, sentou-se e suspirou, mexendo os quadris tentando tornar aquilo confortável.

                ―Ok... Eu estou sentado... Na sujeira... Que mancha as roupas e...

                ―Ah, não fique assim! ― o garoto tacanho falou com a voz calma e suave, como de costume ― Pensa em quantas coisas você perde na vida por se preocupar demais.

                ―Ahm... Sim, acontece... ― naquele momento, a mente do virginiano voou até o leonino novamente. Agora tudo que se relacionasse com perdas e abandonos o faria pensar assim ― De qualquer maneira... ― Virgem coçou a nuca ― No que estava pensando?

                ―Como sabia que eu estava pensando? ― ele parecia maravilhado ao questionar.

                ―Depois que se convive com você por alguns meses, dá pra identificar sua cara pensativa. ― Virgem respondeu, arrancando gargalhadas do outro.

                ―Entendi! ― Peixes suspirou ― Eu estava pensando sobre gostar de alguém. Minha cabeça tá me atazanando com isso desde ontem, depois que eu falei com o Escorpião!

                Virgem quase engasgou com a fala do de cabelos cerúleos. Nem mesmo ele entendeu sua reação, afinal, para si, não gostava de ninguém. Nunca havia gostado e esperava que continuasse assim, afinal em todos os romances de amor que lia, o processo de se apaixonar e ficar com a pessoa amada era muito turbulento e, sinceramente, para ele, não parecia valer a pena.

                ―E você chegou em alguma conclusão?

                ―Cheguei! ― Peixes respondeu, concordando com a cabeça. Ele respirou fundo, olhando o horizonte ― Gostar de alguém é delicioso! Eu espero que eu goste de alguém logo, parece tão divertido!

                ―Delicioso?!  Como pode dizer isso?

                ―Ora, Virgem! ― ele disse ― Você nunca sentiu uma cócega gostosa no estômago? Só de ver alguém? Aí o seu coração fica agitado e você sorri... Só porque outra pessoa também está sorrindo... Sabe, achar melodia na risada de alguém... Isso é tão bonito!

                Virgem abaixou a cabeça e olhou o próprio colo. Não sabia que gostar de alguém era assim, mas pôde relacionar a descrição de Peixes com algo que vinha sentindo há algum tempo.

                ―E você fica assim por alguém?

                ―Acho... Acho que quando eu vi o Sagi, na noite passada, eu fiquei assim... ― Peixes sorriu, abraçando os joelhos e olhando o chão ― Eu fui dormir com ele tocando violão aqui fora e eu dormi tão bem!

                ―A-ah... O Sagi...?

                ―Sim, algum problema? ― o azulado franziu o cenho. A última coisa que queria era magoar alguém. Não tinha se lembrado do detalhe de que seu amigo e novo crush tinha sentimentos fortes por Virgem ― Você também gosta dele?

                ―Não! N-não, nem pensar! ― o virginiano respondeu rápido, corando. Não tinha certeza se havia dito a verdade ao outro. Se sentia bem com Sagitário e saber que alguém nutria sentimentos por si era reconfortante. A ideia de perder isso o assustava. O medo aumentou quando se lembrou do surto que teve no outro dia, no quarto do equino. ― Eu... Eu preciso pensar um pouco, ok? Continue ai com a sua... a sua brisa, ok? Ok...

                Em seguida, Virgem se levantou. Não deu a mínima atenção para as folhas grudadas na sua bata e as manchas marrons de terra e começou a correr na direção de casa. Passou pela cozinha com pressa, respirando com uma certa dificuldade, andando na direção da sexta porta no corredor dos quartos. Contudo, no caminho, quase alcançando seu objetivo, suas pernas travaram na frente do quinto quarto, onde havia o símbolo do signo de Leão e o desenho de um Sol. Ele ficou inerte na frente do portal, sentindo a garganta se apertar. Sua vontade era invadir a alcova do outro e se jogar nos braços definidos, afundar o rosto no peito dele e sentir seu cheiro, enquanto suas mãos cuidadosas acariciavam seus cabelos. Todavia, mal podia mexer um músculo. Com o coração agitado e cócegas no pé do estômago, enfim seguiu para seus próprios aposentos. 


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