Júpiter escrita por sofi weber


Capítulo 3
Capitulo 3




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No momento em que ouviu Virgem, os olhos de Sagi se arregalaram ainda mais. Leão, por sua vez, lançou um olhar sério na direção do recém-chegado, sem se distanciar do amigo. Ele deu um leve sorriso malicioso, quase imperceptível, enquanto passou a comprimir mais os lábios contra os do sagitariano. O outro, sem coragem para se mexer, apenas ficou ali até sentir o companheiro sair de cima de si.

―Sim, Virgem? ― Leão questionou, quase num tom cínico, ainda levemente irritadiço ― Eu estava um pouco ocupado.

―Eu... Notei... ― Virgem respondeu, de cenho franzido ― Não esperava entrar e dar de cara com essa situação.

―É, mas eu precisava consolar meu amigo de alguma maneira, já que alguém o deixou muito, muito triste.

O virginiano apenas encarou os dois. Sagi estava vermelho e com o coração batendo forte. Seu estômago revirava e o pulmão ficava sem ar muito mais rapidamente. Estava quente por inteiro, mas seus músculos pareciam congelados e incapazes de funcionar. Enfim, num surto de coragem, ele exclamou, num tom de voz trêmulo e vacilante, se levantando:

―Não é isso, Virgem! ― ele precisou respirar fundo algumas vezes, tentando tomar mais uma dose de valentia, mas por fim, bufou ― Hoje você só me pegou em situações ruins...

―Talvez você sempre esteja em situações ruins ― Virgem retrucou.

―Ou talvez as situações não sejam de fato ruins ― O de cabelos acobreados se intrometeu sem hesitar, enquanto se sentava na cama. Seu olhar se mantinha severo e fixo  nas orbes esverdeadas do outro ― Talvez você seja um insensível que não sabe olhar além do armário de produtos de limpeza. Talvez você só ache que são boas as situações que correm conforme você quer. Talvez eu seja taxado erroneamente como egoísta, porque o único individualista que eu vejo aqui é você.

O quarto ficou em um silêncio assustador enquanto os três se afrontavam. Virgem tomou a dianteira e saiu dali, sentindo o corpo inteiro pesar e algo preso na garganta. Ele andou calmamente até seu quarto, que era a poucos passos de distância. Pouco antes de entrar, avistou Aquário, que derrubava glitter pelo corredor, mas preferiu ignorar e apenas se jogar na cama.

O aquariano, por seu lado, apenas adentrou a décima segunda porta, ignorando as cordialidades de bater na porta e pedir permissão. Ele trajava uma camiseta com os escritos “Fora AQUELE QUE NÃO PODE SER PRONUNCIADO” e estava levemente esbaforido. Ao ver Peixes largado na cama, encarando o teto, ele respirou fundo e se aproximou.

―Foi você que falou de racismo inverso? ― ele questionou rapidamente ― Meu sensor militante apitou!

Peixes grunhiu e concordou com a cabeça. Agora já conseguia pensar com mais clareza, mas sua cabeça girava e estava enjoado.

―Entendi, então vamos debater, eu te procurei pela casa toda. ― Aquário, com sua sensibilidade natural, empurrou levemente o outro e sentou no espaço livre da cama ― Já reparou que a maioria dos que falam de racismo inverso são os elitistas que acreditam na meritocracia?

―Sim, lógico ― o azulado respondeu de qualquer jeito, num tom fraco e cansado, nem prestando atenção no que o moreno dizia. 

A conversa se prolongou por vários minutos, com o pisciano apenas concordando com as inúmeras militâncias do outro. O assunto tinha fluido até as Olimpíadas de 2016, mas o aquariano se calou quando a porta abriu. Reuniu toda a hipocrisia dentro de si e exclamou:

―Ô, aqui não é casa da mãe Joana, não sabe bater?!

―Sei bater na sua cara, quer ver? ― Escorpião falou com seu tom glacial usual, comprimindo os olhos ao ver Aquário deitado ao lado de Peixes. Ele adentrou o quarto devagar, sem mover o olhar para algum outro canto do cômodo ― O que você está fazendo aqui?

―O que eu pareço estar fazendo?

―Atrapalhando.

Peixes apenas assistia a interação dos dois. Nunca entendeu muito bem o motivo para o escorpiano se colocar na defensiva quando outra pessoa chegava perto de si, mas nunca pensou em perguntar sobre isso para não magoar o amigo, que era um pouco sensível em algumas situações. Não gostava do jeito que ele tratava alguns outros moradores, mas não se sentia a vontade para comentar isso com ele, além do medo de perder a amizade dele, que era muito importante para si.

Aquário se sentou na cama e olhou dramaticamente para o chão. Deixou sua franja castanha cair como uma cortina sobre seus olhos escuros e olhou o escorpiano na sua frente. Abriu a boca dramaticamente, se levantando.

―Vai catar coquinho.  ― ele disse numa voz profunda e saiu correndo do quarto.

Assim que retornou ao seu quarto, Virgem fechou firmemente a porta atrás de si, agoniado. Ele encostou-se na madeira e respirou fundo, sentindo um peso no peito. Na sua cabeça, corriam flashbacks do dia que enfrentou. Focou-se nos olhares frios de Leão, que costumava ser tão caloroso e receptivo consigo. Fazia um tempo que o felino já não aparecia mais no quarto do virginiano durante as noites. Quando ele fazia isso, o regido por Mercúrio se irritava. Dizia que não queria nunca mais que ele fizesse isso, mas agora que o acobreado realmente não fazia, o moreno sentia falta.

De manhã, costumava acordar antes. Ele gastava alguns minutos vendo os seus cabelos misturados com os dele. As tonalidades diferentes criavam um contraste bonito. Além disso, também notava o quão confortável o felídeo era. Sua pele era macia e tinha cheiro de colônia masculina. E a voz dele, então! Era forte e tinha uma imposição natural nela. Algo que atraía respeito, que fazia com que ele não precisasse gritar como o virginiano fazia para se sobrepor. Mas ao mesmo tempo que era estável e rija, era suave e doce.

E ainda havia Sagitário. Ele sim sabia como viver a vida. Ao contrário de Virgem, mal conseguia passar perto do armário de produtos de limpeza, pois tinha algo muito melhor o esperando do lado de fora de casa. Tinha histórias para criar e pessoas para conhecer. Uma infinidade de aventuras incríveis que posteriormente, nas noites de fogueira, faria todos os moradores da casa o olharem com brilho no olhar.

Mas Virgem era recluso. Não sabia expor seus sentimentos ou nem ao mesmo podia lidar com eles, já que mal os entendia. Então sua tática era afastar as pessoas de si, assim causaria menos problema. Se guardando, talvez evitasse confusão. Era solitário e triste, mas ele decidiu enfiar na sua cabeça dura que este seria o melhor para si mesmo. Com esse pensamento em mente, o responsável pela limpeza se deitou e apertando o cobertor contra o próprio corpo, adormeceu.


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