Death Tricks escrita por Midnight


Capítulo 6
The Storm


Notas iniciais do capítulo

Oiie, obrigada a todos os que comentaram *-* I'm so happy :3 :3
Capítulo mais para o emocional que para a ação, acho que precisamos de saber um pouco mais sobre Lyra <.<'

Não encontrei uma música que se adaptasse muito bem a este capítulo, mas esta até está bem, mais calminha que as outras e tal :3
Enjoyy :3



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Lights - Melanie Martinez

Capítulo 5: 

Nos lençóis enrugados, o corpo nu daquela bela mulher descansava, enquanto Ace se vestia e preparava para voltar ao palácio. Quando já se encontrava na velha porta de madeira da pousada, ele novamente vislumbrou a moça, julgando que seria a última vez. O seu corpo era níveo e tão pálido como uma boneca de porcelana. A sua aparência era frágil e doce... Tão doce como ele havia provado na noite anterior. Descoberta pelo lençol, ele relembrou a sensação daquela pele sedosa na ponta dos seus dedos. O que ele não recordava da noite anterior, mas agora percebia, eram as cicatrizes profundas nas suas costas, que não eram propriamente naturais de uma mulher simples e delicada como a que ele julgava que ela era. Estranhou por não ter reparado nelas mais cedo, uma vez que elas eram até bem notáveis. Talvez estivesse demasiado escuro para as ver ou talvez ele simplesmente não quisesse saber de nada ontem, apenas de ela e da sua formosura encostadas nele... Perguntou-se que tipo de dores ela havia sofrido e que tipo de pessoa ela era, mas então lembrou-se que não a veria mais e que a sua história não era da sua conta. 

Cobriu o corpo quebrável da menina, já que a noite era fria e cerrada. Já passava das quatro da manhã, quando Ace abandonou a pousada e se dirigiu para o palácio onde ficaria até amanhecer. 

*~*~*~*~*~*~*~*~*

A amena alvorada acordara Lyra, que se remexia na cama. Era mais confortável do que dormir na gruta, disso não tinha dúvidas, mas ela estava incomodada e com vergonha de si mesma pelo que acontecera na noite passada. 

Levantou-se vagarosamente, pegando nas suas humildes roupas e vestindo-as na mesma velocidade. Na mesa de cabeceira estava um bilhete juntamente com um envelope branco, escrito à mão com uma bela caligrafia. No bilhete resumidamente dizia para ela ir para o portão oeste dali a dois dias e mostrar o envelope selado ao guarda que lá estiver. Nada mais dizia no bilhete, apenas a promessa que ele havia cumprido. No final, para ele aquilo não era nada, era um favor mínimo que não lhe afetava de forma alguma e ele viu esse pequeno favor como nada mais nada menos que um meio de obter prazer e luxúria. Lyra nem se lembrou de questionar como Ace poderia alguma vez saber que ela, uma suposta camponesa humilde, sabia ler. Ele provavelmente nem se lembrou desse pormenor, mas não importava. O pequeno favor de Ace teria consequências maiores do que ele alguma vez conseguiria imaginar, incluindo a fuga dos verdadeiros culpados pela morte do rei. 

Pousou o bilhete na mesa, depois abraçando o próprio corpo, como se isso a protegesse das memórias que já tinham tantos anos porém elas pulsavam vivas no seu coração, lentamente matando-a, torturando-a... Sentiu nojo, vergonha, repugnância e mesmo desprezo pelo próprio corpo. Sentiu-se usada uma segunda vez e isso causou a formação de uma lágrima no canto do olho esquerdo, seguida do deslizamento da mesma gota salgada pela sua bochecha, lenta e dolorosamente. 

Ficou perdida em pensamentos por uns bons minutos até que se recompôs e finalmente voltou à gruta, onde Juliet e Angélica a esperavam ansiosas por uma resposta. Lyra sorriu-lhes singelamente e falsamente o que Angie logo percebeu, sentindo então preocupação. 

— Mais dois dias. Dois dias e saímos daqui. — Lyra falou. 

Mal tinha acabado a frase, sentiu um abraço apertado de Juliet que lhe estava verdadeiramente agradecida por tudo. Finalmente estaria livre daquela prisão, finalmente poderia andar na rua sem estar no constante medo de ser descoberta e imediatamente morta. 

— Ele simplesmente fez isso de graça? Sem pedir nada em troca? — Angie havia inquirido, embora soubesse muito bem a resposta. 

— Não pediu por muito, ao que parece ele acreditou bastante na história. — respondeu naturalmente, tão bem como se fosse a própria verdade a falar. 

Juliet mais uma vez agradeceu Lyra indo depois para outro compartimento, deixando Angie e Lyra sós. 

Lyra estava agora sentada a olhar o vazio até que foi interrompida pelo olhar suspeito de Angie. A sua sobrancelha estava erguida e Lyra já sabia que ela esperava agora uma resposta honesta. 

— Bem, agora que Juliet não está aqui, já me podes contar a verdade. 

Lyra suspirou. 

— Eu já disse a verdade. — Lyra desviou o olhar de Angie sabendo que ela não estava nem minimamente convencida com aquela resposta. 

— É? Então por que ficaste a noite toda fora? E por que pareces tão acabada? 

Olhou-a melancólica sem lhe ceder qualquer resposta, contudo, para Angie, aquele olhar era a única resposta que precisava para ter a certeza e logo se sentar ao lado da melhor amiga. 

— Nós podíamos ter esperado. É o teu corpo... a tua dignidade... tu não precisavas... 

— Primeiramente, Angélica, eu estou bem, não preciso que te preocupes comigo constantemente. Além disso, não, não podemos esperar mais, tu sabes bem. Já vi alguns guardas vaguearem pela floresta, não tarda muito para que esta gruta deixe de ser segura. — Lyra não hesitava de forma que Angie não podia ver qualquer tipo de arrependimento na resposta dela. — Além disso, eu não aguentaria nem mais um dia presa neste lugar se eu fosse ela... 

Angie ficou em silêncio por momentos, até que sorriu, orgulhosa, dizendo: 

— Não tinha percebido que Juliet se tinha tornado tão importante para ti. 

Lyra olhou-a contrariada, detestando o facto de estar a ser tratada como uma criança. 

Pensou nas suas razões para querer sair daquela cidade, lembrando-se que Juliet precisava de ir o mais rápido possível para um ambiente diferente. Depois lembrou-se dos seus próprios motivos: já não iam a casa há uns bons meses e a carta que havia recebido anteriormente preocupava-a também. 

Angie percebendo o silêncio de Lyra, resolveu abraçá-la, sabendo que ela própria não estava bem. Sabia o que estava a passar pela cabeça dela e embora aquele abraço não resolvesse problemas, era a sua forma de dizer que estava ali para ela. 

Ficaram por momentos em silêncio até que Lyra se levantou, dirigindo-se para as ruas da parte mais pobre da cidade. 

Os galos cantavam, anunciando a manhã e os feirantes já montavam as barracas para vender os mais variados produtos, desde fruta e vegetais frescos a produtos de artesanato. Algumas mulheres transportavam nas suas cabeças potes com água proveniente da fonte do centro da cidade. Já as crianças corriam divertidas pelas ruas, brincando com tudo o que a imaginação lhes permitia. 

Algumas casas pareciam abandonadas e dessas, umas quantas Lyra imaginara que foram um dia tão ou mais belas que aquelas que estavam intactas. Uma era extremamente alta, mas não parecia segura, uma vez que estava em ruínas. Mesmo assim, escalou-a até chegar ao telhado quebrável e lá se sentar, encostada à chaminé. 

Transportava consigo apenas carvão e um caderno velho de folhas ásperas, perfumadas com o cheiro a chá e um pouco de canela. As folhas adquiriram um tom bege e sujo, talvez por serem antigas ou talvez por terem sido molhadas em chá diversas vezes, mas ela não se importava, lá estava o seu coração, lá estava a sua alma. 

Abriu a primeira página vendo o primeiro desenho alguma vez feito naquele caderno. Era uma tempestade no mar, onde tudo era incontrolável, onde o vento irado rasgava as velas do minúsculo barco que lá se encontrava, onde as águas raivosas o guiavam para o seu óbito e onde o céu libertava relâmpagos e as nuvens cobriam qualquer esperança de um céu limpo. 

Virou a página vendo a carvão um campo florido, porém o desenho em si, focava numa única rosa, branca, pura, bela, porém, o que eram aquelas gotas vermelhas que corrompiam tal candidez? Sangue? Sim... Pois aquilo fora desenhado pouco antes do acontecimento que ainda naquele dia assombrava Lyra. O sangue, no entanto, era real e fora derramado sobre aquela página no próprio dia em que a sua dignidade simplesmente sucumbiu de um momento para outro, sem deixar qualquer vestígio ou rastro. 

Ela própria era uma rosa assim como aquela desenhada e o sangue simbolizava a violação que sofrera, a forma de como, sem qualquer misericórdia, fora corrompida... 

O preto do carvão transmitia a amargura presente no seu coração, portanto desde então todas as páginas do caderno eram desenhadas no mesmo tom e praticamente todas transmitiam o mesmo sentimento de angústia. 

Passou imensas folhas à frente até atingir uma vazia, onde começou a rabiscar algo abstrato, tentando esquecer a noite anterior, embora esse fosse o único pensamento que a assombrava. 

O toque de Ace era suave e sedutor, então, por que, como uma pessoa normal, ela não conseguiu sentir prazer nele? Ele não a feriu, ele não cortou a sua pele como lhe aprouvesse, ele não a espancou até ela ficar inconsciente, ele não a forçou a nada...  Por que então, depois da noite com Ace, ela apenas se conseguiu lembrar de uma outra noite em que um homem cometeu todos esses horrores contra ela? Por que, não importa o quanto ela tente, ela simplesmente não consegue esquecer que já um dia foi uma vítima? Por que ela não consegue se tornar a pessoa insensível e forte que ela finge ser? 

Talvez seja por que os seus ouvidos guardaram para sempre o som das suas roupas a serem rasgadas, os seus pedidos desesperados para parar, os seus urros de dor que libertara quando a sua pele foi cortada vezes e vezes sem conta... Ou talvez seja por que simplesmente o seu corpo não foi capaz de apagar as cicatrizes daquela noite que ainda hoje, na zona da barriga, da coxa e das costas, se mantêm visíveis, constantemente lembrando-a daquela noite em que nem mesmo a lua se atreveu a aparecer. 

O seu coração acelerava, repleto de ira, pulsando vivamente o sentimento de vingança que ela sentia para todo o seu corpo e apenas ele a mantinha viva, apenas ele mantinha o batimento daquele órgão pulsante. 

Olhou a folha que estava agora repleta que traços e formas que transmitiam exatamente o rancor que ela portava consigo e que ela precisava de libertar de alguma forma. 

Todos os seus sentidos e emoções estavam misturados perigosamente formando uma guerra dentro dela, uma tempestade. A sua sanidade era o barco do primeiro desenho daquele caderno, frágil e quebrável e a tempestade de emoções intensas estava prestes a aniquilar aquele pobre e simples barquinho... 


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Notas finais do capítulo

Notas:
Quando me refiro a violação, eu quero dizer violação sexual, ou seja, estupro (aqui essa palavra não é usada)
Alguns se questionaram sobre o porquê de Lyra se importar tanto com a dignidade dela quando ela dormiu com Ace, essa é a resposta. Enfim, saberemos mais sobre esta história mais para a frente.
Sei que é um assunto bem intenso e eu não me pretendo centrar muito nele, até porque foi algo que aconteceu com a personagem quase dez anos antes do começo da história, no entanto é um aspeto importante no que trata da evolução da personalidade de Lyra.

ANYWAYS x.X
Obrigada por lerem :) Digam aí o que acharam, espero não ter desiludido ninguém :/
Beijosss



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