Joseph abriu os olhos em um teto não familiar.

—Onde eu estou?

Perguntou enquanto analisava o lugar, alguns leitos com enfermos se estendiam pelo cômodo.

—No pronto-socorro filho. – Respondeu o homem que o salvará na noite anterior. – Sua amiga já foi liberada.

Finalizou ele enquanto Joseph lembrava-se do que acontecera a noite anterior.

—Quem é você. – Perguntou ele calmamente. – O que era aquela coisa?

—Neste momento, quem sou não importa. – Começou o homem. – E aquilo era um demônio.

Joseph sentiu um calafrio correr a espinha.

—Você não está falando serio, demônios?

Perguntou ele.

—Você sabe controlar as reações muito bem para alguém que acabou de abrir os olhos.

Continuou o herói desconhecido.

—Mesmo que eu dissesse ninguém acreditaria. – continuou Joseph. – Qual a versão dos fatos que você divulgou?

Indagou o jovem.

—Hmmm, a sua amiga sofreu uma tentativa de estupro e você a ajudou. – Começou ele. – O suspeito te atingiu na cabeça e fugiu quando eu cheguei ao local, socorri vocês e os trouxe ao hospital mais próximo.

Finalizou o desconhecido.

—Se bem que a parte do estupro não é bem invenção.

Finalizou o homem olhando para Joseph com olhos curiosos.

—Beleza, agora tenho o que dizer.

Finalizou ele.

—Quando vou poder ir para casa?

—Bom os médicos disseram que assim que acordasse.

O homem então fez a pergunta de um milhão de dólares.

—Há quanto tempo consegue ver?

Joseph deu de ombros.

—Ontem foi à primeira vez, estava achando que era um delírio, mas aquilo foi bem real.

Respondeu com um olhar desconfiado para aquele homem estranho.

—O fato de ver não impressiona, mas sim o fato de poder tocá-los.

Continuou.

—E o que isso tem demais?

Perguntou Joseph.

—Demônios fazem parte do plano espiritual, humanos não podem tocá-los.

Finalizou o homem fazendo Joseph estremecer.

—Que historia é essa?- perguntou ele se exaltando. – Tá me dizendo que não sou humano?

O homem riu daquela reação.

—Pelo menos não um humano comum. – finalizou ele retirando algumas roupas de uma sacola e entregando a Joseph. – As roupas que você estava não servem mais, estavam encharcadas de sangue.

Joseph estava confuso.

—Garoto, você mora com seus pais?

Perguntou o homem.

—Não tenho pais. – respondeu ele sem olhar para o homem que o interrogava. – Porque quer saber?

—Bom, por enquanto é melhor você ficar sob meus cuidados. – Finalizou o homem. – A propósito, me chamo Miguel.

Joseph deu uma risada irônica.

—E porque você acha que vou aceitar isso?

Miguel respondeu com um pouco de seu humor diferente.

—Simplesmente porque viram outros na sua cola e provavelmente vão te matar.

Joseph estremeceu e por um segundo ficou paralisado.

—Tem alguma coisa acontecendo comigo não é?

Perguntou ele.

—Sim, e para sua própria segurança temos que descobri o que.

Ao chegarem à casa de Joseph Miguel analisou o cômodo de ponta a ponta.

—Você meche com ocultismo? – perguntou ele. – Acredita em Deus, Diabo, céu, inferno?

Joseph achou aquele tipo de pergunta estranha.

—Porque está me perguntando essas coisas?

Miguel sentou-se no sofá.

—Apenas responda.

Joseph franziu o cenho.

—Sobre ocultismo, não, jamais gostei desse tipo de coisa. – Começou ele. – Sobre as outras, acredito, porém não tenho plena consciência do que são realmente.

Miguel estranhou.

—Não tem plena consciência de quem Deus é? – perguntou abismado.

Joseph deitou-se na cama.

—Eu acredito que ele é real, mas parece que ele não vai muito com a minha cara.

Respondeu ele.

Miguel analisava cada resposta, ele não conhecia Joseph e aquelas respostas demonstraram que aquele jovem estava sozinho há muito tempo.

—Porque está me perguntando essas coisas?

Questionou ele outra vez.

—Porque você precisa entender como as engrenagens do mundo giram, precisa compreender como ele começou e como e composto.

Joseph sentiu uma curiosidade a respeito de Miguel.

—E você, O que é?

Perguntou ele.

—Não convém que te conte agora, mas em breve pelo andar da carruagem saberá.

Joseph foi até a geladeira, pegou uma caixa com alguma comida congelada e dirigiu-se ao microondas.

—Então, como o mundo funciona?

Perguntou Joseph sem levar muita fé no que Miguel dizia.

—Existem dois mundos lá fora, separados por uma camada muito fina. – Começou Miguel pegando um pequeno espelho que estava na parede. – Digamos que são reflexos um do outro, mantidos em ordem por um delicado equilíbrio.

Miguel colocou o celular em frente ao espelho.

—E estes mundos são nada mais nada menos que, o mundo material e o mundo espiritual.

Finalizou ele refletindo o aparelho no espelho.

—Quase que imperceptível a maioria das pessoas, o mundo espiritual vive escondido, como disse, separada por uma fina camada uma camada tão fina que pode ser transposta.

Continuou ele olhando para Joseph.

—Até ai faz sentido. – Falou o jovem sentando-se próximo a Miguel. – Mas você disse quase imperceptível, porque quase?

Miguel então continuou.

—Existem pessoas que possuem dons Joseph. – Continuou ele. – Dons, que por serem ilógicos, lhes renderam a reputação de malucos, desorientados.

Miguel o fitava seriamente e por alguma razão desconhecida Joseph sabia que ele falava a verdade.

—Então, os chamados dons do espírito são reais? – Perguntou ele curioso. – Posso confiar?

Miguel então respondeu.

—Sim eles são, porém nem todos que dizem possuí-los, os possuem verdadeiramente. – Continuou ele com uma expressão abatida. – E alguns dos que os possuem os usam para obter vantagem e ganho pessoal, desprezam a dádiva divina.

Joseph estava começando a entender.

—Você me disse que aquilo que nos atacou foi um demônio. – Começou ele. – Pensei que demônios precisassem de um corpo humano para agir, tipo uma possessão.

Miguel então explicou.

—A maioria deles precisa possuir alguém. – Os olhos dele se estreitaram. – Mas existem alguns tão poderosos que podem se materializar, e caminhar entre os dois mundos.

Joseph estremeceu.

Miguel pegou um caderno velho que estava na estante de Joseph e escreveu três palavras.

—Leia.

Joseph observou a caligrafia perfeita do homem, invejável.

—Anjos, Humanos, Demônios.

Miguel continuou sua explicação.

—Anjos e demônios se enfrentam a milênios em uma guerra insana pelos humanos. – Miguel olhou nos olhos de Joseph. – Devo te dizer que neste exato momento em varias partes do mundo, anjos e demônios estão travando batalhas insanas por causa de vocês, de um lado, os anjos lutam para protegê-los e lhe revelar o plano divino, do outro, demônios tentam a todo o custo cegar, machucar e matar o maior numero possível de humanos.

Joseph levantou-se em um salto.

—Espera um pouco, você está me contando tudo isso por quê?

Miguel então respondeu.

—Joseph, pessoas podem ver seres espirituais, mas não tocá-los somente um grupo seleto delas. – Continuou ele. – Suspeito que você possa estar incluído nesse grupo e se estiver outros viram atrás de você, seus poderes estão despertando e além do mais eu sinto uma energia espiritual poderosa fluindo através de você.

Falou Miguel preocupado.

—Precisamos descobrir o que você é para a sua segurança e das pessoas que te rodeiam.

Joseph lembrou-se de Gisele e do quão impotente foi em protegê-la.

—Porque eu. – Começou ele com a voz embaçada. – Porque essas coisas acontecem comigo?

Joseph já estava cansado de tudo, sempre sofrendo e vivendo uma vida solitária.

—O que Deus espera de mim afinal!

Explodiu ele aos prantos.

—Eu não sei. – Respondeu Miguel compadecido. – Esse é o tipo de coisa que só você pode descobrir.