Assassins escrita por Miss Desaster


Capítulo 4
Capítulo IV


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! Espero que gostem.



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Felicity conhecia muitas culturas e em todas a honra era uma constante, não importava se assassinava pessoas quando necessário, roubava artigos valiosos e todo tipo de trabalho que faziam na Liga.

Esse era o motivo de ter aceitado o convite de Oliver para comerem. Ele se sentia em dívida e ela não iria se opor, mas também era um bom lembrete de não se meter em assuntos que não lhe diziam respeito. Em momento se ressentiu de salvar a vida de Oliver, já que ele era apenas uma pessoa inocente pega no fogo cruzado de drogas e a necessidade de um viciado. Felicity não costumava errar na leitura de pessoas.

Estava terminando de arrumar o cabelo que resolvera soltar, já que estava sempre preso pela praticidade. Ouviu um ruído quase imperceptível se não estivesse sempre atenta mesmo no apartamento alugado e com entrada privativa. Não era bom que os vizinhos soubessem que horas chegava e saía, isso é o suficiente para um inimigo criar um padrão. Puxou a faca presa ao tornozelo e se preparou para atacar o invasor.

Olhou por um milésimo de segundo pela tela do notebook em cima da cama e ninguém havia passado pelas câmeras de segurança. Era algo para desconfiar, mas se fosse alguém com nível similar ao seu, nunca seria flagrado por uma câmera.

A pessoa usava os trajes utilizados pelos integrantes da Liga apareceu com um capuz sobre a cabeça, mas isso não foi o suficiente para baixar a guarda. Traição não era a coisa mais comum, a organização era sobre honrar pelo que se lutava e isso incluía não virar as costas para um irmão, mas isso não impediu de Josh desertar.

— Uma faca não é a melhor arma de combate. – Disse Phillip empurrando o capuz até que caísse sobre as costas. – Exige proximidade e estraga o elemento surpresa.

Felicity avançou a toda velocidade, dobrou o braço no formato de L e o empurrou até a parede da sala de estar que ficava exatamente em frente ao seu quarto. O som dos dois corpos colidindo contra a parede foi oco. Aproximou a faca do pescoço dele.

— Covardes que tem medo do combate corpo a corpo. – Apertou a faca até sentir que a primeira camada de pele iria ceder à pressão que exercia e começaria a sangrar se não parasse. – Eu sou boa com qualquer arma.

Phillip deu uma risada e tentou mexer o pescoço. Felicity pressionou mais um pouco e depois o soltou.

Claro que ele não estava colocando toda força num combate com ela, mas por experiências anteriores sabia que vencê-la lhe daria um bom trabalho. Um de seus treinamentos na Liga acabara quebrando seu maxilar com um belo gancho de direita que ela lhe deu. Isso foi depois que ele havia quebrado três costelas dela. Resolveram que era um empate técnico.

— É bom ver você também. – Phillip a abraçou mesmo sabendo que ela poderia enfiar a faca em suas costelas para cobrar pelo passado.

Felicity retribuiu o abraço por alguns segundos e depois lhe deu um soco no braço.

Saiu andando pelo corredor à direita e entrou na cozinha. Phillip era uma das únicas pessoas no mundo para quem ela daria as costas sem checar por cima do ombro. Ele apareceu alguns segundos depois e puxou a cadeira ao lado do balcão.

— Odeio que invada meus apartamentos. – Ela disse enquanto enchia a chaleira de água para pôr no fogo.

— Queria que eu tocasse a campainha? – O sorriso de escárnio dizia ser impossível para ele fazer algo semelhante.

— As pessoas do mundo moderno utilizam uma tecnologia chamada celular, ele serve para fazer ligações, enviar mensagens, entrar na internet. Conhece? – Apoiou a pia para esperar que a água fervesse.

— Rastreável. – Ele acenou descartando a possibilidade. – Você não relaxa nem quando estamos longe de casa?

— Um momento de distração pode causar nossa morte, então não. – As canecas estavam penduradas acima do balcão. – Pegue duas. – Apontou na direção das canecas enquanto abria os sachês de chá.

— Estava me referindo ao chá. – Não teve que fazer o menor esforço para pegar as canecas que por pouco não esbarravam em sua cabeça.

— Eu gosto. Como andam as coisas em Central City?

— Damien deu seguimento ao plano, continua louco como sempre. Preciso continuar na fronteira, aqueles gosths estão sempre de olho e isso restringe meu tempo na cidade. Não é como você. – Pousou as canecas sobre o balcão.

— Está insinuando que tenho privilégios? – A água começara a ferver.

— Jamais te ofenderia dessa forma e não teria toda essa paciência de não levar esse traidor direto pra Nanda Parbat. – Phillip era conhecido por ser temperamento explosivo.

— Um momento pode evitar um grande desastre; um momento de impaciência pode arruinar toda uma vida.

— Você realmente ouvia aqueles provérbios, talvez por isso tenha adquirido tanta paciência.

Ambos passaram mais um tempo se atualizando sobre as missões:

— Acho que Ra’s vai me chamar de volta daqui algumas semanas. É a primeira que conseguimos o paradeiro do Damien em muitos anos. Talvez tudo esteja pronto pra você lavá-lo de volta.

— Tem uma coisa que não encaixa. Ele parece estar vivendo a vida dele. – Entregou o pote de açúcar para Phillip, que provavelmente adoçaria o chá até se tornar impossível de beber.

— Cedo ou tarde ele comete um deslize. – Encheu duas colheres de açúcar e colocou no chá que fumegava na caneca. – Se eu conseguir terminar com Central City vejo se seu pai me deixa vir pra ajudar.

Felicity revirou os olhos e tomou um grande gole da bebida.

— Ra’s Al Ghul não gosta de desperdiçar seus preciosos soldados com missões duplas. Eu não sou uma filha, também sou apenas mais soldado.

Felicity não tinha a menor ideia se os pais projetavam seus desejos nos filhos, mas seu pai havia feito isso desde que podia recordar. Claro que o primeiro filho herdeiro ter nascido uma menina foi uma grande decepção e nada que fizesse um dia mudaria o pensamento machista dele. Ela nunca poderia ser Ra’s, o máximo é ser condenada a um casamento de conveniência com o homem que o conselho escolheria para ser o próximo na linhagem. Na história da Liga nunca existiu um Ra’s mulher e nunca a deixava esquecer esse detalhe, um constante aviso: Nunca será você.

Cada fase de treinamento que passou era uma tentativa de fugir de um destino presa aos desejos de um marido sem rosto. Passaria o restante de seus dias como um objeto de decoração em Nanda Parbat. O pensamento sempre lhe revirava o estômago.

Phillip tirou um tablet do bolso interno do casaco e caíram num silêncio confortável e imerso cada um em suas obrigações. Tinha alguns anos que não dividiam uma missão no mesmo continente, quem dirá no mesmo país. A última vez foi Budapeste.

Ele era a única pessoa que confiaria a própria vida. Isso dizia muito sobre pessoas ensinadas que você só deve confiar no próprio corpo e o que puder utilizar como arma a seu favor.

— Você acha que ele poderia ter largado tudo sem motivo? – Ela questionou depois de um tempo analisando os relatórios que havia escrito.

— Sempre existe um motivo mesmo que não dê para enxergar toda figura no momento.

Tinha um pensamento que perseguia Felicity nos últimos dias, ela não tinha expressado em voz alta ou colocado no primeiro relatório. Primeiro teria que obter provas.

— E se... – A frase morreu antes que pudesse expor demais. Ainda não era a hora.

—-

Ao final da sexta feira Oliver recebeu por e-mail toda a matéria que o professor substituto havia dado aos seus alunos. O atraso no cronograma não foi alarmante considerando que seu substituo precisava conhecer as turmas e entender o ritmo de cada uma. Na média ele parecia estar dando conta do recado.

A escola não poderia dar um resultado enquanto não voltasse ao hospital para uma nova consulta e análise do caso.

O tempo ocioso serviu para começar a nova pesquisa para o artigo que queria escrever há alguns meses, ler as novas descobertas sobre o campo e separar outros para ler no final de semana. Sua vida definitivamente não entraria nos padrões de animada.

Era melhor começar a fazer um resumo do que tinha até agora do que procrastinar. Assim que voltasse para a escola já estaria próximo as provas – que por sorte já tinha elaborado todas no início do ano letivo -, e o tempo para focar no artigo seria quase zero. Após essas avaliações entraria em fase final com todas suas turmas e era o momento que muitos deles estariam com a corda no pescoço, precisando de reforço e precisaria atualizar em que parte eles estariam com mais dificuldades.

Quando olhou para o relógio na parede da cozinha se passava das três da tarde. Já estava na hora de se vestir e encontrar Felicity, só então lembrou de que não fazia ideia de onde ela morava e como iria buscá-la.

Você não me deu seu endereço. Quero passar pra te buscar.

 

Enquanto ela não respondia a mensagem era melhor tomar banho.

Não precisa, só me diga aonde te encontro.

 

No Big Belly Burguer ;)

 

Muito engraçado. Qual deles é próximo aos Gardens?

 

No Centro. Em frente ao Star’s Park. Te vejo em uma 1h.

Oliver resolveu pegar um lugar nas mesas que davam visão para rua e assim veria no momento em que Felicity chegasse. A única razão para ter entrado foi o vento forte que fazia, o que era típico de Starling nessa época do ano.  Em outra ocasião teria se recusado a entrar até sua companhia chegar. Aquele cheiro estava revirando seu estômago de tanta urgência em comer.

Felicity o surpreendeu chegando apenas três minutos depois de ter encontrado uma boa mesa, mas se perguntassem ele também não estava contando. Ela estava diferente dos últimos encontros. Usava um vestido preto, os cachos loiros caindo sobre os ombros e óculos que não lembrava de tê-la visto com eles antes. As lentes deveriam ofuscar a cor dos olhos dela, mas algo havia dado destaque e estava observando os olhos mais azuis que já tinha visto. Sorrir pra ela foi involuntário. A loira deu um aceno de cabeça e veio andando em sua direção.

— Me desculpe pelo atraso, o táxi pegou um engarrafamento. – Ela disse enquanto estendia a mão para cumprimenta-lo.

— Quinze minutos de tolerância e só então seria considerado atraso. – Era divertido ver uma pessoa tão formal no dia a dia. Ela parecia saída direto do Exército com tanta formalidade.

— De onde eu venho não é bom deixar as pessoas esperando. – Seus olhos estavam fazendo o mesmo que fizera no dia que o visitou no hospital: analisando. Ela aproveitava pequenas pausas entre as frases e olhava rapidamente para uma direção diferente.

— Aqui também não é, mas as mulheres costumam fazer mesmo assim. Quer se sentar em outro lugar? – Os bancos altos não eram dos mais confortáveis e os pontos ainda incomodavam muito se sentasse de qualquer maneira.

— Perto daquela janela. – Sendo uma loja de esquina as outras janelas de vidro davam uma vista completa para o parque com seus corredores, pessoas comuns passeando com cachorros e crianças que deveriam estar voltando da escola.

Na hora de levantar para fazer os pedidos Felicity disse para surpreendê-la já que havia feito tanta propaganda do local.  De longe a observava e a loira não pegou o celular em momento nenhum no tempo que passou na fila e esperando o pedido ficar pronto. As pessoas estavam sempre esperando uma chance de ficar a sós com seus celulares, tirarem fotos de tudo que os cerca e isso incluia a comida. Não parecia o caso dela que continuou sentada aparentando maior calma do mundo e a neve começando pela primeira vez no dia. Aquela vista definitivamente merecia uma foto, era uma pena não ter trago a câmera. O atendente pelo visto já o havia chamado algumas vezes pelo volume em que chamava seu nome e pela expressão carrancuda.

O início da conversa teve que partir de Oliver já que ela parecia sempre confortável com o silêncio. Em momento algum Felicity fez menção sobre o incidente em que se conheceram ou perguntou como ele se sentia com aquele olhar de preocupação. Era um alívio estar com alguém que agia normalmente.

— Singapura. – Ela disse casualmente como se não estivesse tão distante de casa e continuou comendo o hambúrguer.

— Você está muito longe de casa.

— Estar longe de onde sou não significa estar longe do lar.

Oliver pegou um punhado de batatas e mergulhou no milk-shake que havia comprado pra ela. Precisou de um pouco de determinação para tirar aquela cara de desprezo no rosto dela e aceitar a oferta.

— Uau! – Foi a única coisa que Felicity disse antes de atacar toda batata com milk-shake.

Quando fez menção de pegar um pouco da comida da parte dela, a loira fez um movimento tão rápido que não notou como a mão dela havia se deslocado do outro lado da mesa e bloqueado a mão que esticou na direção da bandeja.

— Sua comida é seu reino. Nunca esqueça disso. – Ela apontava a batata na direção dele em forma de aviso.

As mulheres com quem havia saído nos últimos meses ou até anos sempre sentiam necessidade de preencher o silêncio então era diferente sair com alguém que tornava difícil a tarefa de entender o que se passava na mente. Só no momento em que começou a falar de seus antigos artigos e o que almejava escrever quando encontrasse tempo o suficiente para suas pesquisas que Felicity pareceu fascinada.

— Com o que você trabalha?

— Quando não estou viajando para os negócios da família, trabalho um pouco com termoquímica. – Aqueles olhos eram de um azul tão denso que poderiam facilmente se passar por cinzas, então Oliver percebeu que estava inclinado demais na direção dela.

— E é o que gosta?

Ela pareceu pensar por alguns instantes.

— Estou acostumada. Algumas coisas nós simplesmente precisamos fazer.

A conversa seguiu para o rumo mais inesperado e Oliver se viu falando mais sobre os artigos que vinha escrevendo e a pesquisa que começara mais cedo. Com certeza Felicity nunca mais pensaria em uma outra saída.

— Você tem algo que eu possa ler? – Não parecia ser uma piada para mostrar o quanto estava sendo um professor mesmo fora da sala de aula, afinal Felicity não parecia o tipo de que faz algo remotamente engraçado a troco de nada.

Como um bom professor seu celular estava cheio de rascunhos, matérias dadas para diferentes turmas, artigos que lia no tempo vago e o que ia pensando ao longo dos dias para não esquecer assim que chegava em casa. A verdade é que seu celular era uma grande bagunça.

Felicity passou os minutos seguintes lendo o artigo que escrevera no verão anterior. Os lábios se comprimiam em alguns momentos e franzia a testa no mesmo instante. Oliver estava tão habituado a observar seus alunos enquanto liam a matéria que passava no quadro ou durante as provas que trouxe o hábito para as pessoas que convivia.

— Meus conhecimentos em Física não são tão amplos, mas estava muito bom. – Ela comentou assim que lhe devolveu o celular e fez uma expressão confusa quando notou Oliver sentado ao seu lado, mas virou o corpo em sua direção. – Por que você é professor? Poderia escrever mais artigos e botar em prática em algum laboratório.

— Quero deixar algum conhecimento no mundo. E eu posso fazer os dois, quando chegam as férias é quando tenho mais tempo para escrever tudo que elaborei durante o período de aulas. Trabalhar em laboratórios nunca foi o que quis, sabe? Minha equipe e eu podemos descobrir algo que não faria bem pra humanidade e depois eu precisaria conviver com isso e não é algo que me interesse. – Não era uma explicação que costumava dar com frequência e muito menos para pessoas que acabara de conhecer, mas quando notou as palavras já haviam fugido de seus lábios.

Não demoraram para notar que haviam comido tudo e Oliver perguntou se eles poderiam dar uma volta no parque. A neve só dava indícios de que tinha passado quando olhava pro chão levemente esbranquiçado, mas o sol já fazia esforço pra sair de trás das nuvens.

A entrada do parque era arborizada o suficiente para não ter nenhuma visão do interior e ver o rosto de Felicity se surpreender com o lago foi um ótimo retorno. Ela não parecia o tipo de mulher que se surpreendia com facilidade, pelo contrário, tudo com ela parecia o oposto de simples. Ela tornava difícil pensar com clareza, seu rosto delicado combinava com os olhos azuis e ainda sim o deixavam confuso já que não transpareceria mais do que ela parecia permitir. Tudo era contido.

Eles sentaram num banco que dava visto para todo lago e os barcos estavam ancorados num píer na outra extremidade.

— Nos dias mais quentes nós podemos alugar um dos barcos. – Ele apontou na direção da placa de fechado devido ao tempo.

— Imagina se o lago congela enquanto as pessoas ainda estão em seus barcos. Não deve ser legal. – Felicity soprava ar da boca e se divertia com a fumaça que o frio transformava.

Nesse momento Oliver teve certeza de que precisava chamá-la para sair, mesmo que ela tenha relutado em aceitar até quando a convidou para comer.

— Quero sair com você. – Saiu de forma abrupta e deveria ter trabalhado melhor se esperava que Felicity desse uma resposta positiva, mas era melhor viver o momento e falar exatamente o que esteve em sua mente.

Qualquer traço de divertimento desapareceu e ela comprimiu os lábios.

— Você não precisa fazer isso, Oliver. Eu entendo sobre muitas coisas e a honra é uma delas, mas não dessa forma. Não existe nada mais importante do que ser um homem de palavra e eu notei.... Vejo isso em você.  – A loira levantou e deu início a uma caminhada para mais próximo do lago.

— O que tem de estranho eu querer sair com você? – Depois de um tempo se aproximou, mas não o suficiente.

— Eu não acho estranho, mas qual o ponto? – Algumas pedras voaram da mão de Felicity direto no lago e saltaram algumas vezes antes de afundarem.

— Quando uma pessoa chama a outra para um encontro é porque quer conhecê-la. Quero conhecer você.

— E esse encontro não é pela noite que nos conhecemos?

— Bem, eu sou muito grato por ter salvo minha vida.  É bom estar vivo, Felicity.

Oliver começou a ter lembranças daquela noite aterrorizante o fazia querer vomitar. Aquele sentimento subindo pela garganta e ameaçando a sufocá-lo. Isso acontecia toda vez em que as memórias voltavam com força, o que não era nada agradável. Conteve a vontade de se afastar de um toque, até perceber que era Felicity segurando seu braço. Mesmo que estivesse com um olhar questionador estampado no rosto, continuou cm a mão em volta do seu braço até conseguir respirar normalmente. Sem fazer uma pergunta sequer. Essa não costumava ser a reação comum das pessoas.

— Você se arrepende?

— Salvar sua vida? Foi diferente e eu pensei que estivesse morto, mas não me arrependo. Por que você pensa assim? – O rosto dela adquiria uma tonalidade mais avermelhada desde saíram ao ar livre, mas ela não parecia incomodada pelo frio.

— As pessoas são diferentes umas das outras. Nem todo mundo se importa de ajudar mesmo que o outro esteja com dor ou morrendo de fome. – Oliver fechou os olhos por um minuto para ter certeza de que estava tudo sob controle.  – As memórias são bem ruins. Eu mal me lembro de você me ajudando, mas uma é bem forte. Você me mandou ficar quieto enquanto impedia tentava parar o sangue, acho. Aquele cheiro ficou impregnado em mim, só não senti depois de ter acordado no hospital.

— Seu corpo estava entrando em choque, era a resposta do seu corpo depois de perder tanto sangue. Sem contar que você também estava nervoso.

— Duvido que alguém possa ficar numa situação dessas. – Ele não tinha intenção de soar rude, mas Felicity fazia soar fácil.

— Você ficaria surpreso.

Eles caíram num silêncio, ouvindo a natureza fazendo seu trabalho. O pássaro cantava em algum lugar entre as árvores, ele viu uma borboleta voando em torno dela e pela segunda vez no dia desejou ter trago a câmera para guardar esse momento.

— Por que, Oliver? Posso te garantir que não tem nada de bom para conhecer sobre mim?

— Então eu deveria decidir, certo? E porque eu quero.

— Seus pais nunca te contaram que só porque queremos alguma coisa, não significa que conseguiremos?

— Nós não conhecemos o suficiente para que eu te dê uma razão melhor. – Quando ela por fim removeu a mão e seu braço, mesmo de casaco ele sentiu aquela área esfriar e imediatamente sentiu falta do calor. – Agora nós temos que sair daqui. Está ficando muito frio.

Ela também não o deixou levá-la para casa, então esperou até que pegasse o táxi e depois pegou o caminho para casa.

Ele pensou em passar na casa de Tommy, mas o trânsito estragou seu bom humor. Além disso estava quase na hora de toar os remédios e as dores estavam ali na borda, ameaçando emergir. Na próxima semana era provável que já estivesse na escola e ele mal podia esperar. Tanto tempo livre era chato se você não tem com quem dividir ou fazer atividades diferentes.

A melodia começou quando Oliver estava a três quadras de casa, o painel mostrou o nome da mãe piscando: Moira.

— Oi, mãe. Tudo bem?

— Querido, como estão as coisas? Seu pai continua insistindo que eu deveria te deixar em paz, mas sou sua mãe. Como ele espera esse tipo de comportamento? – Foi impossível conter a risada enquanto entrava na garagem ao lado do jardim da frente. Ela era tão dramática e talvez tomar dois tiros cause esse tipo de reações nas mães.

Não tinha como reclamar da atenção e carinho vindo de sua família.

— Estou chegando em casa agora para tomar os remédios. Logo as coisas vão voltar ao normal. – Ele esperava que sim.

Moira continuou falando sobre como Thea estava na escola, a vizinha que deixara o cachorro fugir novamente para o gramado do vizinho da frente e mais assuntos que Oliver podia acompanhar por segundo. Prometeu que tentaria almoçar em casa no final de semana.

Ao destrancar a porta Oliver estranhou ouvir o barulho da TV ligada quando jurava não ter visto nada desde o dia anterior e muito menos deixada ligada ao sair de casa. Ao entrar na cozinha deu de cara com Tommy e metade do corpo enfiado na geladeira.

— Os benefícios de se morar sozinho. – Murmurou enquanto tirava os remédios do armário.

— Quer uma cervejinha? – Quando Oliver lhe lançou um olhar assassino, Tommy apenas riu e voltou na sua busca dentro da geladeira. – Aonde você estava?

— Fazendo compras, querida. – Os remédios ainda incomodavam a garganta, principalmente depois de tentar engolir cada um sem água.

— O que você fez para o jantar? A Sara teve uma noite das garotas.

— Não precisa mentir, Little Tommy. Sei que só veio porque sente minha falta.

— Se é o que você prefere acreditar. – Ele deu de ombros e finalmente saiu de dentro da geladeira com uma vasilha de ensopado que sua mãe tinha levado duas noites atrás. Ela sabia que ele não o maior fã de sopas e seus derivados, mas preferia ignorar. Pelo menos alguém comeria em seu lugar.

Eles voltaram para a sala e escolheram assistir a maratona de Cold Case que devia ter começado no início do dia e comemorava o aniversário de exibição da série. Ele lembrava de ter assistido quando passara na TV pela primeira vez, mas já havia esquecido de muitas histórias e mal reconhecia a temporada que passava.

Tommy estava tagarelando sobre o dia no trabalho, Sara havia mandado uma foto da noite das garotas e publicado um vídeo no instagram. Oliver deduziu que o amigo apenas sentia falta da namorada, o que era no mínimo estranho para dois anos de relacionamento. Não que fosse um expert nos últimos anos, seu último relacionamento sério tinha sido na época em que Tommy e Sara se conheceram. E tinha terminado de forma desastrosa, mas era grato de ao menos Isabella ter saído de sua vida definitivamente.

Isabella foi seu relacionamento mais duradouro e se conheceram quando estava terminando seu mestrado e ela ainda estava terminando sua graduação em Física, foi sua aluna quando a faculdade estava precisando de voluntários e Oliver se voluntariou. Ela era tão jovem, alegre e inteligente. Não parecia trazer nenhuma placa na testa escrito furacão. E não era no bom sentido.

Oliver suspirou frustrado por pensar nela depois de tantos meses sem sequer lembrar de que ela tinha passado em sua vida. Demorou um bom tempo para entender de que não estava com o coração ferido e sim o ego. Não que a sensação tenha sido agradável, mas com certeza era melhor do que ter sentimentos mais profundos envolvidos.

Depois disso foi fácil focar no que queria apresentar para seu doutorado e não vinha sendo um caminho fácil, mas o deixou afastado de pessoas possivelmente problemáticas. Havia chegado em uma fase da vida que seu desejo era encontrar alguém sem complicações, sem dramas e com o mínimo de equilíbrio emocional.

Ao enfiar as mãos dentro do casaco - que ainda vestia - para esquentá-las, encontrou um guardanapo do Big Belly Burguer e havia esquecido completamente do que se tratava. A letra era elegante e a pessoa deve ter utilizado caderno para aperfeiçoar a caligrafia quando criança, ele se recusava a fazer quando mais novo e agora pagava por aquilo tendo uma letra horrenda.

Felicity havia rabiscado algumas coisas enquanto lia o artigo que ele escreveu alguns meses atrás. Ela havia feito algumas observações da parte que seus conhecimentos dominavam e por último fez tópicos do que poderia abordar em artigos futuros. Alguns ele já havia escrito e outros nunca lhe ocorreram. Talvez o conhecimento de outra área era o que precisava.

Quem sabe Felicity ajudaria quando se encontrassem da próxima vez.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pelo carinho, reviews e por lerem. A faculdade me consome tanto que não consigo escrever com a frequência que gostaria. Espero que possam entender e mais uma vez:obrigada.



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