Assassins escrita por Miss Desaster


Capítulo 5
Capítulo V


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Cidade do Cairo – 5 anos antes

Após longos meses trabalhando para adquirir mais espaço com o maior empresário no ramo de joias, Felicity conseguira o máximo de confiança que um egípcio se permitia com uma mulher. Estava valendo cada instante que passara morando no clima abafado e seco da cidade do Cairo. Já fazia um ano desde que lhe entregaram a missão. Esse caso exigiu força psicológica, concentração e equilíbrio que vinha treinando por toda a vida e foi a primeira infiltração dada que lhe exigiu tanto tempo. O maior problema da missão foi se manter no personagem por longos períodos. Com o passar dos meses Felicity não entrou em contato com a base uma vez sequer, já que mesmo com a missão correndo dentro do previsto, não era como se estivesse pronta para desarmar todo um esquema de armas biológicas.

Amon era o tipo de homem poderoso que gostava de manter suas companhias sempre por perto e exercendo algum tipo de influência em pequenos atos do dia a dia. Fingir que era uma mulher que aceitaria toda essa forma de manipulação lhe dava nos nervos, mas era seu trabalho o deixar pensando que exercia algum controle sobre ela. Não se dobrava com facilidade, mas os pequenos atos ainda a incomodavam.

Ele parecia uma criança mimada ao lado de seu pai.

Nunca havia praticado tanto boxe na vida, mas era uma recompensa imaginar aquele sorriso presunçoso a cada soco que dava. Tinha mais algumas horas até ter que lidar com um ego que era capaz de ocupar os longos cômodos do castelo que estavam passando a semana para a festa da primavera que começaria a noite. Os egípcios consideravam a sexta feira como parte do final de semana, então significava três longos dias de festas.

Felicity chegou com o perfume de tulipas negras invadindo seus aposentos assim que entrou na sala de paredes claras que davam o contraste que os móveis em madeira escura e a imensa cama de dossel esculpido a mão, fossem valorizados. Viu um bilhete e não precisava ser muito inteligente para adivinhar que Amon tinha algo planejado.

Minha cara, tulipas negras são significado de elegância e sofisticação. Elas me lembram você. À noite receberemos alguns amigos para o início da nossa festa de primavera.

Aguardo ansiosamente pela sua companhia.

Amon.

A capa de roupa estava perfeitamente esticada sobre a cama e tudo indicava ser um vestido para o jantar da noite.  Ele nunca a deixava repetir roupas, nos eventos importantes algumas peças de suas joalherias apareciam magicamente no quarto ao lado das roupas que usaria. Enquanto isso precisou checar os e-mails novos que chegavam e checar as notas das matérias que se recusou a abandonar mesmo depois de ter que lidar com uma vida dupla. Alguns meses infiltrada que seu cérebro começava a entender de que um disfarce não pode ser forçado, precisa estar nas veias e nas terminações nervosas ou brechas podem ser liberadas quando se fica preso ao seu verdadeiro eu.

Algumas batidas soaram na porta enquanto Felicity prendia o cabelo com alguns grampos para manter o penteado sem desmanchar. Foi preciso respirar fundo algumas vezes, hoje seria um dia importante. Era a primeira festa que Amon dava como anfitrião depois de começarem o relacionamento. Ele estaria apresentando Sofia como namorada para a sociedade.

Amon vestia um smoking azul claro que contrastavam perfeitamente com sua pele dourada, ele parecia reluzir e não era pelas roupas ou acessórios que utilizava. Não era algo que outros homens pudessem comprar o que exalava dele naturalmente.

— Sua beleza nunca cansa de me surpreender. – Ele se aproximou da penteadeira em que ela ainda estava sentada retocando alguma imperfeição da maquiagem.

— Algum dia irei acreditar em você. – A morena fez um esforço e abriu um pequeno sorriso ao tocar a mão dele.

Esse disfarce em especial exigia alguém que faria esse homem que dava massagem em suas costas se apaixonar, ela precisava ter neurônios que as outras não possuíam, culta e saber quando e como aplicar a força que possuía. Claro que precisou utilizar todo o estoque de sorrisos falsos que havia guardado ao longo da vida e Amon nunca notou o quanto não eram verdadeiros, mas isso era o que a fazia tão boa no que executava. Na verdade lhe causava dores de cabeça toda vez que precisava sorrir como se curtisse cada momento que tinham. O sexo era incrível e isso melhorava um pouco. O que não era de longe o suficiente.

— Vejo que o vestido ficou maravilhoso. – Ele comentou assim que Felicity se levantou e ficaram frente a frente.

Como se você não tivesse me imposto para vestir.

— Você tem um gosto excelente. – Tinha optado por não usar nenhuma bolsa, assim evitava carregar peso desnecessário. – Vi a decoração mais cedo e tenho certeza de que surpreenderá seus convidados.

— A noite reserva muitas surpresas, Sofia. – Quando os lábios macios dele se apossaram do dela, Sofia assumiu seu papel fisicamente e mentalmente.

Estava na hora de Felicity ser Sofia.

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Peter desceu de jatinho 48 horas antes da festa de primavera que Amon Moubarak daria e Felicity estava nessa missão por mais de um ano. Agora parecia o momento que ele abriria a guarda para ela e era isso o que os rumores diziam na alta sociedade. O empresário estava tão apaixonado que daria uma prova de seus sentimentos para a mulher que considerava digna de sua afeição.

Ra’s não parecia muito incomodado pela filha estar numa missão por meses, mas não era como se fosse ele ganhar o prêmio de pai do ano. Felicity era mais um soldado no campo de batalha e talvez sua única vantagem era ser herdeira da Liga, mas era um posto que nunca assumiria e ela tinha consciência disso.

Sua viagem era exclusivamente para se manter atento a qualquer evento grande que poderia acontecer essa noite. A garota era realmente boa para alguém lançada numa missão aos 19 anos. Não era nenhuma novidade ela ser um prodígio desde criança quando supostamente teria aulas com outras crianças da vila ou algum membro da Liga irresponsável o bastante para ter filhos, mas Felicity sempre ia para duelos de espadas aos oito anos.

Nunca ocorreu perguntar quem tomava essas decisões sobre a criação dela, a verdade é que ninguém se importava ou tinha coragem o bastante para perguntar a respeito da filha de seu líder. Na Liga cada um vivia sua vida sem muitas perguntas, o importante eram os resultados das batalhas e não era “permitido” uma vida fora da fortaleza.

Soldados não sofriam restrições quando estavam em campo desde que elas não atrapalhassem seu julgamento ou os fizessem repensar a ideia na hora que fosse preciso voltar pra casa.

A Liga mantinha negócios nos mais variados segmentos por ser uma boa fonte de renda e para futuras necessidades quando seus disfarces exigiam se infiltrar nas camadas mais abastadas da sociedade. O que costumava ser 99% dos casos. Pessoas pobres não tinha tempo extra para pensar na destruição do mundo ou dinheiro para gastar com tal luxo, essas apenas viviam um dia de cada vez.

Peter achou melhor chamar um motorista para que o pegasse no aeroporto e economizar tempo de buscar o carro que usaria para a festa. Homens importantes deixavam que seus serviçais o levassem para compromissos de lazer, então ele precisava agir de acordo com as regras dessa sociedade.

Um banho era merecido depois de longas horas de um voo cansativo, não importando se havia viajado de classe executiva. Na escala em Bruxelas teve um breve encontro com o fotógrafo que contratara pelos últimos três meses e meio para se manter atualizado do que acontecia com Felicity sem comprometer o disfarce ou precisar de qualquer tipo de aproximação. As instruções para o detetive eram para nunca manter um padrão de horário, eventos específicos e até mesmo locais.

Ao abrir o envelope encontrou um relógio que precisou ser desmontado e só assim pôde encontrar o cartão de memória que conteria todas as fotos, ele descobriria mais tarde.

Seu celular via satélite começou a tocar e precisou atender já que o número de pessoas com esse número poderiam ser contadas em uma só mão.

— O que pensa estar fazendo no Cairo? – Ra’s soou do outro lado da linha com a voz perigosamente baixa.

— Meu trabalho. – Nem o computador mais veloz do mundo seria capaz de abrir a quantidade de fotos – e vídeos pelo que pode notar -, correspondente aos três meses de atualizações.

— Seu trabalho é seguir minhas ordens. – Lá estava o líder que estava acostumado, implacável, sem amarras e com pulso que era esperado dele.

— Acredito que hoje seja a grande noite, por isso tive que vir. – Pensou por alguns segundos que nem havia cogitado a ideia de perguntar como a filha estava. – Eu tomo as decisões do meu perímetro e essa pareceu necessária. O Cairo está sobre minha jurisdição.

Felicity havia sido treinada por Malcolm pela maior parte do tempo, ela sequer pertencia ao seu esquadrão, mas não era comum um soldado passar por um ano em disfarce e não contatar a base para informações. O treinamento orientava entrar em contato apenas se surgisse problemas, novas informações ou quando estivesse com todo esquema pronto para ser desestruturado pela Liga. Era esperado no mínimo dois anos para cumprir a missão que lhe foi dada, mas sentiu que ela estava quase pronta. Caso estivesse errado em suas deduções seria apenas uma forma de atualizar as informações sem levantar suspeitas.

Ra’s disse algo sobre Felicity ser de outra equipe e capaz e de se cuidar sozinha. Ele gostaria de dizer que estava concentrado ouvindo, mas esteve analisando as primeiras fotos e progressão no relacionamento de Felicity – que agora atendia por Sofia -, com Amon.

Era possível ver que após os sete meses que passou cuidando do que fosse necessário ela havia conseguido derrubar as barreiras, se aproximar e conquistar o empresário.

A garota era boa em plenos dezenove anos. Seria ótimo ver todo potencial que teria para desenvolver nos próximos anos.

Levou algumas horas para ver todos os arquivos e assistir vídeos que iam de compras no dia a dia até vernissages. Felicity parecia uma outra pessoa naqueles vestidos esvoaçantes, com sorriso nos lábios e cabelos escuros. Nada naquelas imagens lembrava a menina que viu crescendo em Nanda Parbat.

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Optar que um motorista particular o levasse lhe deu tempo para repassar a estratégia de sua missão mentalmente. As variáveis eram muitas para ir apenas como um soldado à paisana.

A cidade moderna foi mudando e dando espaço para uma paisagem mais desgastada, seus tons de marrom dando destaques as construções desbotadas e só depois de algum tempo a área nobre começa a aparecer com o pôr do sol pintado ao fundo. Precisou mais vinte minutos de viagem e o início de uma área isolada que dava início a propriedade de Amon pelo que tinha analisado com as informações que havia coletado. A segurança foi exatamente para o que estava preparado e seu cartão em forma de convite passou pela segurança, se não passasse o responsável não viveria o suficiente para se arrepender de não prestar o serviço necessário.

A festa tinha o ar requintado de Amon para lançar uma nova coleção, as cores vibrantes em homenagem a primavera e as roupas dos convidados faziam contraste. Honestamente lhe dava dor de cabeça, mas sorriu e conversou com alguns grupos variados e depois passou para as pessoas que o conheciam como investidor excêntrico, que evitava exposição e aparecia em poucas festas por ano. Já havia alguns meses desde sua última aparição, mas todos costumavam gostar da companhia e se mantinham entretido enquanto esperavam a grande surpresa da noite, que não tinha nada relacionado com a nova coleção.

Todos sabiam do relacionamento de Amon e Sofia, não escapava das conversas em todas as rodas, os grupos de amigos e o maior choque que essa era a primeira vez que ambos seriam anfitriões de uma noite, porque ele era conhecido pelas frequentes festas em suas diferentes propriedades. Esse não era um hábito comum dos egípcios, dividir holofotes com uma mulher era raridade como um diamante rosa. Nessa sociedade a mulher ainda era vista como inferior, então apostava que Felicity estava se revirando na pele de Sofia para aceitar ser no mínimo 1% submissa.

O salão caiu quase num silêncio esquisito e quando se virou na direção em que todos mantinham os olhos fixos, lá estava Sofia com seu cabelo preto e um vestido vermelho que deixava clara a mensagem de que ela era a rainha daquele castelo e Amon um passo à frente com um sorriso para seus convidados:

— Sejam bem-vindos a nossa festa de primavera. É um prazer recebê-los e a apresentação começará após nosso banquete. – E desceu da escadaria apenas parando no final e se virando na direção de Sofia. Foi para segurar as mãos dela, mas soube naquele instante que Amon estava por inteiro naquele relacionamento.

Ela saiu ao lado do namorado para sessão de apresentações e bate-papo rápido com os novos conhecidos. Demorou algum tempo para conseguir se aproximar sem uma multidão em volta de Sofia, que demonstrava sofisticação e destreza com os convidados, não pareceria falso se não estivesse ciente das habilidades da Liga e uma parte do treinamento que ele mesmo atualizou nos últimos anos.

— É uma bela festa. – Chegou por trás enquanto Sofia pegava uma bebida no bar e fazia movimentos para relaxar os músculos dos ombros.

Peter não esperava que Sofia se surpreendesse, um espião nunca é pego desprevenido e ela nunca seria menos do que isso, corria por suas veias. Quando ficaram frente a frente, a mulher a sua frente não era Sofia, era Felicity, assassina e calculista que manteve as expressões neutras e os olhos poderiam colocar fogo naquele castelo de tanta raiva que emanava.

— O que está fazendo aqui? – A taça que repousava em uma das mãos dela poderia muito bem se partir a qualquer momento devido à pressão que a morena fazia.

O sorriso que mantinha era para manter os curiosos de fora, sabia disso. A expressão parecia congelada no rosto, como se algum palhaço tivesse a contaminado com o gás do riso. Um sorriso louco, frio e cruel. Era ótimo para um líder ver que um soldado não perdeu as habilidades mesmo passando tanto tempo afastado de suas missões comuns.

— Soube que hoje é um dia importante e não pude perder por nada. – Tirou a taça da mão de Sofia e pousou na mesa mais próxima. – E já estava na hora de aparecer novamente. Esse foi um ano corrido e sem muito tempo para manter os negócios.

— Ra’s te enviou?

Peter não conseguiria imaginar o que é ser uma mulher numa organização como a Liga. Ele sabia que elas precisavam constantemente provar seu valor quando os homens não precisavam dar tanta ênfase, mas era essa a sociedade em que viviam e não existia um futuro de mudanças. O pai não lhe daria o reino e seu destino seria um casamento com o futuro herdeiro.

— Não. O Cairo é meu distrito. Ele não ficou muito contente com a minha decisão. Você sabe o quanto ele odeia privilégios para qualquer um. – Peter respondeu e esperou que fosse o suficiente para terminar com a discussão e trocarem o máximo de informações que conseguissem, pois provavelmente não tinham tanto tempo nas mãos.

— Por saber que eu não preciso disso. – A expressão de Sofia suavizou e ela pegou de volta a taça que estava segurando minutos atrás.

— Eu só vim para saber qual o desenrolar dessa noite. Tenho informações de que hoje será importante, então melhor não desperdiçar a oportunidade. – Era difícil manter uma distância respeitável da anfitriã da festa e mulher de Amon, ao mesmo tempo se comunicar no menor volume possível sem atrair atenção desnecessária.

Sofia contou um pouco sobre o relacionamento que mantinha com Amon, sobre pessoas potencialmente envolvidas no mercado negro que ele fazia parte e quão pouco ele deixava rastro sobre a bomba tecnológica que o laboratório estava desenvolvendo.

O único problema estava em descobrir em que fase estava o projeto, quem seria o comprador e qual seu alvo de destruição. Toda essa história começava com o primeiro Ra’s decretando que toda destruição de um povo ou mundial deveria vir apenas pelas mãos da própria Liga, como uma sociedade soberana. Era um pensamento arcaico e hipócrita se perguntassem a opinião de Peter, mas ninguém se importava. Sem contar de que era muito perigoso vários homens com complexo de Deus tentando dominar o mundo, então uma ditadura invisível funcionava melhor.

Era comum para um espião baixar a guarda após um longo período de confinamento e encontrar um dos seus, mas Sofia parecia intacta em seu personagem. Mesmo com o primeiro minuto em que a abordou, a performance era perfeita.

— Eu não sei o que essa noite significa. – Os olhos azuis varriam o local a procura de Amon. Sofia estava num estado de alerta e nunca o perdia de vista por tempo demais. – Pode ser apenas uma formalidade da parte dele.

— Você sabe melhor do que ninguém de que egípcios não dividem os holofotes com uma mulher, por mais que as ame. Pode ser o início do que você está querendo alcançar.

Amon se aproximou de ambos alguns minutos depois e agora comentavam sobre negócios que tinham pelo mundo.

— Vejo que encontrou companhia na minha ausência – Amon o cumprimentou com um aperto firme de mão.

Peter teve vontade de sorrir ao ver Amon marcando território e Sofia se mostrava alheia ou não entendia o sentimento por completo.

— A Senhorita Sofia estava me falando dos negócios na área de cosméticos. Um negócio que vem crescendo na última década.

— Promissor, não é mesmo? Sofia tem um faro incrível para os negócios mesmo sendo tão jovem.  

— Seria muito melhor se eu viajasse para países em desenvolvimento. – Ela comentou como se tivesse sido tema de conversas anteriores.

Amon apenas ignorou o comentário com um aceno de mão.

— E qual sua área de interesse?

— Variados, mas tenho um fraco pelas artes. A beleza me atrai.

— A todos nós. – E o empresário repousou uma das mãos nas costas de Sofia. – Acredito que vá apreciar tudo que será exibido essa noite. A arte é o que nos motiva, certo? E não vá embora antes do fim, realmente fecharemos com chave de ouro.

E assim ele saiu na direção de outro grupo deixando Sofia e Peter para trás.

— Ainda precisa de mais provas de que algo importante vai acontecer hoje?

— O que nos deixa com a questão se será bom ou ruim.

Nenhum dos dois tinha noção de que ficaria muito ruim.

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Amon deu início ao banquete no horário previsto e logo em seguida fez um discurso sobre sua nova coleção, de quanto esse ano estava sendo diferente e inspirador. Ele olhou para Sofia nesse momento. Houve a apresentação do novo artista plástico com quem trabalhou para a nova campanha. Peter ouviu por alto que o projeto trouxe raízes da cultura egípcia, que significava novos desafios em termos de inovação com um tema tão abordado. A última vez que eles lançaram uma coleção no mesmo segmento, Amon II – pai de Amon -, ainda estava vivo.

Sete anos atrás o Amon pai morrera num acidente de avião.  A Liga mantinha todos os radares ligados para atividades que provavelmente vinham passando de geração a geração. A organização não tinha motivos concretos para interferir, então foram pegos de surpresa quando o jatinho vindo da Turquia para o Egito simplesmente passou por uma turbulência e assim o Amon que terminava o discurso, assumia a empresa aos 28 anos e uma diretoria louca para arrancar seus rins ao menor sinal de problemas na multinacional. E assim começou o desfile de peças que custaria o PIB de um pequeno país.

Peter precisou admitir de que não faltava talento para ele, técnica e parte de sua alma estava presente as peças. Elas eram um espetáculo à parte, gritavam emoções variadas e explodiam em cores. Era como ver uma vida tomando forma.

Se estivesse apenas cumprindo com as obrigações de seu alter ego agora poderia observar quais das modelos lhe interessaria, era apenas questão de tempo e oportunidade. Agora se concentrava na movimentação em volta de Amon, que estava sentado ao lado de Sofia e cochichando algo em seu ouvido. A segurança parecia estar espalhada pela festa, talvez por que ninguém fosse louco o bastante para tentar num local tão afastado de qualquer ajuda ou que qualquer um morreria antes de chegar perto demais.

A festa aconteceu como todas as outras, a bebida correndo pelo castelo como se bombeasse sangue para um corpo grande demais e aos poucos os convidados perdiam a compostura no salão de dança. Sofia dançou com membros da diretoria, manteve a conversa com as mulheres e todos pareciam orbitar ao redor dela. Era como assistir uma força da natureza dominando tudo a sua volta.

Após o baquete e apresentação, um coquetel estava sendo iniciado.

— A melhor fase do processo de criação é quando suas peças ganham vida e a segunda melhor é poder mostrar ao mundo. Obrigado a todos que estão presentes nesta noite, essa festa não seria possível sem a presença de vocês. – Amon levantou uma taça em direção a plateia que agora só tinha olhos e ouvidos para eles. – E a cada nova coleção é preciso encontrar inspiração, mas ao longo desses anos nunca encontrei influência mais forte e presente quanto essa mulher linda que vocês tiveram a honra de conhecer. Gostaria de propor um brinde a minha namorada, Sofia. Esse projeto é a expressão viva do que ela significa pra mim, então se for ruim... Ela também é.

Todos riram e Sofia sorria em direção a Amon. Ele fez um gesto discreto para que ela se aproximasse.

— E eu gostaria de que a peça mais importante fosse sua. – Um segurança trouxe uma caixa preta que deveria estar no cofre com o maior número possíveis de combinações e entregou a Amon.

Peter sorriu consigo mesmo e pensou no quanto essa garota havia crescido e evoluído ao longo do ano para que Amon estivesse totalmente apaixonado por ela. Não era apenas pela festa, o discurso de agradecimento a sua musa inspiradora ou a joia mais cara e bela daquela coleção, mas o olhar de fascínio ao colocar o colar no pescoço de Sofia e finalizar com um beijo no rosto quando egípcios eram conhecidos pelas escassas demonstrações de afeto em público.

Todos aplaudiram fervorosamente o casal que agradeceu com sorriso e desceu do palco.

A festa parecia muito longe de terminar, mas foi preciso algumas horas se passarem até que Peter conseguisse se aproximar de Sofia sem chamar atenção ou demonstrar interesse demais pela anfitriã da festa também poderia lhe custar a vida.

— Belo presente. – Ele estendeu a taça na direção da que ela segurava e fizeram um brinde.

— É só mais uma forma que ele encontrou de me marcar como propriedade. – Para qualquer pessoa passaria desapercebido a ponta de irritação.

Os convidados a esta altura do campeonato estavam bêbados demais, alguns encontraram companhia para o que restava da noite e poucos se importariam com Amon e Sofia saindo discretamente, mas não iam pelo caminho que fora utilizada para a entrada triunfal. Pelas informações que obteve com o fotógrafo, o castelo era a residência oficial para grandes eventos e só era mudado quando eles estavam viajando pelo mundo, geralmente a negócios. Não era conveniente Amon sair com ela agora, então era melhor manter vigilância. O dia de hoje só provava que seu faro estava aguçado como sempre.

Era complicado se manter a uma distância segura e perto o bastante para não os perder de vista. As câmeras não eram um problema, mas restringiam seu perímetro. Era noite de lua cheia e muitos livros de mitologia sobre lobisomens começavam com essa frase, mas para Peter a lua apenas lhe fazia o imenso favor de refletir imensas sombras pelo chão do castelo e ele não podia apreciar a visita dessa vez. Esperava poder voltar um dia.

Após vários minutos de caminhada eles saíram na direção do maior jardim que tinha visto no local. Era mais reservado do que o principal, mas toda sua glória dizia que não eram todos que tinham o privilégio de uma visita. Os guardas estavam no andar de cima por proporcionar uma visão ampla para qualquer eventualidade. Não que alguém tivesse sequer tentado invadir aquela fortaleza, duvidava de que alguém fosse suicida a esse ponto.

Quando os notou parados a frente da piscina cristalina e de mãos dadas, passou pela mente de que talvez Amon talvez só quisesse um momento a sós com Sofia nessa noite tumultuada ou lhe mostrar algo especial.

Até ouvir o barulho de engrenagens suaves fazendo seu trabalho e num piscar de olhos o fundo da piscina erguia-se como uma porta de garagem e foi incrível ver aquela quantidade de água escoar e alguém equipamento silenciava a maior parte dessa atividade. Era incrível porque Peter já tinha visto muitas coisas inacreditáveis em toda sua vida na Liga.

Sair de trás da pilastra onde se escondia não seria a tarefa mais fácil do dia e teve que considerar por milésimos de segundo se entraria na fortaleza ou simplesmente virar as costas e voltar para o final da festa.

O problema sobre sair é que não poderia mais colocar os pés no castelo por um longo tempo e procurar Sofia para informações seria ariscado demais depois que Amon já o tinha visto, sem contar de que nenhuma pessoa se daria ao trabalho de construir uma base subterrânea sob uma piscina apenas por extravagância.

A sorte do caminho até a piscina ser ladeado por coqueiros com um pouco menos de um metro e meio foi a chance de se esgueirar até eles e rastejar por entre as plantas até a passagem que começava a fechar, enquanto Sofia e Amon tinham desaparecido e eram menos pessoas para manter a vigilância.

Foi fascinante notar que a água escoava para dentro de um tanque de aquário no subterrâneo. Peter sempre foi fã de construções e em saber como tudo funcionava por dentro. Ouviu um apito e logo em seguida a passagem se fechara por completo. Bem, ele sabia que provavelmente seria preciso encontrar outra saída, nem que fosse preciso cavar uma nova. Não seria a primeira vez.

Um longo corredor se formava logo ao final da escada e deveria levar ao salão principal. Provavelmente ambos devem ter passado pelo mesmo caminho e não parecia ter outra direção que pudesse tomar, era arriscado demais entrar nos tubos de ventilação sem estudo prévio do local.

Peter escolheu dar um tempo até ser conveniente andar e até que ponto poderia seguir e com sorte descobrir o que passava ali embaixo. Ao passar por parte do reservatório da água que escoou da piscina, encontrou o que nenhum dos integrantes da Liga conseguira nos últimos vinte anos.

Pelo que deu pra perceber nos poucos segundos é que ela estava completa para seu propósito e Amon se virou no exato momento em que entrou na sala. A partir daí tudo começou a dar errado.

— O que você está fazendo aqui, Peter? – Felicity perdeu todo laço que tinha com Sofia.

A expressão de Amon passou de confusão para raiva num milésimo de segundo.

— Vocês se conhecem?

Peter escolheu o silêncio e com alguma carta na manga, talvez conseguissem sair daquela situação sem que ambos terminassem mortos ou prisioneiros. Mortos não era a opção mais atraente da noite, então era melhor elaborar um plano que os tirassem dali com vida, mesmo que pra isso Amon tivesse de morrer.

— Da festa. Nós conversamos um pouco. – Sua voz soou confiante, mas não era o suficiente para alguém que estava no lugar errado e na hora errada.

Amon foi virando lentamente e isso o deixava incerto de qual reação teria.

— Não. – Ele murmurou como se tivesse dificuldade de pronunciar a única palavra. Não combinava em nada com o discurso que havia apresentado horas atrás. – Esse é o tom que você usa quando atrapalho seu tempo sozinha. Vou perguntar mais uma vez de onde você conhece esse homem.

Felicity deu um longo suspiro de exasperação, ela estava perdendo o controle da situação que já era ruim o suficiente. Eles precisavam sair dali de qualquer maneira, mesmo que perdessem a missão e demorassem mais dez ou quinze anos por uma oportunidade de ouro.

— Eu já falei de onde o conheço. Sua paranoia não vai levá-lo a lugar nenhum.

Para homens de poder qualquer sinal de traição nunca os trariam de volta ao estado de confiança.

Era possível ver as expressões conflitantes passarem pelo rosto de Amon. O homem acabara de declarar seus sentimentos na frente de toda uma sociedade que tinha certas reservas quanto a dar tanto poder a uma mulher. Eles acreditavam de que amor é poder. De certa forma era mesmo.

Peter sentiu um arrepio no momento em que viu as coisas saírem de controle, a adrenalina de uma situação com 99% de saírem vivos o inspirava a encontrar saídas inusitadas.

— É difícil encontrar alguém que não vai te apunhalar pelas costas. – Ele murmurou e por um instante pareceu alheio aos dois por alguns segundos.

O que deu tempo de Peter acenar a cabeça como quem diz: Já era o disfarce!

Todo o ambiente soava como uma imensa ignição funcionando em harmonia, qualquer barulho fora do padrão daria pra ouvir em outra sala – que Peter não teve tempo de explorar, mas tinha certeza que havia muito mais do que podia ver nesse exato momento -, então o estalo foi uma surpresa para todos. A vermelhidão já manchava o lado em que Felicity havia recebido o tapa.

— Eu só estava explorando a propriedade como um bom curioso. – Era preciso vender aquela história mesmo que custasse uma investigação em sua falsa vida pelos próximos meses. Ele não sairia caminhando dali como se fosse apenas um mal-entendido.

— Seus seguranças podem cuidar dele se você os acionar. E onde está toda segurança daqui que não perceberam alguém nos seguir até aqui? Vamos acabar logo com isso, por favor? – Ela não parecia em nada com a pessoa de dois minutos atrás, sua capacidade de se transformar diante das situações adversas o pegou de surpresa.

O empresário pareceu considerar ouvi-la, mas como tudo naquela noite estava mudando na velocidade da luz e Amon sacou uma arma de trás de seu smoking, puxando Felicity para mais perto do corpo.

Droga.

— Querida, nunca te ouvi pedir por favor pra mim. Era uma das coisas mais fascinantes sobre você, que sempre encontrava um jeito de me dobrar. As outras mulheres acham que um homem quer uma mulher submissa quando na verdade eles só querem alguém que saiba o que quer. – O cano da 38 pressionava a têmpora de Felicity que matinha a mesma expressão vazia que tomara conta de seu rosto depois do tapa.

— Você vai se arrepender disso. – Ela murmurou sob a respiração.

— Eu estava pronto pra te dar meu império.

— Não preciso do seu, eu já tenho o meu.

Amon parou com a dança mortal que fazia com a arma e o som oco do disparo ecoou pela sala e a próxima imagem foi Felicity com os olhos vidrados. Não houve tempo para um plano elaborado a não ser saltar na direção de Amon, que saiu do choque e partiu em sua direção. Acertar a mão que segurava a arma foi o primeiro ponto positivo naquela bagunça que havia se metido, talvez no meio do golpe tenha quebrado o dedo de seu oponente e quando abriu a guarda para o próximo ataque, Amon acertou em cheio sua boca e começou a sentir o gosto metálico na língua. Foi necessário colocar todo peso do tronco pra cima no próximo soco para apagá-lo e poder decidir o que fariam com ele. Assim que o acertou e pôde ver a consciência esvair de seus olhos, ouviu mais uma vez o som de tiros. Quatro para ser mais preciso. Aparentemente nenhum o atingiu.

Felicity havia alcançado a arma e finalizado o serviço matando Amon.

Agora o vestido claro estava com uma imensa mancha vermelha e ela encontrado um local para apoiar o peso do próprio corpo.

— Preciso ver o estrago.  – Foi preciso rasgar a parte do vestido na área das costelas e notar que a bala tinha entrado enquanto ela apenas soltava uns suspiros de incômodo. – A bala não saiu e eu não consigo retirar a bala, suturar e te levar de volta para a mansão. E porque diabos você o matou?

— Nosso disfarce corria risco. Você precisa me levar até o jardim e encontrar uma maneira de sair daqui... – Felicity começou a tossir sangue e era provável de que a bala tivesse atingido algum órgão. Peter já tinha lidado diversas vezes com tiros, ferimentos de facadas e até colegas atingidos por estilhaços provocados pela explosão de uma granada e eles costumavam a ter reações mais exageradas do que essa garota atingida por uma bala que ainda estava alojada em alguma parte de seu corpo.

Peter precisou rasgar uma parte da barra do vestido para limpar a pólvora que havia ficado em volta do ferimento e estancar o sangramento.

— Não dorme. – Disse enquanto levantava o corpo de Felicity com cuidado para não encostar no local que havia acabado de fazer um curativo que estava muito bom para as condições precárias.

— Eu sei como agir em campo. – A morena murmurou com raiva.

Ela conseguiu caminhar lentamente até a escada que os levariam novamente para o jardim. Ao chegarem no início das escadas Felicity caiu num silêncio perturbador e Peter notou que ela estava perdendo a consciência, o tecido que servia de bandagem estava pingando sangue e sentá-la poderia mover a bala. Ninguém precisava de mais danos essa noite.

Uma ideia louca lhe ocorreu enquanto notava o sangramento piorar mesmo depois do curativo improvisado.

— Vou tentar remover a bala, mas pode infeccionar depois. Agora é sua melhor opção supondo que eu consiga encontrá-la e esteja numa posição favorável.

— Faça o que precisa ser feito. – O rosto de Felicity estava pálido e ensanguentado. Ela segurou nos braços de Peter assim que ele colocou o dedo na ferida, soltando um som estrangulado e suor escorria de sua testa.

— Consigo sentir a bala, mas está muito profundo e impossível de retirar. Você precisa sair daqui o mais rápido possível.

A morena olhou para o estado do ferimento e suspirou:

— Você precisa voltar pra festa, encontrar alguém pra passar a noite e nesse meio tempo invadir o sistema de segurança e garantir de que nada disso. – Fez um gesto para o próprio corpo. – Tenha sido registrado.

Era possível ver que ela fazia um grande esforço pra manter a coerência.

— Nós vamos pagar por isso quando voltarmos para casa. Você sabe disso, não é? – Não que eles nunca tenham sofrido mesmo sem fazer nada de errado. Seria apenas mais um dia com punições.

— Eu não poderei voltar em um futuro próximo, mesmo que quisesse. Eles me caçariam até meus últimos dias.  Preciso começar a pensar no interrogatório, porque não será fácil convencer essa corja da minha inocência na morte de Amon.

— O que você precisa fazer?

Felicity enxugou o suor da testa e lhe lançou um olhar gelado:

— Vá fazer tudo que mandei.

Peter se embrenhou no meio das plantas da entrada e fez seu caminho de volta com duas vezes mais cuidado do que na primeira vez. Checou as roupas e precisava tirar o smoking sujo de sangue, mas se livrar dele era uma péssima ideia. Estava na hora de improvisar mais uma vez naquela noite louca e fazer sua parte do plano funcionar.

O salão principal agora tinha metade dos convidados e nenhum deles pareceu consciente de que o anfitrião havia desaparecido, agora morto. Um casal subia as escadas sem a menor discrição de que se apropriariam de um cômodo e fariam bom uso dele, então eles seriam sua melhor opção do que encontrar uma pessoa para ainda passar pelo processo de flerte.

Seguiu o casal a uma curta distância e esperou que eles estivessem no quarto por alguns minutos até fingir embriaguez e invadir o cômodo. A mulher já estava sem o vestido e o homem sem o smoking, camisa e a caminho de perder as calças.

— Oops, quarto errado. – Ficou parado no batente da porta e segurando o smoking. – Minha amiga prometeu que estaria aqui me esperando.

A mulher de cabelos escuros e imensos olhos azuis deu um sorriso malicioso.

— Ela com certeza arrumou uma companhia melhor, mas não se sinta mal. Você pode se juntar a nós e.… - Ela beijou o homem que estava deitado embaixo dela.

Peter foi caminhando até a beirada da cama e passou as mãos no cabelo da morena. Ela se inclinou para beijá-lo e o loiro deu um gemido enquanto o beijo progredia.

— Você se importa? – Questionou o jovem que não devia ter passado dos vinte e cinco, com os fios loiros numa bagunça que apostava de que era obra da morena. Ele apenas negou com um movimento de cabeça e fechara os olhos na expectativa de um beijo. Peter não pôde conter o sorriso e deu a experiência que o garoto esperava.

Peter levou mais tempo do que esperava para deixar os dois propriamente cansados a ponto de dormir, sair dos braços do garoto também foi outro desafio e pelo menos conseguiu aliviar a tensão das últimas horas. Os dois dormiam satisfeitos e nus na imensa cama, mas agora precisava terminar o trabalho e encontrar uma forma de descobrir se Felicity estava sendo cuidada.

Assim que levantou com o smoking que havia ficado jogado ao lado da cama, sentiu uma mão forte segurar seu pulso e precisou conter o impulso de quebrar a mão da pessoa. Ele não estava numa situação de risco para usar suas habilidades.

— Indo embora sem se despedir? – Um par de olhos verdes o encarava com uma expressão sonolenta, mas ainda parecia ofendido.

A vida que levava sempre lhe dava chance de conhecer pessoas apenas por uma noite, mas nem por esse motivo precisava ser frio ou distante com elas. Eles se divertiam pelas horas ou dias que tinham. Charlie – ele descobriu enquanto Jess gemia o nome dele algumas horas atrás -, ainda segurava seu pulso, com menos força e quase soava um carinho.

— Preciso de um banho e depois trabalhar um pouco.

— Quer companhia? – Disse com um sorriso descontraído.

Foco. Ele não podia perder o foco agora.

Ele se inclinou na direção de Charlie e depositou um beijo rápido em seus lábios.

— Quando eu terminar. – E saiu na direção do banheiro.

Manchas de sangue não saiam com uma simples lavagem com sabão ou até mesmo desinfetante. Na luz correta o smoking acenderia mais do que uma árvore de Natal. Uma parte do problema estava resolvido com o plano que começara no momento em que deixou Felicity para trás e uma das melhores decisões era de ter ido ao carro buscar seu notebook, deixar a peça ensanguentada num compartimento falso de dentro do carro e trocar por um modelo idêntico para não chamar atenção em possíveis filmagens.

Invadir a rede não foi a tarefa mais fácil da noite, mas foi um belo presente entrar nas câmeras de segurança e descobrir que não havia câmeras para o esconderijo subterrâneo. Quando se tem registro de algo que supostamente não deveria existir é possível deixar rastros, Amon era um homem inteligente demais para falhar dessa forma.

Suas companhias acordaram novamente e era hora de descer para o café da manhã e ver como estava o espetáculo.

Todos pareciam impecáveis, era como se ninguém tivesse bebido a ponto de deitar num dos degraus da escada e esperar por alguém com força e sobriedade o bastante para levá-los até o quarto. Nenhum dos convidados atendiam a esses requisitos, sobrara para os inúmeros serviçais.

A maior emoção do café da manhã eram as ressacas, no mais todos não pareciam se preocupar com a ausência dos anfitriões.

Até o chefe da segurança esperar que todos dessem indícios de que haviam terminado e fazer um sinal para chamar a atenção dos presentes.

— Bom dia a todos. Noite passada ocorreu um incidente durante a festa e como foi informado anteriormente, vocês passarão por uma verificação de segurança para casos de emergência.

O burburinho começou assim que os seguranças foram entrando para fazer as mais variadas perguntas aos convidados, alguns começaram a ser levados de volta ao quarto para inspeção.

Sua única preocupação era explicar como tinha sumido por quase uma hora, mas ele não seria o único convidado desaparecido por algum tempo e Felicity com certeza havia cuidado de sua parte do plano.

Agora era passar no interrogatório, voltar para Nanda Parbat o mais rápido possível e prestar um relatório da missão. Ra’s o puniria de alguma forma e sua mais nova aquisição era sua equipe do Oriente Médio, temia que ela fosse desestruturada por sua insistência nessa missão e ainda ter fracassado por um erro que havia cometido.

Sair do interrogatório foi mais simples do que deixar o castelo e reportar a missão diretamente para Nanda Parbat. Eles não tinham a menor pista de onde e quem procurar com a ausência de pistas, mas também seria um jogo perigoso para Felicity que ficaria como única testemunha viva e consequentemente se tornando suspeita num futuro próximo. Isso se ela não estivesse sendo cogitada como atual suspeita de assassinato de um dos mais ricos herdeiros de todo Oriente Médio, um grande negociador no mercado negro e não era tão simples se aproximar de um cara como esse.

Se não fosse pelo treinamento em interrogatórios Peter estaria estressado com o possível resultado negativo, mas Felicity sempre fora a estrela da turma e quebrara recordes das maiores notas já alcançadas na formação da Liga. O próprio Ra’s desceu para o interrogatório quando ela já estava em cativeiro por três semanas e seus colegas de turma haviam cedido na metade do tempo, ela parecia não ter a menor preocupação no mundo. Não levou mais do que dois dias para que ele conseguisse quebrar qualquer barreira perfeita construída por Felicity, mas pessoalmente Peter achava desonesto o que quer que Ra’s tivesse usado. Estar no campo pessoal sempre era um jogo sujo, mas os inimigos não teriam pena de usar qualquer artimanha para dobrar alguém que possuía tantas respostas.

Peter passou semanas nas redondezas do castelo com outra identidade, frequentou a feira todos os dias tentando ouvir uma conversa ou outra e então a notícia da morte de Amon veio duas semanas da data original. Ninguém parecia se importar o suficiente para comentar sobre “Sofia”.

— Ele não tinha apresentado uma estrangeira na noite da festa? Aposto que ela já voltou para o país dela sem ao menos olhar para trás. – O vendedor separava algumas frutas secas para o cesto de uma jovem ruiva que não passava dos trinta anos. O tom ácido do homem dizia que eles tinham intimidade o bastante para que fizesse esse tipo de comentários.

Peter já estava farto de conversas sem novas pistas, mas logo seria recompensado.

— A senhorita Sofia se feriu e ainda está se recuperando. Ela parece bastante abalada com a morte do patrão. O Sr. Amon estava encantado por ela e não teve sequer a chance de aproveitar. – A jovem começou a se concentrar em outras frutas até seu cesto estar cheio. – Alguns familiares dele estão chegando esse final de semana e eu posso te garantir que não vai ser bonito.

E ele nunca soube o que aconteceu naquele final de semana pois Ra’s o convocou para casa imediatamente depois de ler os relatórios. As coisas devem ter ficado bem ruins, ele só voltou a encontrar com Felicity em Nanda Parbat um ano e meio depois do incidente. Ela passou um ano em missões locais até poder continuar suas missões solos e partir para o Ocidente.

— Vejo que sobreviveu. – Disse assim que a encontrou fora da zona de treinamento.

— Obrigada por salvar minha vida naquela época. – A loira passou a toalha para secar todo suor. – E nunca mais se meta em uma missão minha.

— É o que os responsáveis pelo perímetro fazem. Você não é exceção.

Peter passou por um ano pagando penitência de treinar os recrutas mais velhos da Liga, transformou numa equipe decente para assim poder voltar com sua equipe original que nesse meio tempo ficou sob a responsabilidade de Malcom.


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Notas finais do capítulo

Está no ar o capítulo que tenho mais orgulho até agora. Obrigada pela paciência e me perdoem pela demora. Eu estou sem notebook e faculdade tá sempre me acertando em cheio. Espero aparecer com o próximo em breve. Sugestões, quer dar um oi ou tem algo pra me falar é só me procurar no twitter @missdesaster. Tô sempre online por lá. Beijos.



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