Heartbeat escrita por nsbenzo
— Notei que seu carro passou a noite na porta da delegacia. – a voz de Peeta em meu ouvido me fez dar um pulo, colocando a mão no peito.
O filho da mãe sempre foi silencioso como um gato.
— Se você fizer isso de novo, eu juro que atiro em você. – ameacei, ficando de frente para ele, porém dando alguns passos para trás. – E como sabe que meu carro ficou aqui?
— Quando saí ontem à noite, você não estava mais aqui, e o carro estava. – Peeta deu um passo em minha direção. – Quando cheguei hoje, ele estava no mesmo lugar, e você não havia chegado. – pontuou, bebendo um pouco, do que eu presumia ser café, que estava em um copo de papelão que Peeta segurava.
— Você não tem nada a ver com isso. – rebati, ficando de costas para ele novamente, e alcançando a cafeteira da delegacia com meu copo de papelão.
— Estava com Gale? – sua voz saiu quase em um rosnado.
— Alguém falou de mim? – o mesmo questionou.
Virei o rosto e pude ver Gale entrar na cozinha com um grande sorriso. Repousei meu copo sobre a pia, observando-o caminhar até mim. Ao se aproximar ele tirou-me de perto de Peeta em um puxão rápido pela cintura.
— Algum problema, princesa? – perguntou ainda sorrindo.
— Não. Nenhum. Peeta só estava sendo inconveniente, como sempre. Mas estou acostumada. – respondi sincera, sem tirar os olhos dele. – Obrigada por ontem. – falei baixo, sabendo que estava sendo ouvida, não só por Gale.
Meu amigo, ainda sorrindo, beijou minha testa demoradamente, antes de me soltar.
— Vê se pega leve nas gracinhas, Peeta. – alertou, saindo da cozinha em seguida.
— Vocês passaram a noite juntos? – perguntou incrédulo.
Na realidade, eu havia dormido na cama de Gale, enquanto o mesmo ocupara o sofá. Com permissão do Hawthorne, eu poderia sim, usar isso a meu favor. Só não sabia se era recomendado, considerando o nível de intromissão de Peeta, e quanto tempo de falação eu iria aguentar dele sobre o assunto.
— Como eu já disse em outras ocasiões, Mellark, isso não é da sua conta. – rebati, pegando meu copo novamente, e finalmente enchendo de café. – Passar bem.
~||~
— Katniss, ele não é cara pra você. – Peeta resmungou.
Aproveitei para acertar meu punho direito em seu rosto.
— Eu não estou lutando ainda. – reclamou, esfregando onde eu havia batido.
— Isso faz parte da sua recuperação. Assim como, infelizmente, eu também faço. – me posicionei novamente. – Recomponha-se, antes que eu te bata novamente.
— Você anda se aproveitando desses treinamentos para me bater. – franziu o cenho, colocando-se em sua posição.
— Primeiro. Não seria treinamento comigo, sem luta de verdade. – comecei, atacando-o novamente, porém ele foi mais rápido e segurou minha mão que estava fechada para acerta-lo com outro soco. – Segundo. Você merece muito mais do que alguns roxos pelo corpo. – falei entre dentes, antes de virar de costas para Peeta, e o jogar sobre meu ombro, fazendo-o cair no tatame. Coloquei-me entre suas pernas, travando-as com as minhas, e forçando meu corpo contra o dele. – Terceiro. A delegacia inteira ama ver um homem do seu tamanho apanhar para uma mulher do meu tamanho. – falei baixo apenas para ele, sabendo que havia algumas pessoas se aglomerado na sala de treinamento.
Peeta ergueu as pernas habilmente, prendendo-as ao redor da minha cintura. Sua mão segurou minha calça legging, e em um movimento rápido ele forçou a barriga para cima, virando nossos corpos no tatame.
Acabei ficando por baixo, enquanto Peeta travava minhas pernas com as dele. Suas mãos prenderam as minhas contra a espuma. Algumas pessoas gritaram com a reviravolta da luta, como se estivessem torcendo.
Assoprei minha franja que havia caído em meu olho, balançando a cabeça rapidamente em seguida para mantê-la no lugar.
— Por essa você não esperava, Everdeen. – sussurrou para mim. Seus olhos azuis estavam completamente focados nos meus. Ele estava sorrindo. – Parece que finalmente esse treinamento ficou justo.
Franzi o cenho com raiva, e sem pensar em mais nada, ergui a cabeça com força, acertando a testa em seus lábios.
Peeta soltou minhas mãos, surpreso, alcançando sua própria boca, podendo ter a certeza de que ele sangrava. Acertei meu punho direito em seu ouvido, deixando-o mais desorientado. Mellark soltou minhas pernas, dando-me a oportunidade perfeita para empurra-lo para longe de mim, e me levantar.
Ele estava caído no tatame, de olhos fechados. Sua boca sangrava bastante. A plateia havia ficado silenciosa. Minha mão direita doía por golpeá-lo tão forte, por culpa da ausência de qualquer tipo de proteção em minhas mãos. Assim como minha testa que parecia ter quebrado em pedacinhos.
— Vocês dois! Vestiário, depois minha sala. – a voz de Finnick soou autoritária, fazendo com que todos ao nosso redor sumissem rapidamente.
~||~
Eu fazia uma trança despreocupadamente em meus cabelos úmidos, por culpa do banho recente, enquanto Finnick estava sentado em sua cadeira, parecendo muito irritado, e Peeta segurava uma bolsa de gelo contra os lábios.
Odair havia esperado acabar o expediente para nos chamar, deixando apenas a ala de plantão, que ficava em outro andar do prédio, com alguns policiais.
— Aquilo não é um treinamento, Everdeen! – se exaltou na primeira frase que soltou depois de poucos minutos em que nos reunimos. – Você tem ideia do que pode causar se descobrirem que a sala de treinamento está sendo usada como ringue de luta livre?
— Luta livre não faz meu estilo, tenente. – rebati. – Cada um tem seus métodos para treinar. – finalizei minha trança, deixando-a caída sobre meu ombro. – Esse é o meu.
— Você quase arrancou um dente do Peeta com uma cabeçada. – acusou.
— Sério? – evitei com que um sorriso aparecesse, mordendo a unha do meu polegar esquerdo. – Peço desculpas.
— Não são sinceras, mas eu aceito. – Peeta respondeu de modo estranho, por culpa do gelo que ele segurava.
— Mas já que estamos aqui para conversar, devo dizer que se Peeta Mellark apanhou tanto, é pelo simples fato de que ele fica me assediando por todo canto que vou. – delatei, cruzando os braços.
— Não é assédio. Eu só estou tentando me aproximar. – respondeu, colocando a bolsa de gelo sobre a mesa de Finnick.
— Eu não quero que você se aproxime de mim. Estamos aqui para trabalhar, não para discutir uma relação que não existe há muito tempo. – retruquei.
— Eu não ligo para o que você fala, Katniss. – Peeta colocou-se de pé. – Eu vou continuar insistindo, porque eu sei que você ainda me ama.
— Não conte muito com isso. – descruzei os braços. – Se você quer que eu pare de bater no Mellark, converse com esse imbecil. – falei olhando para o Odair. – Porquê da próxima vez eu não vou tentar rebater as provocações com palavras ou socos. – ameacei, virando para encarar Peeta diretamente. – E se você acha que me conhece, pode ir deixando seu achismo de lado. – disse estreitando os olhos. Caminhei até ficar frente a frente com ele. – Se continuar entrando no meu caminho, eu perco meu distintivo, vou para a cadeia, mas eu atiro em você. – falei entre dentes. – E não duvide disso. Essa é uma promessa que eu vou adorar cumprir. Afinal, eu não as quebro, como você.
— Você quebrou algumas. – acusou.
— Peeta. Para cara. – Finnick pediu, saindo de trás da sua mesa.
— Quais? – perguntei.
— Prometeu que me amaria até o fim das nossas vidas, que sempre voltaria pra mim, e outras mais. – Peeta estava com o cenho franzido, e suas mãos estavam soltas ao lado do corpo.
Soltei uma risada sem humor.
— Por favor. As minhas perderam a validade, quando você quebrou as suas. – apontei o dedo em sua direção. – A culpa é completamente sua, Mellark. – encostei o indicador em seu peito. – Você me fez ser assim. Você acabou com tudo. Você me destruiu. – soltei a última frase quase em um rosnado, empurrando-o com as duas mãos. Meus olhos ardiam pelas lágrimas que haviam se formado. Peeta cambaleou, mas não reagiu. Parecia atônito demais para fazer qualquer coisa. – Você fez com que eu me sentisse a pior mulher do mundo. Você... Você me matou por dentro. – mesmo com o nariz ardendo, denunciando que logo eu estaria em prantos, continuei a falar. – E eu te odeio por tudo isso. Por me deixar no momento em que mais precisei de conforto. Por me trocar por outra mulher.
— Eu... Eu não achei que aqueles exames tinham abalado tanto você. – comentou baixo.
— Qual mulher não se abalaria com a notícia de que talvez não possa dar filhos ao seu marido? – falei entre dentes, sentindo as lágrimas caírem. – Eu apenas guardei pra mim quando notei que você havia ficado estranho. Por isso lutei por nós dois, ao invés de ficar lamentando em seus ouvidos. Mas isso não foi suficiente. – balancei a cabeça negativamente, passando as mãos por minhas bochechas que estavam molhadas. – Eu não fui o suficiente pra você. – respirei fundo, fechando as mãos ao lado do corpo.
— Baixinha. Vamos embora. – Finnick pediu, tocando meu ombro. – Por favor. Precisamos ir. – sua voz era mansa, porém seu toque era firme. – Peeta vai parar de te atormentar, e vai ficar tudo bem.
— Não me trate como se eu estivesse tendo outra crise. – gritei, desvencilhando-me de sua mão.
Minhas mãos estavam tremendo, assim como meu queixo, pois sentia meus dentes batendo.
— Eu só quero que você me deixe em paz, Mellark. – falei entre dentes, antes de sair transtornada da sala de Finnick.
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