Heartbeat escrita por nsbenzo


Capítulo 6
Strange feelings and broken promises




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— Devagar, meu anjo. – Peeta pediu.

— Eu estou devagar, querido. – falei manhosa, soltando um resmungo em seguida.

— Está sentindo dor, não é? – questionou aflito.

Senti sua mão direita apertar minha cintura.

Havíamos acabado de chegar do hospital. Peeta me abraçara de lado assim que levantei da cadeira de rodas emprestada, dando-me apoio para conseguir andar.

Eu havia levado meu primeiro tiro em campo. Minha coxa esquerda sofrera pequenos danos nos músculos, mas que eram reversíveis, se eu me cuidasse da maneira correta.

— Um pouco. – respondi, sentando-me em seguida.

Peeta puxou a mesa de centro, e colocou uma almofada. Cuidadosamente ele repousou minha perna, para mantê-la esticada.

— Você quer alguma coisa? – seus olhos azuis estavam agitados, e suas sobrancelhas estavam franzidas.

— Sim. Que você aquiete seu traseiro, e sente-se comigo. – pedi, batendo a mão no sofá, indicando que o queria sentado ao meu lado direito.

Peeta deu um sorriso torto, e sentou-se. De maneira delicada, senti seu braço passar sobre meu ombro, e ele me puxou para perto, deixando minha cabeça encostar próximo ao seu peito.

— Você quase me matou de preocupação. – confessou, acariciando meu braço.

Soltei uma risadinha.

— Não seja dramático, amor. – disse, repousando minha mão sobre seu abdômen. – Eu sempre vou voltar pra você.

— E eu pra você. – respondeu, soltando sua respiração de uma vez. – Prometo que enquanto eu estiver por perto, jamais deixarei que você se machuque assim novamente.

Ergui minha cabeça para olha-lo.

— Eu acredito em você. – sorri. – Sinto-me protegida ao seu lado.

Finalmente Peeta abriu um sorriso sincero, e curvou-se em minha direção.

— É para isso que vim ao mundo. Para cuidar de você.

Ainda sorrindo, ele colou seus lábios nos meus.

 

~||~

 

Eu estava em pé observando a vista que o prédio do hospital proporcionava, enquanto Peeta Mellark dormia, completamente sedado atrás de mim.

Odiava essas lembranças que invadiam minha cabeça. Simplesmente me desestruturavam, deixando-me presa em minha própria mente.

— Você está bem, princesa? – a voz de Gale me despertou, fazendo-me virar para olha-lo.

Ele veio em minha direção, me abraçando em seguida.

Não rejeitei o abraço. Pelo contrário. Meus braços o apertaram, enquanto minhas mãos seguravam sua camisa.

Eu prometi a mim mesma que não choraria, por isso apenas mantive-me assim, com o ouvido encostado em seu peito.

— Katniss. – Gale me chamou pelo nome, acariciando minhas costas carinhosamente. – Fala comigo, princesa. – pediu.

— Pode ser depois? – perguntei quase em um sussurro, fechando os olhos.

— Claro. – respondeu, apertando-me um pouco mais entre seus braços.

Não tenho certeza quanto tempo ficamos parados daquela forma, mas foi o suficiente para que meu coração se acalmasse, enquanto eu ouvia as batidas do coração de Gale, que parecia tranquilo.

— Obrigada por estar aqui. – agradeci abrindo os olhos, e erguendo a cabeça para olha-lo.

Ele sorrio, curvando-se em minha direção.

— Eu sempre vou estar aqui pra você, princesa. – abri um pequeno sorriso quando Gale beijou minha testa. Em seguida ele me soltou. – Vou buscar algo pra você comer. – avisou já caminhando até a porta. – Sanduiche de pasta de amendoim? – perguntou parando próximo a soleira.

Meu sorriso se alargou com sua escolha correta.

— Com certeza. – afirmei.

Ele me deu um último sorriso antes de sumir porta a fora.

— Princesa? – a voz rouca de Peeta me fez virar a cabeça em sua direção. – Que apelido mais clichê. – provocou ainda de olhos fechados.

— Clichê é você fingir estar dormindo para me vigiar com Gale. – retruquei caminhando até sua cama. – E você bem que tentou usar esse apelido antes. – acusei, vendo-o abrir os olhos e franzir o cenho pra mim.

— Eu posso, ele não. – Peeta tentou sentar, mas eu o impedi, colocando as duas mãos em seu peito. – Você bem que quis me tocar desde que me viu na sala do Finnick há duas semanas não é? – provocou, desistindo de tentar medir força comigo, e se ajeitando melhor na cama. – Pode aproveitar que eu deixo.

— Vai se ferrar. – resmunguei, afastando-me. – Você tem que ficar quieto ai, se não, chamo as enfermeiras para te dar alguns sedativos.

Peeta soltou uma risadinha, fechando os olhos novamente.

— Fico feliz que tenha ficado aqui comigo. – disse baixo.

— Estou por obrigação. – respondi duramente.

Ele sorrio.

— Não está não. Finnick pode até ter mandado, mas você estaria aqui de qualquer forma. – Peeta abriu os olhos para me encarar. – Porque você acha que a culpa é sua.

— Culpa minha? – questionei. – Mas é claro. Eu que sou a louca de nós dois. – ironizei.

— Eu não costumo quebrar promessas, meu anjo. – o antigo apelido que ele usava fez meu coração se contrair. – Às vezes é necessário, mas outras... Eu consigo cumprir. Prometi que você jamais levaria outro tiro, se eu estivesse por perto. Por isso você está se culpando.

— Eu não acho que eu esteja me culpando. – neguei, sabendo que algo estava errado nessa negação. – Eu acho que você tem algum tipo de demência. – coloquei as mãos despreocupadamente nos bolsos traseiros da calça jeans. – O que seria uma boa justificativa para você bancar o suicida.

— Eu só não queria ver você machucada de novo. Vivo lembrando do primeiro tiro que você levou, e o quanto me senti impotente. – disse com os olhos atentos em mim.

— Não vamos falar sobre isso, Mellark. Se entrarmos no assunto “feridas” seria extenso demais, e isso levaria a outras discussões, que eu não quero ter com você. – soltei tudo, fazendo-o ficar calado. Soltei as mãos ao lado do corpo. – Você precisa de alguma coisa? – perguntei.

— De você. – respondeu prontamente.

Dei as costas para ele, caminhando até a porta, decidindo ignorar sua última frase.

— Katniss. – Peeta me chamou.

Virei a cabeça para olhá-lo. Ele havia sentado em sua cama.

— Meu coração ainda está batendo. – comentou.

— Sim. Isso se chama “você está vivo”. – rebati.

— Não. Ele está batendo... – Peeta insistiu.

— E o que tem isso? – perguntei.

— Até a última batida do meu coração. – relembrou a frase que ele sempre me dissera.

Engoli o nó que formara-se em minha garganta, enquanto tentava impedir as lágrimas de rolarem, para evitar que eu parecesse uma idiota.

— Às vezes é necessário quebrar algumas promessas. – repeti o que Peeta havia dito. – Essa você quebrou, Mellark. Da pior maneira possível. – voltei a caminhar, retirando-me do quarto dele.

 

~||~

 

— Ele já não é mais o mesmo comigo, Annie. – choraminguei.

— Desde quando, Kat? – questionou.

— Como assim? – perguntei confusa.

— Desde quando Peeta tem agido estranho com você? – Ann aproximou-se com uma grande caneca de chá, que parecia ser de hortelã, estendo-a para mim.

Peguei entre minhas mãos, que estavam frias e tremulas, apertando-a com força. Minha cabeça começou a raciocinar, tentando lembrar quando tudo pareceu ruir em minha vida.

Na verdade, não era necessário muito esforço para trazer em minha mente o que causara tantos danos.

Lagrimas formaram-se em meus olhos. Mordi meu lábio inferior, olhando para Annie, que estava parada a minha frente, com o semblante preocupado.

— Há alguns meses eu e Peeta estávamos tentando... Engravidar. Porém nada acontecia. – fechei os olhos, respirando fundo. Abaixei as mãos com a caneca, apoiando-a em meu colo. – Há quase um mês nós dois fizemos alguns exames. O resultado logo saiu. – com certeza minha voz estava embargada, pois parecia que eu não conseguiria terminar a história. – Eu sou o problema, Annie. – falei abrindo os olhos para olha-la. – Eu tenho apenas 10% de engravidar. – pigarreei, tentando deixar a vontade de chorar de lado. – O médico disse que não é uma porcentagem tão ruim, considerando que há casos bem piores, que aconteceram de ser resolvidos com tratamento. Mas isso pareceu abater meu marido. – dei um sorriso fraco.

— Espera... – Annie disse sentando-se em sua própria mesa de centro para ficar cara a cara comigo. – Por que não me contou antes? – questionou.

— Porque é uma realidade dolorida. – ri baixo e sem vontade.

Ann apoiou as mãos em meus joelhos, acariciando-os como forma de conforto.

— Eu entendo. – seus olhos pareciam levemente agitados. – E você acha que ele se afastou, por isso? – perguntou.

— Agora que parei pra pensar... – respondi, colocando a caneca completamente cheia ao lado de Annie.

— Mas se tem tratamentos que resolvem... Não tem sentido, Kat. – ela se colocou em pé. – Peeta ama você.

Abri um sorriso triste.

— Espero que você esteja certa.

 

~||~

 

— Eu atendo. – avisei caminhando em direção a porta.

Ao abrir, não havia ninguém. Um envelope pardo sobre o tapete da entrada chamou minha atenção, fazendo-me abaixar para pegar.

— Quem era? – a voz de Peeta denunciava que ele estava logo atrás de mim.

— Não sei. Tinha apenas isso. – entrei, fechando a porta e mostrando o envelope a ele. – E é para mim. – observei ao ver meu nome escrito.

Peeta pareceu empalidecer, mas permaneceu quieto, enquanto eu rasgava onde estava colado.

Coloquei a mão dentro, logo puxando algo parecido com papel.

Eram fotos. Na primeira pude ver Peeta sozinho.

— É você, Peeta. – falei franzindo o cenho. – Por que alguém me mandaria fotos suas? – questionei.

— Katniss... – sua voz parecia suplicante.

Comecei a passar foto por foto, até chegar em uma que me fez soltar todas as outras. Minha boca se abriu em choque, e meus olhos arregalaram-se.

— Isso é algum tipo de brincadeira? – perguntei horrorizada.

— Não era pra você descobrir assim. – seu tom era baixo.

Soltei a última foto, deixando-a cair sobre as outras. Nela estava Peeta Mellark com uma loira desconhecida, que segurava seu rosto entre as mãos e o beijava em plena Times Square.

Era como ser socada no estomago, pois todo o ar parecia ter se esvaído dos meus pulmões.

— Katniss. – Peeta me chamou.

— Você não vai negar nada, não é? – perguntei, andando para trás ao perceber que ele estava perto demais.

— Eu não posso negar agora. – respondeu.

Mexi minha boca algumas vezes, mas não conseguia dizer nada.

Nem o choro havia tido tempo de se formar. Eu estava completamente em choque.

— Katniss. – Peeta chamou novamente, caminhando em minha direção.

Ele parecia arrependido, pois seu rosto denunciava que estava sofrendo.

— Me perdoa. – pediu, tentando segurar minha mão.

— Vá embora. – desvencilhei-me de seu toque com certa violência. – Pegue suas coisas e suma daqui.

— Precisamos conversar. – Peeta disse aflito.

— Vá embora! – gritei apontando a porta da rua.

Ele suspirou derrotado. Seus olhos lacrimejavam, enquanto Peeta puxava, vez ou outra, seus cabelos loiros.

— Eu só vou pegar algumas coisas e...

— Não. Pensando melhor, você pega quando eu não estiver aqui. – o interrompi, com as mãos fechadas ao lado do corpo. – Apenas saia da minha frente. – falei entre dentes.

Peeta me olhou por alguns segundos. Algumas lágrimas molhavam suas bochechas, mas ele desistiu de falar qualquer outra coisa. Ele alcançou a chave do seu carro, sua carteira, e saiu de casa.

Eu mesma fiz o favor de bater à porta por Peeta, trancando-a em seguida.

Encostei minhas costas contra a madeira, enquanto as lágrimas finalmente surgiam, caindo uma atrás da outra.

Meu corpo escorregou, até que eu estivesse sentada no assoalho frio.

 

~||~

 

— Por que nunca me contou tudo isso? – Gale perguntou.

Ele estava sentado em sua poltrona, enquanto eu estava no sofá. Seus cotovelos estavam apoiados nos joelhos, e suas mãos presas pelos dedos entrelaçados.

Já fazia dois meses que Peeta estava trabalhando comigo. Ele havia saído do hospital há duas semanas. E as coisas não podiam estar piores. Ele mantinha sua língua afiada, sempre pronto para me provocar, o que me dava vontade de atirar em seu outro braço. Ou cabeça.

O fato era que além de me irritar, estar com ele ainda me machucava.

Minha cabeça ainda trazia à tona inúmeras lembranças.

Porém as piores, eu estava, pela primeira vez, detalhando a alguém que não fosse Finnick ou Annie.

Meu dia havia sido péssimo, e Gale sabia disso. Sabia que eu precisava conversar. Por isso não houve objeção, quando ele me colocou em seu próprio carro no final do expediente e me arrastou para seu apartamento.

Gale não me deixou beber nada alcoólico, fazendo pra mim um reconfortante chocolate quente. Em seguida colocou-se em sua poltrona, e ficou atento a cada palavra minha, sem me interromper para perguntas ou comentários.

— Porque eu odeio falar sobre isso. – respirei devagar, encarando minha segunda caneca de chocolate que estava pela metade. – Ainda dói, Gale.

— Claro que dói, princesa. – ele respirou fundo. – Toda a coisa sobre... Não engravidar. A traição. – negou com a cabeça, fechando os olhos, e deixando seu corpo ereto. – Eu sinto uma grande vontade de mata-lo por isso. – disse abrindo os olhos para me encarar. – Você jamais mereceu isso, Katniss. – Gale passou as duas mãos sobre seu rosto. – A culpa de nada disso foi sua. Você ainda tentou consertar as coisas quando percebeu que Peeta estava estranho. Mas que imbecil. – ele se colocou de pé em um rompante, fazendo-me morder o lábio inferior nervosamente.

— Gale. Mantenha a calma. – levantei-me colocando a caneca sobre a mesa de centro e caminhei até ele. – Talvez esse tenha sido um dos motivos de você não saber a verdade antes. – comentei segurando suas mãos. – Você fazer qualquer coisa agora, apenas piora minha situação. – afirmei, recebendo seu olhar atento em mim. – Eu só preciso de um ouvinte. E um cara com ótimas mãos para fazer chocolate quente. – dei um pequeno sorriso, recebendo uma risada da parte de Gale.

— Tudo bem. – ele soltou minhas mãos para me abraçar pela cintura. – Eu já disse que você tem a mim sempre que precisar.

— Eu sei que sim. – segurei a lapela de sua jaqueta jeans com as duas mãos.

Gale ficou sério de repente. Depois de alguns segundos me encarando, sem dizer nada ele curvou seu tronco em minha direção.

Fiquei completamente imóvel, quando senti seus lábios macios parados sobre os meus. Ele não fez menção de aprofundar o beijo. Apenas ficou parado por poucos segundos, antes de se afastar.

Soltei sua jaqueta, mas Gale manteve seus braços ao meu redor.

— Desculpa. – ele disse baixo, focando seus olhos nos meus.

— Tudo bem. – respondi sem graça.

Por fim, Gale soltou-me do abraço, mas continuou a minha frente.

— Posso perguntar uma coisa? – questionou.

— Claro.

— Você ainda o ama? – indagou.

Sua pergunta foi como um tapa em meu rosto. Eu não estava preparada para responder aquilo. Meu estomago pareceu dar cambalhotas, minhas mãos começaram a suar. Eu não sabia o que dizer.

— Eu... Eu não... – gaguejei confusa.

— Tudo bem. – Gale finalmente falou em meu lugar. – Seus olhos dizem que sim. – ele deu um pequeno sorriso.

Respirei fundo, fechando meus olhos com força. Esfreguei minha testa com a mão direita algumas vezes, antes de voltar a olha-lo.

— Eu não consigo mudar. – respondi nervosa. – Eu sei que se ainda me fere, é porque ainda tenho sentimentos por ele. Algo que não se refira apenas ao ódio. – neguei com a cabeça. – E eu não gostaria de sentir isso.


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