Heartbeat escrita por nsbenzo


Capítulo 13
The Blonde




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— Será que você poderia por gentileza me ajudar? – pedi com falsa simpatia, sentando-me na beirada da minha mesa de madeira.

— Será que você poderia calar sua boquinha linda e me deixar trabalhar? – Peeta rebateu, fechando a porta atrás dele e andou até mim.

— Deixa de ser grosso, Peeta. – resmunguei quase manhosa. – Tá doendo.

Peeta revirou os olhos e me entregou a bolsa de gelo que ele havia pego na cozinha. Em seguida foi até o meu armário, em busca da caixa de primeiros socorros.

— Eu não deveria fazer isso. Você precisa de um médico de verdade. – disse voltando até mim, e colocando a maleta branca com uma cruz vermelha ao meu lado sobre a mesa.

— Que se dane o médico de verdade. Foi só uma torção. – retruquei, segurando o gelo contra meu pulso direito.

— E por que eu te ajudaria, se você é tão antipática? – rebateu, abrindo um sorriso.

— Porque a culpa foi sua. – ergui a sobrancelha, desafiando-o a dizer o contrário.

— Você me empurrou pra fora do seu caminho, pra pegar um ladrãozinho de bolsas. – disse abrindo a maleta.

— E você passou por mim correndo, me fazendo cair como uma policial daquele filme idiota, com policiais idiotas, que fazem coisas idiotas. – rebati franzindo as sobrancelhas. – Mas espera eu ficar melhor, pra você ver se não vai apanhar. – ameacei.

Peeta soltou uma risada gostosa.

— Não seja marrenta. – ele colocou as mãos sobre a mesa, prendendo-me entre seus braços.

Mordi o lábio inferior, e desviei o olhar quando notei que seus olhos brilhantes encaravam os meus.

— Você devia se afastar. – pedi em tom baixo.

Pela primeira vez Peeta não discutiu. Logo ele tirou suas mãos de perto de mim, e deu um passo para trás.

— Eu poderia ter te beijado agora. – Peeta sorrio, tomando a bolsa de gelo da minha mão, e segurou contra meu pulso.

— Poderia, mas não deve. – rebati.

— Eu sei. – ele abaixou a cabeça.

Ficamos em silêncio por alguns segundos.

— Você consegue fechar os dedos? – perguntou voltando a me olhar.

Os movimentei normalmente.

— E o pulso? – questionou. – Consegue dobra-lo?

Movimentei devagar, porém senti meus nervos repuxarem por toda a extensão do braço.

Fiz uma careta, o que Peeta pareceu usar como resposta.

— Eu vou enfaixar. Você coloca mais gelo durante a noite e enfaixe novamente. Caso amanhã esteja roxo, inchado, e os movimentos tenham piorado, eu mesmo vou te levar ao hospital. – Peeta disse com a voz firme, como se fossem ordens a um simples oficial.

Revirei os olhos, mas não retruquei.

O processo de pomada para lesões e enfaixar, foi silencioso. Suas mãos eram leves, o que reduzia a dor que eu ainda sentia.

— Obrigada. – agradeci quando Peeta colou a fita para prender a faixa.

— Se você ainda tiver em casa, use o imobilizador. – sugeriu guardando o que ele havia usado, de volta na caixa.

— Tudo bem. – respondi, observando-o andar até o meu armário.

— Por que não quis ir ao médico? – perguntou, voltando até mim.

— Porque eu teria que explicar como me machuquei. E fazer um relatório para o Finnick. – suspirei, fazendo menção de descer da mesa.

Peeta foi mais rápido e me segurou pela cintura, ajudando-me a colocar os pés no chão.

— Realmente seria chato. – ele disse baixo, analisando meu rosto.

Minha respiração havia ficado pesada, ainda sentindo a pressão de suas mãos em mim.

— Eu já disse que você precisa ficar longe. – sussurrei, parando os olhos em seus lábios.

— Eu sei. – respondeu, curvando-se em minha direção.

Eu permaneci parada, e automaticamente meus olhos se fecharam, enquanto eu apoiava as mãos em seus ombros.

— É aqui que eu encontro Peeta Mellark? – uma voz feminina soou do lado de fora, fazendo-me despertar.

Eu o empurrei com a mão esquerda, afastando-me em seguida.

— Alguém está procurando você. – falei andando até minha janela, que estava com as persianas abaixadas.

Pelo vão da cortina pude enxergar uma mulher, em frente à mesa de Madge. Ela era loira, tinha minha estatura. Segurava a bolsa em seu ombro, enquanto Mad colocava o telefone na orelha.

— Tem ideia de quem seja? – perguntei ao Peeta, mas ele pareceu paralisar ao meu lado.

O telefone da sala do Mellark começou a tocar, o que me fazia crer que era Madge chamando-o.

— Vai logo lá, Peeta. – falei a ele, que respirou fundo, antes de sair por minha porta.

— Olha ele ali. – Madge disse, colocando o telefone no gancho.

A mulher virou, e meu estomago começou a doer a partir daquele momento, me dando enjoo.

— Delly. O que faz aqui? – Peeta perguntou.

Delly? Era esse o nome da mulher da foto? A foto da Times Square que ele dizia ser falsa?

As lágrimas se formaram em meus olhos, e meu nariz começou a arder.

— Precisamos conversar, querido. – ela olhou ao redor. – Podemos ir até a sua sala? – pediu.

— Claro. Venha comigo. – ele disse e começou a andar, sendo seguido pela bela mulher.

Ao vê-los lado a lado, todos meus sentimentos vieram à tona.

Peeta estava me enganando novamente?

O ódio não era o suficiente para encobrir a dor que me causara ao ver aquela cena. Eu não podia desmoronar agora. Não depois de tudo.

Eu devia ter aprendido a não confiar em Peeta Mellark.

Sai da minha sala, passando por eles rapidamente.

— Katniss. – Peeta chamou, mas eu não dei ouvidos.

Apenas segui meu caminho em direção a sala de treinamento de tiros.

— Kat. – a voz de Annie quem me chamou dessa vez.

Talvez ela estivesse com Finnick. Eu não sabia direito. Na verdade, eu não havia conseguido prestar atenção em mais nada desde que Delly apareceu.

Não a respondi. Entrei na sala como um furacão, já tirando a arma presa a minha cintura.

— Katniss. – Ann segurou meus ombros, mas me desvencilhei.

Parei em frente a cabine, engatilhando minha 9mm. Estendi os braços sentindo meu pulso doer.

Algumas lágrimas caíram escorrendo por minhas bochechas.

Talvez Annie tenha notado que nada me pararia, por isso a senti colocar os protetores de ouvido em mim, e se posicionou ao meu lado, com certeza usando protetores também. Eu não conseguia enxerga-la por completo, por culpa das lágrimas, por isso mantive meus olhos firmes no alvo que estava a vinte metros de mim.

Comecei a atirar sem nenhuma pausa. A cada tranco, meu braço direito parecia levar um choque de grande voltagem, causando-me dores intensas.

O primeiro pente acabou, fazendo-me trocar agilmente. Soltei um soluço, apertando o botão da cabine, trazendo outro alvo para mais perto.

Voltei a atirar, sem realmente mirar em algo. Funguei, enquanto mal enxergava um palmo a minha frente.

Ao acabar completamente minhas balas, soltei a arma, deixando-a cair no chão. No segundo seguinte, Annie retirava meus fones protetores.

— O que aconteceu, amiga? – perguntou limpando as lágrimas do meu rosto.

— Ele mentiu pra mim. – disse com a voz fraca, piscando algumas vezes para tentar enxerga-la melhor.

— Do que você está falando? – perguntou.

— A mulher que veio atrás do Peeta. É a mulher da foto. Ela existe. – solucei, travando meu maxilar. – Isso me faz crer que a história de montagem foi só pra me enrolar de novo.

— Mas como sabe que foi só pra te enrolar? – Annie perguntou franzindo as sobrancelhas.

— Ela chegou chamando-o de querido. – expliquei, dando uma risada curta e sem vontade.

— Eu não acredito... – falou baixo.

— Eu sou uma grande idiota. – olhei para o chão fechando as mãos ao lado do corpo com força.

A dor em meu pulso não me incomodava agora.

A dor em meu peito era bem maior.

— Não. Você não é. – ela segurou meu rosto entre as mãos. – Ele é o idiota.

Neguei com a cabeça, revirando os olhos.

— Somos idiotas, por motivos diferentes. – falei fungando baixo. – Mas ao menos agora eu sei que eu estava errada em baixar a guarda pra ele. E isso não vai acontecer de novo.

Afastei-me de Annie, secando minhas lágrimas violentamente com as mãos.

— O que houve com seu pulso? – perguntou franzindo o cenho.

— Não importa. – respondi. – Só mais um dos machucados causados pelo Mellark. – completei, caminhando para fora da sala.

Porém, enquanto eu andava, uma lembrança invadiu minha cabeça, me fazendo parar onde estava.

 

~||~

 

— Você tem ideia de que as promessas que você fez em nosso casamento, são bem sérias? – questionei, sentindo sua mão passear por minhas costas, que estavam cobertas por uma camisola de seda.

Senti Peeta rir silenciosamente.

Desencostei a cabeça de seu peito nu, para apoiar meu queixo no mesmo lugar e encara-lo.

— Isso não é engraçado, senhor Mellark. – reclamei, semicerrando os olhos, acariciando suas costelas com as unhas.

— Claro que é, senhora Mellark. – rebateu, parando sua mão na base da minha coluna. – Você é insegura demais, Kat. Não confia em mim?

Meus olhos se abriram para poder olha-lo melhor.

— Confiaria minha vida a você, Peeta. Você sabe disso. – beijei sua pele, voltando a encostar o ouvido em seu peito. – Só não poderia perder você. – respondi.

— Amor. Estamos casados há uma semana. Para de pensar besteira. – ele disse com a voz séria.

Peeta usou sua força para nos fazer rolar no colchão do hotel em que estávamos hospedados.

Meu corpo ficou embaixo do seu, enquanto ele se mantinha longe, usando as duas mãos, uma em cada lado da minha cabeça.

— Não é besteira. Nosso trabalho é perigoso. – continuei. – Se eu te perdesse, eu enlouqueceria. – falei baixo, observando seus olhos azuis que brilhavam enquanto analisavam o meu rosto. Ele permaneceu em silêncio na mesma posição. – O que faria se fosse ao contrário?

— Como assim? – questionou, franzindo o cenho.

— Caso eu morresse. O que você faria? – perguntei.

— Procuraria uma loira agora. Já experimentei uma morena.

Acabei acertando seu peito com força.

— Você é um idiota. – resmunguei.

Tentei sair da posição em que estávamos, mas apesar de eu treinar bastante, Peeta era melhor do que eu, por isso ele já havia abaixado seu corpo me prendendo contra o colchão, de maneira que não me machucava, mas não deixava com que eu movimentasse o meu corpo.

Eu ainda seria melhor do que ele, e ele me pagaria por isso.

— Eu te amo. – Peeta disse, fazendo com que eu parasse de tentar escapar e o olhasse. Seus olhos haviam encontrado os meus. – Se eu te perdesse, com certeza, eu também enlouqueceria. – afirmou com a voz baixa, seus olhos juntando algumas lágrimas. – Então pare de pensar nessa possibilidade. Você é minha, Katniss, e nada, nem ninguém vai mudar isso.

— E se você encontrar uma loira por ai? – perguntei mordendo meu lábio inferior.

Peeta havia liberado meus movimentos, o que me deixou alcançar a lateral do seu rosto com a mão direita. Meus dedos se enterraram em seus cabelos loiros, enquanto ele voltava a se aproximar de mim.

— Eu nem gosto de loiras. – ele sorrio, passando levemente o nariz no meu.

— Acho bom. Na verdade, você só deve gostar de mim, querido. – afirmei, o que fez Peeta rir. – É sério. Se você me machucar, eu machuco você. – ameacei fingindo seriedade, mas os lábios de Peeta haviam alcançado meu pescoço, fazendo-me fechar os olhos. – Você me ouviu? – perguntei baixo.

— Quietinha, meu anjo. – sussurrou em meu ouvido. – Vamos aproveitar as poucas horas que nos restam da nossa lua de mel. – sugeriu, enquanto sua mão segurava a barra da minha camisola.

 

~||~

 

— Katniss. – Annie chamou assim que voltei a andar.

Minha cabeça me dizia que não valia a pena tentar, mas em meu coração algo gritava dizendo que eu estava errada sobre Peeta.

Essa lembrança havia surgido como um aviso, e eu não podia simplesmente dar as costas pra isso.

Eu precisava de algumas respostas vindas dele, e era isso que eu estava decidida a fazer, sendo assim, continuei a caminhar, ignorando o chamado da minha amiga.

Uma mão, nem um pouco delicada como as de Annie, segurou meu braço, me fazendo parar.

— O que está acontecendo? – a voz de Peeta me fez piscar algumas vezes, até olhar em sua direção.

— Sabe que eu estava indo atrás de você? – questionei, movimentando meu braço pra me desvencilhar de seu toque.

— Seja lá o que for, você não vai querer discutir aqui fora. – ele disse em um tom baixo, olhando ao redor.

— Você tem razão. – voltei a andar, indo em direção a minha sala.

— Kat. – Annie chamou novamente, seguindo nós dois.

— Deixa que eu resolvo isso. – entrei em minha sala.

Assim que Peeta entrou atrás, eu fechei a porta, virando para encara-lo.

— Eu estava me lembrando de algo. – comecei a falar, notando seus olhos curiosos. – O que fez você gostar de loiras? – perguntei.

— Como assim? – questionou confuso.

— Você disse que não gostava de loiras. – abri e fechei a mão direita, sentindo que meu pulso estava doendo mais do que há alguns minutos.

— Ah. – foi o que ele disse, parecendo não ter uma resposta de verdade para aquela pergunta.

— O que você tem com Delly, Peeta? – perguntei.

Ele ficou em silêncio.

— Eu não perguntaria isso, caso eu não tivesse tantas dúvidas sobre você. – respirei devagar. – Sobre nós. – disse cruzando os braços. – Eu estou te dando a chance de se explicar, antes que eu tire minhas próprias conclusões, o que me fará te odiar novamente. – seus olhos estavam agitados, mas ele permaneceu da mesma forma. – É isso o que você quer? – questionei, sentindo meus olhos formarem algumas lágrimas. – Porque minha conclusões apontam que você me traiu e que manteve o relacionamento com ela durante esses anos, até mesmo agora, depois de tentar me convencer várias vezes que ainda me amava. – Peeta ainda continuou com seu silêncio, mas seus olhos brilharam. – Por que você está fazendo isso? Fala comigo, droga. Eu não mereço algumas respostas? – questionei, sentindo as lágrimas caírem e molharem minhas bochechas.

— É para o seu bem, Katniss. – disse com a voz rouca.

— Se é para o meu bem, me diga de uma vez! Você está com Delly ou não?! – exclamei descruzando os braços.

— Tire suas próprias conclusões, Katniss. Você não costuma se enganar. – ele respondeu, segurando a maçaneta.

— Se você sair por essa porta, não espere que eu te trate bem quando voltar. Você está me dando a opção de te odiar novamente, e pra mim vai ser fácil fazer isso acontecer, já que você mesmo não tenta se defender. – falei com pressa, notando as lágrimas caírem mais rápido.

— Não tenho nada pra me defender. – Peeta respondeu de costas pra mim.

Ele abriu a porta, saindo em seguida.

Era como se a cena de alguns anos atrás se repetisse.

Eu estava ali, completamente sozinha, sentindo meu mundo desabar de novo.

A porta da minha sala foi escancarada, e antes que eu pudesse notar de quem se tratava, eu era abraçada com força.

— Você não está sozinha. – a voz de Gale me fez congelar no lugar. – Relaxa, Katniss. Eu não quero explicações, nem que você me conte nada. – continuou a falar acariciando minhas costas. – Só quero que você saiba que eu estou com você.

Acabei relaxando e retribui o abraço, escondendo o rosto em seu peito.

Eu sabia que era completamente estranho, confuso, e errado, mas Gale estava ali pra mim, e eu não podia perde-lo.

— Obrigada. – foi a única coisa que consegui dizer, sentindo as lágrimas caírem novamente.


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