Heartbeat escrita por nsbenzo


Capítulo 12
What you want?




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/703378/chapter/12

— É só um jantar para apresentar Daisy. Por que essa cena toda, Gale? – perguntei retocando meu batom usando o espelho do banheiro.

Já estávamos no fim de Fevereiro. Eu e Gale ainda estávamos juntos, porém tudo andava estranho, considerando suas crises de ciúmes cada vez que Peeta falava comigo.

E como eu decidi esquecer a noite de ano novo, tentei ao máximo manter apenas o contato profissional com meu ex marido, tentando também esquecer qualquer sentimento relacionado a ele, mas o mesmo não desistiria tão fácil.

Após a cena em minha sala onde o mesmo me fez passar vergonha, ele pediu desculpas, e tentou se comportar, mas cada vez que Peeta tinha oportunidade, ele tentava se aproximar mais do que o recomendado, o que estava se tornando cada vez mais difícil de fugir.

Eu não via a mim e Peeta juntos como casal novamente no futuro. Era algo que minha cabeça havia resolvido, e eu aceitava essa decisão, por isso eu me esforçava em fazer dar certo com Gale. Porém ele parecia notar a proximidade de Peeta, o que me deixava nervosa, não por culpa do ciúme do meu namorado, mas sim por ele ter razão em estar enciumado.

A culpa de não contar ao Gale o que acontecera vivia me incomodando, afinal ele era um cara legal, e eu me sentia uma vadia por esconder dele. Mas eu sabia que o perderia caso ele soubesse, e se eu o perdesse agora, com certeza eu enlouqueceria novamente.

Era algo egoísta de minha parte, mas se Gale não soubesse a verdade, estaria tudo bem.

— Não sei se você percebeu, mas Peeta andou se aproveitando das câmeras para te agarrar nas fotos com Daisy. – observou encostado na parede de azulejo branco.

Eu havia arrastado meu namorado até o banheiro mais próximo, apenas para controla-lo antes que ele colocasse o jantar dos Odair em ruínas, por culpa de uma briga idiota com meu ex marido.

— Deixa de ser bobo. – virei-me para olha-lo. – Estamos aqui por Annie e Finnick, e não pra nos preocuparmos com o Mellark. Eu e Peeta somos apenas padrinhos de Daisy. É comum estarmos nas fotos juntos. – guardei o batom na bolsa, e andei até ele, tentando parecer despreocupada. – Logo o jantar acaba e poderemos ir embora. – disse baixo, envolvendo seu pescoço com meus braços.

Gale abriu um pequeno sorriso, abraçando-me pela cintura.

Graças aos meus sapatos de salto alto tive a facilidade de selar nossos lábios rapidamente.

— Talvez você possa ir para minha casa depois. – sugeriu.

Algo se agitou na boca do meu estômago. 

Eu e Gale não havíamos passado dos limites em nenhum momento, porém não era por falta de tentativas dele.

O ponto era que eu não me sentia preparada dessa forma para outra pessoa.

Peeta veio em minha mente, fazendo-me balançar a cabeça negativamente.

— Não quer ir? – perguntou franzindo as sobrancelhas.

— Ah. Desculpe. Não é isso. – falei embaraçada. – Apenas lembrei de outra coisa. – respondi, passando o polegar em seus lábios que estavam levemente manchados com meu batom. – Acabando aqui, podemos ir pra sua casa. – falei tentando não demonstrar minha insegurança e falta de vontade.

Gale sorrio e beijou minha testa.

— Katniss. Você está aí? – Madge chamou do lado de fora do banheiro.

Suspirei antes de soltar-me de Gale e abrir a porta.

— Annie está te procurando. Ela está no... – Mad travou quando Gale surgiu ao meu lado. – Eu... É. Desculpa. Não sabia que estavam juntos.

Madge pedir desculpas era algo novo pra mim, o que me deixou um pouco confusa.

— Não tem problema, Madge. – respondi abrindo um pequeno sorriso. – Estávamos apenas conversando.

Ela analisou nós dois minuciosamente. Só então percebi que suas bochechas estavam coradas.

— Você está se sentindo bem? – perguntei.

— Claro. – respondeu com pressa como se tivesse levado um choque. – Como eu estava dizendo, Annie quer ver você. Ela está no quarto da Daisy.

— Tudo bem. – olhei para Gale sorrindo. – Eu volto já. – passei a mão levemente em sua bochecha esquerda antes de caminhar até o quarto.

Ainda no corredor conseguia ouvir o choro da minha afilhada.

— Onde você estava? Te procurei por todo canto. – reclamou assim que abri a porta.

— Estava no banheiro. Qual é o problema? – perguntei aproximando-me das duas.

— Ela não para de chorar Kat. – choramingou enquanto balançava o bebê em seu colo. – Já amamentei, olhei a fralda, a agasalhei. Não sei mais o que fazer.

Mordi a parte interna do meu lábio inferior.

— E o que quer que eu faça? – indaguei.

— Eu não sei. – falou parecendo desesperada, olhando a garotinha chorona.

Suspirei baixo e sem pedir, tomei Daisy em meus braços e caminhei até a cadeira de balanço que Annie costumava sentar.

— Ei, meu amor. – chamei docemente enquanto Daisy ainda chorava. Sentei com cuidado. – Sua madrinha está aqui. – sorri levemente, repousando seu corpo minúsculo sobre o meu, deixando sua barriga pra baixo. – O que há de errado, anjinho? – sussurrei para ela, passando minha mão direita em suas costas.

Fiquei da mesma forma por alguns poucos minutos, balançando a cadeira, até que o choro cessou, fazendo Annie abrir um sorriso largo.

— Não acredito. – sussurrou incrédula.

— Nem eu. – disse no mesmo tom, dando um sorriso bobo.

Mantive a carícia, sentindo suas mãozinhas baterem sem força em mim.

— Você pode ir Annie. Eu fico com ela. – disse sem desgrudar os olhos de Daisy.

Eu sabia o quanto minha amiga estava tensa com o jantar que rolava lá embaixo, e ficar com minha afilhada não era algo trabalhoso pra mim.

— Obrigada. Se precisar me chama. – disse sem pestanejar, antes de sair do quarto.

— Agora somos só nós duas, anjinho. – sussurrei beijando o alto da sua cabeça.

Minutos se passaram enquanto eu cantarolava para Daisy.

— Confesso que toda vez que vejo você com ela, fico imaginando como seria se tudo tivesse dado certo pra gente. – a voz de Peeta me fez olhar para a porta.

Ele havia encostado no batente, parecendo estar ali há um bom tempo.

— Por que você sempre aparece assim? – perguntei tentando ignorar suas palavras, mas elas haviam me acertado em cheio.

Não era como se eu nunca tivesse pensado nesse assunto ao estar com ela. Isso vinha em minha mente o tempo todo. Mas ouvir isso da boca de Peeta me deixava mais incomodada.

Movimentei a cabeça devagar para tentar enxergar Daisy, que estava quieta demais.

— Porque quando sabe que não estão olhando, você costuma ser você mesma. A doce Katniss Everdeen que eu conheci. – respondeu. – Ao contrário dessa Katniss que você tenta manter, que está pronta para brigar com qualquer um que te contrarie.

Não o respondi. Mantive-me atenta a nossa afilhada que parecia estar realmente relaxando em meus braços.

— Não está com frio? – Peeta perguntou, mudando de assunto, e eu o agradecia mentalmente por isso.

— Não. Mas talvez Daisy esteja ainda. – respondi.

Sem que eu pedisse, ele entrou no quarto. Logo Peeta colocava cuidadosamente uma manta sobre o bebê, cobrindo consequentemente quase todo meu tronco.

— Obrigada. – voltei a balançar a cadeira lentamente. – Como nos encontrou aqui? – perguntei.

— Annie está enlouquecendo com o jantar lá embaixo, Finnick está aguentando a barra, Madge estava lá embaixo, Gale também. Daisy e você haviam sumido. Vim verificar. – explicou, encostando no berço, que ficava bem ao meu lado.

— E por quê? – indaguei, erguendo os olhos para olha-lo.

— Apesar de tudo, a forma que você cuida de Daisy, é algo bonito de se ver. – respondeu cruzando os braços.

Tornei a não responde-lo, voltando a olhar Daisy. Ainda com a mão em suas costas, pude sentir que sua respiração havia ficado uniforme. Talvez começasse realmente a dormir.

— Acha que seriamos bons pais? – questionou com a voz baixa, como se aquela pergunta não devesse ser ouvida por mais ninguém.

Um nó se formou em minha garganta instantaneamente, e as lágrimas que eu havia impedido de se formarem antes, vieram aos meus olhos.

Eu sabia que não era a intenção de Peeta me machucar com o assunto, por isso respirei fundo antes de abrir a boca.

— Acredito que sim. – finalmente respondi, voltando a olha-lo.

Seus olhos estavam marejados assim como os meus.

Peeta abriu um pequeno sorriso, desencostando do berço.

— Daisy dormiu. – avisou. – Quer tentar coloca-la pra dormir sozinha? – perguntou.

— Claro. – disse. – Consegue pega-la?

Peeta não respondeu, mas veio com suas mãos estendidas, pegando-a cuidadosamente junto a manta, deixando o caminho livre para que eu levantasse, e assim o fiz.

Retirei o pano de cima do corpo dela, e logo Peeta a colocou no berço, pegando a manta das minhas mãos e a cobrindo novamente.

Ficamos ambos parados ao lado do berço observando-a dormir.

— Teríamos adotado se os tratamentos não tivessem dado certo? – Peeta perguntou.

O olhei, percebendo que o mesmo já me olhava atentamente.

— Se concordássemos na época... Não havia porque não tentar a adoção. – respondi.

Ele balançou a cabeça positivamente.

— Eu não me importaria se adotássemos. Só queria construir uma família com você. – sua voz denunciava sinceridade, o que fez com que minha vontade de me debulhar em lágrimas aumentasse. – Desculpa. – disse baixo, ficando de lado, e me puxando para ficar frente a frente com ele. Meus braços haviam se cruzado em frente ao corpo automaticamente, como forma de proteção. – Eu sei que isso tudo ainda machuca você, pois machuca a mim também. – sussurrou, colocando minha franja, que estava cumprida, atrás da orelha. Meus olhos estavam atentos aos seus movimentos. – Mas eu realmente gostaria que tudo tivesse dado certo pra gente. – continuou sussurrando, espalmando sua mão em minha bochecha.

— Era tudo o que eu mais queria naquela época. – acabei cedendo ao carinho, e deitando levemente minha cabeça na diagonal, deixando-o sustenta-la com a mão. – Que tivéssemos conseguido enfrentar nossos problemas sem todo esse sofrimento.

— E agora? O que você quer? – perguntou, acariciando a maçã do meu rosto.

Meus olhos haviam se fechado.

Eu tinha a resposta para aquela pergunta na ponta da língua, mas não tinha coragem de dizer em voz alta.

Eu queria meu marido de volta.

— Kat. – sussurrou, me fazendo abrir os olhos devagar.

Seu rosto havia se aproximado do meu.

— Oi? – sussurrei de volta, mordendo o lábio inferior, sem fazer questão de me afastar.

— Me diga o que você quer. – pediu a centímetros de mim.

Assim que abri a boca para responder, passos no corredor me alertaram. Afastei-me de Peeta, tentando voltar a respirar normalmente. Sem ao menos notar, eu estava ofegante.

Dei alguns passos pra trás, e me coloquei de frente para Daisy novamente, segurando a barra do berço com força.

Eu precisava me acalmar, ou entregaria toda a situação para seja lá quem entrasse naquele quarto.

— Você conseguiu coloca-la no berço sem que ela acordasse? – a voz sussurrada de Annie me fez respirar aliviada.

Ao menos Ann era alguém que não me julgaria se notasse a tensão que tomara conta do quarto.

— Sim. – respondi, sem muito o que dizer.

Ainda estava com toda a cena com Peeta na cabeça, e sentia que o mesmo não havia desgrudado os olhos de mim.

— Você deve ser uma fada madrinha. Porque madrinha comum você não é. – Ann disse baixo.

Acabei soltando um riso curto, passando as mãos por meu rosto.

— Bom. Eu vou descer, meninas. – Peeta disse, fazendo com que minha amiga finalmente o notasse. – Nos falamos depois. – falou já se encaminhando para fora do quarto.

Passou alguns segundos até que Annie começasse a falar.

— O que faziam aqui sozinhos? – perguntou em um sussurro.

— Estávamos conversando. – respondi baixo, voltando a olhar Daisy. – Coisas que nunca pensei que teria a oportunidade de falar. Ou ouvi-lo dizer. – respirei devagar.

Não era uma mentira. Mas também não era uma verdade completa.

Peeta me beijaria, e eu havia chegado no ponto onde eu não conseguiria afasta-lo.

Não depois da conversa que havia nos levado até aquele momento.

— Sobre o quê? – questionou, e pelo seu tom de voz eu sabia que minha amiga havia notado que não havia sido apenas uma conversa.

— Nada, Annie. – a olhei, abrindo um pequeno sorriso. – Só coisas sobre o passado. – neguei com a cabeça. – Nada com que precise se preocupar.

Eu não tinha a mínima vontade de compartilhar aquelas coisas com ninguém. Por mais que eu confiasse minha vida a Annie, dizer certas coisas em voz alta, serviriam apenas para me deixar mais confusa.

— Katniss? – a voz de Gale me fez virar para olha-lo.

— Olá. – foi a única coisa que eu disse, enquanto o mesmo caminhava até mim.

— Podemos ir pra casa? – perguntou.

Meu corpo congelou instantaneamente.

Eu já estava sem vontade de ir com Gale. Depois do momento com Peeta, estar sem vontade era pouco, perto do que eu sentia agora.

— Eu pedi pra Katniss ficar por aqui. – Annie se manifestou, fazendo-me piscar algumas vezes antes de olha-la. – Daisy está me dando trabalho hoje, e só ela conseguiu fazer minha filha dormir. – explicou, analisando o relógio dourado em seu pulso. – Daqui algumas horas Daisy acorda, e eu enlouqueço. Preciso mesmo dela. – suplicou.

Olhei para Gale que parecia ter compreendido que a causa era maior, afinal ele sabia o quanto eu me esforçava para ajudar com os cuidados da minha afilhada.

— Katniss tem um jeito nato para bebês. – disse se aproximando de mim com um sorriso. – Nos vemos amanhã na delegacia. – Gale roubou um beijo rápido e se afastou. – Até mais Annie. Obrigado pelo jantar.

— Que isso. Obrigada você pela presença. – Ann sorrio simpaticamente para o meu namorado.

O mesmo andou até sumir porta a fora.

— Obrigada. – sussurrei olhando para ela.

E lá estava minha melhor amiga, que sabia tudo sobre mim, mesmo quando eu não dizia nada.

Eu tinha certeza que Annie sabia o que estava se passando comigo, e que ela jamais perguntaria diretamente. Mas ao menos eu podia contar com sua proteção, sem importar sobre o que se tratava.

— Pelo quê? – questionou franzindo o cenho. – Você realmente será babá da Daisy hoje.

Ergui uma sobrancelha fitando-a.

Ela soltou uma risadinha.

— Até quando vai fugir dele? – perguntou.

— Até quando eu conseguir. – respondi.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Heartbeat" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.