— Adrien? Podemos conversar?

Eu admito: não sou de desistir fácil, sou determinada... Ou eu simplesmente gosto muito mesmo de sofrer. Eu tinha ficado a aula inteira planejando um jeito de conseguir conversar com Adrien sem que Lila estivesse por perto, mesmo depois de chorar por vários minutos por causa dele no começo da aula. Eu queria, não eu precisava falar com ele e resolver isso tudo que estava acontecendo de uma vez por todas.

Minha oportunidade chegou quando eu ouvi- sim eu estava espiando eles- Lila pedir para que Adrien fosse buscar uma Coca Diet para ela, que estava ocupada demais postando alguma coisa no Instagram e não poderia parar nem um momento para ir ela mesma fazer aquilo. Adrien, que agora parecia um cachorrinho obediente e babão, foi rapidamente cumprir a ordem da sua nova dona. Eu fui atrás dele e esperei o momento em que o corredor estivesse mais vazio para aborda-lo.

— Hum? – Ele se virou na minha direção, pareceu que ia falar alguma coisa, mas desistiu.

— Podemos? – Insisti.

— Não acho que seja necessário, eu já fui avisado do horário do trabalho na sua casa hoje. – Foi a resposta dele.

— Espera! Não é sobre... Isso. – Mas já era tarde demais porque ele saiu andando sem nem dar atenção alguma para as minhas palavras. – Merda. – Foi tudo que eu disse.

Mas como mencionei antes eu simplesmente não iria desistir. “Ele queria falar alguma cosia comigo também! Eu vi o jeito que ele hesitou! Você não consegue me enganar Adrien Agreste, eu te conheço melhor que isso!” foi o que eu pensei antes de continuar a espiar eles. Fui discretamente para trás de uma das pilastras perto do banco onde eles estavam sentados.

— Você demorou, amore mio. – Lila disse sorrindo e pegando a lata de refrigerante da mão dele. – Teve algum motivo especifico para isso?

— Nada de importante. – Foi tudo que ele respondeu sobre o ocorrido, eu que admito que isso doeu um pouco, caramba como assim eu não sou nada de importante? – Como você está em relação ao seu trabalho, mio tesoro? – Adrien deu um sorriso de canto que eu reconheci, por menor que fosse.  

— Argh! Não fale sobre aquela catástrofe! – Lila fechou a cara e começou a reclamar. -Você sabe como é irritante ter que trabalhar com gente que não consegue seguir as suas ordens?

— Posso imaginar. – Ele respondeu, um tanto quanto indiferente se tratando de que ele estava falando com a namorada.

— Eu não consigo acreditar que você conseguiu aturar aquela gente da nossa sala andando com você esse tempo todo! – Ela falou com muita repulsa. – Não consigo ficar com aqueles dois por alguns minutos sem surtar! Isso não vale cinco pontos, estou falando sério mesmo! Aquele Nino é tão irritante! Você não costumava ser muito seletivo ao seu circulo de amizade não é, amore mio? Francamente eleger aquele cara como melhor amigo é deplorável!

— Ah, com certeza. – Eu simplesmente não conseguia acreditar que Adrien conseguia sorrir e concordar com aquela atrocidade toda que saia da boca daquela menina! – Tem toda a razão, não sei o que eu tinha na cabeça naquela época.

— Sim, sim!  - Ela concordou balançando a cabeça e depois voltou a dar atenção ao celular, selecionando algum filtro estúpido com o qual tirou um selfie junto d Adrien, que deu um dos seus admiráveis sorrisos de modelo. Aquilo foi nojento.

 Eu permaneci seguindo eles o recreio todo, pelo que aprecia os meus dias de stalker estavam de volta, acabei por voltar às minhas origens. Infelizmente não consegui mais nenhuma oportunidade de falar sozinha com Adrien- e eu não era nem louca de tentar falar com ele com aquela maluca do lado dele- e toda a informação que eu consegui seguindo aqueles dois foi que a cada dois minutos eles tinham uma forte necessidade de falar muito mal de tudo que se relacionava ao passado sombrio de Adrien com os seus amigos da gentalha. Basicamente Lila não conseguia ver um dos nossos colegas de sala sem ter que fazer algum comentário maldoso sobre a aparência, o jeito de ser, ou qualquer outra cosia que pudesse, e é claro que Adrien estava ao lado dela e reafirmava tudo que ela dizia, concordado prontamente com tudo sem questionar por um momento se aquilo não era asqueroso e desprezível de se fazer, ele ria, balançava a cabeça, e constantemente repetia “Como é que eu conseguia andar com esses idiotas?”. Acho que não preciso esclarecer aqui que fiquei com muita vontade de sair do meu esconderijo e pular no pescoço daqueles cretinos maldosos, mesmo que com isso eu fosse armar o maior barraco e iria para a detenção- ou talvez fosse até mesmo expulsa da escola! Quem sabe? A única coisa que foi capaz de me impedir foi o meu instinto de stalker que não me permitia sair do meu esconderijo até conseguir cumprir meu objetivo de falar com Adrien de novo sem ser atrapalhada, interrompida ou ignorada.

Infelizmente não tive êxito na minha missão.

O sinal tocou e todos tivemos que voltar para a sala. Quando cheguei recebi mil perguntas dos meus amigos que questionavam o meu paradeiro durante o recreio. É claro que eu não iria dizer a verdade, ninguém ia acreditar em mim quando eu dissesse que Adrien não estava normal, me diriam que eu estava sendo paranoica e iam conseguir me forçar a parar de seguir ele, o que para mim seria um absurdo e iria estragar a minha oportunidade de descobrir a verdade por trás daquele joguinho todo. Portanto tudo que eu respondi foi: “Eu precisava dar um tempo sozinha, vocês entendem não é mesmo?” e por mais que eles provavelmente não entendessem ninguém questionou nada e fui deixada em paz pelo menos por enquanto.         

*

Quando eu cheguei na minha casa eu logo comecei a preparar as coisas para fazer o trabalho estúpido na sala e já estava tudo pronto para começarmos quando eu comecei a questionar a demora dos outros e ao mesmo tempo recebi uma ligação de Nath. Ele me disse que iríamos precisar cancelar o trabalho porque Max havia ficado doente- e eu não tinha reparado antes, mas ele realmente não tinha ido à aula naquele dia- e não iria conseguir chegar na minha casa que era muito longe da dele.

— Merda! Mas nós não podemos simplesmente cancelar! Não conseguimos marcar nenhum outro dia para fazer isso e o trabalho vale cinco pontos em Química! – Eu enfatizei bem. - Temos que dar um jeito.

Então nós ficamos discutindo algumas possibilidades, mas nenhuma que vinha na nossa cabeça dava certo.

— Não tem jeito! – Eu resmunguei. – Vamos ter que fazer assim: dividiremos o trabalho em duas partes, você vai na casa do Max que é perto da sua e faz a primeira com ele, mesmo que ele esteja doente eu imagino que vai ser muito prestativo, ele é muito inteligente. – Até aí Nath concordou. – E – Eu suspirei. – Eu pego a segunda parte e faço com Adrien aqui na minha casa mesmo.

E é claro que depois disso eu tive que escutar uma série de protestos, mas consegui convencer ele no fim. Por mais que nenhum de nós quisesse isso tínhamos que concordar que ninguém ali estava na condição de perde cinco pontos em Química por causa de um ex estúpido meu. Concordados e ajeitamos alguns aspectos do trabalho e então encerramos a ligação.

Eu me sentei no meu sofá e respirei fundo umas dezesseis vezes antes de voltar a pensar: eu tinha conseguido uma oportunidade que veio para mim em forma de milagre e que eu simplesmente não poderia desperdiçar. Adrien estaria ali comigo, estaríamos sozinhos e não tinha como ele escapar das minhas perguntas, mas ainda assim eu estava extremamente nervosa. Como iria abordar o assunto se nem eu tinha certeza das alegações que estaria fazendo? Tudo aquilo que eu imaginava não passava de uma suposição, um desejo meu que eu queria muito que fosse real.

Mas mesmo assim eu não poderia simplesmente desistir: iria afundo nisso custe o que custar.          

E assim que eu me virei para a porta eu vi ele: a figura de cabelos dourados dos meus sonhos e dos meus pesadelos.

— Estão todos atrasados? – Adrien perguntou entrando e deixando a mochila sobre a minha mesa de centro. Ele não me cumprimentou, não me deixou nem ter uma oportunidade de cumprimentar ele, mas tudo bem. Eu não estava a fim de enrolar com formalidades mesmo! Por mim que fôssemos direto ao ponto.

— Eles não vão vir, Max ficou doente. – E assim eu o expliquei brevemente a situação, eu estava ansiosa e com pressa para falar logo o que eu queria.

— Eu entendi, então vamos começar logo à parte que ficou para nós, pretendo ir embora daqui rápido. – Ele disse se preparando para ir mexer nos cadernos, mas eu o interrompi.

— Espera! – Eu pedi.

Adrien me encarou meio impaciente e eu o olhei de forma determinada. Agora era a hora, sem escapatórias dessa vez. Enquanto os seguia eu não tinha visto utilidade nos diálogos dele com Lila, mas depois de algum tempo percebi que eram mais do que falas vazias: eram praticamente um pedido de socorro. O Adrien real nunca falaria daquele jeito de todos nós, e se a desculpa dele para romper o nosso relacionamento era que a qualquer momento eu poderia me revelar uma cobra exploradora e falsa, tudo bem, mas como é que aquilo poderia se aplicar aos nossos amigos e, praticamente, ao resto da escola inteira? Não fazia sentido nenhum ele fazer isso... Pelo menos não por vontade própria.     

— Lila Rossi está te chantageando não é?